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Diversas formas de brincar - minha vida

- Lais Centeno Franco -


Durante a minha infância, adolescência e até hoje, as brincadeiras sempre estiveram presentes. Com amigos, irmão e até sozinha, eu brincava de tudo. Sendo assim, vou contar um pouco da minha história e dos meus momentos de brincar. Quando eu era criança, minha brincadeira favorita era rouba-bandeira. Sempre gostei muito de brincadeiras em equipe, de preferência as que envolvem corrida, mas a única oportunidade que tinha para fazer isso era na escola, nas aulas livres de educação física, pois como moro em um bairro comercial, não tenho muitos vizinhos.


Eu ficava muito feliz quando tinha aula de educação física na escola, pois como disse anteriormente, era a única oportunidade que eu tinha pra brincar com um grupo de crianças, o que é essencial para algumas brincadeiras, inclusive a minha favorita. Acho que isso é uma das coisas que eu senti falta na minha infância; no começo eram dois e depois passou a ser só um dia para educação física, para brincar com meus amigos. No intervalo a maior parte do tempo nós tomávamos o lanche, não tinha muitos horários para brincar. Mas isso nunca me impediu de me divertir. Quando eu estava sozinha, gostava de brincar de escolinha, faz de conta e brincadeiras que envolviam imaginação, até fingia que eu tinha um gato (hoje tenho quatro).

Em casa geralmente eu também brincava sozinha com minhas bonecas, com peças de montar, mas às vezes chamava alguma amiga para brincar comigo, o que era mais raro por causa dos horários incompatíveis. Costumava também brincar com meu irmão mais velho de bolinha de gude, vídeo game e de montar cabaninha com cadeiras e lençóis, era muito divertido.

Lembro dos meus avós contando como era bom o brincar no tempo deles, que eles podiam ficar na rua jogando bola, empinando pipa, brincando de pega pega e de mais mil e uma brincadeiras. Eu nunca tive essa oportunidade por causa do fluxo de carros na rua, mas cheguei a empinar pipa no telhado de casa e gostei bastante, deu uma sensação de leveza e liberdade, então imagino que na rua devia ser ótimo também. Acredito que com o passar do tempo as sociedades, as oportunidades e, consequentemente, o brincar vão mudando, mas isso não quer dizer que uma época foi ou é melhor que a outra, até porque muitas das brincadeiras permanecem as mesmas, as vezes de uma outra forma, reinventadas, mas com a mesma essência.

Isso ficou claro na minha adolescência, quando eu conheci e aprendi a brincar de algumas brincadeiras antigas da minha infância, só que de uma de outra forma. Alguns “pega-pega” ficaram diferentes, surgiram novas regras na queimada, tinham diversas maneiras para dança das cadeiras, entre muitas outras coisas e no começo fiquei um pouco perdida com essas mudanças, achei que não sabia mais brincar, mas depois eu percebi que na verdade eu não desaprendi a brincar e sim aprendi novas formas, ampliei minha visão e meu repertório e isso foi muito importante, pois conheci diversas formas de brincar da mesma brincadeira, em múltiplas situações e condições. Um exemplo disso é na dança das cadeiras, pois quando não tinha cadeiras no local, nós fazíamos riscos no chão ou colocávamos fita crepe, quando não tinha rádio nós cantávamos, então nunca deixamos de brincar por falta de material, sempre tinha plano b.

Quando eu fui pro ensino médio, as aulas livres de educação física passaram a ser mais raras, na maioria das vezes jogávamos futebol, handebol, basquete e vôlei. O que eu mais gostava era vôlei, apesar de ser pequena e ter um pouco de dificuldade pra jogar, eu achava incrível, me animava e sempre torcia pra ser esse esporte. Tinha também algumas competições entre as salas nos anos de copa do mundo e olimpíada, mas eu não gostava de participar, pois as únicas opções eram handebol e futebol e eu não gostava muito.

Como deu para perceber, os momentos de brincadeira passaram a ser momentos de esporte, o rouba bandeira, pega pega, esconde esconde ficaram cada vez mais raros, até que deixaram de existir na minha rotina. Isso só mudou quando comecei a dar catequese para as crianças da minha igreja, pois no final das aulas ou nos passeios aos parques, propunha algumas brincadeiras e também deixava que elas escolhessem, então pude voltar a brincar do que eu mais gostava e conhecer novas brincadeiras também, dando uma grande nostalgia, uma saudade. Falando deste assunto, me lembro de um poema do Fernando Pessoa chamado “Quando as crianças brincam":


Quando as crianças brincam

E eu as ouço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar

E toda aquela infância


Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no meu coração.



Sempre que vejo as crianças brincando, lembro da minha infância, um tempo em que as brincadeiras em grupo não eram muito frequentes, mas eu sempre aproveitava ao máximo. Mesmo sendo algo que eu não tive, conseguia me divertir, nunca deixei de brincar, pois sempre há muitas formas para isso; existem brincadeiras para todas as pessoas, gostos, idades, condições e, o mais importante, elas sempre existirão.

Bom, é bem difícil relatar sobre as brincadeiras que eu mais gostava, pois eram todas; acho que não tem nenhuma que eu não gostasse. A maior parte delas eu brincava sozinha, mas mesmo assim era muito bom.

Antes de conhecer e fazer o curso Agentes do Brincar eu brinquei muito. Sempre me interessei por esse tema, pelo lúdico, pela imaginação e criatividade e sempre gostei de conhecer novas brincadeiras e novos jeitos de brincar. Na faculdade fiz duas matérias optativas voltadas a esse tema, que foram “brinquedos e brincadeiras na educação infantil” e “arte e educação infantil: dança e teatro”. Foi uma experiência muito enriquecedora para mim, pois pude conhecer formas de brincar em outras cidades, estados e países, conheci brinquedos feitos por crianças ribeirinhas, que moram na zona rural, de povos indígenas e fiquei impressionada com a criatividade; barcos feitos com madeira e folhas, com isopor, bonecas feitas com palha. Não importava os materiais disponíveis, eles sempre achavam um jeito pra construir seus brinquedos e brincar.

Contei esse fato, pois quando eu estava fazendo essa matéria, pude relembrar da minha infância, dos brinquedos que eu construí, que eu imaginei. Lembro que toda vez que eu ia no médico, no mercado ou em qualquer outro lugar, eu adorava brincar de imitar quando eu chegava em casa. Eu pegava as caixas vazias de remédio e fingia que era farmacêutica ou que eram produtos de mercado, pegava algumas receitas antigas para receitar às minhas bonecas; que nostalgia!

Fazer esse relato me deu muita saudade da minha infância, das brincadeiras, de construir brinquedos, uma sensação muito boa que quero ter pra sempre comigo; na verdade tenho certeza que terei, a essência de criança sempre permanecerá comigo e vou levar minhas brincadeiras por onde for, pois não há nada como o brincar.


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