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Um conto de fada real sobre brincadeiras

- Natalina Gomes -

Era uma vez em uma cidade bem distante, chamada São Miguel do Guamá, que fica no Estado do Pará na região norte do Brasil. viviam um casal, muito feliz, que se chamavam Sebastião e Maria, pais de três lindas crianças. Leonel o mais velho, gostava muito de pescar e jogar futebol, Natalina a do meio era a mais sonhadora, pois sonhava em conhecer lugares novos que iam muito além de sua imaginação e Mariano era o caçula sempre grudado na sua mãe, por onde quer que ela fosse, lá ele estava também . Essas crianças tiveram uma infância muito feliz, porém muito diferente do que as pessoas daqui estão acostumadas. Eles tiveram o privilégio de viver momentos cheios de aventuras, com brinquedos construídos por seus pais, brincadeiras ensinadas por seus avós e muita, muita história contada ou mesmo criada por eles.

Natalina nunca esquece como era sua rotina, acordava sempre no mesmo horário com o leve barulho de lenha queimando no fogo e o delicioso cheiro do café e do beiju sendo preparado por sua mãe. O cheiro exalava por dentro dos quatros cômodos onde moravam. Ela ficava toda eufórica, pois sabia que mais um dia cheio de aventuras estaria se iniciando. Ir “trabalhar” com seus pais, era a melhor de todas as brincadeiras. A roça para os seus pais talvez não fosse o lugar que gostariam de estar, mas para a sapeca Natalina a roça para ela não passava de uma grande floresta, um lugar mágico, cheio de animais de todas as espécies e tamanhos, pois na sua imaginação todos eram amigos e protetores da floresta. Natalina e seus irmãos cresceram, subindo em árvores, correndo atrás de borboletas nos capinzais, tomando banho nos igarapés, ouvindo “causos” diante das fogueiras feitas por seus pais nos dias de lua cheia.

Todos cresceram, mudaram de cidade, constituíram suas famílias, Natalina queria muito mais. Concluiu o curso técnico em magistério em 1996, trabalhou em uma escola particular como auxiliar, depois conseguiu um contrato de um ano como professora no governo do Estado, porém, desmotivada pela forma como as pessoas selecionavam os professores, resolveu mudar de área, sendo assim ficando cinco anos fora da sala de aula. Ela trabalhou nesse período em uma fábrica de temperos. Inquieta e curiosa aquele mundo foi se tornando sem sentido pra ela e com o incentivo de sua gerente, resolveu voltar pra sala de aula. Conseguiu novamente um contrato na prefeitura de sua cidade. Lá se reencontrou novamente, com a satisfação em fazer o que realmente gostava.

Teve que aprender muito, pois muita coisa tinha mudado, eram nomenclaturas, teorias das quais ela nunca tinha ouvido falar. Não mediu esforços fez cursos, estudo bastante. Em 2008 conseguiu entrar para faculdade de pedagogia e neste mesmo ano ela é todas as professoras que estavam na educação infantil no município, tiveram a oportunidade de fazerem um curso oferecido pelo Instituto Natura, o projeto “Crer pra ver”. Sua turma foi selecionada pra ser o piloto do projeto. Ela cada dia mais encantada, conseguiu avanços maravilhosos com sua turma. Com isso ganhou uma viagem pra vir a são Paulo participar do encontro Nacional do Instituto Natura. Foi paixão a primeira vista, e ela falou pra si mesma que iria morar aqui. Voltou cheia de expectativas e sonhos e, em meados 2012 junto com as professoras da escola na qual lecionava vieram novamente à São Paulo para participar de um congresso.

Retornou pra casa com convicção de sua ida de vez pra são Paulo e assim aconteceu no final desse mesmo ano, ela se mudou pra são Paulo sem emprego, com pouco dinheiro, mas com muita Fé, força e disposição pra trabalhar. Após entregar muitos currículos, participar de vários processos seletivos ela enfim conseguiu emprego em uma escola particular. Não era o emprego dos seus sonhos nem tão pouco o ambiente onde queria ficar por muito tempo. Por isso voltou a estudar, fez vários concursos, passou em alguns. Em 2017 conseguiu a realização de mais um sonho profissional que foi sua efetivação como funcionária pública. Fez atribuição em uma escola maravilhosa, na EMEB Guilherme de Almeida, uma escola de educação infantil, localizada no Bairro Assunção em São Bernardo do Campo, no grande ABC de São Paulo. Um lugar onde o brincar faz parte da rotina das crianças, e foi neste ambiente motivador que levou a procurar outras formações que viesse a contribuir para sua prática, onde os beneficiados seriam as crianças. A escola tem um espaço maravilhoso, com bosque, parque, árvore e uma gestão preocupada com essa falta do brincar no cotidiano da criança.

É ela curiosa e querendo proporcionar novos desafios para seus alunos e para sua formação foi à procura de novos cursos e durante suas pesquisas encontrou um anúncio na internet falando do curso "agentes do brincar" ficou animada, porém já haviam encerradas as inscrições, mas não desistiu ficou atenta às datas. Foram três tentativas até conseguir realizar seu desejo.

Natalina ficou muito ansiosa, uma excitação tomou conta de si, pois não tinha noção do que tinha pela frente. Porém a cada sábado, a cada aula com professores maravilhosos e metodologias diferenciadas foi superando suas expectativas. A cada aula um motivo de reflexão, um motivo para tentar entender porque a criança tem que ser cerceada de um dos melhores motivos de ser criança, que é o brincar.

Marilena Flores Martins (2009, p. 11) muito sabida e com uma sensibilidade sem igual defende “que as brincadeiras ajudam a criança a relacionar-se melhor com os outros desenvolvem a sua criatividade, fazendo-as tranquilas e inteligentes”. Sabemos que a brincadeira faz conhecimentos, trás novas possibilidades, aguça a imaginação nos levando ao mundo do desconhecido.

Para Natalina esses meses foram de muito aprendizado, de muito conhecimento. Foram momentos também de se auto avaliar, de perceber e entender que se tornar um agente do brincar, também lhe trará uma grande responsabilidade... O de luta, sim lutar para que esse momento de suma importância na vida de toda criança se torne real, seja vivido por cada um. Que os espaços sejam pensados nas crianças, onde a criança possa ser criança.


BIBLIOGRAFIA:

MARTINS,Flores Marilena.Brincar é preciso!, são Paulo:Evoluir, 2009.

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