Para ter caráter... Para. Ter, cara? Ser caráter. Ser pai é ser pater para a eternidade.
Paternidade, tem data para começar e não tem para terminar.
No parto, unidade.
Até o limite de nossos corpos.
Porque é ali e só ali que um homem vai ver com os próprios olhos, a oportunidade de perceber seu lugar no universo.
Quando Deus pensou na reprodução do ser humano, sabia que nós, homens, não seríamos capazes de ver outro ser humano saindo de nós. Não à toa, retirou a costela para dar vida a Eva enquanto Adão dormia.
Eu confesso que já estava assustado apenas com o som do cano de sucção que drenava a barriga da mãe, mas no momento que Caetano soltou de seu abrigo e saltou aos meus olhos, encontrei minha “causa vita”.
Eu não teria mais tempo para ser “só” o Emanoel.
Seria o exemplo de caráter daquela alma todos os dias, para sempre.
Daquele segundo (das 10:14 de 5 de agosto) em diante, todos os desafios da paternidade se impuseram. Sem tempo para pestanejar.
Ele saiu da sala de parto direto para o oxigênio.
Do oxigênio para a unidade de terapia intensiva, da cidade vizinha.
Esperto, agora pode falar que viaja desde o primeiro dia de vida.
O fato de uma criança ser gestada, única e exclusivamente, pela mulher proporciona o fenômeno mais próximo do amor puro, a maternidade. Mas esse mesmo fato coloca o companheiro ou companheira, que não recebe essa dádiva, em uma posição complexa, por igual.
Não passar, de forma corpórea, os processos de mudança que a vida sem filhos vai sofrer, faz com que essa tentativa ocorra “apenas” psicologicamente.
Durante os 9 meses, tentamos nos convencer de que vai ser diferente.
Não se sabe como, mas vai ser. E quando o é, ficamos surpresos e estarrecidos, como eu fiquei.
Mas aquele movimento brusco, de ida a uma unidade de terapia intensiva, me pressionou a responder, com a mesma ou maior intensidade e velocidade. O temor de perder aquele "sentido da vida", que havia encontrado na sala de parto, que me fez gestar o Caetano.
Durante suas duas primeiras semanas de vida, estive ao seu lado por todas as horas que pude. Limpei, alimentei, cantei, pensei.
O amor avassalador que descobri haver dentro de mim, trazia-me sentido, até biológico.
Assim, como o corpo da mãe libera nutrientes ao longo dos 9 meses, para que esteja pronto para o parto, meu corpo se retroalimentava desse amor para resistir a dores e medos que me afligiram naqueles 15 dias de UTI.
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