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Visita mediada - Brincar no Museu


-Nádia Silvia Lima -

No curso ministrado pela IPA Brasil, em parceria com a Escola Técnica Parque da

Juventude, os alunos são incentivados a visitar museus, com objetivo simples: brincar. É considerado experiência enquanto hora complementar e elemento agregador à

formação.


Os Museus são espaços referências de cultural e refletores de identidades

sociais, diante da memória e da história preservada. A história dos museus no Brasil é densa e passou por transformações ao longo dos séculos, digna de muita leitura e

reflexão, que está estreitamente vinculada as relações sociais, econômicas, políticas e

culturais. O que interessa no momento é a relação destes espaços com os visitantes hoje em dia, que gerou uma dúvida instigada pela formação enquanto agente do brincar.

A complexidade dos museus e suas temáticas, mesclada com a simplicidade do

brincar e sua prática, incitou dúvidas: seria o brincar uma ferramenta de mediação

cultural? Seria a brincadeira uma aplicação metodológica, quando construída

livremente, para desenvolvimento de educação não formal?

Pois o brincar é leve, simples e tem um potencial enriquecedor, mas pensar o brincar no contexto dos museus e como tornar estes espaços mais leves, prazerosos para

diferentes públicos e com potencial que pode enriquecer o processo educativo.


O que é mediação cultural?

O entendimento de cultura que Cristiane Batista Santana (2011) discorre é tido

como um sistema de produção e de significados compartilhados ou negociados entre indivíduos, atrelados ao contexto que se insere e as relações de poder que permeiam a vida social.


Assim, idealizei uma visita no museu Espaço Memória Carandiru, pensando minha experiência e assumi o papel de mediadora.

Fui convidada, enquanto voluntária do Espaço Memória Carandiru, para receber a turma da qual faço parte com um grandioso desafio: proporcionar um ambiente para o brincar no equipamento cultural. Levei em consideração a missão da instituição e a temática que se propõe, portanto uma visita que pudesse refletir sobre as vivências no presídio e sobre o olhar legitimo de quem ali viveu. Também recolhi materiais não estruturados ou que não tinham mais a função pelas quais foram produzidos, ou seja que possivelmente iriam para o lixo, para proporcionar um ambiente do brincar onde os elementos recolhidos pudessem contribuir, mas que não fosse determinante. Usando elementos presentes na exposição, o objetivo era proporcionar o brincar livre a partir de um novo olhar sobre as pessoas que moraram no Carandiru.

Optei por realizar a leitura de depoimentos do próprio Claudinho valorizando suas experiências e me colocando como porta voz. Foi confeccionado também um material de apoio a proposta educativa: com retalhos de papel mata borrão, trazendo uma simbologia presente no acervo, com desenho de um olho justamente sugerindo um novo olhar sobre essa história e memória. Para mim, a visita começou muito antes do encontro com o grupo e se deu muito mais como uma relação de trabalho do que como uma visita para brincar, carregando toda a responsabilidade que o educador assume quando representa uma instituição e também contribuí com a construção da relação entre visitante e espaço. Particularmente, amo! Me questionei muito sobre um brincar livre e as contradições que poderiam suscitar diante de uma proposta de atividade, a preocupação era não realizar uma visita onde o brincar fosse caracterizado como recreação.

Propor a busca por um novo olhar, para além da memória construída ou da visão estigmatizada pela história e assim, possibilitar um ambiente onde as pessoas pudessem ser e agir livremente, discutindo um contexto de aprisionamento e ao mesmo tempo de resistência.

Não brinquei, mas tive a oportunidade de experimentar o papel de um educador agente do brincar que propõe um olhar; sobre o acervo, a exposição e a memória; e possibilita um ambiente que instigue o brincar. E, pensando a respeito um pouco depois da visita, não brincar com o grupo foi fundamental para que, minha experiência e a postura assumida enquanto educadora, não interferisse no processo livre do brincar no encontro, mas ainda sim contribuindo com o caminho que os levou ao brincar. Tive medo de intervir e isso interviu no fechamento do encontro, mas a professora Priscila Leonel sugeriu e realizou um fechamento que significou ainda mais o encontro. Me vi ocupando um lugar de observador, alguém que realizou um intermédio entre exposição e a história, caminhando pelas linhas da memória, pelo conhecimento do grupo sobre o Carandiru e sobre o brincar, que os levou para um contexto de brincadeira.



Já havia realizado a mesma visita com a turma do semestre anterior e as brincadeiras foram totalmente diferentes, foi muito curioso perceber isso. E pensar como em um ambiente de aprisionamento e repressãofoi possível resistir sendo prático, criativo e simples.

Escrevendo sobre essa experiência, me vi, enquanto uma mediadora agente do brincar:

resistindo, diante de uma construção histórica que observa muito as questões negativas e desumanas, buscando enfatizar um outro olhar; criando, a partir da realidade do espaço físico e dos materiais disponíveis e coletados; sendo simples e me disponibilizando abertamente para contribuição coletivamente que enriqueceu o encontro.


Sendo assim o brincar, para o agente do brincar e para o visitante, assume forma de uma ferramenta de mediação cultural, uma vez que possibilita o contato com a cultura, com o outro e com sigo mesmo, importante processo para (re)construção da identidade e para formação humano do ser. Diante do papel social dos museus, o brincar pode se caracterizar como uma aplicação metodológica no processo de ensino-aprendizage.




O resultado desta aplicação necessita de pesquisas mais aprofundadas e constante avaliação sobre a prática. Sendo assim fica o convite: vamos brincar no museu?

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