- Rita de Cássia Aparecida dos Santos Freitas -
O que eu tinha? O que eu acreditava?O que eu queria fazer do mundo? Inicio este Artigo, com inquietações pessoais e felizes, despertadas por um trabalho proposto pela professora Priscila Leonel: “O resgate de minhas historias sobre o brincar”, revivi minha infância e adolescência , sonhos rascunhados e concretizados , finalizados com a outra proposta de atividade, feita por ela: “O Museu do aluno” , a minha historia, escrita por mim, quem sonhei ser, quem eu sou, onde quero ir.
De acordo com SEBASTIAN, 2009, “O desenvolvimento integral da pessoa humana,....aprender a ser...espirito e corpo... inteligência, sensibilidade, responsabilidade , espiritualidade.”(Pag. 205), nos leva a acreditar que não basta saber onde ir, mas sim porque estamos indo, nossa imaginação e sonhos nos leva a ir, e nossas andanças, são sociais e coletivas.
O pesquisar, repensar, fazer a releitura sobre a criança, seu desenvolvimento pelo brincar, me conduziram a refletir sobre um outro individuo , o adolescente , o qual alguns chamam de “aborrecente”, aqueles que ficam nos espaços ociosos, de praças, quadras de esportes, esquinas e calçadas ,contando historias que não são deles, nem sobre eles. Porque viver a historia do outro? Quiça não tiveram oportunidades de sonhar sua própria historia,grandes idéias,grandes ações? E nem terão oportunidade de vivê-la?
O brincar nos remete as nossas experiência vividas e sonhadas, a interação com o outro nos faz construir novas experiências com uma boa pitada de empatia. Em uma sociedade capitalista , esta mesma descrita pelo grupo musical Engenheiros do Hawaii Somos quem PODEMOS ser : “ (Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão...a vida imita um vídeo...somos quem podemos ser , sonhos que podemos ter.” )A pergunta que surge: para esse adolescente de hoje houve uma infância de brincar? Foi oportunizado, o encantamento, imaginação, criatividade?Como ocorre a transição do não ser CRIANÇA nem SER ADULTO?
A minha proposta de pensarmos o brincar na adolescência vem como uma necessidade sociológica, para que este individuo ganhe voz, a voz interna da criatividade, imaginação, e da empatia. Já que o que nos humaniza e move são sonhos, a criatividade , a cumplicidade com o outro, como resgatar no adolescente esta infância que lhes foi tirada? Junto com sua esperança. Os sonhos são desconstruído por uma sociedade , que exclui desde a infância, com a pobreza, diferenças sociais, racismo, o analfabetismo, não permite o aprender a viver com o outro, com tolerância, com a experiência coletiva, junta-os como tribos , e não como humanidade.
Presos em uma liberdade “ permitida” e não conquistada.Todos os dias são os mesmos nada acontece, a não ser o que é permitido, e não sonhado, não pela falta de competência , mas pelo encarceramento da criatividade e das novas idéias . O novo Movimento Cultural dos Bailes Funk’s, além dos pseudos acertos de grupos rivais, ele pula dança, se embriaga, entorpece,se arrisca com a velocidade, os malabarismos na direção de veículos, sendo esta é sua forma de comunicação emocional, a linguagem do corporal, como se só existisse o hoje, o agora.
O trabalho de Til Gil, em “ Crianças no espaço publico ativadoras da comunidade.”, retrata e ratifica esta competência da capacidade de imaginar, sonhar, e mudar, baseado no pertencimento e responsabilidade, com o espaço publico, com sua comunidade , com o mundo, consigo mesmo, pela educação, cultura artes e geografia. O projeto Curumim do SESC-SP, desde 1987 através de encontros semanais , passeios culturais, brincadeiras antigas, teatro, musica, vem desenvolvendo neste adolescente, autonomia, afetividade, senso critico e respeito ao próximo, saberes e contextos baseados em valores que cultivam uma cultura de paz, cidadania e democracia.Descobrir e questionar o mundo, superar desafios, interagir nas resoluções de problemas e conflitos, foi o que buscamos, e é o que eles buscam, ser visto,ser ouvido como parte da sociedade.
A identidade adulta em conflito , entender e aprender a lidar com o mundo, Mara Sampaio , ressalta a necessidade de ousadia,criatividade, do encontro com o que penso e o que gosto .
O brincar entra como uma experiência de convívio, conhecimento de si, comportamento, comunicação, reconhecimento de valores e limitações, imaginar, sonhar. Mas como sonhar em mundo de uma cultura massificada (LIBANIO, 2001), onde as janelas da verdade, do bem e da ética, encontram-se fechadas. A ocupação dos espaços públicos através das brincadeiras, que narram o mundo , como os filhos de Arnaldo Godói, através da humanidade, seria uma possibilidade?
A ideia de um “Jardim de Waldorf”, com brincadeiras antigas de rua ,coletivas e lúdicas , encontrar o “eu cósmico “ corpo e natureza, baseado em um olhar intelectual, coletivo, empreendedor, alicerçado no respeito, tolerância, e escuta do outro, seria uma luz no fim do túnel, ou a toca do coelho. Quebrar o circulo vicioso desta “osmose social”, do adolescente ser o que o “mundo” os permite ser é o desafio lançado por este artigo.
O artigo de PEREIRA, Eugenio T. “Brincar na Adolescência uma aventura no Espaço Escolar”, nos revela que é possível através do brincar , que nossos jovens mudem o curso de suas vidas para um futuro melhor. O Projeto Pandalêle, e realizado extra classe com alunos do 6º Ano ate os anos finais do Ensino Básico , desenvolvido em escolas Estaduais de Minas Gerais em parceria com a Faculdade de Educação da UFMG , 2000, na modalidade de bolsas de extensão, produção de cartilhas, textos, brinquedos cantados, programas de computadores, encontros, seminários, congressos,cantigas de roda, jogos coletivos, de tabuleiros. O processo de investigação, observação , analise , descrito e registrado pelos Agentes Brincantes, mostrou que as atividades de colaboração constroem laços de amizades, que ultrapassam os muros escolares, o próprio relato dos jovens ratifica que brincar os fazem fugir dos problemas , dar um tempo, ajuda a relacionar-se melhor com os outros.
Alicerçados no respeito, evolução e autoconfiança, confirmou que o ato de brincar através de uma decisão interna, atinge dimensões psicológicas e sociológicas, pela descoberta da recriação, da atitude lúdica, formação da identidade, diversão, destreza , quanto ao risco , desafio, confronto , confirmação do poder que atraem o adolescente, e suprido nas brincadeiras e jogos.
Os maiores obstáculos são : a vergonha e criticas , com a relação aos outros colegas, por não querer ser rotulado de “criança” pois ainda vinculam que brincar e restrito ao publico infantil, discurso da própria sociedade. Para quebrar este paradigma , a estratégia usada foi o protagonismo juvenil, as lideranças adolescentes, e um mediador adulto que construiu um espaço de confiança e autonomia. Ao sentir-se responsável pelo processo social , cultural, o jovem se sente parte da construção , apropriação, do resgate da sociedade e da cultura de paz, segundo PEREIRA,Eugenio:
”O Pandalele, através de jogos, brincadeiras,
musica... e um caminho que o adolescente pode e
deve usar para a buscar o significado da vida...a
passagem para a vida adulta fica mais gostosa e
tranqüila...para a formação de uma população mais
feliz...”(Pag 45)
Conclusão
Esta leitura me levou a uns 50 anos atrás, depois a 40 anos , há 23 anos , e finalmente há três meses, me reportou a leituras, antigas e atuais. Internamente me recuso a ver o brincar apenas como um objeto de aprendizagem, e sim como um modificador que “pinica” o cérebro e o coração, como definiu HERRERA, um objeto de desenvolvimento sócio emocional, de prevenção e tratamento contra a violência , do sofrimento, despertando o sentido de grupo, família, comunidade.
Os pais, quando brincam com os filhos reportam a infância , constroem vinculo, parceria,“ambos olham para si, e se gostam do que veem. “(Camila Cross). Pode ser “ piegas” , mas e real O BRINCAR CONSTROE conhecimento, aprendizado, interações sociais, solidifica relações ,e mostra o caminho para conhecermos o mundo e a nós mesmos, mudand o cérebro de todos que brincam.
Agradecimentos
“Ao homem que se não tivesse sonhado ser um pássaro na infância, jamais teria construindo um Boeing.” (SEBASTIANI, pag.50)
BIBLIOGRAFIA
LIVROS:
DRUON ,MAURICIO. O MENINO DO DEDO VERDE, 1980
EXUPERY, ANTOINE DE S. “ O PEQUENO PRINCIPE”,1982
PINTO, ZIRALDO A. O MENINO MALUQUNHO.1983,UMA PROFESSORA MALUQUINHA.2010
DAMAZIO, REINALDO LUIZ .”Livro o que é criança”. EDITORA BRAZILIENSE.
FILMES:
“JANELA DA ALMA – JOAO JARDIM E WALTER CARVALHO
SEBASTIANI, MARCIA T. “CULTURA DA INFÂNCIA
VIDEO:
BRINCAR LIVRE NO JARDIM WALDORF NO BRASIL
O VICIO TECNOLOGICO
BRINCAR FAZ AS CRIANÇAS IGUAIS – FISIOVITAL- DAFNE HERRERO
LIVE FABIO COSTA CONTADOR DE HISTORIAS
DOCUMENTARIO:
MARIA MONTESSORI
MASTERCLASS III-
ATITUDE EMPREENDEDORA DESCUBRA COM ALICE SEUS PAIS DAS MARAVILHAS
MUSICA : GESSINGER,HUMBERTO. SOMOS QUEM PODEMOS SER , ENGENHEIROS DO HAVAII.
https://m.letras.mus.br 28/05/2020 09:55
ARTIGO:
PEREIRA, EUGENIO T. -Repositório.ufmg.brQ1843/FAEC-85ZHLC/1/1000000337.PDF.-
Projeto Pandalele.brinquedos.encantados.eba.ufmg.br , 15/07/2020 11:45
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