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A influência dos jogos africanos na cultura brincante brasileira

- Maria Angélica Àse ¹ -

*jogo mancala.


Processos de reflexão da educação afro-brasileira e antirracista

Vamos a um exercício rápido: pense no nome de cinco países europeus e suas capitais. Agora pense no nome de cinco países africanos e suas capitais. Provavelmente você teve mais dificuldades em lembrar (ou não lembrou) de algum país do continente África, certo?

Este é justamente o perigo de uma única ou poucas perspectivas para se contar histórias e construir referências.

Isso nos faz refletir sobre como se dão as representações da cultura negra nas disciplinas escolares. Como os negros são apresentados, sua origem, sua participação na construção da sociedade brasileira, como as lutas do povo negro são descritas, quem são os grandes nomes negros da nossa história?

*Mapa do continente africano



Ao discutirmos a importância da educação antirracismo no contexto de educação formal e não-formal estamos falando sobre contar histórias dos povos em múltiplas perspectivas. Isso tem relação direta com a construção da autoestima das crianças negras, sobretudo, e das não-negras, a partir de referenciais e identidades com sentimentos de valorização sobre a negritude. Além disso, garantimos direitos às crianças e jovens de conhecer suas origens, independentemente da cor da pele.


A lei nº 11.645/2008, que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo escolar nacional, trouxe à discussão a mudança de abordagem das escolas ao reconsiderar e rever conteúdos, livros didáticos, datas comemorativas, grandes personalidades e eventos históricos. Porém, somente a lei não bastou, pois as questões que envolvem o racismo são bem mais profundas e as relações étnico-raciais são fundamentais para a manutenção da profunda desigualdade do atual sistema econômico brasileiro.


Ao refletir sobre a condição histórica da população negra no Brasil, desde a diáspora africana, ocasionada pelos processos coloniais, até hoje, com a exploração de empregadas domésticas, trabalhadores informais, entregadores de comida por aplicativo, como exemplo, vemos que pouco mudou.

*Imagem: Navio negreiro - Museu Afro-Brasil



Assim, os espaços educativos, sejam formais, não-formais ou populares, ainda são os melhores lugares de discussão, de reflexão e de enfrentamento, a fim de construirmos de maneira coletiva uma educação antirracista baseada na pluralidade dos sujeitos, no respeito às suas origens e ancestralidades e da formação de sua identidade.

Quando olharmos para estratégias, ações e proposições educativas nos espaços culturais, educativos e sociais, de maneira cuidadosa, crítica e considerando as relações étnico-raciais e territoriais, veremos que ainda temos um longo caminho pela frente, mas o primeiro passo deve ser dado para que as crianças e os jovens tenham acessos e oportunidades iguais e possam ter garantidos seus direitos enquanto cidadãos.


Brincadeiras e jogos africanos e suas referências no brincar brasileiro



Quando falo em jogos africanos, jogos e brincadeiras de matriz africana, quando eu falo em África, o que vêm na mente de vocês? Quais imagens remetem? Quais imagens aparecem? Quais coisas que estão na nossa sociedade que são contribuições da matriz africana para identidade brasileira? Vocês conhecem algum jogo africano?


Bom, antes de mais nada é importante lembrar das contribuições diversas que os africanos e africanas têm e tiveram na sociedade brasileira. Desde a música, dança, religiosidade, culinária, linguagem, movimento, artes.

*Bloco de carnaval paulistano ILU OBA DE MIM



Algumas manifestações culturais comumente não são muito abordados, principalmente por representar produções que vem desde um período em que a população africana havia sido escravizada e foi trazida para o Brasil a força, trabalhando no regime da escravatura.


Trouxeram também diversas outras contribuições no campo do trabalho, a manipulação dos metais, a mineração, a tecelagem, o trato com os animais, são várias as contribuições técnicas do trabalho. Não diferentemente das demais citadas acima, a contribuição na cultura do brincar estão espalhadas na nossas comunidades.





Ela influenciam as nossas práticas corporais, nossos modos de se relacionar e brincar, às vezes essas contribuições não estão marcadas com a identidade da matriz africana, muito por conta da apropriação cultural dos colonizadores.



E por isso nós estudamos, investigamos e devemos atribuir as devidas referências às origens de onde vêm. Um exemplo que trago aqui é o jogo Cinco Marias. A explicação da origem e de como jogá-lo nesse vídeo que publiquei no portal do Sesc Sorocaba:




*Link do vídeo: https://www.instagram.com/tv/CHknK3Bsb2c/?utm_source=ig_web_copy_link/ Edição da educadora Maria Angélica Àse/ Animação do educador Aggeu Luna


Vocês sabiam que essa tradicional brincadeira é na verdade um jogo oriundo do continente África, mais especificamente de Moçambique?

Esse país também se fala a língua portuguesa, como a gente, aqui no Brasil.

O jogo das "cinco marias tem seu nome original de Matacuzana.



¹ Maria Angélica Àse é inventora e pesquisadora de jogos de tabuleiro com temática afro-brasileiras e indígenas. Especialista em Jogos e Brincadeiras afro-brasileiras e africanas pela UFSCar - Educação Física escolar.

Brincante e educadora de crianças e jovens.






*Dica*

Várias dicas de brincadeiras africanas no livro "O Direito de Brincar: Guia Prático Para Criar. Oportunidades Lúdicas e Efetivar o Direito de Brincar". É possível baixar gratuitamente em https://www.ipabrasil.org/publicacoes


Referências:


•https://www.sescsp.org.br/online/artigo/14603_POR+QUE+E+TAO+IMPORTANTE+FALAR+SOBRE+EDUCACAO+ANTIRRACISTA

•http://chc.org.br/acervo/matacuzana-o-que-e-isso-2/#:~:text=A%20matacuzana%20%C3%A9%20um%20jogo,Ent%C3%A3o%2C%20vamos%20brincar%3F!

• https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/51372

• Livro: Kakopi, Kakopi: Brincando e jogando com as crianças de vinte países africanos | por Rogério Andrade Barbosa (Autor), Marilia Pirillo (Ilustrador)


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