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Brincando no Museu



- Renata Silva -

Participar de uma visita ao Museu Lasar Segall como parte das ações que contemplam a capacitação da segunda turma do ‘Agentes do Brincar’, foi muito mais do que uma simples atividade de formação profissional visto que, muito embora estivesse bastante focada nos aspectos técnicos do espaço público escolhido pela Professora Priscila Leonel, fui como que levada a transitar o tempo todo por entre reflexões técnico-teóricas e outras tantas sensações lúdicas, provindas de minha própria criança interior. E como para mim não há conflito algum entre essas esferas, me tornei também uma brincante conduzida, hora pelo gato que mora na tela, hora pela narrativa quase lúdica que Segall me proporcionou.

A começar pelo espaço em si e por sua arquitetura, acolhedores que são com borboletas a esvoaçar entre o paisagismo do jardim frente ao café, e onde se pode perfeitamente saborear uma boa estória de livros infanto-juvenis, ou então brincar de ‘pisa-nesse-naquele-não’ se nos propusermos a aproveitar o revestimento do piso de modo a proporcionar às crianças uma acolhida brincante antes mesmo de adentrarem os espaços destinados às telas de Lasar.

Isso sem contar que esse hall de entrada ajardinado, em frente à cafetaria, também proporciona peculiar vivência sensorial através da escultura, ali bem posicionada, entre os sons que brotam do vento a passear pelas folhagens que a circundam: interessantes brincadeiras sensoriais podem ali ser ofertadas, e não apenas ao público infantil, diga-se de passagem.

Adentrando o espaço propriamente dito me senti como que sendo realmente recebida à casa de ‘um grande contador de estórias’, o que com certeza também o deve ter sido, visto que contou tão bem boas histórias através de suas pinceladas. E já me explico: a cada tela observada uma história saltava me ofertando a possibilidade de criar estórias como a do ‘gato que mora na tela do andar de cima’. E mais do que estórias nascendo a cada história contada à pinceladas por Segall, brincadeiras aos borbotões foram me afluindo à mente, como é o caso da grande tela em que retratou uma embarcação com muitos imigrantes, e que me levou à esboçar uma intervenção que intitulei de ‘Com quantos passageiros se faz um convés de navio?’

Quanto ao ‘Gato na Tela do Andar de Cima’, qual não foi minha grata surpresa ao perceber que algumas colegas de turma, pronta e curiosamente, entraram na brincadeira e foram rapidamente à caça da tela com o gato na janela... Que delícia foi para mim esse contato com suas tão belas crianças ainda preservadas dentro de si!!!

Mas deixando de lado as tantas peripécias lúdicas que se me esboçaram naquela tarde, importante se faz reconhecer a qualidade do engajamento que envolve e transcende a determinados - e infelizmente poucos – profissionais, como é o caso de Elaine Fontana: muito embora trajada em cores consideradas formais, não havia como estar vestida de forma mais apropriadamente lúdica. Sua fala, bastante bem articulada, argumentava de forma suave e muito bem alicerçada, sobre a importância da empatia no trato com as pessoas, em especial com as crianças. Empatia tal, que não houve como deixar de ser coaptada pela proposta educativa do museu, quer com o público infantil, quer com o público que requer um apoio diferenciado, como é o caso do das pessoas com deficiência: mesmo com poucas peças no acervo que possibilitem o reconhecimento tátil, as oportunidades sensoriais se mostram presentes em cada um dos espaços que compõem o museu como um todo.

Quanto ao público infantil em si, que é o cerne de nossa formação, não pude deixar de perceber o quanto o piso do espaço interno é valioso, pois, livre de móveis e objetos, permite intervenções das mais variadas e que podem ir desde uma simples contação de estórias, de uma roda de cantigas e trava-línguas, de um pequeno teatro-de-faz-de-conta, até uma oficina de criação artística e fotográfica propriamente dita.

Vislumbrei possibilidades sem fim, a depender da faixa etária e contexto sociocultural: resgate dos cancioneiros regionais que aludem ao mar e às navegações fluviais, oficinas de criação e produção de jogos temáticos com base nas obras expostas, teatrinho kabuki, ...

Quiçá todos os espaços públicos conseguissem montar equipes com profissionais realmente envolvidos, motivados e motivadores dessa causa, que é a do próprio resgate e apropriação dos mesmos.

Creio que somente apenas através de vivências marcadamente satisfatórias é que um profissional se torna um agente do “printar”, capaz de carimbar em nosso corpo e em nossa mente as sensações que nossa alma capta quando diante das possibilidades do brincar. Será também por isso que “printar” e brincar são rimas entre si?

Ouso afirmar que sejam, e não apenas foneticamente, pois só assim consigo explicar o quanto o ‘Gato na Tela do Andar de Cima’ me “printou” e me fez partejar uma brincadeira de bate-pronto com as colegas.

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