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O brincar livre

- Natália Bispo -

Atualmente o brincar é considerado fundamental na aprendizagem e também em relação ao desenvolvimento em diversos níveis (intelectual, criativo, físico, emocional, social e cultural), e sendo parte do cotidiano das crianças, dentro deste contexto é imprescindível a presença do adulto, que pode ser um facilitador do processo de brincar. Existe diferenciação entre o brincar livre e espontâneo do brincar orientado, regrado, sendo os dois tipos levados em consideração, visto que ambos têm suas contribuições para a aprendizagem, porém faz-se necessária a reflexão da questão da mediação em relação ao brincar livre, já que temos a tendência de pensar que as crianças não tem noção, que nós sabemos como e devemos orientá-las, principalmente em ambientes escolares e para escolares.

Como citado no livro “Brincar: Aprendizagem para a vida”, os autores ao defenderem um brincar mais livre, afirmam: “(...) as crianças deveriam ter liberdade para escolher suas atividades de brincadeira em vez de serem continuamente repreendidas e direcionadas por adultos para desenvolver as atividades limitadas pelo currículo”. Também é citado que a brincadeira deveria atender às necessidades das crianças em vez de atender às expectativas dos adultos.

Tais expectativas muitas vezes são motivadas por resultados, pela utilidade das ações que podem ajudar no desenvolvimento das crianças, mas é importante ater-se ao fato de que deixar a criança explorar também a permite desenvolver-se. Sobre isso, no livro “O brincar e suas teorias”, a autora Kishimoto comenta:


“Ao brincar, a criança não está preocupada com os resultados. É o prazer e a motivação que impulsionam a ação para explorações livres. (...) Qualquer ser que brinca atreve-se a explorar, a ir além da situação dada na busca de soluções pela ausência de avaliação ou punição. Bruner (1978, p. 45) entende que a criança aprende ao solucionar problemas e que o brincar contribui para esse processo.

Segundo Brock, as crianças precisam do apoio adulto ao invés de sua direção ou interferência. O equilíbrio na interferência é fundamental pra possibilitar o brincar livre de fato, já que a imposição de regras é característica de outra atividade e contribui com outros aspectos.


Bishop e Curtis (2001) propuseram que " o papel principal dos adultos na educação infantil e de séries iniciais deveria ser o de incentivar a brincadeira ao fornecer tempo de qualidade, espaço suficiente e supervisão adequada para permitir que as crianças se engajem em atividades auto-direcionadas.”



Portanto, o papel do adulto na mediação deve proporcionar tempo de qualidade e ambiente possível de exploração, mas também atentar-se a supervisão, já que existem riscos. Visto que estes riscos nem sempre são ameaças ou perigos, então podem ser oportunidades para que a criança aprenda a buscar soluções de problemas, trabalhar coletivamente, ser estimulado a enfrentar novos desafios no brincar.

E com a grande influência que a mídia exerce sobre o nosso cotidiano, a cultura do medo tem se propagado e estado presente nas relações com as crianças e o brincar, portanto é fundamental entendermos que, como mediador, o adulto deve combater esta cultura refletindo sobre suas atitudes na prática em relação aos riscos, perigos ou também em relação às oportunidades possíveis, e assim livrando-se da ideia de superproteção.


“O brincar das crianças é um comportamento, atividade ou processo iniciado, controlado e estruturado pelas próprias crianças e acontece sempre e onde quer que as oportunidades apareçam. Brincar por si mesmo é não compulsório, conduzido por motivação intrínseca e desenvolvido por seu próprio interesse, mais que um fim em si mesmo.”



Durante o período do curso pude refletir sobre o brincar livre e perceber que minha prática estava distante deste conceito, onde entendia que a orientação e direção eram fundamentais para que o brincar acontecesse, mas agora percebo que o brincar livre parte das crianças e a liberdade concedida a elas permite que tenham prazer ao brincar, além de permitir seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança: o desenvolvimento infantil e o direito de brincar BROCK, Avril, DODDS, Sylvia, JARVIS, Pam, OLUSOGA, Yinka. Brincar: Aprendizagem para a Vida. [Minha Biblioteca]. Kishimoto, T. M. O Brincar e suas Teorias. [Minha Biblioteca]. Retirado de https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788522113965/

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