top of page

Resultados da busca

163 itens encontrados para ""

  • MEMÓRIAS DO BRINCAR

    - Débora Grazianne - Ao refletir sobre minhas memórias, tentarei em algumas páginas me reportar quanto a minha vivência sobre o brincar antes de conhecer o curso Agentes do brincar. A minha infância foi bastante proveitosa e hoje percebo que o brincar esteve presente o tempo inteiro, em todos os momentos. Uma parte da minha infância vivi no estado de Sergipe, exatamente até os 11 anos de idade. Neste período, durante a semana permanecia em casa na cidade de Aracaju e em alguns finais de semana e época de férias o destino era o sítio de meus avós maternos José e Neusa no Povoado de nome “Pau Alto”, no município de Muribeca também em Sergipe. São inúmeros momentos maravilhosos que levo até hoje em minhas memórias. Estas memórias em que hoje percebo e valorizo muito, porque brinquei e até hoje brinco, diferente de muitas crianças em que tem poucas oportunidades de épocas felizes como a minha, apesar das adversidades. A escola onde estudei em Aracaju, frequentei desde a Pré-Escola até a quinta série, atual sexto ano. Participava de diversas atividades, lembro de momentos em que brinquei muito na rua, em casa, no sítio dos meus avós. Na escola também brincava de pega- pega, queimada, de gangorra, gira gira, participava de campeonatos, corais, exposições, dentre outras. Lembro-me de que o meu brinquedo favorito era um cachorro de pelúcia, em que amarrava um cordão e o levava para todo lugar. Além do hábito de cheirar lençol e também querer carregá-lo onde estivesse. As brincadeiras em casa geralmente eram com minhas duas irmãs, Grazielle e Andreza, além de vizinhas mais próximas. Brincávamos de casinha, com bonecas, de fazer compras no mercado onde o papel de bala era o dinheiro, gostava de brincar de missa, onde pegávamos pedaços de pão como se fosse a hóstia e colocava na boca de quem estava ali brincando, de ser professora, médica, de aulas de ginásticas e quem sempre era a professora? Eu. E hoje de fato vejo-me, no que vivi no passado, pois sou graduada em Pedagogia. Há todo tempo aproveitei a minha infância. Inclusive até inventava algumas brincadeiras com minhas irmãs ou quem estivesse no momento. As brincadeiras eram pensadas e criadas a partir do que estava ali presente e até mesmo do que assistíamos na tv ou alguma situação do cotidiano. Assistia na tv, os episódios de Chaves, Tv Colosso, Castelo Rá tim Bum, Simpsons, Sítio do pica Pau Amarelo, Família Dinossauro, Família Adams e não podia faltar Xuxa, Eliana e Balão mágico. Puxa quanto atração, né? Quando não estava brincando dentro de casa, geralmente na garagem, estava na rua. As brincadeiras na rua sempre me marcou, porque a família esteve muito presente e unida. Além da participação dos vizinhos, incluindo crianças e adultos. E isso é o que fazia as brincadeiras serem proveitosas, a inclusão de todos que quisessem brincar. Sempre ao perceber que o sol estava se pondo aos finais da tarde, brincava na rua, seja pedalando a bicicleta pelas ruas do bairro, brincando de amarelinha, cabo de guerra, pembarra, queimada, bola, elástico, bolinha de gude, verdade ou desafio, imitando personagens da tv, bambolê este que foi um brinquedo da moda e que foi lançado na tv. Mas, para brincar não tinha hora exata, embora aos finais da tarde e início da noite eram mais frescos devido ao calor. Quando viajava para o sitio de meus avós era muita diversão, esta que já começava na saída de casa. Geralmente a viagem era de ônibus com minha mãe Gildete e irmãs, pois meu pai não gostava de ir, mesmo com automóvel em casa, este que poderia facilitar e reduzir o tempo da nossa viagem. Durante a ida cantávamos, brincávamos de stop, contávamos carros e suas cores, leituras de placas para sabermos a localização, se estava muito longe e quanto tempo a mais iria demorar para chegarmos. Chegando no povoado era uma festa só, descia do ônibus na pista (rodovia que liga um município a outro), chamava assim porque o povoado não possuía asfalto e nem calçamento (paralelepípedo). Andava um pouco até a casa de meus avós, este que já sabiam que a filha e netas estavam chegando, porque alguém já tinha ido avisar. E daí era só aproveitar todos os lugares possíveis. Todos os momentos em que estávamos no sítio foram proveitosos e prazerosos, pois o brincar esteve presente o tempo inteiro, em todos os momentos. Era muita energia a se gastar... Subia no pé de goiabeira, colhia manga do pé e chupava, sempre visitava a plantação de milho (quando era época de colheita e as sementes que não crescia muito, colhia e as faziam de bonecas devido as cores dos “cabelos”), brincava de areia/ barro, montava a cavalo, alimentava e corria atrás das galinhas, andava de bicicleta, frequentava o curral onde estava os bois, vacas e cavalos, mesmo que de longe, quebrava castanha de caju para comer. Por alguns anos meu tio que também residia no mesmo povoado que meus avós, recebeu uma proposta de trabalho para morar e cuidar de uma fazenda. Só que neste local não tinha energia elétrica e apenas permanecíamos até o final da tarde, pois o local era longe e a volta no escuro era perigosa. A brincadeira era criada no momento em que estava na fazenda, então pegava cipó e fazia como se estivesse tocando a boiada, brincava de esconde esconde, correr (quem chegava primeiro até o final da cerca), subia na cancela, brincava de pedrinhas (cinco marias). Recordo-me que minha avó Neusa, algumas vezes falava que iria pescar camarão na “Japaratuba”, rio que passa em uma parte mais distante do povoado e quando ela falava, já era motivo de querer acompanhá-la e tomar banho no rio. Algumas vezes, quando era período de colheita de mandioca e a safra era farta, meus avós alugava a casa de farinha. E aproveitava, porque a farinha era fresquinha, os beijus, pé de moleque (doce com massa de puba) eram bem fresquinhos e também a ajudava a descascar a mandioca, mas nada muito certinho. Todo mês de fevereiro, tem uma festa no povoado, chamada de Festa das Cabacinhas. Essa festa é certeza de família reunida e casa cheia onde tios, tias, primos, primas se reúnem para participar deste momento, onde banhos de cabacinha é certo. Dependendo da força como é jogada, ela dói e preferia evitar de ir a praça, ponto de encontro central do povoado e local onde as cabacinheiras produziam nas calçadas. Mas, também tinha o parque que era montado e o divertimento era garantido. E os moradores do povoado que sempre gostaram de comprar e jogar cabacinhas em quem é de fora, ou seja não reside no povoado, portanto eu estava sempre na mira deles. As cabacinhas são produzidas de parafina derretida com água dentro. No mês de outubro também acontecia a festa em comemoração ao dia das crianças, festa essa que a organização sempre partiu da minha família. Lembro-me que ensaiava as músicas dos irmãos Sandy e Junior e interpretava no palco da associação de moradores. Dançava com minhas irmãs e primas no palco, conduzia brincadeiras como estourar balão, distribuía as sacolinhas de doces, pipoca, cachorro quente e também participava das brincadeiras. Sem esquecer da ida a feira no município vizinho de nome “Aquidabã”, onde até hoje moram minhas tias. Na feira tinha de tudo, andávamos nela do início ao fim, sempre acompanhando os adultos e a parte mais divertida era ao final, onde ganhava picolé (sorvete no palito) de meu avô José. Aproveitei muito a minha infância morando em Sergipe, mas aos onze anos de idade devido a problemas familiares, minha mãe resolveu sair de casa, concluí o ano letivo morando na casa da minha tia Vera e no final deste mesmo ano, minha mãe recebeu uma proposta da minha tia Patrícia, que iria modificar a vida dela, a minha vida e das minhas irmãs para sempre. Viemos sem que meu pai soubesse, para o Estado em que recebe pessoas de todos os lugares mundo, “São Paulo". E a partir daí a continuação da minha infância foi bem diferente da vivida em Sergipe. Onde o brincar na rua já não era o mesmo, os colegas não tinham ainda, a primeira casa onde morei em Jandira havia um córrego atrás e a diversão era observar se alguém entrou no banheiro ir até o muro e verificar o que sairia pelo cano, além de ficar observando o que passava pelo córrego. Certo dia vi que tinha um cachorro morto e a brincadeira estava dada, eu e minhas irmãs jogávamos pedras no animal e como furava saia um líquido preto. Olhávamos uma para cara da outra e falamos quase que na sequência: “Eca que nojo”. Mas a brincadeira continuava. Mudamos para uma outra casa, do outro lado da rua onde não tinha córrego e o meu tio Ricardo, esposo da Patrícia, pegou emprestado o vídeo game do irmão dele e o entretenimento era jogar Mário Bross e também subir na laje, local mais quente da casa. A garagem desta casa possuía um púlpito, onde anteriormente foi local de uma igreja evangélica e também aproveitava e brincava de Igreja. Meus outros tios moravam no município vizinho, Barueri e outra diversão era ir de moto até lá, porque lá era mais legal que ficar em Jandira. Na casa da minha tia Tania brincava de bicicleta, pega pega e quando meu tio Clécio estava trabalhando em serviço noturno utilizávamos a sala da casa dele que era no andar debaixo da casa da minha tia Tânia para dançar com minha prima e irmãs. Lá em Jandira era um pouco maçante, e o lugar também bem perigoso, a rua nem asfalto possuía. E na escola que frequentei não participei de nenhum tipo de atividade. Morando apenas oito meses em Jandira, mudei para Barueri onde a felicidade irradiava em meus olhos. Mas, a casa onde vivia ficava bem no alto e o bairro também diziam ser bem arriscado e as casas pareciam umas em cima das outras, sem acabamento, bem perigoso do que estava acostumada a ver em Sergipe. Nesta casa brinquei muito, tinha rede para se balançar, mas em compensação aparecia ratos, pois tinha um ferro velho na garagem da casa vizinha e acaba sempre correndo para fugir dos ratos que apareciam. Poucos tempo depois, não me recordo ao certo, vim morar em um apartamento e algumas brincadeiras foram retornando e outras adentrando como queimada, bolinha de gude, pedalar bicicleta, andar de patins, skate, ficar olhando pela janela os carros e escolher qual seria o meu, entre outras. Inclusive na escola em que estudei da 6 série (atual sétimo ano) até o final do ensino médio, participava das atividades físicas em quadra e fiz parte de um grupo de alunas no campeonato interescolas no município de Itapevi em um jogo de vôlei. Em muitos momentos, em inúmeras ocasiões as lembranças são maravilhosas e ao mesmo tempo marcantes, porque o importante é aproveitar o máximo seja criança ou adulto. Percebo o quanto brinquei em minha infância sem as responsabilidades, preocupações e cobranças que adultos tem. Hoje adulta, tenho cinco sobrinhos, incentivo eles a brincarem em todos lugares e o máximo que puderem. Brinco com eles, pois esse meu olhar veio sendo modificado ao morar em São Paulo em que sempre repito que o brincar em muitos lugares são mais restrito e o que é mato/ areia/barro, em alguns locais está dando lugar ao asfalto ou concreto. Precisamos compreender que o brincar nos proporciona diversas possibilidades de expressão, desenvolvimento, além de nunca nos esquecermos de manter a criatividade, inovação, troca, exploração, descobertas.

  • Mudar o mundo brincando

    - Vanessa Maciel Novais - Várias são as formas de brincar e vemos o quanto é importante esse direito na vida de uma criança. Infelizmente nem toda criança tem oportunidade de exercer esse direito por muitas problemáticas no cotidiano. Diante desta realidade, nós como profissionais, temos a alegria de mudar um pouco esse cenário, trazendo muitas ideias e vontade de fazer diferente do que vemos ainda hoje. Aprendemos muito ao longo do curso, no decorrer das aulas foi muito gratificante conhecer tantos bons profissionais e ótimos seres humanos, preocupados com o próximo. Hoje percebemos muitas diferenças no brincar. Antigamente, as crianças construíam seus brinquedos, era tudo muito mais simples, os brinquedos eram comuns, sem tanta tecnologia, como vemos nos “brinquedos estruturados”. Nosso pais brincavam livremente num espaço muito grande,quintal ou mesmo na rua,eram muitas brincadeiras pra soltar a imaginação, bastava ter disposição e colegas pra brincar, e desse jeito foi passado de geração a geração. Ainda hoje me lembro das músicas que faziam parte das nossas brincadeiras, jogos e historinhas contadas,falavam que era tudo muito sadio,aproveitado de verdade, não ficando preso horas a fio dentro de casa, de olho na telinha da TV,que muitas vezes foi trocada pelo celular, tablet ou algo nesse sentido.Vivemos numa sociedade cada vez mais capitalista,ou seja, consumista, onde “ter é melhor que ser”... As crianças estão sendo usadas como objeto de desejo no mercado, muito se produz aproveitando esse mercado que rende milhões.Um personagem da Disney, Por exemplo, é tremendamente aproveitado, explorado para se ter lucros exorbitantes,cria se um personagem, a partir daí se partem pra todos os lados do mercado, desde alimentação(ovos de páscoa com brinquedo do tal personagem) desde produtos de higiene com o logo do tal personagem ,a roupa e acessórios e tudo o mais que for permitido, ou seja, a criança fica refém do que acha que gosta. E, na verdade, foi enfiada goela abaixo,então os pais ficam reféns dessa necessidade criada. Ao comprar algo para seu filho, um ovo de páscoa daquele personagem,perde se o sentido da coisa toda, ficam condicionados ao consumo , os pais por sua vez pagam e caro por isso.Com todas essas considerações vemos como essas crianças são influenciadas e impactadas negativamente,perde se a espontaneidade, há uma utilização em demasia nesse mercado de cosumo,como resultados vemos tantas pessoas mimadas e acostumadas a ter e não a ser. A influência da tecnologia na infância está cada vez maior, vemos muitas crianças com brinquedos e jogos eletrônicos e games indicados pra sua idade,tudo muito virtual, cada vez mais comum vermos essas crianças”digitalizadas” na rua,nas casas,em locais públicos, onde teríamos oportunidades de brincar ,ter alguma interação social e afetiva, ou seja, troca, o que é muito proveitoso pra o ser humano.As crianças estão nascendo dentro dessa nova realidade, com acesso exagerado da internet, aprendem muito cedo as tecnologias e perde em quesito família, essa modernidade causa dependência de um meio(celular, tablet, e desinteresse na “construção”,vemos crianças mais isoladas, menos sociais. Esses fatores contribuem para uma infância restrita,vemos um processo de ressignificação e substituição dos brinquedos,pelo aparelho tecnológico. A televisão , o computador ,todos esse aparatos devem ser usados a nosso favor, devemos ser senhores e não servos deles.Como profissionais precisamos fazer a diferença no meio desse caos.Precisamos resgatar o que é bom e fazer trabalhar a nosso favor pra desenvolver pessoas criativas,ricas de imaginação, que saibam participar de todo o processo de criação e desenvolvimento de projetos,que saibam das etapas e não entregar tudo pronto, sem sacrifício, sem participar, se inteirar, é sabido que as crianças precisam de um foco, senão tudo se perde, nada se cria, tudo se copia.’como” Segundo o blog Dentro da história, dá pra trabalharmos com dicas de como ter a tecnologia a nosso favor na educação: _ ter uma boa relação, usando de maneira apropriada e consciente o computador, tornando o dia mais interessante e mais leve, sem que afete as brincadeiras ao ar livre,o tempo em família, exercícios físicos e tempo de descanso e de sono. _encarar a tecnologia como outro ambiente na vida da criança: é importante que os pais saibam quais são os acessos de seus filhos, sites, aplicativos que estão vendo, para que servem e como costumam ser usados. _estipular um tempo pra criança “se desconectar”,desligar a TV pelo menos com uma hora antes de dormir, afinal esses fatores interferem no sono, na desaceleração que é preciso pra criança entrar no clima de dormir. _definir espaços pra uso, nada de celulares na hora das refeições,enriquecendo o tempo em família. Desligar a TV na hora do dever de casa ou momento em que poderiam aproveitar pra conversar. _pesquisar e recomendar sempre o melhor: selecionar conteúdos apropriados para seus filhos, procurar saber do que se trata algum jogo antes de fazer download.Procure jogos educativos,jogos que incentivam o raciocínio lógico, ou resolução de problemas, algo que vai acrescentar na vida de seu filho. -seja um bom exemplo, afinal as crianças aprendem por observação, são ótimos em imitar os pais, por isso é importante os pais se atentarem aos seus hábitos e costumes. É bom lembrar da importância da leitura na vida de uma criança, através da leitura a criança desenvolve um rico vocabulário,estimula a memória e a imaginação . Permita que a criança escolha um livro e ofereça diversas opções, mostrando as ilustrações,valorizando gosto na leitura. Como mostra o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil(2002 p.27) Toda brincadeira é uma imitação transformada, no plano das emoções e das ideias, de uma realidade anteriormente vivenciada(...)A brincadeira favorece.a auto estima das crianças, auxiliando –as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa.Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos.Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil. Com a evolução da cultura lúdica surgiram novos brinquedos.E foram por esses brinquedos que as brincadeiras de rua foram substituídos, os brinquedos eletrônicos se tornam mais atraentes e infelizmente as brincadeiras de ruas foram sendo esquecidas,nesse contexto vemos crianças cada vez mais insaciadas e insatisfeitas,pois fica se cada vez mais difícil acompanhar o brinquedo ou jogo que está na moda,sua agilidade, versatilidade. Outro fator que atrapalha é o índice de violência que aumenta a cada dia, enorme quantidade de carros nas ruas, muito trânsito,alta velocidade,todos esses fatores diminui a criançada de brincar na rua.Desse modo os pais em sua grande maioria optam por deixarem suas crianças seguras, dentro de casa com seus brinquedos eletrônicos . As educadoras apontam a falta de acesso a recursos educativos digitais digitalizados atualizados, mas também afirmam que usam a tecnologia para fazer pesquisas, contar histórias, mostrar vídeos e musicas.Poe conseguinte a plataforma deve ter recursos educativos úteis, que possam partilhados pelos Membros, tais recursos devem ser selecionados criticamente,levando em conta sua contribuição para o desenvolvimento da linguagem e conhecimento de mundo(Amante,2007).Devem estar adaptados aos interesses da criança (Clement’s&Sarama,2002) envolvê –la na construção do conhecimento(papper t,1996) e potenciar a criatividade e expressão(Crook,2008). Na brincadeira, as crianças interagem com outras pessoas com isso expressam e comunicam seus desejos internos,desenvolvem algumas habilidades importantes tais como: atenção, imitação, memória e imaginação. Conclusão: Brincar é indispensável á saúde física, emocional e intelectual da criança, para Paulo Freire,estamos sempre construindo, e se construímos aprendemos, e se aprendemos estamos vivendo buscando algo que possam nos levar a vivermos enquanto tenhamos vida. Referências: Como referenciar: A contribuição pedagógica do jogo e da brincadeira na Educação infantil,2008-2019,disponível na internet em HTTP//.pedagogia.com.br/artigos/jogoebricadeiranaeducaçãoinfantil/pagina 2 Referencial Curricular Nacional p/ Educação infantil.vol l Int Brasília,1998 Blog dentro da história:tecnologia , protagonismo e educação Disponível na internet: HTTPS://blog.dentrodahistória.com.br Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil(2002 p.27) Agradecimentos Dedico este trabalho primeiramente a Deus,que está sempre presente em minha vida.Agradeço a todos os envolvidos direta e indiretamente nesse curso, que contribuíram de alguma forma para chegarmos com muita satisfação ao final desse curso tão importante na minha trajetória. Gratidão.

  • O BRINCAR: A HISTÓRIA E O FUTURO

    - JOICE ANAIZE TONON DO AMARAL- O Brincar é transformador, ele está presente desde o momento do nascimento das crianças, pois além de todo cuidado oferecido pelos adultos próximos a ela, há interação, socialização, toque, olhares, carinho, sons e gesticulações emitidas para esse bebê. As brincadeiras evoluem de pequenos balbucios e gesticulações até brincadeiras de casinha, adivinhação, cirandas e brincar livre na rua. Apesar de ser algo que sempre existiu, o brincar nem sempre foi considerada uma atividade que ajudaria no desenvolvimento de uma criança, mas sim por muito tempo foi considerada “perda de tempo” (1). No contexto histórico mundial, a partir do século XVIII que houve uma preocupação com a criança em si, esse olhar de que ela precisava ser “cuidada”, escolarizada e preparada para uma atuação ulterior. Em primeiro momento, fica evidente a criação do ensino com intuito de formação de mão-de-obra, em seguida a escola se tornou um instrumento de fragmentação da sociedade, isolou crianças de adultos e pobres de ricos, impondo diferentes oportunidades e acesso para o desenvolvimento das crianças e um tratamento como adulto em miniatura (2). Apenas no século XX que as crianças receberam um olhar voltado ao papel social que estavam inseridas, e as contradições sobre moralizar (controlar a criança) e paparicar (achar engraçada ou querer preservá-la como criança). Nesse momento da história, a sociologia, antropologia e psicologia (Ariès, Piaget, Vygotsky, Wallon, Charlot, Kramer, dentre outros) tiveram papel fundamental para ajudar a compreender as crianças, a infância e o papel social (2,3). Segundo Kramer (2007) (4): “Crianças são sujeitos sociais e históricos, marcadas, portanto, pelas contradições das sociedades em que estão inseridas. A criança não se resume a ser alguém que não é, mas que se tornará (adulto, no dia em que deixar de ser criança). Reconhecemos o que é específico da infância: seu poder de imaginação, a fantasia, a criação, a brincadeira entendida como experiência de cultura. Crianças são cidadãs, pessoas detentoras de direitos, que produzem cultura e são nela produzidas. Esse modo de ver as crianças favorece entendê-las e também ver o mundo a partir do seu ponto de vista. A infância, mais que estágio, é categoria da história: existe uma história humana porque o homem tem infância”. O desenvolvimento social da criança começa ao nascer, pois ela já está imersa em um contexto social. Segundo Vigostky(2007) (5), a brincadeira se torna importante para ela justamente na apropriação do mundo, na internalização dos conceitos desse ambiente externo a ela. Sendo assim, o brincar é social e a criança não brinca sozinha, ela tem um brinquedo, um ambiente, uma história, um irmão, primo, professor que media essa relação e que faz do brincar algo criativo e estimulante (6). É imprescindível, para que as crianças possam exercer sua capacidade de criar, que haja diversidade e riqueza de experiências, seja no ambiente escolar ou em casa. Experiências essas voltadas às brincadeiras ou a aprendizagem por meio de intervenção direta (7). Conforme Valesco (1996), “na criança em que é privada essa atividade, por condições de saúde, financeiras ou sociais, ficam “marcas” profundas dessa falta de vivência lúdica”. Sendo assim, evidencia-se a importância de pessoas preparadas para oferecer uma mediação adequada do brincar, e de um tripé (família, escola e sociedade) capaz de oferecer o brincar (8). Brincar é um direito reconhecido por lei; A legislação brasileira reconhece explicitamente o direito de brincar, tanto na Constituição Federal (1988), artigo 227, quanto no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (1990), artigos 4º e 16, e que esse seja exercido plenamente por todas as crianças. Há também o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que entende a importância do brincar e a importância do brincar na vida escolar da criança, tendo em vista, o desenvolvimento da criança em todos os seus aspectos (cognitivo, afetivo, motor e social) (9). Ao refletir sobre o direito de brincar, primeiramente, evidencia-se que não são todas crianças que efetivamente gozam do mesmo, e o que observamos no cotidiano de algumas famílias, é que o brincar criativo não é mais tanto estimulado (se já foi um dia, há diferentes contextos sociais e problemas envolvidos), houve uma mudança no modo de brincar e de interagir. Atualmente, o brincar está atrelado a tecnologia, um jogo no celular ou brinquedo tecnológico e muitas vezes esse “brincar” não é estimulante, não promove a interação, imaginação e criatividade. Apesar da evolução da compreensão da criança e do brincar, nota-se que há muito a ser explorado e entendido nesse contexto. Estimular o brincar em todos ambientes, se apropriar dos espaços públicos para tal, proporcionar para TODAS as crianças independente do contexto social, estudar esse tópico cada vez mais e compreendê-lo é de suma importância, pois “O brincar nos faz iguais e naturais” (Herrero e Flores,2018), ele desenvolve habilidades físicas e emocionais, criatividade, imaginação, autoconfiança e cognitivas, e melhora a capacidade de entendimento do mundo, adaptação e resiliência; E o futuro sempre será as CRIANÇAS. Sendo assim, o BRINCAR é potencializador e enriquecedor de experiências que são fundamentais para o desenvolvimento sociopsicomotor de todo ser humano, principalmente, na infância e promove felicidade. REFERÊNCIA 1- LUZ, Marina Cabreira da; OLIVEIRA, Maria Cristina Alves Ribeiro de; SOUZA, Gelsenmeia Massuquette Romero de. BRINCAR É MUITO MAIS QUE UMA SIMPLES BRINCADEIRA: É APRENDER. X Congresso Nacional de Educação- PUCPR. 2011. 2- RODRIGUES, Maria Luiza. A criança e o brincar. Tese de Doutorado. Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro-UFRRJ. 2009 3- TEIXEIRA, Hélita Carla; VOLPINI, Maria Neli. A importância do brincar no contexto da educação infantil: creche e pré-escola.Cadernos de Educação: Ensino e Sociedade, Bebedouro-SP, 1 (1): 76-88, 2014. 4- KRAMER, Sônia. A infância e sua singularidade. In: Ensino fundamental de nove anos: orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade/ organização Jeanete Beauchamp, Sandra Denise Rangel, Aricélia Ribeiro do Nascimento – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007, pp.15. 5- VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 2007 . 6- NAVARRO, Mariana Stoeterau. O brincar na educação infantil. IX Congresso Nacional de Educação e III Encontro Sul Brasileiro de Psicopedagogia. PUCPR, 2009. 7- SANTOS, Geneí Gonçalves Ferreira. A Importância do Brincar na Formação do Sujeito. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Edição 05. Ano 02, Vol. 01. pp 41-56, Julho de 2017. ISSN:2448-0959 8- VALESCO, Cacilda Gonçalves. Brincar o despertar psicomotor. Rio de Janeiro, Editora Sprint, 1996, p.43. 9- BRASIL, Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI) BRASIL. LEI N 9394/96. Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Setembro de 1996. Editora do Brasil. Brasília, 1998. 10- Flores, Marilena; Herrero, Dafne. O brincar nos faz iguais e naturais. 2018. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/institucional/programas/primeira-infancia. Acessado em 12 de dezembro de 2019.

  • Movimento físico, crianças e Síndrome de Down

    - Mina Regen - Resolvi escrever este artigo ao ler o texto de Jéssica Silva Nunes Macedo sobre Lúdico e Aulas de Educação Física, publicado neste blog, onde a autora demonstra a importância dessa área no desenvolvimento neuropsicomotor e social de todas as crianças e adolescentes, preparando-os para a vida adulta. Veio-me à memória os meus tempos de Assistente Social na APAE de São Paulo (hoje Instituto Jô Clemente) onde atuei de 1974 a 1988 e muito aprendi, sempre trabalhando em vários setores e com equipes multiprofissionais. Trabalhei por vários anos no Setor de Estimulação Precoce dessa Instituição na década de 80, onde a maioria dos bebês que chegavam ao nosso Setor haviam nascido com esta síndrome, recebendo, inicialmente, atendimento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Pedagogia. Também eram oferecidos atendimentos grupal mensal para as mães ou cuidadoras (às vezes, as avós), ou individual, se necessário, no sentido de superarem seus sentimentos iniciais frente ao bebê diferente do esperado, ou para auxiliar em situações de conflitos familiares. Não podemos nos esquecer que, naquela época, ainda não existiam exames pré-natais para detecção dessa anomalia no feto. Esses atendimentos grupais eram oferecidos por uma dupla de Psicólogas e Assistentes Sociais preparadas para lidar com as situações que surgiam no grupo, também auxiliadas pelas próprias participantes, numa troca de sentimentos e de apoio mútuo. Quando as crianças adquiriam deambulação, a Coordenadora do Setor, a Pedagoga Maria Theresia Litgens, vinda da Holanda e precursora do trabalho com os pais e bebês no Ambulatório, criando posteriormente o Setor, considerou que seria importante criarmos um ambiente de Educação Física para melhorar as habilidades motoras das crianças. Para tanto, fizemos uma visita à Faculdade de Educação Física da Universidade de São Paulo – USP, no sentido de verificar se haveria interesse de algum formando se dedicar à área das deficiências. Com o auxílio desses profissionais a sala de Educação Física foi criada e estes iniciaram o atendimento a pequenos grupos de crianças de 3 a 6 anos. Foi incrível observar o sucesso que a cada semestre as crianças obtinham, com fichas individuais de acompanhamento elaboradas por eles. Inventavam brincadeiras como andar sobre fitas coloridas coladas ao solo, ou sobre bancos onde eram auxiliados a subir, caminhar e no final, saltar, reforçando a musculatura das pernas e o equilíbrio; jogos de bola, lenço atrás e tantas outras. Além disso, as mães passaram a ser incentivadas a levar seus filhos às praças em seus locais de moradia ou ao Parque do Ibirapuera, onde jogavam bola ou levavam seus filhos ao trepa-trepa, já que haviam presenciado como eles conseguiam escalar a escada vertical existente no Setor de Estimulação, além de outros obstáculos. Lembro-me que em certo ano, no Dia do Índio, os professores de Educação Física, Bruno e José realizaram uma atividade em sua sala com de mães e filhos sentados no chão. As crianças, com pequenos cocares nas cabeças, colaram tiras verdes nos rostos de suas mães e cantaram uma canção infantil sobre os índios. Anos depois tivemos a inserção de Terapeutas Ocupacionais na nossa equipe, em substituição às Pedagogas, em função da mudança da Coordenação do Setor. Tenho a ressaltas que todos os profissionais do Setor de Estimulação realizavam seus atendimentos específicos, sempre fazendo uso de brincadeiras e/ou brinquedos, o que facilitava a cooperação das crianças durante as atividades propostas. As mães ou cuidadoras permaneciam nas salas, aprendendo como podiam auxiliar no desenvolvimento de suas crianças nas atividades do dia-a-dia em casa, seja na hora do banho, das refeições ou em situações externas, junto a grupos de crianças da vizinhança ou familiares. Sempre tivemos em mente que pais/cuidadores e irmãos deveriam receber instrumentos e adquirir autoconfiança para que se sentissem seguros ao lidar com seus membros com síndrome de Down em toda e qualquer situação. Propiciando-lhes um ambiente mais equilibrado e confortável para toda a família, sempre visando a sua independência e emancipação. Quando assumi a Coordenação do Setor, convidei a equipe a elaborar um Guia de Orientação a Pais para distribuição àqueles que, por dificuldades de tempo ou de recursos, não conseguiam comparecer aos atendimentos presenciais.

  • Brincar em narrativas autobiográficas

    - Maria de Fátima Vasconcelos da Costa - Este trabalho de pesquisa pretendeu, a partir de narrativas autobiográficas de jovens em processo de formação para a docência, fazer um levantamento comparativo das condições em que se desenvolveram as práticas lúdicas de três gerações de brincantes: estudantes do curso de pedagogia da Universidade Federal do Ceará, seus pais e avós. A pesquisa assenta-se sobre duas ordens de inquietações: a interrogação acerca do papel das práticas lúdicas na constituição da infância e, por consequência, nas práticas educativas; e o papel do discurso auto biográfico na formação docente. As referências teóricas da socioantropologia do jogo; da sociologia da infância da abordagem historiográfica do brinquedo e da pesquisa autobiográfica, fazendo dialogar objeto e método, apontam para a indissociável relação entre pesquisa e formação. O procedimento metodológico prevê o resgate das experiências lúdicas do passado, por um a turma de alunos da disciplina de Práticas Lúdicas, Identidade Cultural e Educação da Criança, do curso de Pedagogia da UFC, através da elaboração escrita de narrativas autobiográficas sobre suas memórias de infância, de seus pais e de seus avós. Os resultados sinalizam para um intenso envolvimento dos sujeitos no processo de construção das narrativas que não apenas deu visibilidade à relatividade histórica das formas de brincar, mas também possibilitou uma reconfiguração do passado e m relação a si mesmo e, sobretudo, uma leitura objetiva dos vínculos sociais que o engendram, possibilitando um percurso formativo autorreferenciado. Das narrativas que dão conta do brincar nas diferentes gerações (a terceira, dos estudantes; a segunda, dos seus pais; e a primeira, dos seus avós), depreende-se que as permanências e as mudanças mais significativas nos modos de brincar são tributárias das condições de realização, no que se refere ao espaço físico e à natureza dos artefatos lúdicos utilizados, dos parceiros e da mediação tecnológica e midiática. No que se refere ao primeiro aspecto, é importante lembrar que a geração dos avós é oriunda da zona rural e viveu sua infância num momento histórico do nosso desenvolvimento em que a economia do campo jogava um papel importante. A maior parte dos sujeitos dessa geração afirma ter sido privada de brincar na infância, em particular os homens, que precocemente foram induzidos a trabalhar, à custa do que a geração seguinte pôde migrar para o meio urbano mais próximo ou para a capital do estado. Neste caso, podemos afirmar que houve uma mobilidade social intergeracional, mais marcante entre a primeira e segunda gerações. Alguns dos estudantes relataram serem os primeiros da família a cursar uma universidade. Na primeira geração, a dos avós, frequentemente o brincar aparece no discurso dos narradores como ausente (negado), devido a imposição do trabalho precoce, assim como os brinquedos. Cabe aqui fazer uma distinção concei tual, uma vez que brinquedo como objeto cultural refere-se aos artefatos lúdicos especialmente produzidos para as crianças. Sendo assim, na ausência de brinquedos, é possível funcionalizar objetos para fazê-los cumprir o papel de suporte de brincadeiras. No entanto, sendo a brincadeira um significado dado à conduta pelo brincante, figuram como brincadeiras atividades como tomar banho de rio, andar a cavalo, colher frutas, cuidar dos animais, ouvir estórias de trancoso, caçar passarinho, participar em folguedos populares etc. Em alguns casos, os artefatos lúdicos são produzidos pelas próprias crianças ou pelos pais, cuja presença nos espaços lúdicos lhes garante certa visibilidade em relação às atividades infantis. As narrativas abaixo são recorrentes na maioria dos memoriais: [...] Minha avó e minha mãe passaram a maior parte de suas infâncias em fazenda, com isso tiveram brinquedos fabricados por elas mesmos e brincavam com vizinhos e amigos. (estudante de Pedagogia – terceira geração). [...] À noite, as famílias ficavam nas calçadas de suas casas. E nós, crianças, brincávamos de cantiga de roda, passa anel, brincadeiras com bolas e etc... Depois de brincar, a mamãe me chamava para rezar o terço, em seguida iam dormir. (mãe – segunda geração) Os pais dos jovens estudantes, a segunda geração, já puderam brincar um pouco mais que a geração precedente. Também construíam seus próprios brinquedos e reconhecem nisso um valor adicional ao brincar. Os brinquedos, quando estão presentes, são predominantemente artesanais e de variedade limitada em relação à geração seguinte. A relação com esses objetos é fetichizada e marcada por fortes cargas afetivas. As brincadeiras são, sobretudo, coletivas. O lócus das suas brincadeiras é a rua ou os sítios, e em companhia de vizinhos e parentes (primos ou irmãos). Os adultos participam como parceiros, como provedores de suporte para as práticas lúdicas das crianças ou como facilitadores do contato com outras crianças. A escola não é lembrada como lugar de atividades lúdicas, e estas ocupam todo o tempo livre das crianças. Por outro lado, aparecem as delimitações de gênero e classe, mediando as interações dentro e fora do espaço lúdico. A minha mãe nasceu em Jaguaribe , e a infância dela foi muito agitada, porque ela pulava muro, andava de cavalo-de-pau, caçava ninho de capote ... A boneca que ela tinha era de sabugo de milho. Elas mesmo que fabricavam... Não podia brincar com meninos. (estudante de Pedagogia – terceira geração). Os jovens estudantes do curso de Pedagogia, a terce ira geração, apresentam um diferencial importante em relação às gerações anteriores. Além de conviverem no espaço urbano, de experimentarem as práticas lúdicas como parte do currículo pré-escolar, são testemunhas do surgimento da era midiática, dos programas televisivos infantis (programas de auditório para crianças,seriados, desenhos animados etc.). Nas suas memórias já aparecem restrições ao brincar no espaço público e férias no campo como momentos privilegiados de descontração e suspensão das restrições do ir e vir . Mesmo no ambiente doméstico, há controle do tempo e do espaço para as brincadeiras. Os brinquedos e os jogos industrializados estão muito presentes nas suas lembranças, alguns são subprodutos de consumo da cultura televisiva e, submetidos a estratégias de marketing (álbuns, filmes, programas etc.), tornaram-se objetos de desejo. A cultura lúdica é amplamente socializada tanto entre meninos quanto entre meninas. Comparativamente, podemos afirmar que essa geração faz a transição do brincar: do âmbito doméstico e de espaços públicos abertos para o âmbito escolar, das e dos play centers. Certamente o brincar sempre esteve presente na escola; no entanto, agora se trata da própria escola promovê-lo. Os adultos disciplinam o brincar, mas já não participam tanto como parceiros, sendo mais forte a preferência das crianças pelo grupo de pares. Das narrativas que dão conta do brincar nas diferentes gerações (a terceira, dos estudantes; a segunda, dos seus pais; e a primeira, dos seus avós), depreende-se que as permanências e as mudanças mais significativas nos modos de brincar são tributárias das condições de realização, no que se refere ao espaço físico e à natureza dos artefatos lúdicos utilizados, dos parceiros e da mediação tecnológica e midiática. Pretendia-se construir uma cartografia das práticas lúdicas que permitisse entrever as transformações sócio-históricas, tal como significadas por aqueles que as experienciaram, possibilitando, com isso, o engajamento dos sujeitos num trabalho de auto-formação (NÓVOA; FINGER, 1988) . Referências NÓVOA, A.; FINGER, M. O método(auto)biográfico e a formação . Lisboa: MS/DRTS/CFAP, 1988. 14 p. SALGADO, R.; SOUSA, S. J. As crianças na rede da cultura lúdica contemporânea. In:COSTA, M. F. V.; COLAÇO, V.; COSTA, N. B. (Org.) Modos de brincar, lembrar e dizer:discursividade e subjetivação. Fortaleza: Edições U FC, 2007. 18 p

  • LÚDICAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA

    - Jéssica da Silva Nunes de Macedo - Também percebemos que os momentos do brincar e das atividades lúdicas precisam ter um planejamento, deixando bem claro os objetivos que o professor quer alcançar junto à formação dos alunos para a direção da escola e até mesmo para os pais de alunos. Por fim, concluímos que o brincar e as atividades lúdicas na Educação Física escolar faz com que o aluno relaxe, se auto-conheça, interaja com os companheiros da escola, tenha momentos de descontração e que exerça uma cultura e atividade sadia em relação ao corpo (pelos movimentos) e ao lado emocional (pela diversão, descontração, relaxamento e interatividade com o próximo) e, com isso, as aulas curriculares dos alunos podem render mais, eles podem desenvolver a paciência e a concentração, podem aprender a ouvir e compreender a opinião alheia e a viver melhor no seu dia a dia e em sociedade com esses ensinamentos indiretos. Ou seja, o brincar e as atividades lúdicas pode se reverter em um grande aprendizado para a vida e para o desenvolvimento da formação geral do aluno. Tratando-se em uma parte mais pedagógica da Educação Física, a atividade lúdica e o brincar têm como objetivo a liberação do stress causado pelo convívio obrigatório dos alunos nas aulas normais e propondo assim, um convívio mais agradável e divertido com os colegas e com a escola. Em algumas aulas de educação física não é proposto esse momento do lazer e diversão, passando a ser muito séria e apenas como uma execução de exercícios físicos enfadonhos e chatos. A atividade lúdica e o brincar podem ser um fator importante na educação e formação de uma criança. A criança aprende valores e passa a entender de uma maneira melhor o que acontece na sua vida, sabendo expor suas idéias e compreendendo melhor o mundo. A atividade lúdica e o brincar nas aulas de educação física dentro da área escolar possui um papel muito importante na educação da criança, pois trabalha e contribui com a educação formal quando propõem o convívio obrigatório entre colegas de classes diferentes, faz descontrair dos desgastes do dia-a-dia escolar e muitas vezes, alivia na carência advinda da falta de convivência com os pais por longos períodos de tempo (caso da escola de período integral). (1) Assim, observamos que o intuito dessa prática (a atividade lúdica e o brincar nas aulas de Educação Física Infantil) são importantes para que os alunos tenham uma atividade lúdica e o brincar/diversão contínua, mas produtiva, fazendo assim, com que o tempo em que eles passam na escola sempre seja educativo, mas as vezes ocultos para os próprios alunos, ou seja, os alunos pensam que estão apenas brincando, mas estão também se educando, mas sem perceberem isto. Dentro de alguns conceitos sobre atividade lúdica e o brincar mencionam que a atividade lúdica e o brincar são o momento e a circunstância em que o indivíduo escolhe espontânea e deliberadamente, através do qual ele satisfaz (sacia) seus anseios voltados ao seu lazer. (2) Dessa forma, podemos observar a importância da atividade lúdica e do brincar e como elas podem ser inseridas nas aulas de Educação Física Infantil. (3) A atividade lúdica e o brincar possuem como objetivo, criar condições para o desenvolvimento integral das pessoas, fazendo que com as elas tenham uma participação individual e coletiva em ações que possam melhorar a sua vida, a preservação da natureza e a afirmação dos valores da humanidade. (4) Muitas vezes nas aulas de Educação Física o professor passa uma situação de competição ou uma simples brincadeira, mas muitos alunos não sabem perder e querer sempre ganhar, fazendo qualquer coisa para levar vantagem no mesmo. Isso pode implicar em uma situação onde o jogo tenha que acabar e com isso, ele se desmotiva pelo fato ocorrido e não quer mais participar. O uso do lúdico e do brincar nas aulas de Educação Física Infantil ao invés da pura e simples competição pode ser um avanço em nossa área. A atividade lúdica e o brincar são definidos como um divertimento, um prazer ou algo que recreia. A atividade lúdica e o brincar devem ainda proporcionar um bem estar ao indivíduo, satisfação e prazer. Atividade lúdica e o brincar significam satisfação e alegria naquilo que faz. Eles retratam atividades que são livres e espontâneas e nas quais o interesse se mantém por si só, sem nenhum tipo de coação interna ou externa de forma obrigatória. O principal mesmo é o prazer de brincar. (5) Com as situações sempre iguais dentro da escola e a rotina de aulas tradicionais (de cunho intelectual) os desgastes dos alunos acontecem muitas vezes. Isso pode ser considerado uma variável que se constrói a cada dia, um estresse indesejado ao aluno. Os pais também acabam sofrendo com isso. Muitos não podem dar a atenção que o seu filho preciso pela rotina que levam, podendo até substituir a atenção por brinquedos ou situações de divertimento, onde eles não estão presentes. A atenção aos filhos nessas condições é cada vez mais importante, pois os pais são os espelhos dos alunos e se isso falta a eles, os mesmos acabam se espelhando em quem mais passam o tempo com eles: os professores. (6) Portanto, devemos estar cada dia mais atento nesses alunos e entendê-los da melhor maneira possível, proporcionando cada vez mais situações de lazer, prazer, diversão e conforto, pois a escola nesse momento tem uma participação essencial na formação e construção desses alunos para a vida inteira. Qualquer deslize pode fazer a diferença para eles. Quando os alunos brincam nas aulas de Educação Física infantil imitando serem donas de casa ou fadas e coelhos estão usando o imaginário simbólico para resolver desafios e fazer atividades que um dia farão na vida adulta, o que é útil para o seu desenvolvimento. Como o tempo livre das crianças em suas rotinas diárias tem diminuído drasticamente na sociedade atual pela quantidade de atividades que os pais colocam para as crianças, como aulas de piano, inglês, esportes, a aula de educação Física na escola passa a ser uma boa alternativa para o brincar e as atividades lúdicas educativas. Existem vários benefícios do brincar e das atividades lúdicas para o desenvolvimento integral de uma criança. Um destes benefícios é a melhora no comportamento geral das crianças. Os alunos das aulas de Educação Física infantil que tem contato constante com o brincar e com as atividades lúdicas passam a se comportar de maneira mais adequada as aulas tradicionais (sala de aula com as disciplinas mais intelectuais). (7) Alguns estudos fizeram comparações entre as notas que os professores davam aos seus alunos por comportamento em sala de aula e concluíram os alunos que tinham tido aulas de Educação Física com métodos lúdicos ou recreios e horários de brincadeiras orientadas mais estendidos, tendo a possibilidade de brincar, se comportavam mais adequadamente em sala de aula, pois estavam mais calmas e concentradas. (8) O brincar e as atividades lúdicas também são capazes de ensinar as crianças a interagir com seu próximo com mais naturalidade e diminui a timidez. Ao brincar a criança aprende a conviver com os sentimentos e comportamentos alheios e, portanto, a criança aprende como é viver em sociedade. Nas brincadeiras as crianças convivem com diferentes emoções e posturas emocionais (alegria, ridos, tristezas, conflitos, ansiedade) e isso lhe dá bagagem para conviver com diferentes emoções e estados de espírito, o que acontecerá no cotidiano desta criança fora das brincadeiras (9). Desta forma, o brincar e as atividades lúdicas possibilitam ensinar os alunos a administrar suas emoções e isto é uma habilidade muito útil no cotidiano e servirá para toda a vida. Segundo a visão da psicologia, o ato de brincar e executar atividades lúdicas pode auxiliar a criança a viver situações da vida real sem haver muitas consequências. Neste contexto a criança enriqueceria suas experiências porque estaria vivendo papéis sociais, personalidades e convivendo com regras sociais como, por exemplo, brincando de caçador, brincando de ‘casinha’, encenando o papel de um médico ou atleta, etc. (10) O ato de brincar e realizar atividades lúdicas nas aulas de Educação Física não ativam só a imaginação, o comportamento social e os aspectos emocionais, mas também desenvolvem o acervo motor da criança. Ao pular amarelinha, realizar jogos com corrida, agachamentos, a criança se movimenta ativamente desenvolvendo sua agilidade, sua motricidade geral, sua coordenação motora geral e fina, seu equilíbrio, sua lateralidade.(11) Quando pensamos nas atividades lúdicas e no brincar, logo vem a ideia de diversão, lazer e brincadeira. Mas o simples fato de passar a brincadeira aos alunos implica pensar nos benefícios proporcionados a eles nas aulas. A atividade lúdica e o brincar não possuem apenas o sentido de divertir, ou até mesmo fazer com que o tempo na escola passe mais rápido, e sim, fazer com que os alunos possam aprender e entender o porquê da atividade, com isso, a atividade lúdica e o brincar se torna papel importante e fundamental no desenvolvimento motor, sócio-afetivo, cognitivo e moral. A atividade lúdica e o brincar suprem as necessidades dos alunos e deve se integrar com as demais atividades que o professor passa e desenvolve com eles no período da aula. O lazer nas aulas de Educação Física vem com o intuito de agregar valores e responsabilidades dentro da aula, sem que eles tenham que fazer as atividades pensando nas responsabilidades, e sim, que a responsabilidade saia naturalmente, com uma ação involuntária, onde não tenha que pensar muito para resolver algo. (12) Se a Educação Física escolar Infantil entra com um papel tão importante no desenvolvimento geral dos alunos, a atividade lúdica e o brincar na Educação Física Infantil também pode garantir muitos benefícios para quem a pratica. Um simples jogo de cooperação pode ser uma grande arma para que o desenvolvimento possa acontecer. Se o aluno já entende que ele precisa do outro para chegar a um objetivo final, ele pode sim ter entendido que a cooperação, independente de outras coisas ou necessidades, é de extrema importância. Alcançando o objetivo de forma lúdica e prazerosa. Entender que cooperar/ajudar é importante, é fundamental (13). A atividade lúdica e o brincar contribui para o bem-estar dos alunos, estimula a criatividade, contribui para o desenvolvimento das potencialidades, facilita as relações interpessoais, melhora na comunicação e expressão, aumento das percepções (auditiva, falada, atenção e visual). (14) Alguns dos benefícios alcançados com a atividade lúdica e o brincar podem ter influência na vida inteira do aluno: aprender a cooperar, dividir, emprestar, entender, escutar. Tudo isso se relaciona com as nossas vidas e expõe ao aluno uma vivência bastante parecida com que passou, ou vem passando. Acrescentando também que o aprender brincando também leva uma vantagem com relação ao ensino-aprendizagem, pois o brincar, o lúdico tem papel fundamental para a aprendizagem. (15) Pensando em um desenvolvimento motor, a atividade lúdica e o brincar também contribuem para uma melhoria do condicionamento físico, aumento da flexibilidade, aumento da coordenação motora fina e global e maturidade óssea. Quando podemos ter tudo isso nas aulas na Educação Física infantil, a atividade lúdica e o brincar vem com um meio de acesso a outras coisas. Podendo até resolver problemas que vem acontecendo, e os alunos não têm liberdade de conversar. O fato de poderem expor suas idéias e serem escutados, e eleva a auto-estima, cria um grau de confiança professor/alunos e faz com que o aluno se sinta importante e valorizado. Quando criamos esse vínculo emocional com os alunos, eles conseguem ver os profissionais da educação com ‘além de professores’, mas como grandes amigos, onde eles podem expor algum problema, alguma angústia que estão passando, ou seja, observamos aqui que ter a atividade lúdica e o brincar na Educação Física infantil nas escolas como atividade complementar à grade obrigatória escolar é pensar no desenvolvimento geral e adicional dos alunos e dos próprios educandos valorizarem a escola para além dos aspectos do desenvolvimento intelectual que ela traz consigo. (16) Quando o professor possui clara noção do seu papel político como formador de cidadãos, ele entende as necessidades de cada um. Sabendo que cada um aprende de uma maneira, de um jeito. Se tivermos uma sala com 25 alunos, teremos 25 tipos de aprendizagem. Cada uma aprendendo de sua forma e respeitando seus limites, e cabe ao professor, entender e explicar de forma clara e objetiva, mesmo sabendo das dificuldades que cada um tem. (17) Aprender brincando, é mais eficiente, do que aprender sentado, os alunos se integram mais e aprendem mais rápido. Aprender brincando é a melhor maneira que os alunos aprendem. Com isso, o desenvolvimento é maior e constante (18).A atividade lúdica e o brincar extra-curricular também pode trazer ao alunos uma gama de benefícios motores que serão utilizados e aproveitados durante toda a vida adulta do alunos. Os movimentos do corpo junto com a alegria que ocorrem na aula de atividade lúdica e o brincar podem trazer efeitos estimulantes sobre o sistema nervoso do aluno e, sendo este o sistema que controla toda a atividade química que se processa no íntimo dos tecidos, inclusive os músculos.(19) Assim, nas diferentes atividades de atividade lúdica e o brincar que a criança faz ela recebe estímulos corporais que promove o crescimento muscular, a agilidade, a a flexibilidade, a lateralidade, a coordenação motora, ou seja, podemos perceber que a atividade lúdica e o brincar extra-curricular apresenta benefícios aos alunos tanto no aspecto emocional e intelectual,como no aspecto motor. O brincar pode ser considerado, quando bem planejado e orientado por um profissional de Educação Físico ou um profissional da atividade lúdica e o brincar, como uma forma de educação integral, ou seja, uma coisa bastante séria em relação ao aspecto educacional geral dos alunos. Conclusão Concluímos neste estudo que a atividade lúdica e o brincar na Educação Física infantil entra com um papel extremamente importante na vida dos alunos por ser um momento de integração, lazer, divertimento, alegria, autoconhecimento, aliviando o estresse acumulado durante todo o período de permanência dentro da escola. Exercendo uma cultura e atividade sadia em relação ao corpo (pelos movimentos) o que vai possibilitar o desenvolvimento motor, sócio-afetivo e cognitivo do aluno buscando reverter em um grande aprendizado para a vida e para o desenvolvimento da formação geral do aluno. Percebe-se que as aulas de atividade lúdica e o brincar extracurricular precisam ter um planejamento, deixando bem claro os objetivos que o professor quer alcançar junto a formação dos alunos para a direção da escola e até mesmo para os pais de alunos. Referências Bibliográficas 1. MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Humanização. 7 ed. Campinhas: Papirus, 2003. 2. CAVALLARI, Ricardo V. & ZACHARIAS, Vany. Trabalhando com Atividade lúdica e o brincar. São Paulo: Ícone, 2008. 3. BETRAME, Dalva Marim. Dos fins da Educação Física Escolar. Trabalho de Excerto da tese de Doutorado para Pontifícia Universidade Católica, São Paulo. 2008. 4. SILVA, Pedro Antonio da. 3000 exercícios e jogos para Educação Física Escolar. 3 ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2007. 5. MACHADO, Marina Marcondes. A Poética do Brincar. São Paulo: Loyola, 2008. 6. SILVA, Pedro Antonio da. 3000 exercícios e jogos para Educação Física Escolar. 3 ed. Rio de Janeiro: Sprint, 2007. 7. GOUVEA, Ruth. Atividade lúdica e o brincar – Escola e Vida. 3 ed. Rio de Janeiro: Agir, 2007. 8. MARIOTTI, Fabian. A Atividade lúdica e o brincar, o jogo e os jogos. 2 ed. Rio de Janeiro: Shape, 2004. 9. CARVALHO, A., Salles, F., Guimarães, M. & Debortoli, J.A. (2005). Brincares. Belo Horizonte: UFMG. 10. MARCELLINO, Nelson Carvalho. Lazer e Humanização. 7 ed. Campinhas: Papirus, 2003.

  • Razões para brincar

    - Márcia de Oliveira Gomes Gil* - Feche os olhos por um momento e imagine que você está cercado de crianças. Pode ser uma festa, um encontro, um parque ou até mesmo uma reunião familiar. O que você ouve? O que você vê? Possivelmente suas respostas incluem sons e ações que remetem a brincadeiras e situações lúdicas. A relação que fazemos entre as crianças e a brincadeira é direta, fruto das nossas experiências enquanto crianças e das experiências que temos com outras.Mas será que as crianças de hoje brincam da mesma forma que nós brincamos? Será que têm o mesmo tempo que tínhamos para brincar? *Psicóloga, Mestre e Doutora em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Pesquisadora de políticas públicas educacionais para a primeira infância. Coordenadora da Pós-Graduação em Docência na Educação Infantil da Universidade Castelo Branco. Membro do Comitê de Saúde Escolar da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro A brincadeira acompanha as modificações históricas e sociais, sofrendo alterações na forma e no conteúdo daquilo que é brincado, assim como no tempo que é reservado para que essas brincadeiras aconteçam. Este é o tema central dessa discussão que aqui se inicia. Há muitos anos existe o reconhecimento por parte de filósofos, psicólogos, sociólogos e educadores de que as brincadeiras são importantes para a formação e constituição psicológica do ser humano. A Psicologia, ciência pioneira no estudo da infância, estruturou, ao longo dos tempos, conhecimentos relacionados com diversas facetas do desenvolvimento infantil, particularmente as relativas ao brincar. Mesmo considerando as diferenças epistemológicas entre os vários pesquisadores que investigaram esse tema no campo psicológico, a maioria chegou a conclusões positivas sobre o valor da dimensão simbólica e lúdica das brincadeiras e elementos fundamentais para a socialização, aprendizagem e desenvolvimento do ser humano. Por isso, as funções do brincar devem ser valorizadas em todos os níveis da vida. Podemos elencar alguns benefícios da brincadeira na visão de alguns dos principais teóricos do desenvolvimento humano. Para Jean Piaget (1) brincar é desenvolvimento e aprendizagem. É a partir da ação que a criança desenvolve sobre o meio físico e social, e que se constroem as estruturas de pensamento. Assim sendo, diante de um conflito ou uma novidade, ela busca novas estratégias para compreender os problemas que surgem, reorganizando, do mesmo modo, suas estruturas de pensamento e possibilitando outras mais complexas. A brincadeira evolui numa tendência que segue o trajeto dos jogos de exercício (construções), jogos simbólicos (faz de conta, desenhos, imitações etc.) e jogos com regras explícitas (por exemplo, amarelinha, bola de gude, xadrez etc.). A criança, ao brincar, procurando representar a realidade em que vive, depara-se com situações problemáticas que tenta resolver. Para Vygotsky (2) o brincar atende às necessidades da criança. Na brincadeira a criança sempre age como se ela fosse maior do que é na realidade, aproximando-se, assim, de seu potencial. Vygotsky enfatiza que, ao brincar, a criança entra em contato com regras - tanto aquelas que repete do mundo adulto como as que constrói para dar sentido à brincadeira. Dessa forma, nas interações sociais dos momentos de brincadeira há diferentes possibilidades de desenvolvimento. Para teóricos da Psicanálise, como Melaine Klein(3) as representações simbólicas possibilitam elaborações afetivas. A simbolização autoriza à criança transferir não apenas interesses mas também fantasias, ansiedades e culpa a outros objetos, além de pessoas. Essa projeção da atividade psíquica na brincadeira permitiria a qualquer adulto ter acesso a esse mundo interior das crianças. Nessa perspectiva, a criança, ao brincar, estará representando e reelaborando seus medos, suas angústias, suas ansiedades e seus desejos. Embora o preenchimento das necessidades, estudado por Vygotsky(2) a ideia de elaboração afetiva, destacada por Melanie Klein(3 e os princípios interativos, descritos por Piaget,1 sejam necessários e fundamentais para se compreender o brincar, eles são insuficientes. É preciso também considerar elementos próprios do campo sociocultural.4 O brincar gira em torno da cultura lúdica, que é, antes de tudo, um conjunto de procedimentos que tornam a brincadeira possível, com a incorporação de aspectos da cultura em que a criança vive. A criança, o adolescente ou o adulto, ao representar uma situação, necessariamente o faz(em) partindo das relações sentidas ou vivenciadas no ambiente e na cultura. O brincar de uma criança no Brasil é, portanto, diferente do brincar de uma criança em qualquer outro país, o que nos permite entender que há raízes sociais e culturais nas diferentes formas do brincar. Dessa forma, assimilam nas construções simbólicas as regras e os papéis sociais com os quais convivem. As crianças, ao representar, conhecem e incorporam a realidade. Com a interiorização das regras e dos papéis sociais, a criança constr&o acut e;i formas imaginárias, apoiando suas próprias criações em esquemas que são os mesmos encontrados em sua trajetória cultural e de relações com objetos e pessoas. Assim, inclui-se na cultura. Logo, podemos afirmar que os jogos e as brincadeiras preparam para a convivência social e democrática. Os valores próprios da convivência, do respeito e da solidariedade se consolidam a partir das vivências dos jogos e de suas regras. As funções do brincar descritas anteriormente justificam sua inserção, ressignificação e valorização. Fazê-lo no contexto cotidiano - sem dúvida - é uma tarefa árdua e criativa, outorgada a pais e educadores, que infelizmente vem, no entanto, adquirindo um status de atividade menos importante. O brincar ou a brincadeira é a atividade principal da criança. Uma ação livre, iniciada e conduzida por ela. Um exercício de autonomia, no qual a criança pode tomar decisões, expressar sentimentos, lidar com valores, conhecer a si mesma, aos outros e ao mundo em que vive. Brincar permite a representação e repetição de ações, a ampliação da atividade criadora, o compartilhamento de aprendizagens, a afirmação e exploração da identidade da criança, a representação e recriação do mundo à sua volta. Dessa forma, o indivíduo vai se apropriando de novas culturas, na medida em que a ele são apresentados novos repertórios e possibilidades. Brincar é compartilhar, é socializar e interagir. É assim que as crianças vão conhecendo o mundo e recriando situações. Assim elas se desenvolvem. Queremos crianças criativas, participativas, curiosas, investigativas e críticas? Se a resposta a esta pergunta for sim, pense seriamente em oportunizar tempos e espaços para brincar. Brincar remete a brinquedos. E muitos pensam que a falta desses materiais estruturados e elaborados com essa intenção pode trazer dificuldades para a brincadeira. Na verdade não é assim. Considere que caixas de papelão, panelas, papéis, tintas, roupas e outros apetrechos, não necessariamente vistos como brinquedos, são excelentes materiais para o exercício da criatividade e inventividade infantil. Mas o desafio da brincadeira não para por aí. O mundo da pressa e do pronto confere às brincadeiras um desvalor, presente em expressões como "hora de fazer nada" ou "hora de descarregar as energias", reservada apenas para algum pequeno momento da rotina das crianças. Essa visão é encontrada em escolas em espaços familiares. Na escola, tais posturas, antes mais presentes na educação de crianças a partir de 7 anos, pode ser já verificada nas instituições voltadas para as crianças menores, com a valorização e exigência de tarefas cada vez mais burocráticas.5 Com a crescente pressão social e política para que a alfabetização se concretize cada vez mais cedo, mesmo instituições e professores que trabalham com crianças de 0 a 5 anos vêm sentindo reflexos que trazem consequências na valorização dada ao brincar, refletidas na prática pedagógica cotidiana. Nas famílias, as interações e as brincadeiras vêm sendo substituídas por inúmeras atividades, como aulas e esportes, destinando o pouco tempo livre das crianças à utilização de equipamentos eletrônicos, vídeos e TV. Para além do prejuízo das relações, considere que o excesso de atividades direcionadas prejudica o desenvolvimento da autonomia. É necessário repensar tais práticas e orientar as famílias a permitir e incentivar as brincadeiras infantis, especialmente aquelas nas quais há a participação de outras crianças e/ou adultos. Brincar é terapêutico para todos que brincam - sejam crianças ou adultos. Há muitas razões para brincar. Negar o universo simbólico, lúdico, é negar o direito ao pleno desenvolvimento humano e à sua inserção cultural. Brincar é coisa muito séria! E, nos dias atuais, uma ousadia. É preciso ousar. É preciso brincar. REFERÊNCIAS 1 Piaget LE. A formação do símbolo na criança. Trad.: A. Cabral e C. M. Oiticica. Rio de Janeiro: Zahar; 1971. 2 Vygotsky LS. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Coleção Psicologia e Pedagogia. Nova Série. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes; 1989. 3 Klein M. The writings of Melanie Klein: love, guilt and reparation and other works 1921-1945. v. 1. New York: The Free Press; 1975. 4 Brougère G. Brinquedo e cultura. Coleção Questões da Nossa Época, v. 43, 3. ed. São Paulo: Cortez; 2000. 5 Gil MOG, Pimentel AP. O brincar na infância: velhas questões e novos desafios. IV Colóquio Internacional Educação, Cidadania e Exclusão, 2015.

  • Cada lugar um tipo de brincadeira

    - Caroline Fukumoto - Não consigo lembrar as brincadeiras da minha infância antes dos seis anos. Acho que eu devo ter brincado, mas não me lembro com clareza. Lembro-me de algumas cenas isoladas, e através de histórias contadas pelos meus pais é possível ter algumas pistas e também de algumas poucas fotografias de aniversários dá para ter ideia de alguns brinquedos que ganhei de pequena. O meu pai me disse que eu adorava mexer nos discos dele, eu esperava todos saírem da sala, para puxar pela ponta da capa, e deste modo fazer com que o disco caísse no chão, e depois disso eu gostava de ficar dançando sobre o disco. Ah que alegria ele deveria sentir quando eu brincava com os discos dele...rsrs A minha mãe disse que eu gostava de brincar de boneca, eu vi em algumas fotos que ganhei algumas bonecas durante a infância (Mônica, Barbie, Bebezinho). Hoje em dia penso que eu gostava de brincar de boneca porque era a opção para uma criança se divertir sozinha. Esqueci-me de comentar que eu era filha única, e meus pais diziam que eu era uma criança doente, vivia com problema de bronquite, e não me lembro de ter vizinhos, e meus pais ficavam fora de casa durante o dia. Uma fase marcante da minha infância foi quando me mudei para Pirituba, um bairro de São Paulo com nome de interior, mas que estava na capital. Nesta rua que eu me mudei tinham muitas crianças! Que alegria! Finalmente me lembro de ter brincado muito na rua, com vários vizinhos, brincado na escola, na igreja! Brincar na rua era maravilhoso! Quando minha mãe me dava bronca por algo de errado que eu fazia, ela dizia que se eu não cooperasse não iria sair na rua. Pronto! Eu ficava de boa na hora! Nessa época acho que estudava de manhã, almoçava, fazia lição, e depois RUA! As brincadeiras eram variadas! Lembro-me de brincar de pega-pega, esconde-esconde, pular muro dos vizinhos, subir em árvores, carrinho de rolemã, skate, cinco pedrinhas, bobinho, vôlei, futebol etc. Talvez na escola as brincadeiras fossem diferentes das brincadeiras de rua. Lembro-me de queimada, de corre-cotia, elástico, brincadeiras de mão (fui a clips saber o que era clips, por exemplo), vôlei, futebol, basquete. Lembro-me de brincar de passa anel, pular corda, elástico, ping-pong, stop, detetive na igreja. É interessante pensar que em cada espaço eu tinha acesso a brincadeiras diferentes, como o contato com diferentes crianças proporciona vivências diferentes e uma experiência mais rica. Lembro que aos nove anos ganhei uma casa da Barbie, mas acho que não curtia muito, brincava um pouquinho, lembro que adorava colocar roupas diferentes na boneca. Acho que naquele tempo Barbie já deveria ser um brinquedo caro, mas sem dúvida agora é muito mais! Eu queria era brincar na RUA com outras crianças! Também gostava de figurinhas e artigos de papelaria. Lembro-me de ter economizado o dinheiro do lanche para comprar um estojo de canetas coloridas com cheirinho, e eu gostava tanto delas, mas não as usava, gostava de saber que as tinha- que bobeira! Quando resolvi usá-las, elas já tinham secado. Depois disso, só usei caneta azul, no máximo as cores daquela caneca bic quatro cores. Lembro também de dois momentos especiais da minha infância envolvendo brincadeiras e as minhas avós. Lembro que a minha vó Maria levava minhas primas e eu para escorregar com papelão num barranco em algum lugar do Bairro da Freguesia, e recordo-me dela nos levando para brincar no Parque da Água Branca. Também me lembro de um natal quando eu deveria ter sete ou oito anos quando ganhei uma bicicleta rosa com rodinhas da minha vó Lourdes. Tenho paixão por parques e bicicletas! Recordo-me da construção de um parque no bairro de Pirituba na época em que eu era criança. Naquele espaço eu brincava de balança, gangorra, gira-gira, amarelinha etc. Mas, acho que o melhor brinquedo era a balança! Que saudade da balança! Fiquei muitos anos sem brincar na balança, fiz isso recentemente num aniversário de criança agora em Novembro deste ano. Lembrei que além de parques locais, também gostava das excursões para o Playcenter. Eu gostava muito do evolution, splash, polvo, montanha russa e de outros que não me recordo o nome. Além disso, numa determinada época ocorria a Noite do Terror, eu sinceramente nunca gostei do terror, mas adorava a ideia de brincar no parque no horário estendido. Na fase da adolescência as minhas brincadeiras eram mais voltadas para o esporte. Eu adorava jogar vôlei, futebol e andar de bicicleta. Cheguei a fazer treinamento, mas tive que deixar porque precisava fazer curso técnico. O que eu mais gostava de fazer no curso técnico era jogar vôlei nas aulas vagas. Chegamos a organizar campeonato de dupla e equipe entre todas as turmas. Com a agenda cheia durante a semana, aos finais de semana eu aproveitava para jogar vôlei com a turma que aparecia no Parque, e também andava de bicicleta. Na época do vestibular eu já não tinha muito tempo para brincar ou me divertir. Eu trabalhava durante o dia, e fazia cursinho à noite. Após alguns anos consegui passar na faculdade, e com os novos desafios não sobrava tempo para brincadeira. Acho que o tempo para brincadeira aparecia no carnaval. Gincanas nos acampamentos da igreja! O acampamento era um momento de comunhão com Deus e momento de brincar! Vôlei! Futebol! Guerrinha de bexigas! Piscina! Tobo água! Fazer pirâmides na piscina! Saltos na piscina! Competição de velocidade em algum estilo! Equipe! Grito de guerra! Noite com traje especial! Lembro-me de ter participado alguns anos da equipe que elaborava as brincadeiras/ jogos e gincanas nos retiros. Teve um acampamento que conseguimos montar um circuito de desafios, com brincadeiras fáceis e difíceis, fizemos até premiação dos vencedores (até terceiro lugar). Voltando para a época da faculdade, nunca discutimos como dar aula de língua para crianças na graduação- que absurdo! Acho que o único jogo que fizemos na aula de prática de ensino de italiano foi um jogo de bingo. Também lembro que de ter aprendido uma brincadeira cantada com o nome de “ci vuole un fiore”, que lembra a ideia acumulativa presente na música “a velha a fiar”. Após o término da faculdade, dei um tempo de descanso para ver se fazia mestrado, e comecei a estudar música formalmente, e em seguida começaram os preparativos do meu casamento, e novamente não tive mais tempo de me divertir brincando. Depois de um tempinho, resolvi fazer outra graduação. As brincadeiras surgiram numa disciplina de prática de ensino de música para criança. Descobri que existia uma categoria de brincadeira chamada de brincadeiras musicais. Comecei a pesquisar e aprender e relembrar músicas da minha infância. Já estava me esquecendo de contar que nasceu uma linda menina na família, minha sobrinha Sofia. E com ela a família toda voltou a brincar. Eu comecei a prestar atenção nas brincadeiras que ela mais gostava, e nas brincadeiras que ela criava, até brinquei com um jogo que ela criou em um dos museus. Depois de alguns anos nasceu outra criança linda, desta vez menino, meu sobrinho Ian. E com ele a família continua a brincar. Antes dos sobrinhos nascerem, pensando bem, é possível lembrar-me de momentos de brincadeira nas festas de família. Os meus cunhados têm uma coleção de jogos de tabuleiro e alguns outros jogos diversos de quando eles eram crianças. Exemplos de jogo em família: Dixit, Quartz, Resistencia, Jenga, Pega varetas etc. Brincadeiras mencionadas durante a narrativa: brincadeira com discos do meu pai boneca brincadeiras de rua pega-pega, esconde-esconde, pular muro dos vizinhos, subir em árvores, carrinho de rolemã, skate, cinco pedrinhas, bobinho, vôlei, futebol etc brincadeiras da escola queimada, corre cotia, elástico, brincadeiras de mão, vôlei, futebol, basquete etc brincadeiras da igreja passa anel, telefone sem fio, pular corda, pingpong,stop, detetive figurinhas (trocar e bater) escorregar com papelão num barranco bike com rodinhas parques esportes (vôlei, futebol e bike) gincanas nos acampamentos da igreja brincadeiras diversas: fazer pirâmides, saltos, competição de velocidade, guerrinha de bexigas etc. bingo brincadeira cantada italiana “ci vuole um fiore” jogo da Sofia jogos de tabuleiro (dixit, quartz, resistência etc) jogos diversos ( jenga, pega varetas etc) Para conhecer: https://www.youtube.com/watch?v=mrd7CxDxyEE https://www.youtube.com/watch?v=DyEq-BL32tY https://www.youtube.com/watch?v=DyEq-BL32tY

  • A força do brincar

    - Nádia Lima - Quero contextualizar as vivências para agregar significado aos feitos: "Não existem pessoas a frente de seu tempo" March Bloch . Somos resultado daquilo que experimentamos, que presenciamos e ao mesmo tempo somos influentes no espaço e no tempo em que vivemos, é desse modo que enxergo o brincar. Ao mesmo tempo em que se apresenta como um produto do seu tempo carregado de significados culturais, sociais, políticos e também econômicos, as brincadeiras se transformam carregando em si um pouco da individualidade de cada pessoa ou grupo que as propõe, repleta de identidade e representatividade. Sou produto do tempo em que vivo. Nasci em 1993, São Paulo em uma comunidade periférica da zona norte da capital. Meus pais nordestinos, arrastados pela esperança e pelo sonho de uma vida melhor na cidade das oportunidades. Batalhadores, guerreiros e sobreviventes só por estarem vivos em um contexto de sofrimento e miséria, mas ao mesmo tempo de muita força e fé. Alguns jogos carregam manuais sobre como devem ser jogados, mas a vida não e sei que meus pais fizeram o que podiam ter feito. Meu pai sempre foi muito trabalhador, me ensinou muito sobre ser honesto e ter força de vontade para enfrentar a vida, mas fez muita falta em minha infância. Já minha mãe foi o maior exemplo de pessoa que eu poderia ter, por tudo que já enfrentou e por todas batalhas que já venceu, foi mãe e pai ao mesmo tempo. Os dois juntos tiveram três filhos, eu componho parte desse trio, entretanto meu pai teve mais uma filha com outra pessoa e, antes de conhecer meu pai, minha mãe já tinha três filhos que foram criados pela minha avó. Meu pai teve seis irmãos e minha mãe sete, que conseguiram sobreviver. E neste contexto eu cresci. Muito envolvida com a família materna, porém com grande influencia da família paterna que desde cedo decidiam o que devia seguir na vida religiosa, quase todos são testemunha de Jeová. A família materna dizia que eu devia seguir a igreja católica. Todos decidiam o que eu tinha que fazer ou para onde deveria ir, até hoje tenho dificuldades em tomar minhas próprias decisões sobre coisas simples da vida. As coisas nunca foram fáceis, mas tive uma infância feliz e uma família beeeeeeeeeem grande, muitos primos para brincar. Lembro-me de dois contextos em que a brincadeira esteve muito presente: com meus irmãos e na escola. O primeiro contexto era divertido e os dois são incríveis, apesar de todos os pesares, fomos crianças bem próximas e isso criou um vínculo muito forte em nós, sempre brincávamos das mesmas coisas e percebo que tive bastante influencia na vida dos dois. Ao mesmo tempo a diferencia de gênero implicava nosso brincar quanto às definições sociais do que é ser mulher ou do que é ser homem. Aquela velha história entre brinquedos de meninas e brinquedos de meninos, enquanto eu queria um Power Ranger meu irmão queria uma boneca. A grande sacada em tudo isso foi a de que podíamos trocar quando quiséssemos e se tornou um segredo nosso! O local que mais me sentia livre era na escola. Eu realmente gostei muito da experiência escolar, amava todas as professoras, todas as atividades, todas as propostas e principalmente a sexta feira do brinquedo e as tardes no parque. Não me lembro de me opor a nenhuma brincadeira, eu realmente ficava muito brava quando minha mãe não me levava à escola, eu que dava as broncas nela quando isso acontecia, é até engraçado isso! Amava as brincadeiras de roda, corre cotia, ciranda-cirandinha, passa anel, sempre gostei de pega-pega, pic-esconde e eu realmente era muito boa nisso e foram fundamentais para que me envolvesse com esporte durante a adolescência. Lembro-me de brincadeiras em que eu poderia experimentar a vida e talvez até encarar meus medos, adorava ser a professora! As pessoas estavam sempre escolhendo as coisas por mim sobre como devia brincar, como devia agir, como devia ser ou o que devia fazer. Dificilmente me posicionava, cresci com medo de enfrentar os desafios, me posicionar, não tinha peito para dizer o que queria ou não queria em uma brincadeira, sempre deixei que as pessoas escolhessem por mim. Talvez faltassem mais brincadeiras desafiadoras em minha vida, em que precisasse decidir e arcar com as consequências de minhas escolhas. Em uma brincadeira na escola, em que desta vez o personagem interpretado era uma médica que apenas queria diagnosticar seu paciente, foi interpretado erroneamente por um adulto que me acusou, de uma maneira agressiva e autoritária, por ser lésbica. Eu tinha 4 anos, eu não sabia o que era ser lésbica. Hoje sei que... o maior problema das crianças, são os adultos. A sociedade patriarcal exige mais das mulheres, isso não é nenhuma novidade e sendo de uma classe social baixa, exigiu mais um pouco. Reconheço meus privilégios, sei que se fosse uma mulher negra teria sido mais difícil, se fosse uma pessoa com deficiência teria sido mais complicado, e assim por diante. Coisas que no brincar livre quase não existem, ou se existem podem ser enfrentadas e superadas. Fui crescendo a responsabilidade foi chegando e as exigências aumentando, agora eu tinha que ajudar a minha mãe a cuidar da casa e dos meus irmãos. Por sorte herdei essa garra e força do povo nordestino e não deixei de fazer aquilo que amava: ir para escola. Meus irmãos já não tiveram tanta sorte, meus pais sempre achavam mais importante trabalhar e ter o que comer do que estudar. Talvez se na escola pudesse ter brincado mais, teria sido ainda mais libertador, mesmo assim, agradeço hoje por toda oportunidade que me foi dada, por toda chance que eu tive de seguir em frente. Parei de brincar... ou talvez não. Hoje, enquanto "Agente do brincar", percebo que o brincar está nas coisas mais simples, nos momentos mais inesperados e mais inoportunos. Mesmo quando não “parece uma brincadeira” você está brincando. Tudo isso porque o brincar está em nós. Quando estamos em grupo ou quando estamos sozinhos, quando tudo facilita ou quando tudo dificulta. Vejo o brincar como uma ferramenta de enfrentamento, de desafios, de encontros, de escolhas, de posicionamentos, de identidade, de memória, de acolhimento e de cura, mas também pode ser uma ferramenta de exclusão e de violência. O segredo está, assim como em toda ferramenta, no uso que você dá a ela. Ser um agente do brincar é uma tremenda responsabilidade e para ser um bom agente imagino que é necessário muito respeito, empatia, sensibilidade, estudo, competência, dedicação e força de vontade. É necessário força para enfrentar as próprias correntes que aprisionam e impedem de brincar livremente. Ser um agente do brincar é mais do que ter habilidade e competência para criar oportunidades onde as pessoas possam brincar livremente, é preciso se (des)construir diariamente, é necessário enfrentar e transformar todos os dias a forma como vê o mundo e as pessoas, é fundamental aceitar abertamente quando não está no caminho correto. E o mais importante... para ser um agente do brincar é preciso... simplesmente brincar. Penso que para ser um agente do brincar você precisa, antes de tudo, brincar!

  • Brincar livre X Animação sociocultural: conceituar para melhor atuar

    - Julio Cesar Furtado[1] - A escolha do tema para reflexão partiu da aula do professor Frederico, de Portugal, ao referir o brincar como uma atividade eminentemente livre, autônoma. A partir daí indaguei-o sobre as oficinas, as atividades que adultos (pais, professores, agentes do brincar, recreadores, etc.) apresentam às crianças como forma de aprendizagem pelo brincar, como por exemplo, uma oficina de Mancala, de confecção da boneca Abayomi ou de peteca. Ele respondeu que essas propostas se encaixavam dentro do conceito de Animação Sociocultural, não do brincar propriamente dito, que é uma atividade onde a criança é protagonista das suas ações, das suas escolhas sobre o que fazer, como, com que materiais e lugar. A partir dessas questões propus-me refletir um pouco mais, à luz da teoria, sobre tais conceitos, como se intercruzam para uma ação como Agente do Brincar mais contextualizada e focada em objetivos coerentes com a literatura técnica. [1]Professor de Arte da Rede Municipal de Ensino na cidade de São Paulo. Brincante e ator. Pós-graduado em Lazer e Animação Sociocultural, Psicopedagogia Clínica e Institucional e em Educação Especial nas áreas da Deficiência Auditiva, Intelectual e Múltipla. E-mail: jc4.cont@gmail.com Desenvolvimento Segundo Coresma (2017), o ser humano nasce e cresce com a necessidade de brincar, sendo uma das atividades mais importantes na vida do indivíduo. Por meio das brincadeiras, sabe-se que a criança trabalha as suas potencialidades, limitações, habilidades sociais, afetivas, cognitivas e físicas. Logo, o brincar, continua o autor, é uma necessidade que toda criança tem. É, também, uma atividade que faz parte do seu cotidiano, é comunicação e expressão, associando o pensamento e a ação; um ato instintivo voluntário; uma atividade exploratória, que auxilia as crianças no seu desenvolvimento físico, mental, emocional e social; um meio de aprender a viver, e não um mero passatempo. Durante as brincadeiras, a criança desenvolve o exercício da fantasia e da imaginação, adquirindo, assim, experiências que irão contribuir para a vida adulta, experimentando inúmeras sensações que poderão ser usadas na vida cotidiana. Ao brincar, a criança pensa, reflete e organiza-se internamente para aprender aquilo que ela quer, precisa, necessita. Está no seu momento de aprender; isso pode não ter a ver com o que a família, o professor ou o fabricante de brinquedos propõem que ela aprenda. Amadurecem também algumas capacidades de socialização, por meio da interação e utilização e experimentação de regras e papéis sociais. A diferenciação de papéis se faz presente, sobretudo no faz-de-conta, quando as crianças brincam como se fossem o pai, a mãe, o filhinho, o médico, o paciente, heróis e vilões, etc., imitando e recriando personagens observados ou imaginados nas suas vivências. A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais para que a criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre o eu e sobre o outro. (PORTAL EDUCAÇÃO, 2019). No faz-de-conta, as crianças aprendem a agir em função da imagem de uma pessoa, de uma personagem, de um objeto e de situações que não estão imediatamente presentes e perceptíveis para elas no momento e que evocam emoções, sentimentos e significados vivenciados em outras circunstâncias. Brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também de transformá-la. Os heróis, por exemplo, lutam contra seus inimigos, mas também podem ter filhos, cozinhar e ir ao circo (Id. Ibid.). Ao brincar de faz-de-conta, as crianças buscam imitar, imaginar, representar e comunicar de uma forma específica que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa pode ser uma personagem, que uma criança pode ser um objeto ou um animal, que um lugar “faz-de-conta” que é outro. Brincar é, assim, um espaço no qual se pode observar a coordenação das experiências prévias das crianças e aquilo que os objetos manipulados sugerem ou provocam no momento presente. Pela repetição daquilo que já conhecem, utilizando a ativação da memória, atualizam seus conhecimentos prévios, ampliando-os e transformando-os por meio da criação de uma situação imaginária nova. Brincar constitui-se, dessa forma, em uma atividade interna das crianças, baseada no desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade, sem ser ilusão ou mentira. Também se tornam autoras de seus papéis, escolhendo, elaborando e colocando em prática suas fantasias e conhecimentos, sem a intervenção direta do adulto, podendo pensar e solucionar problemas de forma livre das pressões situacionais da realidade imediata. Quando utilizam a linguagem do faz-de-conta, o autor declara ainda que as crianças enriquecem sua identidade, porque podem experimentar outras formas de ser e pensar, ampliando suas concepções sobre as coisas e pessoas ao desempenhar vários papéis sociais ou personagens. Na brincadeira, vivenciam concretamente a elaboração e negociação de regras de convivência, assim como a elaboração de um sistema de representação dos diversos sentimentos, das emoções e das construções humanas. Isso ocorre porque a motivação da brincadeira é sempre individual e depende dos recursos emocionais de cada criança que são compartilhados em situações de interação social. Por meio da repetição de determinadas ações imaginadas que se baseiam nas polaridades presença/ausência, bom/mau, prazer/desprazer, passividade/atividade, dentro/fora, grande/pequeno, feio/bonito, etc., as crianças também podem internalizar e elaborar suas emoções e sentimentos, desenvolvendo um sentido próprio de moral e de justiça. O desenvolvimento infantil se encontra particularmente vinculado ao brincar, uma vez que este último se apresenta como a linguagem própria da criança, através da qual lhe será possível o acesso à cultura e sua assimilação. O brincar se apresenta como fundamental tanto ao desenvolvimento cognitivo e motor da criança quanto à sua socialização, sendo um importante instrumento de intervenção em saúde durante a infância. A linguagem cultural própria da criança é o lúdico. A criança comunica-se através dele e por meio dele irá ser agente transformador, sendo o brincar um aspecto fundamental para se chegar ao desenvolvimento integral da criança. Portanto, o ato de brincar é importante, é terapêutico, é prazeroso, e o prazer é ponto fundamental da essência do equilíbrio humano. Logo, podemos dizer que a ludicidade é uma necessidade interior, tanto da criança quanto do adulto. Por conseguinte a necessidade de brincar é inerente ao desenvolvimento. (Id. Ibid.). Para o site Catraca Livre (2016), o brincar livre é quando a criança desenvolve uma atividade lúdica livre de direcionamentos, regras, imposições, estímulos intencionais e objetivos de aprendizagem. Não existe formato ou padrão para um brincar livre, o que existe é deixar a criança explorar sua criatividade, em seu próprio tempo e termos, e criar sua própria brincadeira. Não existe formato ou padrão para um brincar livre. Na brincadeira livre tudo é possível e a imaginação da criança é seu maior combustível. “Quando falamos em brincar livre, a brincadeira é um meio, mas também um fim”, ressalva o autor. Agora, em um mundo onde as crianças recebem cada vez mais estímulos, seja da televisão, seja da escola ou da própria família, como fica o brincar livre? Se, de um lado estímulos específicos são importantes para seu desenvolvimento (motor ou cognitivo, por exemplo), de outro o ócio criativo, e até o tédio (por que não?) também são importantes para as crianças. Na contramão do modo de vida das cidades grandes, acrescenta o autor, sem pausas para momentos de contemplação, o Movimento Slowkids levanta a bandeira da desaceleração, da brincadeira livre e em contato com a natureza. Com eventos pelo Brasil, o movimento defende que, para as crianças se desenvolverem de maneira plena e possam se conhecer e investigar seus interesses, capacidades e emoções, é preciso respeitar seu tempo de descobrir, observar e experimentar. No final das contas, será por meio de vivências plenas, calmas e afetivamente significativas, que as crianças crescerão de forma saudável e aprenderão a se relacionar com outras pessoas e com o mundo. É no brincar e talvez apenas no brincar que a criança ou o adulto fluem sua liberdade de criação e podem utilizar sua personalidade integral e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu. (WINNICOTT, 1975). Já a animação cultural refere-se à mediação entre público e o trabalho cultural, a produção cultural de uma determinada sociedade, está diretamente relacionada ao trabalho com a comunidade. Ela visa oferecer, enquanto instrumento educacional e recreativo, inúmeras vias de admissão ao universo da cultura e do conhecimento, seja através de manifestações expressivas naturais ou estruturadas. Esta ação também tem como meta aprimorar o caráter existencial de cada ser, por meio da evolução individual, a qual provoca ecos no grupo social. PACHECO, s/data). Para Santana (2019), trata-se, portanto, de um instrumental de natureza pedagógica, apto a intervir nas mais distintas circunstâncias e esferas sociais, e tem como fim realizar as necessárias mudanças no âmbito da realidade. Para tanto ele atua como um árbitro cultural, com o objetivo de gerar uma sociedade melhor e mais solidária, na qual todos os direitos individuais são amplamente respeitados. Este caminho passa necessariamente pela aceitação das diferenças e pelo despertar do potencial criativo humano, que instaura o prazer e também a postura crítica. Assim sendo, o animador, agente ou promotor cultural, continua a autora, exerce o papel de motivador dos grupos sociais, interagindo com seus integrantes no sentido de conduzi-los à prática cultural; ele incita a comunidade a resgatar e a disseminar seus valores e a utilizar os próprios meios na construção de sua cultura. No cenário político que nos encontramos, com as características da sociedade em que vivemos,diversos fatores como a violência, a falta de espaços para o brincar nas grandes metrópoles, entre outros, contribuem para que muito frequentemente se originam conflitos que dificultam a vida quotidiana das populações e da pessoas. Neste caso, a animação sociocultural pode ser um remédio oportuno para lutar contra essas “doenças” sociais. Enfim, animar é dar a alma e a vida a um grupo humano, a um conjunto de pessoas entre as quais as relações não se produzem espontaneamente, ou são impedidas e bloqueadas a consequência da coacção das estruturas sociais ou das condições de vida. D a ideia simples de “dar impulsão” passa-se pouco e pouco à de uma acção exercida sobre os outros sem nenhum tipo de coacção: suscitar e orientar as iniciativas, aumentar a sua participação na vida do grupo, provocar a reflexões. (MARRANA, 2011). Considerações A experiência é o que nos passa, atravessa. O sujeito da experiência seria um território de passagem, uma superfície sensível que aquilo que acontece afeta de algum modo. Jorge Larrosa A experiência desse trabalho foi de suma importância, pois possibilitou-me trazer à tona significativas reflexões a cerca da atuação do Agente do Brincar. Entender como cada proposta se difere foi um momento para (re)pensar projetos, propostas, procedimentos e estratégias para os diversos públicos que pretendo trabalhar a partir de agora, oferecendo, seja por meio do brincar livre ou por meio de uma ação de animação sociocultural, as condições, os recursos necessários para cada ocasião. Em contrapartida, as duas linhas de atuação se convergem no sentido de que a criança, adolescente, jovens, adultos e as pessoas da 3ª idade, foco principal do Agente do Brincar, já que em ambas as estratégias a nossa meta é contribuir para a participação mais do que vivências, mas em experiências saudáveis, acolhidos num ambiente sensível, diminuindo preconceitos, (re)construindo possibilidades de relações interpessoais mais equilibradas, de respeito às diversidades, e principalmente, propiciando recursos necessários para que os brincantes possam se expressar com autonomia, valorizados em suas subjetividades. referências: CATRACA LIVRE. O que significa proporcionar o brincar livre? São Paulo: 2016. Disponível em:. Acesso em 03 jul. 2019. 00:41. CORESMA, Leandro de Castro. O que é o brincar? São Paulo: Estadão: 2017. Disponível em:< https://educacao.estadao.com.br/blogs/colegio-pentagono/o-que-e-bri ncar/>. 02 de jul 2019.

  • Por que as crianças precisam brincar?

    - Gabrielle Regia A. Fuzle Elahe Hasan - O que é brincar? Brincar é essencial na vida do ser humano. É o caminho por onde as crianças desfrutam da infância e seu direito ao brincar deve ser sempre garantido e realizado. Brincar é um termo genérico que agrupa uma série de atividades e comportamentos que satisfazem a criatividade e são a maneira da criança se expressar e se organizar. Para Vygotsky (1987) o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. Para a organização Play England brincar é “o que as crianças fazem quando seguem suas próprias idéias e interesses, do jeito deles e pelas razões deles”. Também descrevem o brincar como “o que as crianças fazem quando não é dito a elas o que elas devem fazer”. Brincar é um processo psicológico, que possibilita o desenvolvimento e aprendizagem. Através da abstração da brincadeira a criança processa o que já foi aprendido e aquilo que é novo, juntando experiências, memórias e a imaginação. É brincando que a criança desenvolve novos significados e transforma conceitos já obtidos, o que é essencial para o desenvolvimento infantil. O ato de brincar não está relacionado a ter brinquedos ou ter que ganhar novos brinquedos todo o tempo. É possível se divertir, e muito, criando os próprios brinquedos, imaginando, utilizando o espaço externo, explorando a natureza, a cidade e aprendendo, desta forma a não ser refém de suportes externos, neste caso um brinquedo novo, para a satisfação pessoal. O que a criança ganha ao brincar? Ao brincar, a criança se descobre e descobre o mundo ao seu redor. Através das experiências que vivencia ao explorar objetos, o ambiente, os sons, os cheiros, as cores, os sabores, o próprio corpo, a criança vai criando um elaborado emaranhado de descobertas, onde pode analisar, testar hipóteses, avaliar, etc. Ao brincar, a criança vai descortinando novas possibilidades e novas formas de fazer, ser, experimentar. É através da brincadeira também que a criança compreende as dinâmicas sociais. Nas brincadeiras de faz de conta, onde brinca de ser mãe, pai, médico, bombeiro, a criança compreende o que é “ser” ou “estar” nestas funções e isto a prepara para a entrada na vida adulta. Muitas vezes, são nestas brincadeiras, experimentando diferentes papéis sociais que a criança pode desabrochar aptidões, que futuramente podem guiá-la em suas escolhas futuras, como por exemplo, na escolha de uma profissão. Numa simples brincadeira em grupo, por exemplo, além do convívio social, as crianças tem a oportunidade de internalizar dinâmicas complexas que a preparam para a vida adulta, como por exemplo: Resolver conflitos e enfrentar desafios; Compreender e respeitar regras; Conhecer seus próprios limites; Experimentar situações diversas: agradáveis e desagradáveis, favoráveis e desfavoráveis; Construção de vínculos afetivos Cooperação; Liderança; Competição; Além disso, quando brinca, as crianças têm a oportunidade de desenvolver: a linguagem; o pensamento; a criatividade; a socialização; a iniciativa; a autoestima; A importância do Agente do Brincar Sabendo da importância do brincar, fica muito clara a importância do Agente do Brincar. Um profissional qualificado e sensível no que diz respeito às questões do brincar. O Agente do Brincar não é um “brinquedista”, pois entende que a brincadeira é mais do que um recurso para passar o tempo. Sabe que ao brincar a criança se expressa, se compreende e significa o mundo ao seu redor. Este profissional compreende que é preciso deixar acontecer o brincar livre, onde a criança tem a oportunidade de manifestar livremente sua criatividade, pensamentos, sentimentos e muito mais. Numa sociedade tecnológica e frenética, o agente do brincar é capaz de fazer a diferença, na medida que é capaz de compreender sua importante posição e lutar para preservar o direito de brincar de todas as crianças. Referências e fontes de pesquisa: https://www.bonde.com.br/educacao/cidadania/especialista-explica-a-importancia-das-brincadeiras-na-infancia-438040.html https://fofuuu.com/blog/o-brincar-e-as-brincadeiras-na-infancia/ https://ciabrink.com.br/2017/07/19/a-importancia-do-brincar-na-infancia/ https://educador.brasilescola.uol.com.br/comportamento/a-importancia-brincar.htm http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/desafios-cotidianos/arquivos/integra/integra_RODRIGUES.pdf https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4490693/mod_resource/content/0/brincar_e_a_realidade_winnicott.pdf

  • DESCOBRINDO CRIANÇAS

    - Violet Oaklander - “Preciso lembrar a mim mesma que a minha tarefa é ajudar as crianças a sentirem-se fortes dentro de si. Portanto, dê tempo ao tempo. Ao verem a criança frustrada, alguns pais acham que estão cometendo um erro. Não avaliam que a frustração tem um papel importante na vida dela, pois não conseguirá tudo o que quer o tempo todo e terá que lidar com sentimentos adversos. Frustrar-se é tão fundamental quanto os sentimentos considerados positivos, como alegrar-se". Este trecho foi retirado do livro DESCOBRINDO CRIANÇAS, da editora SUMMUS, que foi escrito pela psicóloga, especializada em desenvolvimento infantil, Violet Oaklander. Segundo ela, escrever este livro de terapia infantil de enfoque gestáltico não constitui tarefa muito fácil para alguém que sempre orientou seu trabalho com crianças a partir de uma perspectiva psicanalítica. É poder olhar o diferente a partir de seu referencial próprio, evitando a tentação de um reducionismo. Caso contrário, corre-se o risco de desconsiderar tudo o que de novo esta perspectiva pode oferecer. Apesar deste risco, foi para mim uma experiência bastante gratificante e enriquecedora poder acompanhar Violet Oaklander em sua prática clínica, onde, através de jogos mais ou menos dirigidos, procura abrir à criança um espaço à expressão livre de suas fantasias e sentimentos, para que, quase como uma conseqüência espontânea, possa emergir o conflito de base. Poder favorecer à criança sair de sua solidão e encontrar no outro um eco aos seus anseios mais escondidos, seria este o projeto da autora? Parece que sim. Tendo por linha mestra seguir o curso da própria experiência infantil, ela utiliza argila, areia, água, tinta, estórias, gravuras, ferramentas, toda uma gama de materiais lúdicos que lhe permite ver e responder às pistas dadas pelas crianças, funcionando como úm continente à eclosão daquele sentimento ou daquela vivência, que, por alguma razão, a criança não se permite experimentar. Sem dúvida a prática de Violet aponta para além disso; apesar da importância, talvez excessiva, que ela empresta aos sentimentos no plano teórico, o que nos aparece em seus relatos de caso é a erupção de várias linhas de associação de idéias, sempre caminhando, no sentido de favorecer à criança a simbolização do conflito no qual se encontra enredada. O que nos mostra que, se a fantasia é seu campo de ação e se a expressão afetiva é o seu guia terapêutico, a experiência de Violet acaba conduzindo sempre à possibilidade de a criança exprimir em palavras aquilo que antes era sem nome e sem lugar. E, neste sentido, poder se situar melhor no complexo de circunstâncias que a cercam e, por vezes, a coartam. As crianças falam de si mesmas destacando suas posições mediante a experiência do conhecimento. A autora desenvolve um sério estudo sobre o crescimento infantil empregando métodos altamente originais e flexíveis. Não espere encontrar neste livro uma elaboração teórica rigorosa; conforme já disse, a prática, muitas vezes, aponta - para além da teoria. Espere encontrar, entretanto, uma mulher cheia de vida que tem a coragem de se despir dos estereótipos e preconceitos do adulto, para tentar descobrir, em toda sua intensidade, o complexo maravilhoso e intrincado do universo infantil. São idéias simples, como passar uma tarde ao lado do filho fazendo arte ou buscá-lo na escola, com tempo para entrar e talvez até conversar com o professor. Mas cada uma dessas idéias tem um fundamento educativo e afetivo. É verdade que, no primeiro instante, a meninada pode não entender a proposta e se chatear. Afinal, vivemos num mundo em que os apelos do consumo estão por toda parte. Antes de ceder a eles tenha em mente o que a psicóloga americana Violet Oaklander escreveu.

bottom of page