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Colocando o brincar como foco

- RICARDO MOLINA SOBREIRA -


Elaborado com a proposta de interagir em um mundo onde a modernidade nos tira os momentos de lazer, de diversão, socialização sem obrigações de rotina, colocando o brincar como foco, seja ele por meios teatrais, circenses ou dinâmicos a proposta resgata as brincadeiras do ontem, do hoje e nos prepara para os novos brincares não limitando idades, quantidades de pessoas e sim focando sempre o imaginário, lúdico e espontâneo.

O trabalho tem como bases de elaboração uma releitura e pesquisa nos campos teatrais, circenses e do brincar com auxílio em pesquisas de autores, educadores e filósofos das áreas descritas dentre eles Constantin Stanislavski, pai do teatro e grande mestre na arte do teatral nos ensinando a questionar, pensar, entrar na ficção, no improviso, no imaginar e aproveitar espaços e Viola Spolin, nos trazendo a experiência do brincar teatral, do interagir e explorar vivências quebrando as paredes e barreiras de uma sala de aula e tendo o mundo como seu cenário para brincadeiras.

Esses autores relacionados ao curso Agentes do brincar, veio então a possibilitar um novo olhar para as artes cênicas, trazendo o brincar em foco não apenas pelo brincar, mas por resgatar brincadeiras, interagir e promover o trabalho de interação social, valores humanos, postura, auxílio na relação do indivíduo com o meio e suas reações como vergonha, braveza, introspecção, espontaneidade, saúde mental e física.

Por fim, o trabalho nos coloca a pensar sobre o que nos desperta o brincar, o que nos trouxe e o que deixamos passar e porquê não utilizamos, não resgatamos a alegria de nos divertir sem estarmos presos ou vinculados a tecnologias, meios de transportes e até mesmo no coletivo trazendo possibilidades desde o lazer ao estudo do brincar e suas causas, reações no indivíduo como um todo.

O brincar entra em nossas vidas e quando menos esperamos estamos presos a ele em um mundo de magia, de descobertas, de aprendizados, interações e acima de tudo, liberdade.

Muitos vão dizer que para se brincar precisa de regras, de contextos, de ensinamentos e fala, mas não funciona assim, mecânico. Para brincar basta vontade e criatividade.

Quando crianças brincamos com o seio de nossa mãe ao nos alimentar, vamos crescendo e passamos a brincar descobrindo nossas partes do corpo, tocando, mordendo, arrastando pelo chão e demais espaços. Chegamos a andar e aí descobrimos objetos, formas e coisas que vão para nós tomando vida e revivendo a cada curiosidade não tendo a mesma utilidade real do objeto.

Passam-se os anos e com as crianças em espaços de lazer e escolas vamos aprendendo o brincar coletivamente, o brincar direcionado, o brincar resgatando a tradição de nossos antepassados e familiares e aos poucos vamos deixando de lado aquele brincar inocente, livre para escolher, mas ao mesmo tempo colocando um brincar com mais descobertas, com mais possibilidades, espaços, pessoas e assim chegamos a fase mais cinza de nossas vidas, a adolescência. Nela esquecemos como era incrível ser criança e mais ainda, que para brincar não precisa ser criança.


Adolescentes não brincam com a mesma alegria, espontaneidade, sentem vergonha, ficam acuados pela crítica de seu grupo social e acabam se fechando para novos caminhos e auxílios que o brincar desperta e traz em conjunto com as artes cênicas onde tive meu primeiro contato procurando meios para melhorar as peças da igreja onde fazia parte de um grupo de jovens. Ao entrar em um grupo de direção teatral vi que o teatro era feito por jogos e provocações nas quais os atores se descobriam e guardavam essas descobertas para si levando isso para cena.

Entre os caminhos percorridos de descobertas e conhecimentos passados por linguagens e vivências sempre sendo a fundamental ferramenta do jogo era muito explorada com a ideia de ensinar sem enrijecer os jogadores, deixando os conhecimentos espontâneos.


Dentre conhecimentos e experimentações entrei em um curso de estudo do cômico com a ideia de fazer da brincadeira uma coisa séria, que sempre me atraia e cativava fui me aperfeiçoando e aos poucos juntando essas ideias entrei em um curso de palhaço e a mistura de teatro e circo estava feita. Logo, chegaram as apresentações, intervenções, trabalhos, formatura de turmas, alunos reconhecendo e participando sempre de intervenções e oficinas.

Com a experiência e a vivência na área surgiu a ideia de fazer oficinas para crianças e adolescentes com foco no palhaço onde os participantes se descobrem e interagem uns com os outros e com a plateia, adaptando a linguagem do circo com diversas idades e locais fazendo o circo chegar a prédios, praças e shopping sem perder a magia do imaginário. Por fim, o brincar vem por meio dessa pesquisa mostrar e embasar como nosso dia a dia, nossa rotina pode ser quebrada a todo momento com percepções, pequenos contatos, falas, gestos, objetos que ornam, brincam, seguem a linha tênue que a infância nos deixou.

Através do brincar ela aprende, experimenta o mundo, possibilidades, relações sociais, elabora sua autonomia de ação, organiza emoções. Ás vezes o pai não tem conhecimento do valor da brincadeira para o seu filho. A ideia muitas vezes divulgada é a de que o brincar seja somente um entretenimento, como se não tivesse outras utilidades mais importantes.

Através do jogo, a criança compreende o mundo à sua volta, aprende regras, testa habilidades físicas, como correr, pular, aprende a ganhar e perder. O brincar desenvolve também a aprendizagem da linguagem e a habilidade motora. A brincadeira em grupo favorece alguns princípios como o compartilhar, a cooperação, a liderança, a competição, a obediência às regras. O jogo é uma forma da criança se expressar, já que é uma circunstância favorável para manifestar seus sentimentos e desprazeres. Assim, o brinquedo passa a ser a linguagem da criança.

Muitas vezes os pais não permitem que o filho passe por todas as etapas do seu desenvolvimento, e eles fazem isso quando tolhem as brincadeiras, exigem organização, por acharem que estão contribuindo para a maturidade da criança, quanto à aquisição de alguns comportamentos, como por exemplo, o de limpeza. A imposição de tarefas exaustivas, as incompatibilidades de horários da família são outros fatores que podem impedir as brincadeiras livres.

É de suma importância que a família tenha consciência das marcas que a sua postura de não disponibilizar flexibilidade para as brincadeiras pode deixar na criança pois limitando ela a não descobrir formas de lidar com suas frustrações, com seus sentimentos, suas atitudes, imaginário, e lazer ela se fecha, não absorve qualquer aprendizado positivo e perde o gosto pelo brincar.,


Além disto, vale lembrar também que é um direito garantido pela Constituição. Brincar é coisa séria e após todas essas fases de diversão, descobertas, aprendizados o brincar não pode deixar de ser lembrado, praticado sejam em crianças, adolescentes, adultos ou idosos ressaltando que brincar não é só por aprendizado e atividade, devemos brincar constantemente pelo simples motivo de resgatar sensações, relembrar a infância, a nostalgia do momento vivido sem a implicância de regras, de limites, utilizando unicamente o lúdico e imaginário.


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