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O Brincar que afeta-O Brincar que faz crescer superar limites


- Luciana Noschese Correia Scarabeli -


Sou a filha primogênita de um casal, bem brasileiro, meu pai nordestino nascido na Paraíba chegou em São Paulo com seus pais junto dos seus 4 irmãos, em busca de um vida melhor na cidade grande, minha mãe, filha caçula, de imigrantes italianos, espanhóis e com um toque alemão, se conheceram e se casaram jovens, quando nasci minha mãe não tinha nem um ano de casada e tinha recém completado 21 anos de idade.

Minha infância teve muita brincadeira mas, confesso que minha memória vai visitar estes registros somente após o nascimento da minha unica irmã 5 anos mais nova, até então tenho pouca lembrança do meu brincar, minha lembrança do brincar remete sempre ao brincar com sentido em ajudar, passar fraldinhas de pano da minha irmã com ferro de verdade de tamanho de ferro de brinquedo, panelinhas de ferro imitando as da vida real.


Na pré adolescência brinquei na rua morava numa rua sem saída com pouco trânsito de carros, isso me permitia jogar vôlei tempo glorioso deste esporte na época, andar de bicicleta Ceci da marca Caloi, brincava de desfiles na casa das amigas vizinhas imitando as mulheres candidatas a miss, com seus trajes maravilhosos e corpos perfeitos.

Os jogos compartilhados eram marca registradas dos encontros com os primos, aprendi a fazer rabiola de pipa e ajudava os meninos a colocar a pipa no alto mas, empinar ja não podia “não era brincadeira de menina eles mesmos diziam” adorava também virar figurinha e brincar de bolinhas de gude este eles permitiam que eu brincasse.

Na escola minha brincadeira favorita era pular corda coletiva, duas pontas sendo batidas pelas amigas e pulando no centro uma ou mais meninas e meninos embalada pelas músicas que enfeitavam a brincadeira, outro brincar era a troca troca de papeis de carta sempre muito desafiador a negociação deste trocar, e como não poderia me esquecer era o descer do morro gramado da escola com os tampos das carteiras que estavam quebradas no fundo da sala ou mesmo um caixa de papelão amassada que serviam para escorregar morro abaixo uma especie de “skybunda” aventura melhor do que esta nem mesmo a de um parque temático, chegar com a roupa suja era realmente uma marca de que o dia tinha valido a pena.

O tempo passou comecei a trabalhar bem cedo aos 14 anos já dividia minha brincadeira com o trabalho da micro empresa no ramo de confecção que meus pais mantinham no fundo de casa, sempre trabalhei muito, tinha muita responsabilidade com a casa e com o trabalho, saia para fazer vendas com o meu pai e isso também era uma brincadeira projetando e imaginando como seria na vida real.

Aos 23 anos me casei, fui mãe aos 26 de um menino e com 29 nasceu a minha filha, com eles voltei a brincar, contar histórias, massinha, “Polly”, “Hot Hills”, barraquinha na sala, colchão de todo mundo no chão grande “camão” o tempo foi generoso, tenho boas lembranças de brincar com os meus filhos pequenos e já maiores e até hoje mantemos a tradição de jogos de cartinhas nós quatro, na sala, UNO, truco, rouba monte, mico, 21, dama, dominó, detetive… por ai vai horas a fio, rola, competição, ajuda dos mais “fracos e oprimidos” tudo dentro da brincadeira.

Em 2003 me formei como assistente social, grande conquista pessoal que me trouxe muitas alegrias e realizações, motivada pelo desejo constante de crescer, trabalhei na área desde o tempo e estágio em 2011 ingressei num projeto social no qual estou até hoje, neste trabalho me sinto desafiada constantemente a ser melhor e crescer como pessoa e profissionalmente, o público que faz parte deste projeto são famílias que tem filhos surdos e que utilizam um dispositivo chamado implante coclear através deste as crianças passam a ter acesso ao som da fala em 30dbs/40dbs. Em virtude da descoberta da deficiência auditiva de seus filhos o que seria natural vindo do afeto entre mães e filhos não ocorre de maneira assim tão natural e espontânea, o fato destas crianças não ouvirem na primeiríssima infância, primeira infância promovem marcar em seus desenvolvimentos que podem nunca serem reparados.

Saber e conhecer sobre o brincar vem ao encontro do meu desejo de conhecer formas de despertar o interesse destas mães pelo brincar compartilhado com seus filhos onde a questão da deficiência promove em alguns casos barreiras intransponíveis por conta do desconhecido e da comunicação

Alguém que marcou minha vivência foi a da Dafne Herrero, com toda sua naturalidade em tratar de assuntos delicados e importantes, toda sua magia e conhecimento profundo, sem contar que o que fez mesmo a diferença é que ela acredita que o brincar é terapêutico, é amor, é relacionamento, é prazeroso e promove um bem imensurável quando é de verdade.

Quando ela diz pede uma dica para o colega, não tem problema não saber de alguma coisa já usei desta estratégia e “deixei a dica” com um grupo de profissionais de uma empresa que estavam promovendo a SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho), falei com o grupo sobre o convívio saudável e das trocas que podemos ter, inclusive no dia contei uma historia do livro “A cidade dos carregadores de pedras” e confeccionamos um brinquedo “peteca” feita de jornal e papel crepom super fácil prática.

O que me leva a pensar que o brincar traz uma leveza assim como fez Alan Q. Costa que tratou lindamente da inserção do brincar e a tecnologia deixando claro e provocativo para que a criatividade também não tivesse limites.



Parafraseando o que nosso lindo hino nacional proclama…”o meu futuro espelha essa grandeza…” de não parar por aqui, já fiz matricula para fazer um curso de Psicopedagogia porque quero atender como consultora para ampliar meus atendimentos como assistente social, sei que há muitas crianças precisando de um acolhimento e um toque para despertar o brincar continuarei imprimindo e plantando sementes do brincar por onde eu passar, por grupos que eu conviver, por amigos que cruzar, seja qual for sua condição sociocultural, econômica e emocional. Com um olhar renovado e a esperança por dias melhores por uma sociedade mais sensível sigo na minha trajetória, pessoal e profissional fazendo a minha parte me unindo a tantos outros agentes que já fizeram e que ainda farão um cabo de guerra forte onde a brincadeira seja vencida pelo bem para o bem.

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