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  • O BRINCAR E SEU LUGAR NA SOCIEDADE

    - Sara Caroline da Silva - “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação.” (Winnicott, 1975.) O ato de brincar é fundamental no desenvolvimento humano. Brincar no dicionário Aurélio está relacionado à diversão, a entretenimento infantil, gracejos e até atos levianos e de pouca consideração. Diferente desses significados ou indo além, a brincadeira na infância não é uma mera distração, é um instrumento essencial para o desenvolvimento cognitivo, para a aprendizagem, onde os sinais, a fala e atitudes denotam afetividade e as mais diversas emoções. É na infância que descobrimos coisas novas, entrando em contato com o mundo e os indivíduos que nos cercam. O brincar, nas suas mais diversas formas e modalidades, ampara o desenvolvimento infantil de modo a auxiliar à criança na inserção enquanto sujeito social e se integrar nas realidades do “mundo adulto”, fazendo com que a criança crie, participe e tome parte das realidades que a cerca, como brincadeira de “faz-de-conta, que segundo Piaget: “Está intimamente ligada ao símbolo, uma vez que por meio dele, a criança representa ações, pessoas ou objetos, pois estes trazem como temática para essa brincadeira o seu cotidiano (contexto familiar e escolar)(...)” (PIAGET, p.76) Embora, as brincadeiras, muitas vezes reproduzam de algum modo à realidade ou imitam o cotidiano adulto, como profissões e tarefas domésticas, elas podem e devem envolver uma dose de imaginação. O brincar de casinha, de policia- e- ladrão, por exemplo, está sujeito as normas estabelecidas pela criança, que recria e adapta essas situações para o “seu mundo”, onde a casa pode ser mágica, e a policia é amiga do bandido. Da mesma forma que a função pré- estabelecida de alguns brinquedos, podem vir a ser modificados, transformando, por exemplo, um carro em foguete. O modo na qual os pequenos utilizam os brinquedos pode desviar-se, portanto das normas convencionais, já que a criança visa antes da cópia fiel das atividades adultas, construir e recriar um mundo onde seu espaço esteja garantido. Segundo Vygotsky (1998) a concepção de uma situação imaginária não é algo casual na vida da criança; é na verdade a primeira manifestação da emancipação da criança em relação ao que ele chama de restrições situacionais. (VYGOTSKY, 1998, p. 130). As brincadeiras não se atêm apenas ao faz- de-conta e podem ocorrer entorno de assuntos fictícios, contos e personagens, mas que nunca são puramente imaginativos, já que o brincar é fruto também do meio social da qual se está inserido. Assim, independente do quão “longe vá à imaginação”, ela sempre conterá traços dos processos vividos pela criança, núcleo familiar e social: o super- herói pode gostar de determinada comida, hobbies, cores e ter determinados comportamentos que estão associados aos gostos da própria criança ou ao que ela costuma vivenciar. De modo que não podemos dissociar a brincadeira da vivencia particular do sujeito que a prática: “Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.” (GARDNEI apud FERREIRA; MISSE; BONADIO, 2004) O brincar instiga a criança em várias dimensões, principalmente no cunho comportamental, psicológico e físico, ensinando regras de convivência, aumenta a dose de criatividade, auxiliando no desenvolvimento do individuo e na aprendizagem. De tão importante e inerente à natureza humana, a brincadeira é naturalmente assegurada e se estende a todos os indivíduos. Correto? Esse direito básico é atualmente protegido por lei, justamente por não atingir todas as parcelas da população, precisou ser regulamentado. No Brasil, é o Estatuto da Criança e do Adolescente que assegura aos pequenos, desde 1990, o direito a brincar, praticar esportes e se divertir, ou seja, assegura que se possa passar a infância de modo a crescer e aprender saudavelmente. Entretanto, apenas um papel não consegue de fato, garantir que não haverá crianças trabalhando em situações análogas a escravidão, não consegue extinguir os 2,7 milhões de postos em trabalhos infantis catalogados em 2016 pela Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios, ou modificar a situação de miséria que muitas crianças se encontram, resultando na necessidade de “adultização” precoce e preocupações que não deveriam afligir certas idades. Não se pretende desvalorizar tal estatuto, só ponderar que apenas a lei não basta, que ela deve vir acompanhada de outras leis e medidas protetivas que perpassam, por exemplo, no âmbito econômico. Em outro cenário, porém indo ao encontro das dificuldades sobre o brincar, notamos uma sociedade que parece entender a brincadeira como inerente a infância, ao mesmo tempo que não a vê como um fator absolutamente necessário ou de extrema importância. Os pais restringem o espaço e a hora. A própria escola, os espaços exteriores, a cidade, os prédios, as pessoas... Acompanham tudo e julgam aquelas crianças, que ousam brincar em espaços e horas que não são considerados corretos e aceitos socialmente. A própria escola, se coloca como “espaço para aprender e não para brincar”, como se um, fosse dissociado do outro. Logo ela, que pode ser uma das maiores aliadas na compreensão das disciplinas, que pode ensinar o individuo a ser mais compreensível e altruísta. O que também não significa que devemos ver a brincadeira apenas funcionalmente, ela se basta. Poderia ser vista também, como aliada na recuperação de doenças e deficiências, mas é colocada por vezes, como imprópria para hospitais. Espaços culturais, museus, bibliotecas e exposições, não a consideram adequada entre suas estantes. Os pais abarrotam a agenda dos pequenos com “mil e uma atividades” extremamente práticas, que “servirão para o futuro”, sem pensar que esse “futuro” depende do desenvolvimento proporcionado pelo brincar. Bibliografia FERREIRA, Carolina; MISSE, Cristina; BONADIO, Sueli. Brincar na educação infantil é coisa séria. Akrópolis, Umuarama, v. 12, n. 4, p. 222-223, out./dez. 2004. MELO, Luciana; VALLE, Elizabeth. O brinquedo e o brincar no desenvolvimento infantil. Psicologia Argumento, Curitiba, v. 23, n. 40, p. 43-48, jan./mar. 2005. PIAGET, J. A formação do símbolo na criança: imitação jogo e sonho, imagem e representação. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. QUEIROZ, Norma; MACIEL, Diva; BRANCO, Ângela. Brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural construtivista. Paidéia, 2006, 16(34), 169-179. ROLIM, Amanda; GUERRA, Siena; TASSIGNY, Mônica. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na aprendizagem e no desenvolvimento infantil. Rev. Humanidades, Fortaleza, v. 23, n. 2, p. 176-180, jul./dez. 2008. VYGOTSKY, L. (1984). Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes. VYGOTSKY, L. (1998). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes. WINNICOTT. D.W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro. Imago, 1975. 2,7 milhões. Esse é o número de crianças que trabalham no Brasil. Revista Exame. Talita Abrantes , 25 nov 2016. http://exame.abril.com.br/brasil/27-milhoes-esse-e-o-numero-de-criancas-que-trabalham-no-brasil/

  • Significação urbana pelo brincar

    - Ana Maria Loge Hashimoto - Como graduada em Pedagogia acredito que o brincar seja uma das maiores fontes de aprendizado humano que se pode encontrar, especialmente no mundo contemporâneo, sendo este o assunto principal tratado nestes últimos seis meses através de experiências, discussões, e reflexão. Buscarei neste breve artigo discutir a ressignificação do espaço urbano através do brincar, pois acredito que uma das maiores barreiras sociais atuais são os espaços desencarnados(JAQUES; BRITTO, 2012), as arquiteturas homogêneas e padronizadas além de todos os lugares construídos exatamente para não serem experimentados como espaço cultural e de uso popular. O brincar, especialmente o infantil traz muito aprendizado e uma bagagem cultural enorme, transparecendo muitas desigualdades e paradoxalmente muitas vezes as transcendendo também. A brincadeira se torna possível a partir do momento em que crianças com memórias culturais diferentes se encontram e assim, seus repertórios se fundem e se reestruturam. Espero então, conseguir expressar neste documento um pouco de meus aprendizados dialogando com a questão dos corpos na cidade e os infantes. Gostaria de iniciar este artigo tratando das questões das cidades contemporâneas e seu papel social diante àqueles que serve. No artigo Corpo e Cidade: complicações em processo, de Paola Jaques e Fabiana Britto, para a Revista da Universidade Federal de Minas Gerais, as questões de sociologia urbana são discutidas e as autoras iniciam o escrito falando da atual configuração arquitetônica urbana: “Na lógica espetacular atual, os projetos urbanos hegemônicos buscam transformar espaços públicos em cenários desencarnados, em fachadas sem corpo: pura imagem publicitária. As cidades cenográficas são espaços pacificados, que esterilizam a própria esfera pública política.” (JAQUES; BRITTO, 2012) Como as autoras descrevem, o espaço urbano atual é em sua maior parte comercial no sentido de vender uma atitude, um comportamento, um ritmo e muitas vezes um ideal. Ruas com calçadas estreitas, pessoas andando rápido sem locais de parada ou descanso além da uniformidade de cores e formatos. A cidade muitas vezes não é feita para ser experimentada ou servir, mas sim para ser servida. Britto e Jacques também explicam o conceito de corpografia que acredito conversar bastante com o tema deste artigo: “(...) corpo e cidade se configuram mutuamente e que, além dos corpos ficarem inscritos nas cidades, as cidades também ficam inscritas e configuram os nossos corpos. Chamaremos de corpografia urbana este tipo de cartografia realizada pelo e no corpo, que corresponde a diferentes memórias urbanas que se instauram no corpo como registro de experiências corporais da cidade, uma espécie de grafia da cidade vivida que fica inscrita, mas que, ao mesmo tempo, configura o corpo de quem a experimenta” (JACQUES; BRITTO, 2012) Assim como o corpo fica inscrito na cidade, a cidade também fica inscrita no corpo, logo o modo de interpretar e experimentar o espaço urbano é relativo ao sujeito que o faz, a cidade recebe essa leitura e também marca quem a leu. É uma troca constante de experiências e momentos entre o corpo e o espaço, que enquanto ambos coexistem e se coabitam, a troca é viva. O que tento dizer é que a brincadeira é mais uma das inúmeras interpretações que nós, corpos podemos ter frente ao ambiente, especialmente os urbanos. As crianças são muitas vezes errantes(JACQUES,2006), aqueles que buscam tudo que fuja da disciplina do urbanismo. Fazer muretas de barras de equilíbrio, sentar na sarjeta tomando um sorvete, se agarrando e pendurando nos portões do bairro, e usando a rua como seu campo pessoal de esportes. Não sabendo de todos os propósitos por trás dos projetos urbanos as crianças transgridem simplesmente por entenderem o contexto de seu ambiente e mesmo assim querem-no tornar lúdico. O papel do adulto é mediar e oferecer as oportunidades de vivências nestes espaços improváveis mas principalmente observar essa perspectiva brincante da cidade através dos olhos infantis, já que as crianças também compõe um grupo específico que produz e reproduz questões sociais, repetem e ressignificam a cultura (CORSARO, 2011). O brincar é comunicação, expressão e movimento, além de ser um direito da criança é fundamental para seu desenvolvimento tanto cognitivo como ético, sendo esse cada vez maior de acordo com os desafios superados e oportunidades oferecidas. De acordo com o Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança: “As crianças que aprendem a brincar, controlando livremente as brincadeiras, sentem um prazer natural com isso e tendem a manter o interesse por essas atividades. Brincar permite que as crianças explorem o mundo e encontrem seu lugar nele. Ajudam a aprender, a vencer e a perder, uma vez que influenciam o autocontrole. Enquanto brincam, as crianças adquirem os conceitos de valores, limites e responsabilidades, recebendo informações sobre o que podem e o que não podem fazer” (IPA, 2013) O mesmo artigo enfatiza a importância do tempo livre de descanso e lazer das crianças, e como estas devem usufruir de espaços culturais e experiências positivas. O conceito de corpografia entra aqui como mais um tópico a se refletir quando se fala do uso do corpo no espaço, através de um viés lúdico. A memória do espaço e do corpo depende diretamente da ação sobre o outro, a criança é ressignificada pelo espaço e o ressignifica também. A corpografia é um processo, não linear e volátil, de reorganização contínua, logo se tratando do brincar no cenário urbano o agente deve estar sempre ativo e ressignificando os espaços, seja brincando na rua, ficando embaixo de mesas em restaurantes, fazendo caretas à quadros em museus, ou brincando de pega-pega no supermercado. A cidade pode ter seus propósitos sociais, mas nós cidadãos também temos nossas intenções, idéias e desejos. Vale lembrar que a brincadeira não possui um objetivo específico se não o se divertir e desfrutar do processo, como descrevem Crislaine Pedroso, Jaqueline Barreto et al: “O motivo que a conduz a determinada ação é, na verdade, o conteúdo do processo real da atividade. Como um exemplo disso, podemos citar uma criança construindo com pequenos blocos de madeira. O alvo da brincadeira não consiste em chegar a um resultado final como montar uma pequena cidade com todos os detalhes que a caracterizam como tal, e sim no próprio conteúdo da ação, no “fazer” da atividade.” (PEDROSO, BARRETO, et al). A vida urbana é conturbada, acelerada, violenta e com valores muitas vezes distorcidos, mas nós como agentes do brincar, pedagogas, médicos, e principalmente cidadãos devemos saber filtrar momentos, lugares e experiências e propor para as crianças cada vez mais ocupações, ressignificações e ludicidades nos espaços da cidade. “Diferentes experiências urbanas podem ser inscritas em um mesmo corpo e diferentes corpos podem experimentar uma mesma situação urbana, mas as corpografias serão sempre únicas (como são as experiências), e suas configurações, sempre transitórias(...). Tais corpografias explicitam as micropráticas cotidianas do espaço vivido, as apropriações diversas que qualificam o espaço urbano, formulando, assim, ambiências.”(JACQUES, BRITTO, 2012) Devemos garantir o direito do brincar à infância, e na cidade contemporânea qualquer espaço limpo e seguro é lugar de brincadeira, seja este seu propósito original ou não, a imaginação não tem barreiras, e as crianças constroem, destroem e reconstroem o quanto necessário quando se trata do brincar e se divertir. Os tempos são difíceis e a rotina muitas vezes nos prende, já que a cidade tem seus objetivos a cumprir, mas não podemos esquecer que temos que semear e observar uma perspectiva mais lúdica e leve frente à estes cenários, afinal, eles nos pertencem. Referências BRITTO, F. JACQUES, P. Corpo e Cidade: coimplicações em processo. Revista UFMG, Belo Horizonte, v.19, n.1 e 2, p.142-155, jan./dez. 2012. JACQUES, P. Elogio aos Errantes. Bahia: EDUFBA; 2012. Primeira Edição. Brasil.IPA (International Playing Association), Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança: o desenvolvimento infantil e o direito do brincar, São Paulo, abril de 2013. Disponível em: http://brinquedoteca.net.br/wp-content/uploads/2013/04/DireitodaCrianca.pd> Acessado em: 23 de junho de 2017. MOREIRA, M; SOUZA, W. Corsaro WA. Sociologia da infância. Porto Alegre: Artmed; 2011. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 20, n. 1, p. 299-300, Jan. 2015 . Disponível em: . Acessado em: 23 de Junho de 2017. PEDROSO, C.; BARRETO, J, et al. O Papel do Brinquedo no Desenvolvimento Infantil. Faculdades Integradas do Vale do Ribeira – SCELISUL. Registro: São Paulo. 2012.

  • Brincar é coisa seria

    - Claudia Cristina Santos de Castro - O agente do brincar é o profissional que por meio de práticas socioeducativas promove oportunidades para pessoas brincarem... Fortalece vínculos afetivos e sociais, promove o desenvolvimento harmonioso de crianças e jovens através do brincar. Brincar: conduta livre e espontânea que a criança expressa por sua vontade e pelo prazer que lhe dá. Ao manifestar a conduta lúdica, a criança demostra o nível dos seus estágios cognitivos e constrói conhecimentos (Jean Piaget) O brincar não é um mero passatempo, enquanto brinca, a criança desenvolve o exercício da fantasia e da imaginação, adquirindo, assim experiências que irão contribuir para a vida adulta, experimentando inúmeras sensações. Ao brincar a criança pensa, reflete e aprende. São momentos e lembranças que levarão por toda vida. Na minha infância eu brincava livremente na rua, nadava nos rios, subia em arvores etc. Hoje, a realidade é outra, quase não se tem espaços para brincar, insegurança dos pais, aumento da violência e o avanço da tecnologia, tem contribuído para que muitas brincadeiras sejam esquecidas. na idade média, crianças e adultos brincavam juntas, compartilhavam dos mesmos jogos. Para Tomás de Aquino, o brincar era uma forma de relaxamento e recreação. Hoje, o brincar é direito estabelecido por lei. Na antiguidade o brincar era considerado uma atividade fútil. Segundo Aristóteles: Forma de relaxamento e recreação para posterior trabalho escolar (Aristóteles). E Brincar é muito mais que recreação ou passatempo para crianças, brincar é um processo permanente de descobertas, a criança que brinca é mais esperta, tem mais facilidade para aprender de forma natural. Desenvolver brincadeiras de faz de conta com crianças menores, contando historinhas. Para uma criança brincar não precisa de muita coisa, é possível improvisar brinquedos com matérias recicláveis, estimular a crianças a fabricar o próprio brinquedo estimulando a criatividade e a imaginação. Um cabo de vassoura se transforma em um cavalo, ou uma espada. O brincar por ser uma atividade livre, que não inibi a fantasia, favorece o fortalecimento da autonomia da criança e contribui para a não formação e ate quebra de estruturas defensivas. O brincar é uma atividade essencial para saúde física, mental e intelectual do ser humano. A importância do brincar é uma realidade inquestionável atualmente, inclusive em ambiente hospitalar. Com a implantação da lei nº 11.104 2005, de autoria da deputada Luiza Erundina, que prega que todas as unidades que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação devem, por obrigatoriedade, instalar brinquedotecas nos hospitais e ainda através do direito adquirido pelas crianças de brincar inclusive no hospital e da importância da não interrupção do desenvolvimento infantil nesse local. A resolução nº 41 do ministério da justiça e do conselho nacional dos direitos da criança e do adolescente de Outubro de 1995, já previa que ‘’toda criança e adolescente hospitalizado tem o direito de desfrutar de alguma forma recreação, programas de educação para a saúde, acompanhamento de currículo escolar durante a permanência hospitalar’’, sendo assim, o ato de brincar e o brinquedo ganharam destaque tanto na literatura quanto na realidade hospitalar. Brincar, portanto está relacionado a saúde, quando a criança deixa de brincar é porque esta apresentando distúrbio, mesmo se sua saúde física parece normal. A brinquedoteca, por exemplo, é o lugar onde a criança pode desenvolver sua capacidade psicomotora através do lúdico, com brincadeiras e brinquedos. Na sua historia, as brinquedotecas brasileiras apresentam um caráter diferente das primeiras brinquedotecas de que se tem noticia. No Brasil, a brinquedoteca’’...é o espaço criado com o objetivo de proporcionar estímulos para que a criança possa brincar livremente’’(cunha,1996,p 45). Nas brinquedotecas de outros países ,como por exemplo, nos Estados Unidos, as brinquedotecas tem como principal objetivo o empréstimo de brinquedos, ou seja, são brinquedotecas circulantes. Mas a brinquedoteca não e só um monte de brinquedos, são objetos que não tem vida em uma estante, mas quando chegam as Mãos das crianças criam vida. ‘’Pois ela é acima de tudo um mundo de brincadeiras’’( cunha,1996,p.56). O acervo de uma brinquedoteca deve ser variável para que possa atender todas as faixas etárias e as necessidades que o usuário apresenta. Eles devem estimular a curiosidade A imaginação Explorar os sentidos Existem vários tipos de brinquedos, se bem explorados possibilitam a aprendizagem. Os brinquedos didáticos Os lúdicos Os brinquedos tradicionais Os brinquedos de montar Os brinquedos exercem um fascínio sobre a criança devido as suas cores, modelos e atribuições. Brincar não é apenas um passar tempo, mas é também uma forma de desenvolver inúmeras habilidades de forma agradável. Referências Profa. Patrícia Silva. Jogos e brincadeiras Vygotsky, L.S. A formação social da mente. 3 ed. São Paulo; Martins Fontes 1991 Benjamim, Walter, reflexões; a criança, o brinquedo, a cultura. Campinas: Sumus, 1984

  • Cuidado, Liberdade, História, Militância

    - Vitor Murano Pereira - O brincar é uma das mais antigas ferramentas humanas. Ele existe para transmitir conhecimentos, contar histórias e perpetuar tradições. Com a brincadeira, é possível contar todo um processo de cultivação e colheita de uma aldeia, ou a história de um povo, ou até mesmo mostrar as entidades sagradas e como elas se manifestam no clima ou nas plantações. Até hoje, sem nós percebermos, aprendemos muitas coisas quando brincamos nas nossas infâncias. E esses são provavelmente alguns dos aprendizados mais duradouros que temos hoje em dia. Isso porque o brincar é espontâneo e intrínseco. Ele faz sentido principalmente no contexto em que a brincadeira acontece e por isso nos marca muito mais do que outros aprendizados programáticos e curriculares que temos na escola. Ele faz sentido porque busca o que a criança quer, e é flexível para ela poder mudar da maneira que ela preferir. Então a brincadeira de uma geração não vai ser a brincadeira da outra, mesmo em povoados que usam isso de maneira religiosa e educativa. Isso porque a partir do momento em que aquela brincadeira for imposta e as crianças não poderem escolher como querem brincar, aquilo deixará de ser uma brincadeira pura e livre. “Os jogos são artes populares, reações coletivas e sociais às principais tendências e ações de qualquer cultura. Como as instituições, os jogos são extensões do homem social e do corpo político, como as tecnologias são extensões do organismo animal. Tanto os jogos como as tecnologias são contra-irritantes ou meios de ajustamento às pressões e tensões das ações especializadas de qualquer grupo social. Como extensões da resposta popular às tensões do trabalho, os jogos são modelos fiéis de uma cultura. Incorporam tanto a ação como a reação de populações inteiras numa única imagem dinâmica.” McLuhan - 1974. Quando Marshall McLuhan afirma isso, vemos que sim, uma sociedade que evolui e cria novas culturas também cria novas brincadeiras. O que ele afirma por “jogos” traz muito das características intrínsecas do que hoje em dia chamamos de “brincar” - flexível, intrinsecamente motivado, espontâneo -. É aquilo que reflete a realidade de qualquer povo, e que não está restrito a uma faixa etária ou grupo social. Todos podem brincar, desde que aquilo seja do interesse e que faça sentido para o brincante. Huizinga (1938), também fala do jogo como parte da cultura de uma sociedade, mas de uma forma que parece muito com o brincar. Ele afirma que faz parte da nossa sociedade, do nosso ser humano. Ritos de passagem, rituais religiosos, como citamos anteriormente, refletem as crenças e características de um povo, e são criados por pessoas naquele contexto. Uma manifestação religiosa que venha de fora não faz sentido para eles, então dificilmente pode ser caracterizado como brincar, porque está sendo imposto por um agente externo. Também como reflexo da sociedade, brincadeiras são ensinadas e passadas como intercâmbio de culturas, mas adaptadas para os costumes de cada povo. Vemos isso em brincadeiras que são feitas em estados ou até países diferentes, com suas variações e especificidades, e isso porque as pessoas se comunicam, viajam e trocam esses saberes, que vão se moldando aos costumes do local. É daí que vem as variedades regionais, como por exemplo, Truco se adaptou e modificou e tem variedades em diferentes estados. O brincar também se cria quando a criança sente que quer um desafio a mais. Temos várias versões, por exemplo, de pega-pega, do jo-ken-po (pedra-papel-tesoura) que conta com vários elementos e explicações diferentes para seu funcionamento. Nós mesmos, quando crianças, usávamos “deus” “diabo” “corda”, “agulha” jogando jo-ken-po, e criávamos regras na hora, pensando em ter uma vantagem, ou ajustar nossa realidade ao que nos convinha. Isso faz parte do pensar de uma criança. Ela quer criar para poder ter uma vantagem ou desafio a mais, para tornar aquilo mais divertido. Fez parte da minha infância aprender várias variantes da mesma brincadeira, desafios novos, adaptações do que víamos na televisão, nos videogames. Muitas vezes brincar de Power Rangers e inventar histórias, escolher seu X-men preferido ou até mesmo nos tornarmos nossos próprios mutantes, inventar o Ranger Laranja ou o Ranger Roxo era o que eu mais gostava, porque ali eu me sentia mais empoderado, sentia que eu podia ser o que eu quisesse. Durante o curso, revisitei muitas dessas minhas lembranças de infância e encontrei sentido para elas. Entendi o que o brincar me tornou e como ajudou a me formar como pessoa, como indivíduo e educador. Provavelmente, o maior valor que eu encontrei tendo contato com os Agentes do Brincar foi entender o quão importante isso a brincadeira foi para mim como criança. Os Agentes do Brincar são mediadores, educadores. Eles não vão ensinar a criança a brincar, mas criar o ambiente, o espaço para que a brincadeira aconteça. A brincadeira é um pouco como o vôo descrito por Rubem Alves: “Escolas que são asas não amam pássaros engaiolados. O que elas amam são pássaros em vôo. Existem para dar aos pássaros coragem para voar. Ensinar o vôo, isso elas não podem fazer, porque o vôo já nasce dentro dos pássaros. O vôo não pode ser ensinado. Só pode ser encorajado.” Se levarmos esse ponto de vista para a função do Agente do Brincar, podemos criar uma interpretação nossa dessa reflexão: A brincadeira não pode ser ensinada, porque ela nasce dentro da criança, só pode ser encorajada. Claro que isso reflete em vários pontos. A criança funciona em duas medidas diretamente proporcionais: liberdade e complexidade. Quanto mais livre a criança está, mais ela precisa ser orientada, para que ela saiba o caminho que está tomando. Isso torna todo o processo mais complexo do que simplesmente dizer o que ela deve fazer a mandá-la copiar aquilo que você fez. A criança que brinca livre aprende a lidar com fracasso, com ser excluída, se machucar, se irritar, ficar triste, mas nada disso que ela está passando fará totalmente sentido a não ser que haja alguém para mediar esse processo e explicar para ela que tudo isso faz parte da vida. Sedimentar esses processos e criar reflexões desse tipo na criança a ajuda a lidar com ansiedades, com frustrações, coisas que muitas pessoas dessa geração não entendem, porque seu processo de brincar não foi respeitado. A primeira aula do curso, não à toa, aborda principalmente sobre como o processo de brincar é mal compreendido e abandonado nos dias de hoje. Crianças que ficam menos tempo debaixo do sol que presidiários, a cultura do Vestibular, que alega preparar desde a primeira infância para a entrar em uma faculdade, isso tudo está criando pessoas que mais para frente vão ser deprimidas, porque a única coisa que fizeram na vida foi se preparar para “ser alguém na vida” e nunca conseguiram se conhecer, entender seu corpo. Uma pessoa que não brinca acaba se sentindo reprimida, frustrada. Essas questões acontecem pela má-interpretação do que é brincar, da importância do ócio e do descanso. E isso é muito contraditório considerando que autores como Huizinga (1938) e Winnicott (1975) já produziam trabalhos que alertavam sobre a importância do jogo e da brincadeira. “É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem sua liberdade de criação” Winnicott (1975). O conflito entre ócio versus trabalho acontece desde a ascensão da burguesia, logo após a Idade Média, mostrando um confronto direto entre o direito à descanso e a obrigação de produzir para alimentar o capitalismo. Isso porque o protestantismo e o puritanismo, por mais que condenaram a venda de lotes no céu, o perdão de Deus, também alimentaram uma mentalidade burguesa que tirava o tempo de ócio do povo para colocá-lo trabalhando. “A relação do sistema capitalista e o ócio não se mostra conflituosa apenas na contemporaneidade. Durante o domínio da Igreja católica, os operários desfrutavam de 90 dias de descanso (52 domingos e 38 feriados), durante os quais era estritamente proibido trabalhar. O trabalho nesses dias era encarado como o maior crime do catolicismo, a maior causa de não-religiosidade da burguesia comercial. Com a ascensão ao poder da classe burguesa, esta aboliu os feriados. Lafargue (2001) analisa que "o protestantismo, que era a religião cristã, moldada pelas novas necessidades industriais e comerciais da burguesia, preocupou-se menos com o descanso popular: tirou todos os santos do céu para abolir suas festas na Terra" (p.160)” Bruno Gawryszewski, 2003 E isso se estende as crianças também. Escolas que querem crianças que estejam prontas para o vestibular, aprendendo idiomas antes mesmo de se alfabetizarem, e pais que querem incluí-las em vários cursos para que elas não fiquem “ociosas”, então elas ficam muito tempo dentro de salas, estudando e acabam não tendo tempo para brincar, e se conhecerem. Foi isso que eu chamei de “cultura do vestibular” anteriormente. Diante de tudo isso que é apresentado, podemos incluir dentro de tudo que foi dito sobre Agentes do Brincar que ele também é um militante. Ele defende o direito de brincar livremente para todas as crianças e está lá para que isso aconteça de maneira significativa e devidamente orientada. O brincar não está dissociado do aprendizado. Uma criança que brinca no escorregador vivenciou coisas no corpo que vão ajudá-la a se alfabetizar. Paulo Freire (1981) relata como brincar no seu quintal o ajudou a entender o formato das letras, como escrever na terra livremente o ajudou a se alfabetizar. Ele diz que a leitura não está só no papel e caneta, mas no ambiente em que se vive, nas experiências que são vividas. Isso é especialmente crítico para as crianças de inclusão, aquelas que têm alguma dificuldade no aprendizado ou mobilidade e precisam de uma atenção diferente. Uma criança na cadeira de rodas não consegue brincar de algumas coisas, e isso limita seu aprendizado de alguma forma, mas o Agente do Brincar pode intervir nessa dificuldade e ajudar essa criança, mostrando para ela que tem mais de uma forma dela brincar e que ela ser diferente não a faz pior que as outras, ela só tem outras necessidades. Por isso, o Agente do Brincar é um nome auto-explicativo. Ele age para que o brincar aconteça de maneira saudável, significativa e inclusiva. Ele milita para que esse direito seja garantido para todos e que tudo esteja devidamente orientado, entendido e registrado. Ele não é um monitor que impõe a brincadeira, mas alguém que sugere, aplica e ouve. É o trabalho de um mediador da brincadeira, que precisa ser sempre consciente do que está sendo aprendido, exercitado e de quem aproveita mais certas brincadeiras. FONTES: http://www.sbpcnet.org.br/livro/57ra/programas/CONF_SIMP/textos/mteresaricci.htm - O Ócio e a Emancipação - Maria Teresa Ricci - Acessado em 20/06/2017 https://educacao.uol.com.br/noticias/2011/09/12/melhor-colegio-de-sp-no-enem-por-escola-nao-aceita-matriculas-no-3-ano-e-estuda-o-aluno-antes-de-aceitar-o-ingresso.htm - Reportagem do UOL sobre o Colégio Vértice e sua preparação para o vestibular - Acessado em 20/06/2017 http://www.efdeportes.com/efd66/ocio.htm - A Luta Capitalista Contra o Ócio - A Necessidade à um Lazer Consumista - Bruno Gawryszewski - Acessado em 20/06/2017 http://escola.educacaofisicaa.com.br/2013/01/7-variacoes-de-pega-pega-brincadeira.html - 7 Variações de Pega Pega - Brincadeira Infantil - Acessado em 20/06/2017 https://www.youtube.com/watch?v=YX1om1kDpdo - Midias e Jogos: do virtual para uma experiência corporal educativa - Acessado em 19/06/2017 http://www.revistaeducacao.com.br/gaiolas-ou-asas/ - Texto do Rubem Alves sobre educação libertadora - Acessado em 19/06/2017 REGEN, MILA. O brincar na comunidade inclusiva. Mini Apostila, - IPA, São Paulo, 2017. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1990. MCLUHAN, Marshall, Os Meios de Comunicação Como Extensões do Homem. Nova York: McGraw-Hill Book Company, 1964. HUIZINGA, Johan. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 2000 SCHWARTZ, Gilson. Brinco, Logo Aprendo. São Paulo: Paulus, 2014. WINNICOTT, D. W. O brincar & a realidade. Trad. J. O. A. Abreu e V. Nobre. Rio de Janeiro: Imago. 1975

  • Alma de criança no corpo de adulto

    - Andrea Ribeiro Ramos - Agente do Brincar é estar sempre com o coração aberto e a mente criativa buscando novas experiências, além de estar disposto a aprender e reaprender constantemente, interagindo e contribuindo com nossa sociedade, promovendo práticas que visem o bem-estar e o desenvolvimento, e esta é a maior lição que levaremos em nossos corações junto com a formação no curso de Agentes do Brincar. De acordo com Marilena Flores “o Agente do Brincar...promoverá mudanças nas pessoas e no contexto familiar e social em que vivem”, em nossa jornada durante o curso aprendemos a transformar a vida de crianças e adolescentes, principalmente com a atividade do Dia do Brincar. Ah! E, como brincamos, nos divertimos muito, e principalmente crescemos como seres humanos ao compartilhar nossas experiências com crianças carentes de amor, carinho, cuidados e especialmente com falta de brincar, pois como estudamos com Irene Quintáns, os pais e responsáveis estão mais preocupados em levar as crianças ao médico do que em brincar com elas, conforme a pesquisa Primeira Infância. Desse modo, as crianças estão se tornando mais doentes, mais obesas, mais sedentárias, desenvolvendo mais casos de diabetes infantil, mais casos de falta de vitamina D, depressão, doenças crônicas, além de apresentar um crescimento exorbitante de diagnósticos de TDAH, transformando o Brasil no segundo país do mundo em consumo de Ritalina, resultado da falta do brincar livremente. É uma realidade dura e difícil, mas como Agentes do Brincar também aprendemos que podemos transformar nossa cidade num espaço saudável e convidativo para o desenvolvimento humano apenas com práticas lúdicas, promovendo uma verdadeira revolução na vida das crianças e adolescentes, pois o brincar é um direito de todos, defendido por Andrew Swan ao verificar que o brincar promove o desenvolvimento social, físico, intelectual e criativo e o emocional , promulgado pelo artigo 31º da Convenção sobre os Direitos da Criança das Nações Unidas, e divulgado pela IPA Brasil em ações como o Dia do Brincar, realizado dia 10 de junho de 2017 pelos alunos da qualificação profissional em Agentes do Brincar da ETEC Parque da Juventude. O relato que nos foi apresentado por Andrew Swan utilizando as palavras de Tim Gill que reitera: “as crianças de hoje podem parecer e soar mais como adultos. Elas podem estar imersas em culturas e estilos de vida dos adultos. Mas, observando melhor, a vida das crianças de hoje é muito mais limitada e vigiada do que em qualquer momento nos últimos 40 anos ou mais. Nos anos 1960 e 70, crianças de 8 anos de idade tinham um nível de autonomia e liberdade que atordoaria os adolescentes de hoje (geração twitter)”, Uma vez que a criança precisa de espaços e oportunidades para brincar livremente, crescer e se desenvolver de maneira saudável. No entanto, não é o que ocorre hoje em dia, e por isso temos que defender a bandeira do brincar, porque é durante a brincadeira que interagimos, e é pela interação humana que aprendemos e nos desenvolvemos, já que os seres humanos aprendem pela troca de experiências, em razão de Vygotsky reiterar que o desenvolvimento cognitivo do aluno se dá por meio da interação social, ou seja, de sua interação com outros indivíduos e com o meio, exatamente o que proporcionou o dia do brincar, nossa interação com as crianças e seus familiares. Nos foi ensinado por Daniela Marcilio que o Agente: entende e valoriza o processo do brincar, reflete sobre possíveis ações futuras e inclui a criança no centro do processo, apoia a criança e o adolescente no brincar, brinca, prepara e ajuda na manutenção do ambiente lúdico, possibilita o brincar ininterrupto, permite que a criança defina o conteúdo do seu brincar, cria oportunidades para que as crianças melhorem suas habilidades no seu tempo, de acordo com suas capacidades, possibilita que as crianças decidam o porquê do seu brincar, espera ser convidado a brincar, só organiza o brincar quando requisitados pelas crianças. Ainda com Daniela, aprendemos a organizar o dia do brincar, e nos divertimos com as brincadeiras tradicionais, como pular corda, corrida de saco, brincadeiras com bola, entre outras, também aprendemos a desenvolver e estimular nossos sentidos com a estação sensorial, que divertiu muitas crianças de maneira lúdica e diferente do habitual, além de permitir as crianças deficientes que pudessem participar ativamente, já na estação de reciclagem, ensinamos e aprendemos a montar os mais divertidos e criativos brinquedos, com os mais diversos materiais recolhidos pelos Agentes ao longo do semestre. No entanto, a minha escolha de trabalho foi a estação de contação de histórias, pois foi com muito carinho que montamos o cenário “palco” da contação, uma floresta mágica para empolgar e estimular a todos, onde pudemos pôr em prática todos os ensinamentos de Fabio Lisboa, já que a contação permite conectar-se ao outro, quebrar preconceitos, encantar-se com a beleza, despertar a criatividade e propagar o belo, além de fornecer uma conexão ente o falante e o ouvinte, em virtude de enlaçar o coração e a atenção do ouvinte com as emoções e as significações da história. E, quanta significação os pequenos leitores e ouvintes nos trouxeram, o ávido leitor Samuel não conseguiu desprender os olhinhos das páginas coloridas e cativantes, fascinando a todos com seu sorriso e paixão pelos livros, as pequenas Laura e Isabela encantaram-se pelos desenhos, assim como o Guilherme que trouxe o pai para pintar os animais. Assim, o dia foi passando, interagimos com a história cantada da Adriana, rimos com o Dom Maracujá da Nicole, brinquei e contei, com o auxílio do dedoches, a história dos três porquinhos, além de brincarmos com a doce Mari que até deixou de lado a cadeira de rodas para participar da história, pois segundo a Aline Lima são muitas “as possibilidade do brincar, tem gente que brinca com as palavras, outros com as nuvens, com os quadrados do chão da cozinha, com o retrós de linha vazio, com os sons, com o corpo, com a imaginação, e com outras possibilidades dentro do vasto universo das brincadeiras”, assim que a Mari pode brincar e se divertir. O mais gratificante foi ouvir os avós afirmarem que há muito tempo não se divertiam tanto quanto naquele 10 de junho de 2017, o dia do brincar. Conseguimos criar um ambiente estimulante e saudável que contribuiu para o desenvolvimento cognitivo dos participantes, confirmando a teoria instrumentalista evolucionista de Jerome Bruner que afirma que “o desenvolvimento cognitivo será tanto mais rápido quanto melhor for o acesso da pessoa a um meio cultural rico e estimulante”, o que foi proporcionado pelo Agentes do Brincar. Ainda consonante com Flores temos que “pesquisas comprovam que ao brincar com as crianças pequenas, oferecendo-lhes um ambiente de afeto e respeito, além de contribuir para o desenvolvimento de habilidades e competências fundamentais para a sua vida futura, poderemos ajudá-las a desenvolver áreas do cérebro responsáveis pelo sentimento de empatia. Este é um sentimento importante quando falamos de um mundo cada vez mais diversificado onde o reconhecimento e a aceitação das diferenças tornam-se essencial para a convivência pacífica e a valorização das pessoas, independentemente dos grupos aos quais pertençam” confirmando a teoria das inteligências de Howard Gardner que estabelece que cada indivíduo nasce com um vasto potencial de talentos ainda não moldado e que deve ser explorado, contemplando todas as inteligências. Neste contexto está inserido o Agente do Brincar, papel que exerceremos com grande responsabilidade e respeito, pois aprendemos o quão somos importantes para contribuir para o desenvolvimento das gerações futuras, peça fundamental para contribuir com o desenvolvimento e o crescimento de nossa sociedade de maneira crítica e saudável, sempre respeitando a todos.

  • BRINCAR - PARA UMA INFÂNCIA SAUDÁVEL

    - Nicole Cristina da Costa - Por meio da brincadeira, a criança é capaz de interagir com o mundo a sua volta: é brincando que ela aprende a se relacionar com o outro, a lidar com situações problema, a usar sua criatividade, sua imaginação, entre muitas outras coisas. As crianças tem o direito de brincar garantido por lei, tendo em vista que este é um fator primordial para seu desenvolvimento pleno. Nesse sentido, os agentes do brincar experimentam diversas oficinas com a intenção de sentir e de entender melhor esse processo para então compreender como ele se dá na infância e qual a melhor maneira de agir/interagir ou não no momento da brincadeira. O presente artigo tem como finalidade discutir a importância do brincar saudável e o papel dos agentes do brincar nesse processo. Os agentes do brincar O Agente do Brincar, ou mais conhecido fora do Brasil como Playworker, tem por objetivo criar condições para que as crianças possam brincar livremente. Nesse sentido, diferente do que muitas vezes se imagina, os Agentes do Brincar não são aqueles que vão impor a criança determinada brincadeira, mas sim aqueles que vão apoiar e estimular as crianças nas brincadeiras que elas escolhem e com o quê e quem elas escolhem brincar. Nesse sentido, é importante que as crianças tenham a possibilidade de tomar suas próprias decisões. Esses profissionais destacam-se no cenário atual da nossa sociedade, pois eles são capazes de interagir com a criança de maneira lúdica, promovendo um brincar menos adultocêntrico e mais democrático para a criança. Tendo em vista que não há ainda outra profissão que tenha como um de seus objetivos garantir um brincar livre. Para se tornar um Agente do Brincar não é necessário ser um profissional ligado a área da educação, porém é necessário ter um compromisso verdadeiro com o direito de brincar, entender como ele se dá nas relações interpessoais, percebendo como mediar e participar desse processo. Brincar e tecnologia Atualmente, com os avanços das tecnologias, a nossa sociedade vem se modificando: as pessoas estão sendo cada vez mais atraídas por “aparatos tecnológicos”, como smartphones e tablets, por exemplo, interagindo cada vez menos com as pessoas a sua volta. Essa mudança, por sua vez, acaba afetando não só aos adultos, mas também às crianças, que por consequência, carecem de atenção dos membros de sua família. Com o advento desse modo de vida, as crianças estão cada vez mais atarefadas com atividades escolares que os pais acreditam que trarão um “futuro brilhante” para elas, implicando em menos tempo para brincar e até mesmo para descansar. O fato é que essas tecnologias já estão tão enraizadas na nossa sociedade que dificilmente há como evitar a exposição das crianças maiores a esse tipo de material, porém há como diminuir esse tempo. Para tanto, é preciso criar estratégias para conciliar o uso dessas tecnologias, e nesse processo o acompanhamento dos pais é essencial. Uma pesquisa publicada em 2012 pela revista Archives of Disease in Childhood, alerta para os riscos de se expor as crianças por períodos longos de tempo a televisões, computadores, videogames, tablets e até smartphones. Segundo Sigman, autor da pesquisa, quanto maior o tempo de exposição, maiores são os riscos de problemas como o déficit de atenção (VEJA, 2012). Sendo assim, é necessário que haja uma moderação do tempo de exposição da criança a esses materiais e um constante acompanhamento e atenção dos pais, para que não se torne somente algo que tenha como objetivo prender a atenção das crianças enquanto os adultos realizam outras atividades, podendo inclusive, ser prejudicial à saúde delas. O direito de brincar A criança tem o direito de brincar garantido pela Lei Federal nº 8069/90, e “o direito ao descanso e ao lazer, ao divertimento e às atividades recreativas próprias da idade, bem como à livre participação na vida cultural e artística”, acordados pela convenção sobre os direitos da criança - CDC (BRASIL, 2015), ambos fundamentais para seu desenvolvimento. Portanto, é necessário proporcionar mais tempo a criança, deixar que ela aprenda a tomar suas próprias decisões quanto ao que ela deseja fazer. Quando a criança brinca, ela não “está só brincando”, ela está construindo sua identidade, está se desenvolvendo mental e fisicamente a cada obstáculo que ultrapassa e a cada problema que aprende a resolver. E ainda a diversão que a brincadeira proporciona para todos que dela participam. De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998, p.15) As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. (RCNEI, 1998, p. 15). Nesse sentido, o agente do brincar é aquele que irá buscar maneiras de proporcionar um ambiente saudável, ou seja, um ambiente que favoreça as relações da criança com o outro e com o meio, de maneira que ela possa se sentir segura para tentar algo novo, vencendo desafios, se arriscando e se descobrindo. As crianças, desde muito pequenas, não precisam de muito para se divertir. Não precisam de brinquedos caros, daqueles que “fazem tudo sozinhos”. Elas têm uma habilidade incrível de imaginar e transformar qualquer objeto em brinquedo. Independente de classe social, elas dão um show no quesito brincadeira e incentivar que elas usem cada vez mais sua imaginação e criatividade é imprescindível. Brincadeira é aprendizagem Os agentes do brincar, durante sua formação, experimentam, vivem e refletem acerca das brincadeiras e oficinas oferecidas. Com essas oportunidades de experimentação, o que se pretende é formar um profissional capaz de compreender a partir de sua própria experiência, de que maneira lidar nas situações que envolvem o brincar. Compreender e respeitar o momento da brincadeira como algo sério faz parte do perfil desse profissional. De acordo com Gusso e Schuartz (p.237, 2016), quando a criança brinca, trabalha com suas limitações, com as habilidades sociais, afetivas, cognitivas e físicas. O brincar é ainda uma forma de expressão e comunicação consigo, com o outro e com o meio. A brincadeira é considerada uma atividade universal que assume características peculiares no contexto social, histórico e cultural. (GUSSO; SCHUARTZ, p. 237, 2016). Brougère (1998) apresenta uma concepção de brincadeira enquanto aprendizagem social que abrange todo o ambiente que envolve a criança, tanto relações, como imagens, objetos, entre outros, formam a cultura lúdica da mesma. Desta forma, observa-se que a criança não é simplesmente um receptor, mas um sujeito ativo que modifica e é modificado pelo meio social. Logo, é através da brincadeira que a criança se mostra como um membro da sociedade. Portanto o brincar aparece como forma de integração da criança na sociedade e passa a reclamar um lugar mais significativo do que o que ocupa até o momento - geralmente como distração ou descarga de energia excessiva. A aprendizagem se constrói a partir da interação que a criança realizada em seu meio social devendo ser estimulada sempre que possível, daí a relevância do brincar (BROUGÈRE, 1998). Os agentes do brincar, pensando nessa concepção, conhecem e reconhecem na brincadeira os elementos culturais dos quais ela se serve e, a partir dessa leitura pode, a princípio, fornecer para a criança os meios, materiais ou não, para o aprofundamento da brincadeira. De acordo com Gusso e Schuartz (p.239, 2016), a criança é “um ser sociável que se relaciona com o mundo que a cerca de acordo com sua compreensão e potencialidades e brinca espontaneamente, independentemente do seu ambiente e contexto”. Sendo assim, é necessário pensar em uma infância com novas características, além disso, é de extrema importância refletir sobre o brincar com suas possibilidades e dificuldades. Tendo em vista que é por meio da brincadeira que a criança faz a experiência do processo cultural e da interação simbólica, em toda a sua complexidade. Considerações finais Entender como de fato o brincar interfere diretamente no desenvolvimento infantil faz parte da formação do agente do brincar. A criança, a maior protagonista da brincadeira, é um ser de direitos, e como tal merece que eles sejam respeitados e garantidos, já que sua Finalidade é garantir um crescimento e desenvolvimento saudável. Sendo assim, o brincar torna-se uma ferramenta indispensável no sentido de garantir uma infância plena e feliz. Penso que o brincar é a maior e melhor ferramenta que o ser humano possui e saber de que modo aperfeiçoá-la, faz parte do trabalho exercido pelo agente do brincar. Refiro-me a aperfeiçoá-la não no sentido de modificá-la de alguma maneira, mais sim de saber aproveitar o melhor que o brincar pode oferecer. Por isso que reitero, quando a criança brinca, ela não “está só brincando”, ela está construindo sua identidade, está se desenvolvendo mental e fisicamente a cada obstáculo que ultrapassa e a cada problema que aprende a resolver. Deste modo, o agente do brincar, munido de experiências e vivências, será capaz de providenciar materiais, espaço e meios para que a criança tenha a oportunidade de desfrutar de um brincar saudável e livre, podendo assim se sentir segura, vencer desafios e desenvolver autoconfiança. Referências BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente: Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990, e legislação correlata. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2017. BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2017. BROUGÈRE, Gilles. A criança e a cultura lúdica. Disponível em: . Acesso em: 15 jun. 2017. GUSSO, Sandra de Fátima Krüger; SCHUARTZ, Maria Antonia. A criança e o lúdico: a importância do “brincar”. Disponível em: . Acesso em: 15 jun. 2017. VEJA. Exposição a telas prejudica o desenvolvimento de crianças. Disponível em: . Acesso em: 22 jun. 2017.

  • Direito ao livre brincar

    - Maricota Vieira Carvalho - O Agente do Brincar se funda nas evidências dos benefícios do brincar como o responsável por garantir que o direito ao livre brincar seja posto em prática num momento histórico em que ele está cada vez mais restringido. Tim Gill (2007) diz, a respeito da sociedade inglesa, que as crianças estão mais invisíveis do que nunca na história. Razões não faltam: o volume de carros na rua dificulta o livre brincar nas ruas; a cultura de medo que perpassa os pais e cuidadores priva crianças do livre brincar fora dos muros de casa e da escola; a estrutura social vigente de adultos trabalhando em ambientes corporativos aumenta o número de horas que crianças passam na escola e o brincar na cidade tem sido cada vez mais restrito e controlado em ambientes controlados. Assim como Malaguzzi (1984) falou sobre a educação não ser uma produção, mas sim a criação de condições para a aprendizagem, a ação do Agente do Brincar se dá através da criação de experiências e oportunidades de brincar autodirigido, de livre escolha e guiado por motivação intrínseca, do auxílio à criação de tais experiências e oportunidades por brincantes e de sua multiplicação. Essas experiências e oportunidades são criadas através da remoção de barreiras para o brincar, do enriquecimento do ambiente (Brown e Webb, 2002) e de intervenções em função de promover o brincar, equilibrando o risco e o benefício para o desenvolvimento e bem-estar dos brincantes. De acordo com Nicholson (1971), “em qualquer ambiente, tanto o grau de inventividade e criatividade quanto a possibilidade de descoberta são diretamente proporcionais ao número e ao tipo de variáveis ​​nele”, portanto o Agente do Brincar potencializa os estímulos ao brincar criativo agindo como meio, enriquecendo o ambiente de forma a encorajar e empoderar os brincantes a descobrir o mundo por si mesmos. Hughes (2001) critica o enviesamento de estímulos de playgrounds com brinquedos fixos e com funções bem definidas, em contraposição à diversidade de estímulos de um ambiente com materiais desestruturados, como caixas de papelão, canos de PVC e tampas de garrafas proporciona. O Contínuo de BRAWGS é uma tentativa de responder à aparente contradição entre oferecer um ambiente seguro que também oferece a oportunidade de explorar ideias, sentimentos e habilidades. Para Russell (2008), o Agente do Brincar adota uma abordagem ludocêntrica, buscando um meio-termo entre a ordem e o caos, num contínuo que parte do didático (diretivo) para o caótico (negligente). No extremo didático temos uma atividade altamente estruturada definida por um adulto com regras rígidas, no extremo caótico, um espaço sem horário definido para abrir, com cuidadores não capacitados, utilizando materiais perigosos. A abordagem ludocêntrica se preocupa principalmente com o brincar autodirigido, de livre escolha e guiado por motivação intrínseca. Sutton-Smith (2001) tratou das “deixas” no brincar, dicas sutis que os brincantes dão através das quais os Agentes do Brincar “desenvolvem insights e respostas interpretativas, auxiliando ainda mais, e talvez o aprofundando, expressões de conteúdo lúdico”. Para Shelly Newstead e Chris Bennett (2005), é preciso desenvolver algumas habilidades no sentido apurar a resposta às “deixas” do brincar: - a habilidade de oferecer à criança a escolha de quando e onde brincar, com quem e com o que e até se querem brincar; - a habilidade de respeitar sem estigmatizar ou restringir sua escolha; - a habilidade de observar o brincar e as interações entre os brincantes e em direção ao Agente do brincar, e a habilidade de decidir ou não intervir; - a habilidade de fazer perguntas e sugestões em detrimento de oferecer soluções; - a habilidade de ser brincalhão e estar sempre disposto a embarcar no caráter lúdico das interações com os brincantes e - a habilidade de ser sensível aos estados lúdicos da criança e saber fazer transições entre eles, quando necessário. Huizinga (1938) analisa a antítese ludicidade-seriedade, verificando que os dois termos não possuem valor idêntico: brincadeira é positivo, seriedade é negativo. O significado de “seriedade” é definido de maneira exaustiva pela negação de “brincadeira” — seriedade significando ausência de brincadeira e nada mais. Por outro lado, o significado de “brincadeira” de modo algum se define ou se esgota se considerado simplesmente como ausência de seriedade. O brincar é uma entidade autônoma. O conceito de brincar enquanto tal é de ordem mais elevada do que o de seriedade. Porque a seriedade procura excluir o brincar, ao passo que o brincar pode muito bem incluir a seriedade. Sutton-Smith (2001) argumenta, que por mais que todos tenhamos a experiência da brincadeira, o brincar é difícil de definir. Em vez de tentar fornecer uma definição que seja excessivamente simplista, ele sugere que a ambiguidade do brincar deve ser reconhecida, e que o brincar deve ser visto da perspectiva de diferentes retóricas, cada uma das quais serve para enfatizar vários aspectos do brincar. As retóricas são formas de pensar e falar sobre o brincar culturalmente e socialmente. Elas oferecem perspectivas abrangentes sobre o que é brincar e o papel que desempenha em culturas e sociedades. A retórica do brincar como progresso centra-se nos aspectos de desenvolvimento do jogo e na noção de que as crianças aprendem através do jogo. Essa retórica também está ligada a estudos do brincar entre animais. O brincar é fundamental para a vida animal e humana. Os biólogos evolucionistas que estudaram brincadeiras de animais identificaram que o brincar é de vital importância, pois permite a prática de habilidades essenciais para a sobrevivência. O brincar também foi considerado significativo para a saúde mental e física dos animais e para o desenvolvimento social dentro das espécies. Huizinga (1938) fala de nossa espécie como Homo Ludens, sem a ingenuidade do culto à razão do Homo Sapiens. Como humanos, buscamos o prazer, porém na contemporaneidade o lúdico está circunscrito à infância, suprimido e restrito na vida adulta. Para Huizinga o próprio processo civilizatório se encarrega de empurrar o elemento lúdico gradualmente para segundo plano, sendo sua maior parte absorvida pela esfera do sagrado. O restante cristaliza-se sob a forma de saber: folclore, poesia, filosofia, e as diversas formas da vida jurídica e política. Fica assim completamente oculto por detrás dos fenômenos culturais o elemento lúdico original. O brincar é um impulso natural da criança e funciona como um grande motivador; mobiliza esquemas mentais, estimula o pensamento, a ordenação de tempo e de espaço; integra várias dimensões da personalidade: afetiva, social, motora e cognitiva. Além disso, favorece a aquisição de condutas cognitivas e desenvolvimento de habilidades de coordenação motora grossa e fina e manutenção da plasticidade cerebral. Com base na pesquisa sobre a eficácia da ludoterapia, Schaefer e Drewes (2014) identificam como principais potenciais terapêuticos do brincar: Facilita a comunicação, incluindo o aumento da auto-expressão; Promove o bem-estar emocional e pode ser catártico, permitindo o gerenciamento do estresse;Melhora as relações sociais, fortalecendo o apego e promovendo a empatia; Aumenta as forças pessoais, incluindo a melhoria da resolução criativa de problemas e a capacidade de resiliência. Se as crianças são privadas do seu direito de jogar, portanto, pode haver implicações significativas para seu desenvolvimento físico, mental e social. Na retórica do brincar como identidade, o brincar é visto como um meio de construir e confirmar identidades sociais através de celebrações e festivais comunitários. De acordo com Kishimoto (2007) o brincar é uma atividade lúdica em que crianças e adultos compartilham de uma situação de envolvimento social num tempo e espaço determinados, com características próprias delimitadas pelas próprias regras de participação na situação “imaginária”. O brincar tem função significante, encerra um sentido e inclui sempre intenção lúdica do brincante. Por se tratar fundamentalmente de uma atividade social, é vetor das respectivas histórias culturais circunscritas em suas práticas, como por exemplo através da contação de histórias folclóricas ou de brincadeiras com cantigas de roda. Enquanto fato social, o brincar assume a imagem, o sentido que cada sociedade lhe atribui. É este o aspecto que nos mostra por que, dependendo do lugar e da época, as brincadeiras assumem significações distintas. O brincar é, como observou Huizinga, um fenômeno significativo em todas as culturas, mas é experimentado de forma diferente em cada cultura. Os valores e normas de qualquer cultura dada darão forma à forma como o brincar é experimentado. A retórica do brincar como auto-conhecimento normalmente se refere a atividades individuais e brincadeiras, onde o brincar é visto como uma forma de relaxamento e fuga da vida cotidiana. O brincar é uma atividade autodirigida, de livre escolha e guiada por motivação intrínseca. Quem brinca determina e controla o conteúdo e a intenção daquela brincadeira ao seguir suas próprias ideias e interesses, à sua maneira e por seus próprios motivos. A retórica do brincar como frívolo é geralmente aplicada a atividades da figura históricas do bufão, refere-se às atividades de pessoas que protestam de forma lúdica contra a ordem social e cultural da vida cotidiana. Também, e com igual importância, o brincar é valoroso pelo estímulo, prazer e encantamento que traz, para além do racionalismo econômico, que demanda produtividade e apresenta como tarefa da criança se tornar um adulto produtivo, enxergando a brincadeira e o desenvolvimento que ela traz como preparação e para o rigor da vida adulta. Para além da ética utilitarista, que enxerga o brincar pelos benefícios que acarreta para o desenvolvimento das crianças. O brincar digital nos ajuda a entender mais sobre as amplas variações nos estilos de jogo e escolhas e pode oferecer potencial para pessoas com deficiência que não estão disponíveis no brincar "tradicional". O brincar digital também inclui versões do jogo tradicional em diferentes formatos - há um continuum, não uma dicotomia. Através da tecnologia assistiva, que permite aumentar, manter ou melhorar habilidades de crianças com limitações funcionais, ampliam-se as possibilidades de interação com brinquedos e de inclusão nas brincadeiras. Referência Bibliográfica BROWN, F. Playwork Theory and Practice, 2002. BROWN e WEBB. Playwork, an attempt at definition, 2002. GILL, T. No Fear: Growing Up in a Risk Averse Society, 2007. HUGHES, B. Evolutionary Playwork and Reflective Analytic Practice, 2001. HUIZINGA, J. Homo Ludens. São Paulo: Perspectiva, 2000. KISHIMOTO, T. O Jogo e a educação infantil. São Paulo: FSC/CED, NUP, n. 22, Perspectiva, 1994. MALAGUZZI, L. L'occhio se salta il muro: narrativa dei possibile, 1984. NEWSTEAD, S e BENNETT, C. The Busker’s Guide to Playwork, 2011. NICHOLSON, T. A question of function, 1971. Playwork Principles Scrutiny Group, Playwork Principles, 2005 Schaefer e Drewes. The Therapeutic Powers of Play: 20 Core Agents of Change, 2014. SUTTON-SMITH, B. The Ambiguity of Play. Harvard

  • Como brincar com as várias idades

    - Claudia Santos Ferreira - Agentes do brincar são pessoas que possuem conhecimento e habilidade, criando oportunidades para as crianças brincarem de forma livre, estas pessoas podem ser: jovens, pais, educadores, profissionais de diversas áreas, estudantes, voluntários, pessoas na terceira idade, sendo todos eles facilitadores oferecendo diversas brincadeiras lúdicas para crianças e adolescentes sem discriminação alguma. O Agente do brincar tem como propósito oferecer brincadeiras com muita diversão sem se prender em regras, a brincadeira pode se tranformar com a interação das crianças que possuem total autonomia em mudar o ritmo da brincadeira quantas vezes quiserem o importante é que todos se divirtam na situação e sejam felizes. Sendo o Agente do Brincar um mediador, ele pode atuar em qualquer lugar, mesmo enquanto desempenha outras profissões. Podemos encontrar Agentes do brincar atuando em diversos locais como: escolas, brinquedotecas, acampamentos, centros comunitários, hospitais, projetos sociais, abrigos,projetos sociais , empreendimentos comerciais, parques e espaços públicos. Brincar é muito importante sendo fundamental na vida da criança e não opcional além de auxiliar no bom desenvolvimento de crianças e adolescentes é extremamente importante que o Agente do Brincar dissemine esta informação para as pessoas que possuem contato direto ou indireto com possíveis brincantes, enfim, o nosso público. Crianças e adolescentes apreciam diversos tipos de brincadeiras e atividades, apesar de serem apresentadas por faixa etária podem ser oferecidas a diferentes idades isto dependerá do ritmo de necessidade e resposta interativa no momento da brincadeira. Assim trago aqui algumas sugestões para as diversas idades brincantes. Para os bebês de 0 a 3 anos é importante brincar com o seu corpo: mãos, pés, cantar, esconder atrás de panos, lençóis, portas, imitar gestos e sons de animais domésticos,pular na cama ou rolar em superfície macia,objetos de diferentes texturas e tamanhos para tocar,brinquedos de puxar e de emitir sons, chocalho, brinquedos de movimento: triciclos, carros, bolas, correr de olhos fechados, brinquedos de construção, livros com figuras simples, fantoches, utilizar caixas de papelão, engatinhar, brincar na terra, areia, com outras crianças, dançar, imitar gestos de adultos e sons de objetos e animais. Crianças de 3 a 6 anos adoram andar de bicicleta, correr, pular, dançar, cantar, brincar com terra, areia, massinha de modelar, brinquedos com movimento, imitar atividades de adultos,cantigas de roda,imitar os bichos, miniaturas de tudo que exista no seu cotidiano, ouvir histórias, vestir fantasias , quebra-cabeça, boneco, bonecas,jogos de regras simples, alguns brinquedos eletrônicos,desenhar, pintar, escalar, escorregar, balançar, conversar e interagir com outras crianças. Crianças de 6 a 9 anos são fãs de movimento e desafios. O desenhar, pintar e expressar formas artísticas, jogos eletrônicos, brincadeiras espontâneas, atividades que estimulem autonomia e iniciativa,misturar ingredientes fazendo algumas receitas simples com na companhia de um adulto, construção de brinquedos com materiais recicláveis,jogos simples como: jogos de memória, dominós,bingos,livros de contos e livros que abordam temas que fazem aprender a se reconhecer e conhecer o outro, brincar com os amigos em casa ou em lugares públicos. Crianças de 9 a 12 anos tem afinidade com brincadeiras de exercícios físicos participar de torneios,jogos eletrônicos, jogos competitivos, jogos com regras: dominó, dama, cartas, xadrez,jogos no computador,brincar com água e piscinas, jogos com bola: futebol, volêi, basquete, tênis,atividades artísticas como: teatro, dança e música, instrumento musical, assistir tv, cinema,ler revistas, confeccionar brinquedos, andar de bicicleta e skate. Adolescentes de 12 a 18 anos gostam bastante de jogos como: mesas de bilhar, tênis de mesa, pebolim, quebra-cabeças complexos, cartas, jogos comerciais: banco imobiliário, desafios com aventura: caminhadas, escaladas, passeios artísticos: teatro, festivais, cinema, grupos de jovens, grupos de interesses em eletrônicos, planejar em grupo de jovens atividades lúdicas recreativas, dialogar expressando sua identidade e conhecer a identidade do outro, oportunidades em expressar suas preferências: musicais, roupas, livros,filmes, participar de comitês e comissões criadas e direcionadas a eles próprios. Brincar além de ser um direito de todos, é uma Lei, devendo ser cumprida, na Legislação brasileira, pois a Constituição Federal em seu artigo 227 afirma que: " É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração,violência, crueldade e opressão ( Brasil, 1988). Igualmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA(Brasil,1990) preconiza no seu artigo 4º: " É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária". E no Artigo 16, parágrafo IV:" O direito á liberdade compreende os seguintes aspectos:...Brincar,praticar esportes e divertir-se". Brincar além de ser um direito de todos, é uma Lei, devendo ser cumprida, na Legislação brasileira, pois a Constituição Federal em seu artigo 227 afirma que: " É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração,violência, crueldade e opressão ( Brasil, 1988). Referências Guia do Agente do Brincar (ipa brasil) Guia Prático para Criar Oportunidades Lúdicas e Efetivar o Direito de Brincar( 1ª Edição).

  • Com brinquedo ou sem brinquedo a criança brincará

    - Rosalina Marinho Andrade Rodrigues - A história da infância foi modificada conforme a época vivida, por exemplo na Idade Média a criança assim que não precisasse mais de cuidados, ingressava no mundo adulto, sem preparo e não saia mais deste mundo, não havia o cuidado e a preocupação que temos atualmente com a criança e infância. De acordo com as pesquisas realizadas foi comprovado que o brincar é de extrema importância para o desenvolvimento humano. Os bebês quando estimulados através de brincadeiras, carinho e conversas tem começam a desenvolver-se socialmente, a corporeidade e cognitivamente. Nessa fase é o momento de descobertas e quanto mais estimuladas mais se cria laços de afetividade e possibilidades para um bom desenvolvimento. Conforme a criança vai crescendo, altera seu modo de brincar, sozinha ou acompanhada, com brinquedo ou sem brinquedo a criança brincará, inclusive porque o Brincar é um direito garantido por lei para crianças. Mas será que as crianças estão brincando? Como será que hoje elas brincam? São questões para refletirmos enquanto lemos o artigo. Para a educadora e antropóloga Adriana Friedmann, as crianças hoje brincam cada vez menos, pois ficaram dependentes dos brinquedos e produtos tecnológicos que o mercado oferece e que os pais têm comprado, motivados mais pelo marketing que pela consciência de que esses produtos são adequados. Nas escolas, o tempo do recreio, o tempo livre sem atividades, está ficando cada vez menor ou mais direcionado. As crianças estão dependentes do direcionamento dos adultos e muitos afirmam que elas não sabem mais brincar. Mais uma vez te convido a refletir: “Por que este pensamento de crianças não sabem mais brincar?” Será mesmo que elas não sabem brincar? Será a tecnologia a vilã do brincar? Para ajudar a responder disponho uma pesquisa foi retirada do Livro Bora Brinca (página 19). Essas expressões das crianças aconteceram durante momentos de brincadeiras na escola, no clube, no parque: “Brincar é se divertir” (B. S. S. / 5 anos) “Brincar é como se fosse a vida real” (M. L. S. C. A. / 6anos) “Brincar é ser super-herói” (F. A. / 5 anos) “Brincar é virar uma princesa” (M. I. S. A. / 5 anos) “Brincar é se divertir, é brincar de boneca, brincar de castelo, carrinho e também brincar de pega-pega” (L.G. / 8 anos) “Brincar é ser igual ao papai, dirigir carro, trabalhar e fazer compra também” (L.K. / 5 anos) “Brincar é ser feliz, ter amigos, se divertir, aprender,respeitar regras e sei lá!!! Estar de bem com a vida” (A. L.L. / 9 anos) “Brincar é se divertir com os amigos” (A. S. A.) “Brincar é se divertir. Eu adoro brincar de Ken e Barbie” (O. A. S. S. / 4 anos) “Brincar é estar feliz como uma princesa” (A. B. S. S. / 5 anos) “Brincar é jogar videogame, quando jogo me sinto dentro do jogo” (D. V. /11 anos) “Brincar é jogar com meus amigos, jogos com regras e até aprendi algumas coisas de matemática brincando” (M. / 12 anos) Aqui podemos concluir que para criança brincar é se divertir, é se transportar no tempo é poder ser o príncipe ou princesa, é dirigir um caixa de papelão, é correr, jogar bola, enfim há inúmeras possibilidades de se brincar. O agente do brincar irá proporcionar para a criança um brincar livre, no qual a criança seja o que sua imaginação permitir, sem julgamentos deixando apenas fluir toda criatividade, sensibilidade e alegria de uma brincadeira. Quem pode ser um agente do brincar? Qualquer pessoa que deseje que o direito de brincar seja assegurado e que entenda que o brincar é essencial para desenvolvimento humano. Abrange profissões como professores, médicos, enfermeiros, jornalistas, arquitetos, pais, tios, etc todos são bem vindos a essa causa. Pode surgir a dúvida se o agente do brincar é um tipo de recreador. Como explicado no parágrafo anterior o objetivo do agente do brincar é de facilitar Brincar livre, já a recreação é uma atividade programada, na qual a criança brinca, mas com o adulto orientando a todo momento, com atividades guiadas. O agente do brincar também orienta e ensina, porém quando percebe que a criança está realmente brincando deixa de interferir na brincadeira a não ser que a criança o chame para brincar. No curso do agente do brincar, podemos aprender novas habilidades e principalmente enxergar a criança como um ser social que gera cultura e está em constante desenvolvimento e no papel é garantir que brinque, ensinando novas brincadeiras, contando histórias, brincando com lúdico. No primeiro dia de aula, relembramos na prática como era brincar, utilizando somente o corpo sem brinquedos, foi uma aula tão divertida que nos levou para muitos anos atrás nas ruas em que brincávamos livres, sendo crianças.Podemos perceber que um agente do brincar precisa estar de coração e mente abertos para as possibilidade se deixar levar com a sua criança interior nesse novo caminho que se abria. A aula de Andrew Swan nos permitiu entender o quanto é rico o brincar na natureza, mesmo quando há pequenos riscos de cair e se arranhar, se sujar, de se molhar estes riscos enriquecem a experiência do brincar. O importante é não deixar a criança em uma redoma de vidro protegendo de tudo, riscos, medos, desafiam e também ajudam no desenvolvimento psicológico. O medo é fundamental porque é um sentimento que nos preserva. O que deve ser superado é o medo das pequenas coisas, como o de rebater uma crítica ou expor uma opinião”, explica psicóloga e psicopedagoga clínica Ana Cássia Maturano. Lembrando que permitir que a criança se arrisque e se supere não significa negligenciar sua segurança e seu bem-estar. Desta forma, é interessante prestar atenção a alguns detalhes antes de escolher o local da brincadeira, pois manter o local seguro também é um dever do agente do brincar. Para as crianças das grandes cidades que possuem pouco ou quase nenhum contato com a natureza, Irene Quintánas nos fez enxergar a cidade como uma oportunidade para brincar também, pois para criança até uma calçada com degrau a mais é motivo para brincar. Irene nos fez voltar no tempo e relembrar do trajeto com todo detalhe que pudéssemos do caminho ida e volta da casa para escola. Essa experiência foi fantástica nos faz refletir o quanto é importante o olhar da criança e hoje como é feito o transporte das crianças e do seu tempo livre para brincar. A sociedade mudou e sofre alterações no seu modo de pensar e brincar também. Alan Queiroz, nos presenteou com uma aula sobre o brincar e a tecnologia, essa aula nos ajudou a descontruir um preconceito sobre a relação da criança e a tecnologia. Podemos propor brincadeiras que simulem o vídeo game, assim como disse (D. V. A. /11 anos) “Brincar é jogar videogame, quando jogo me sinto dentro do jogo”. Ao propor para esta criança uma brincadeira em que seu corpo se coloca em movimento simulando o jogo que gosta, estaremos quebrando barreiras e ajudando a mudar o olhar para a tecnologia e o brincar. Como disse Alvin Toffler “Os analfabetos do próximo século não são aqueles que não sabem ler ou escrever, mas aqueles que se recusam a aprender, reaprender e voltar a aprender” e assim que o agente do brincar deve lidar com a tecnologia, não como vilã mas quando bem utilizada pode proporcionar momentos ricos de divertimento e brincadeiras. Como podemos perceber o tema brincar abre várias possibilidades de discussão., como de agentes do brincar estamos assumindo um compromisso com a criança, que aquele momento de brincar seja tão bom que possa levar para toda a vida. Para finalizar compartilho um poema de Cristiano dos Santos Araújo adaptado para os agentes do Brincar. Cada criança é uma estrela Cada um é um Ser único, Com suas particularidades, suas vontades, suas especialidades Que sejamos libertadores de infâncias aprisionadas Que façamos valer a pena, Para cada um que passar em nossa jornada, E que consigamos enxergar em cada rosto Sua alegria, sua dor, seu grito de agonia. Que ao levantarmos a cada manhã lembremo-nos de encher nossas mochilas, jalecos e bolsos de amor E é por esse único Ser chamado criança Que escolhemos nos dedicar e viver Que em nossas mãos possam voar e alcançar o céu Que é o seu lugar. Cada criança é uma estrela Cabe a nós agentes do brincar fazê-la brilhar

  • Os Agentes do Brincar e o Mundo

    - Bruno Tavares da Silva Josino - O lúdico é uma característica do ser humano. Ele está ligado diretamente ao divertimento e ao brincar. A ludicidade é historicamente encontrada em épocas e povos distintos, porque é uma expressão humana da liberdade e uma maneira de interação com o mundo como refúgio da obrigação ou até mesmo dentro dela. Diversos autores trazem a temática do brincar sob vários olhares. Existem concepções que reconhecem no brincar a importância para o crescimento físico, expressões corporais, desenvolvimento do potencial criativo, relacionamentos grupais, possibilidade autoterápica para saúde mental e até mesmo para a Constituição da Subjetividade. “Essa atividade [brincar] proporciona um momento de descontração e de informalidade (...) um papel fundamental na formação do sujeito e da sua personalidade.” (PEDROZA, 2005, p. 62), assim a partir do contato com a multiplicidade de situações e vivências pelo brincar, a pessoa aprende, cria e recria seu mundo. A infância é a fase da pessoa se reconhecer no mundo e sua formação de identidade movimenta-se de acordo com as pré-condições propostas a ela, ou seja, existem fatores psicossociais, econômicos e familiares simbólicos influenciadores neste processo mesmo que implicitamente e compõe a pessoa que a criança é e como esta lida com as situações que se dão na vida em sociedade. Regina Pedroza refere-se à brincadeira, enquanto espaço de lazer e percebe a viabilidade de as crianças demonstrarem-se emocionalmente e desenvolve que: “Através da brincadeira, a criança tem a possibilidade de experimentar novas formas de ação, exercitá-las, ser criativa, imaginar situações e reproduzir momentos e interações importantes de sua vida, resignificando-os. Os jogos e as brincadeiras são uma forma de lazer no qual estão presentes as vivências de prazer e desprazer”. (PEDROZA, 2005, p. 62) As brincadeiras, jogos e as relações com brinquedos devem ser entendidos como tempo fundamental para as crianças expressarem ali momentos de prazer e alegria que podem ser o motor de muitas atividades, de possibilidades de aprendizagem e de desenvolvimento como também momentos de manifestarem angústias, tristezas e situações que estão presas dentro de si. O brincar e a ludicidade aparentam-se serem adequadas apenas às crianças, entretanto os adultos podem vivenciar de outras formas que não infantis ou até mesmo com as próprias crianças. O adulto junto à criança tem resistência, em um primeiro momento, mas é possível viver momentos repousantes à medida que percebem a necessidade e a importância de se desligarem de suas preocupações, afinal brincar pode ser uma ótima alternativa intergeracional que viabiliza a troca de conhecimento de brincadeiras mais tradicionais e aquelas praticadas atualmente, onde gera-se uma rica vivência mútua de permutação de experiências. Os fatores influenciadores no afastamento das pessoas ao lúdico são as obrigações superestimadas na sociedade, que no mundo contemporâneo apresentam-se no trabalho, nos estudos e nas demais responsabilidades encontradas principalmente na fase de “gente grande” e faz com que o brincar seja visto como perda de tempo, pois não correspondem aos ideais do mundo adulto e em muitas circunstâncias até as crianças são colocadas diante destes ideais sendo privadas de seu direito de brincar, porque precisam se dedicar ao futuro de sucesso. Os projetos de futuro tanto dos adultos para eles mesmos ou as projeções para as crianças perpassam por: sonhar, imaginar e se planejar para alcançarem o ponto de supervalorização tão recorrente no imaginário social de um profissional bem sucedido, de carreira acadêmica impecável, e consequentemente a felicidade pessoal, entretanto: “Às vezes, sim, nossos sonhos quebram algumas coisas no seu percurso ou são atravessados por coisas que vão sendo quebradas ao longo do caminho. Isso faz parte da condição de estar vivo.” (REDIN, 2007, p. 83). Então surge a figura do Agente do Brincar. De acordo como Marilena Martins: “Agentes do Brincar são as pessoas que, com conhecimento e competência, criam as oportunidades para que as crianças brinquem livremente. Podem ser: jovens, pais, educadores, profissionais, estudantes, voluntários de organizações da sociedade civil, pessoas na terceira idade. Além do conhecimento teórico prático precisam ter algumas habilidades (...).” (MARTINS, 2013, p. 6) O Agente do brincar é profissional que trabalha com a temática lúdica e não com o projeto de vida esquematizado, pois entende o brincar, seja pelas brincadeiras, pelos jogos e pelos brinquedos como direito indispensável na vida da criança, como possibilidade de resolução de problemas internos, externos e para seu desenvolvimento integral, ou seja, social, físico, intelectual, psicológico e familiar. Este desenvolvimento integral proporciona caminhos para que esta criança em seu processo de crescimento interaja com meio respeitando si mesma e o mundo em suas diferenças e para o adulto tem relevância por ter a capacidade de resgatar uma infância que se perdeu, períodos de autorreflexão ou apenas permitir momentos de alegria que já é o bastante. Este profissional pensa o brincar direcionado ao humano independente de idade, classe, identidade, enfim percebe o contexto ao qual está inserido para oportunizar condições de autonomia, espaços de coletividade e o fim é o empoderamento do sujeito para que se perceba como um ser brincante que produz cultura: “A cultura é, portanto, a revelação dos espaços e formas que lidam com elementos simbólicos do processo criativo: a imaginação, o lúdico, a projeção, a fantasia, o mistério, o cósmico, a poesia...” (REDIN, 2007, p. 85). O Agente do Brincar tem papéis importantíssimos: de favorecer o sonho e a fantasia sem a obrigatoriedade de resultados quantitativos e concretos, pelo contrário, o qualitativo é o mais aguardado. Apesar de existirem inúmeros estudos sobre o brincar para, de fato, explicarem os benefícios ao sujeito e assim validar sua real importância, ainda assim o brincar é o fim nele mesmo, ou seja, é um direito e deve ser de responsabilidade mútua do adulto, família, sociedade civil, escola, empresas e o Estado. O Agente do Brincar compila todas estas visões sobre o brincar que vai desde propor momentos de lazer até sendo ele constituinte do sujeito, mas acima de tudo, é um facilitador de momentos e espaços saudáveis onde a brincadeira se dará, portanto as atividades devem ser oferecidas a todos para que as pessoas julguem o que de fato são importantes a elas. O profissional trabalha sob a perspectiva de atividades espontâneas, não é porque as direcionadas não tenham sua relevância, mas o brincar livre é o foco principal, pois não tem o caráter educacional explicitamente, até porque o desenvolvimento acontece nas relações que se estabelecem nas situações vivenciadas. Pelo lado de formação, o profissional desta área perpassa por atividades teóricas e práticas que fundamentam os vários aspectos que estão às margens do brincar como relacionamentos interpessoais, às questões de acesso à cultura e às artes e sobre tudo o desenvolvimento humano. É de extrema importância ampliar o debate e criar redes de possibilidades para trazer mais profissionais e o reconhecimento da área, porque o brincar é coisa séria e deve ser valorizado pelo que é e por sua significância para a humanidade, pois através de atividades simples, vivências particulares e em grupo, o universo seja descoberto e receba um significado único que faça sentido ao sujeito. Referência Bibliográfica MARTINS, Marilena Flores. Brincar e o Desenvolvimento da Criança. In: Guia do Agente do Brincar. São Paulo, 2013, p. 27. PEDROZA, Regina Lúcia Sucupira. Aprendizagem e subjetividade: uma construção a partir do brincar. Rev. Dep. Psicol., UFF. Niterói, v. 17, n. 2, 2005, p. 61-76. REDIN, Euclides; MÜLLER, Fernanda; REDIN, Marita Martins (org.) Infâncias cidades e escolas amigas das crianças. Porto Alegre: Mediação, 2007, p. 83-89.

  • Brincar constitui valor ao aprendizado

    - Bianca Silva Gomes Panhoti - O brincar entra em nossas vidas desde o momento em que abrimos os olhos, e nos entretemos com os estímulos que nos circundam e que nos chamam atenção, tornando-se presente em todos os momentos de nossa vida, trazem a experiência da concentração de esforços, de estado de presença absoluta, de descontração e assim acabam por ensinar, resgatar, integrar, desenvolver e até mesmo salvar. Minha infância relaciona-se muito com as diferentes formas de brincar, sendo das mais integradas e livres até as mais resguardadas e individuais, isso decorrente de diversas fases em decorrência da idade, circunstâncias familiares e ambientes. Durante os primeiros anos a brincadeira se dava muito no âmbito familiar, tendo uma boa relação com o uma mãe pedagoga que sempre brincou junto e incentivou a criatividade, leitura, exploração e experiências mais artesanais relacionadas à costura por meio de criação de roupas para bonecas e itens para demais brincadeiras. Ainda nessa fase é importante mencionar que tive bastante influências de uma irmã 8 anos mais velha que eu, a qual sempre me inspirou e ao mesmo tempo me exclui das brincadeiras dela e das amigas, fazendo com que sempre eu tivesse interesse por algo mais maduro do que para a minha idade, despertando o meu interesse para a dança, música, desenho e escrita, cabe aqui salientar que devo a ela meu interesse ainda vivo por desenhar. A presença de primos também sempre foi muito importante para o brincar em minha vida. Eles eram sempre representados pelas férias, pois são todos de Minas e essa era a viagem padrão para todas as férias nessa época. A brincadeira não era tão livre como eu gostaria (a menos nos dias de ir para o sítio de uma das minhas tias), o brincar acontecia sempre em praças por perto das casas dos avós, sob a monitoria dos pais ou nos quintais das casas, mais nada disso impedia que o divertimento fosse completo. Era muito faz de conta, cirandas, brincadeiras tradicionais, trava-línguas, cantigas, invenção de histórias e jogos de tabuleiro. Um pouco mais crescida e por morar em uma rua sem saída, as brincadeiras começaram a tomar também o espaço da rua. Não me esqueço nunca o sentimento de liberdade e independência que me foi auferido na primeira vez em que me convidaram para andar de bicicleta na rua com as outras crianças e a minha mãe permitiu, foi como uma conquista imensa na vida, uma emoção que não cabia no sorriso de quem saí pela rua sozinha aos 8 anos pela primeira vez. Nessa fase as brincadeiras se tornaram ainda mais corporalmente práticas e que desenvolveram melhor a minha habilidade motora, entraram no âmbito das preferidas, a corda, o patins, taco, pega-pegas, patinete e bicicleta. Sempre junto a essas brincadeiras era incorporado um faz de conta diferente, como por exemplo, sereias que nadavam (ou andavam de bicicleta), sempre com uma missão diferente. Ainda nesse período já havia nascido o meu irmão mais novo e com ele as minhas brincadeiras e brinquedos favoritos foram aos poucos se modificando e tornando cada vez mais compartilhados. Assim as bonecas passaram a sofrer acidentes em caminhões ou carrinhos, ocorreram remakes de filmes da Disney, como o filme Carros, o qual recontávamos a história do filme com as pistas e carrinhos Hot Wheels, a casa de bonecas se tornou o lugar dos caça monstros atuarem, os colchões viraram tatames para acrobacias, os tecidos que em outrora eram utilizados para roupas de bonecos se tornaram capas, luvas e máscaras de super heróis e em meio a todas essas transformações e ressignificações, digo que o momento de brincar se tornou muito mais divertido e completo. Um pouco mais tarde, na entrada do período da pré-adolescência a molecagem e a rua foram sendo deixados um pouco de lado e tomaram frente de meu entretenimento a leitura, a dança e a música, me resguardando do contato com os outros, começaram-se os dias de fone de ouvido e pernas para o ar trancada no quarto, como se fosse um retiro para a reposição de energias, onde ali se encontrava a minha presença absoluta. Durante essa fase o meu irmão sentiu muito a minha falta nas brincadeiras, hoje consigo compreender isso, mas na época ouvir suas reclamações eram um aborrecimento. Algumas vezes durante as férias eu retomava o meu vínculo brincante com meu irmão por meio de filmes, desenhos animados e séries, sobretudo da Disney, que passávamos tardes assistindo e brincando em meio aos comerciais com algum faz de conta relacionado ao que assistíamos. No decorrer da adolescência os jogos de papel e caneta como o stop e jogo futuro eram os que tomavam conta, além disso, o faz de conta continuava, sendo trocado somente o assunto, agora por séries e filmes da “moda” como High School Musical e Camp Rock. Ao fim da adolescência, por volta dos 16 anos comecei a trabalhar como monitora em um Buffet infantil, sendo que nessa fase tive a chance de retomar algumas brincadeiras bem infantis, como ir aos brinquedos que faziam parte daquele espaço, não somente eu, mais também os outros adolescentes que ali trabalhavam adoravam o momento antes da festa em que tínhamos a oportunidade de resgatar a criança pequena dentro de nós mesmos e isso era especial demais. Iniciando a escolha e de uma carreira a se seguir na vida profissional eu acreditava que a minha escola era fazer Direito e me tornar uma renomada advogada, até porque era o que a maioria da família esperava, comecei então a me sobrecarregar nos estudos, não sobrando muito tempo para lazer, fiz técnico em Serviços Jurídicos na ETEC Jorge Street, me formei entrei para a área, prestei o Enem para ingressar em uma universidade federal. Para o desenrolar dessa parte passei na UFMG e não pude, na verdade não consegui ir por dois motivos, um por um problema sério de saúde o qual minha mãe enfrentou justo nessa época e também por não estar satisfeita conhecendo mais a fundo a área, pois nessa época já era auxiliar administrativa em um escritório de advocacia e me desanimava várias vezes com diversas coisas da área, foi então quando me senti perdida e sem saber qual caminho seguir. Em meio a essas tempestades da vida fiz terapia e nelas descobri que precisava resgatar algo muito importante em mim e que talvez eu quisesse vivenciar isso no meu dia a dia, na minha rotina, no meu trabalho, foi quando me deparei com a Pedagogia. Cogitei realizar diversos cursos diferentes, que não fossem motivo de desgosto e reprovação por parte da família, mas em meio a comentários duros e desanimadores resolvi seguir pelo caminho da educação por acreditar que ela é o maior instrumento de mudança para o mundo, mas também pela minha crença de que seria certo que havia algum “método” que tornasse menos violento o processo escolar para as crianças (me refiro aqui por violento, por já ter tido a experiência de professores apostilados e que tudo resolviam na base dos gritos), eu acreditava que sinceramente conseguiria fazer diferente e que o lúdico tinha que ajudar a criança nesse processo. Foi então na Faculdade de Educação da USP onde fui de encontro realmente ao que o meu lado intuitivo falava, conheci vários e ótimos professores que abriram os meus horizontes para conectar a brincadeira, os jogos nas sequências didáticas, além de conhecer vários autores que traduzem bastante o processo de desenvolvimento da criança e me fizeram entender o quanto o brincar se faz parte de tudo isso. Na minha atuação profissional como professora auxiliar tive a honra de sempre conseguir emprego em escolas que seguem o modelo construtivista de educação, que consideram a criança um sujeito completo e ativo na construção de seu conhecimento, sendo assim possível manter e colocar em prática os meus ideais acerca da educação. Acredito muito nessa ideia de que a criança constrói o seu conhecimento e tudo isso devido ao seu interesse (onde há interesse, há aprendizagem). E qual é o agente impulsionador do interesse da criança? As brincadeiras, brinquedos e tudo aquilo que pode envolver ludicidade que consiga capturar o interesse da criança. Do ponto de vista do psicólogo russo, Alexei Nikolaevich Leontiev, acerca do significado do brincar para a criança. Para Leontiev (1998), o brincar é a atividade principal da criança, aquela em conexão com a qual ocorrem as mais significativas mudanças no desenvolvimento psíquico do sujeito e na qual se desenvolvem os processos psicológicos que preparam o caminho da transição da criança em direção a um novo e mais elevado nível de desenvolvimento. A atividade da criança não a conduz a um resultado de modo que satisfaça suas reais necessidades. O motivo que a conduz a determinada ação é, na verdade, o conteúdo do processo real da atividade. Como um exemplo disso, podemos citar uma criança construindo com pequenos blocos de madeira. O alvo da brincadeira não consiste em chegar a um resultado final como montar uma pequena cidade com todos os detalhes que a caracterizam como tal, e sim no próprio conteúdo da ação, no “fazer” da atividade. Referências Bibliográficas: O brincar na psicologia de Leontiev: o jogo como atividade e suas contribuições à educação infantil. Disponível em: Acessado em: 28 de novembro de 2018. Teóricos sobre educação e ideias sobre o brincar. Disponível em: Acessado em: 6 de dezembro de 2018.

  • Um poema do brincar

    - Bruna Lopes de Alvarenga - Quando eu era criança adorava brincar de se esconder Brincar de pega-pega então, nem se fala Eu também adorava jogar de futebol Ah como eu me divertia Mas o futebol era o que eu mais gostava de fazer Quando chegava da escola, já ia para a rua Ficava até de noite Não pensava em outra coisa Na escola era do mesmo jeito Só pensava em brincar e jogar bola A Educação Física era a matéria que eu mais gostava Foi assim que eu escolhi a querer ensinar A partir dali eu percebi O que era mais importante para mim Aprender e ensinar Da melhor forma possível Os anos se passaram e quando comecei a faculdade Resolvi fazer Educação Física Meus pais achavam que não me daria um futuro Então mudei de ideia Optei pela faculdade de Fisioterapia Mas no fundo o que eu mais queria Era poder ser professora Poder ensinar Alguns anos se passaram E eu percebi que a Fisioterapia Não era o que ia me deixar feliz Então deixei tudo para trás Comecei a fazer a faculdade A que eu sempre tive vontade Assim que eu tive o primeiro contato Vi que era o que eu sempre sonhei Foi a partir daí que eu enxerguei a brincadeira de outra maneira Não era só apenas diversão Era muito além disso É algo que estimula a sermos nós mesmos, de forma verdadeira A cada matéria aprendida Era uma sensação de missão cumprida Por fazer parte de algo tão prazeroso Poder ensinar algo tão valioso O primeiro estágio Foi uma mistura de sensações Não sabia por onde começar Mas o primeiro passo, foi somente auxiliar Aprendi muitas coisas Como me portar Como lidar com diversas situações E o melhor de tudo, repassar tudo aquilo que aprendi Cada dia era um aprendizado diferente Momentos bons e ruins Que levarei como experiência Sem me esquecer de cada momento Depois de só auxiliar e observar as aulas Passei por uma outra experiência Ministrar as aulas E assim começava uma nova etapa Não fazia ideia por onde começar Fiquei perdida Mas aos poucos fui me adaptando Com os alunos me identifiquei Cada aula era uma descoberta Brincadeiras e atividades Eram essenciais para aquelas crianças Que só queriam se divertir Quase um ano se passou E da escola tive que me despedir Para seguir outros planos Começar uma nova etapa Vários cursos iniciei E em um deles que eu pude notar A real importância Em ser um Agente do Brincar Pude vivenciar várias situações E aprender muito com elas Participando e também brincando Foi a melhor parte de tudo Cada aula foi uma aprendizagem De autoconhecimento E também de esperança Onde voltei a ser criança Conheci muitas pessoas E também aprendi com elas A história de vida de cada um E também de seus ideais O curso me estimulou a fazer muitas coisas Diferentes da minha rotina Conhecendo alguns museus Para brincar e adquirir novos conhecimentos Enxergava o brincar de outra forma Mas depois percebi Que era muito além de só se divertir Era criação de valores Teve grande relevância Na minha “bagagem” de conhecimento Na minha autoestima E na minha esperança Através do brincar A esperança renasceu E o amor só cresceu Em poder fazer o que sempre quis Nunca imaginei Que um dia poderia ter esse pensamento De transmitir alegria e também conhecimento E ao curso do Agentes do Brincar tem todo meu agradecimento. ”

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