- MARÍLIA NASCIMENTO RIBEIRO LEMES -
Atualmente está cada vez mais difícil encontrar espaços para o brincar livre e explorador. Infelizmente temos que nos contentar com o espaço cada vez menor para o brincar, seja em nossas casas ou espaços públicos escassos, isso, talvez seja o resultado da transformação da vida contemporânea que diminui as moradias e os espaços de brincadeiras nos lares e na cidade.
Durante uma atividade de resgate de histórias e vivências corporais relacionadas com a prática do brincar do curso Agentes do Brincar, pude perceber o quão rico foi o meu brincar na infância, se não fosse por esta atividade, talvez não me desse conta dos momentos de construções, narrativas, sonhos, risos e muito mais, vividos no quintal de casa. Espaço privilegiado com uma área enorme, árvore, terra, pedras, sol, tudo que um quintal de verdade deve ser.
Quantas possibilidades para brincar e se desenvolver o quintal proporcionou a todos que puderam explorá-lo e colocar em prática a imaginação. Que brincar é a experiência mais valiosa de nossas vidas, não podemos duvidar. Tonucci (2016), fala que ao longo da nossa vida, o cimento sobre qual construímos nossa formação e nossa cultura, foi adquirido nos primeiros anos de vida, nas brincadeiras. Essa afirmação atrela-se a tudo que se passou nas vivencias do quintal, as construções de casinha embaixo da árvore, cata-vento, carrinhos, escaladas em muros e árvore, escolinha e tantas outras brincadeiras que surgiam pelo fato de se ter liberdade, natureza e o quintal.
As relações com minhas irmãs, primos, colegas da rua e meus pais estão marcadas na minha história, é o cimento da minha formação. Todos se encontravam neste espaço para dividir suas habilidades. A construção da casa da árvore contou com a participação de todos, mas teve aquele primo que se destacou por se mostrar o mais engenhoso e habilidoso.
A construção do cata-vento, pelo meu pai, nos ensinou a observar a direção do vento e admirar-se com a velocidade ou falta do vento que mantinha o cata-vento parado. O “pé de jambo”, árvore frutífera, que nos ensinava que o verão estava chegando e que iríamos nos deliciar com a fruta doce e macia e sem falar do aroma que se espalhava pelo quintal e pela casa adentro. Pendurar-se na árvore e ter a visão do horizonte. Fazer bolos de aniversários de terra e sentir a natureza tão viva.
Toda essa vivência com a natureza, também possibilitada por esse quintal, é muito importante para a criança, como destacam Carneiro e Dodge (2008, p.85) no estudo realizado, que confirma, por parte de todos especialistas, que a observação da natureza é benéfica e faz com que a criança descubra cores, formas, odores, sabores, situando se em relação aos fenômenos.
Contudo, percorrer esse caminho das lembranças e se dar conta das construções físicas e subjetivas que se instalaram no ser de todas as crianças que brincavam no quintal, mostra a necessidade de dedicarmos atenção e preocupação em criar e manter espaços físicos saudáveis para as crianças de hoje brincarem e reinventarem-se.
José Paulo Paes, poeta do brincar, traduz em suas palavras a doçura e encantamento de ser criança e poder desfrutar dos espaços dedicados a elas. O poema “Paraíso” traduz tudo aquilo que vem da alma de uma criança e o seu desejo para o mundo, um paraíso para crescer e ser feliz:
Paraíso
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