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163 itens encontrados para ""

  • Ah o Brincar...

    - Camila Sousa - Filtro Solar Sabe aquele áudio que foi sucesso no início dos anos 2000, narrado pelo Pedro Bial, cuja mensagem mais importante, entre (dentro de todas) outras que vieram logo em seguida, era " Use filtro solar" e que juntando todo o contexto se transformou numa clara mensagem que dizia assim " Cuide-se”; então, quando comecei a escrever o texto, essa passagem não saía da minha cabeça. Assim como descobriram anos atrás a importância do filtro solar e isso tem sido usado como recurso para prevenção de doenças, o Brincar é o filtro para prevenção de males tão nocivos quando o câncer ou qualquer outra moléstia. Se eu pudesse e sei que posso dar um único conselho para a geração atual e também às futuras é: Brinquem! Mesmo que não tenham nada além do próprio quarto, pois os benefícios a longo prazo estão comprovados cientificamente e tudo que eu disser daqui para frente são vivências e reflexos do que sou hoje, com uma pitada de devaneios. Hoje, mais do que nunca, eu consigo compreender a importância do brincar como ferramenta de desenvolvimento humano e isso tudo graças ao curso de Agentes do Brincar, da IPA e sua proposta de disseminar esse bem tão precioso nesse mundo “moderno” e cada vez mais tecnológico. Muitas vezes no decorrer da minha vida como professora de educação infantil pude perceber a marginalização do brincar; frases do tipo “Você é professora de criancinha, só brinca”, como se o brincar não fosse algo importante. O brincar não é “só isso”, ele é “tudo isso” e mais um pouco, mas até então, eu não tinha tantos argumentos para orientar essas pessoas sobre importância do brincar na vida criança. Dias atrás levei o parque para dentro da sala de aula por conta da chuva e quando um pai foi buscar seu filho, encontrou-o escalando o escorregador; a ação do pai foi imediata, chamou a atenção da criança, dei uma risada e expliquei que para crianças, as possibilidades do brincar são imensas. Ele balançou a cabeça e disse “- Como sou quadrado! ”. Tenho certeza que a partir daquele momento a intervenção dele será outra e o brincar de seu filho será mais livre, pelo menos no que diz respeito ao escorregador. No meu tempo de faculdade era meio que moda o tema brinquedoteca e muitas pessoas usaram como pesquisa de TCC; para mim era algo muito novo e não tinha curiosidade sobre o tema, pois na minha existência o brincar sempre esteve presente em qualquer espaço que fosse propicio, tanto que o assunto abordado por mim foi totalmente na contramão disso tudo. Depois que me formei e trabalhei em escolas onde haviam brinquedotecas criei uma certa dependência desse espaço, meio que viciante porque o brincar estava preparado para ação; mas não me dava conta que era tudo muito mecânico, a preparação do ambiente pela criança era quase que nulo e a interferência do professor, dizendo o que era certo e errado, causava um bloqueio na criatividade e imaginação do aluno. Nunca um copo podia ser um tambor ou qualquer outra coisa, e eu acabei entrando também nessa onda, mesmo achando aquela ação errada. Por motivos estruturais a brinquedoteca virou sala de aula e a brinquedoteca ficou sendo itinerante; assim minhas concepções foram se transformando e passei a agir como facilitadora, quebrando as amarras que havia adquirido até então. Porém foi participando de cursos que abordavam o tema do brincar de forma singela que isso foi possível. Refletindo agora posso perceber que, durante a graduação, pouco se falou a respeito do brincar e o impacto dessa ação na primeira infância; assim fica fácil entender como ainda existem professoras despreocupadas pelo assunto, achando que os conteúdos específicos são mais importantes. Criança Brincante Aquilo que eu me recordo dos tempos de menina em relação ao brincar é que ele acontecia de forma muito espontânea; aqui não seguirei uma passagem cronológica, mas momentos significativos e que, de alguma forma, meu consciente fez questão de deixar raso e acessível. Uma das minhas memórias acessíveis é de quando eu tinha cinco ou seis anos; nesse tempo minha mãe trabalhava em casa de família e às vezes me levava junto. Hoje me questiono o motivo já que eu frequentava escola nesse período, mas enfim, era um apartamento desses enormes e antigos; minha mãe trabalhava o dia inteiro e a brincadeira começava já na ida, dentro do ônibus lotado, cara na janela, ela me desafiando a contar quantos carros brancos, amarelos ou de qualquer cor que viesse à cabeça; às vezes eu desafiava a minha mãe e, em outros momentos, brincava sozinha. aquela brincadeira silenciosa, onde as estratégias e desafios ficavam apenas no pensamento, aquele momento que é só seu. Chegando ao destino a brincadeira seguia nas ruas, equilibrando-me nas guias das calçadas, pulando para não pisar nas poças d'água, trançando os pisos do passeio. Dentro do apartamento, embora grande, o acesso à movimentação era mais restrito; lá era eu e um quartinho pequeno da empregada, às vezes alguns brinquedos, gibis, revistas, ali era inventando vários universos. Tinha um brinquedo dos sonhos que todas as vezes que eu ia, ele estava lá me esperando: era um quiosque do McDonald's, fazia hambúrguer, sorvete, refrigerante, montava e desmontava, cantarolando a música do "Big Mac". Brincar sozinha nesses momentos era divertido, embora quisesse sair correndo pela casa e explorar todo aquele espaço. Nos momentos em que eu ficava em casa, brincava muito com uma vizinha da minha idade, as brincadeiras eram todas possíveis: fazíamos bonequinhos com papel e a mobília da casa com pregadores, restaurante na laje, tendo como plano de fundo um campinho de futebol que ficava lá longe, que se transformava na TV do local. A imaginação da criança é um mundo maluco, com diz Toquinho "O mundo da criança é um mundo mágico". As novelas infantis também interferiam nas nossas ações. Teve uma vez que acreditávamos haver uma passagem secreta na casa de um vizinho do outro lado da rua, como na novela Chiquititas, e quando brincávamos juntos todas as brincadeiras giravam ao redor desse suspense. A rua não era um ambiente muito seguro, segundo meus pais, mas quando era possível brincar na calçada era uma delícia; até já investiguei um acidente de moto, pois por acaso estava no local e na hora certa; depois de tudo resolvido, recolhi as peças do crime e isso foi assunto para uma semana inteira. Outra recordação é de um quintal enorme na casa de uma colega no final da rua. Era o local mais verde do bairro, repleto de árvores, corríamos de um lado para outro, brincávamos de pega-pega, de subir nas árvores, esconde-esconde, casinha. Era o contato mais próximo à natureza que eu tinha. A não ser quando minha mãe nos levava ao parque do Ibirapuera aos domingos, mas essas recordações são bem distantes, impossíveis de descrever. Na escola a diversão era outra, as brincadeiras eram grupais, seja no recreio ou na educação física, menino pega menina, policia e ladrão, queimada, futebol, gato e rato. Engraçado que na sua maioria eram brincadeiras que requeriam movimento corporal intenso e isso fazia toda a diferença na nossa saúde; não me recordo de ter faltado na escola por problemas de saúde, uma garantia de que o brincar contribui para a imunização durante esse processo. Reflexos e reflexões Durante o meu processo de autoconhecimento percebi o quanto o brincar me tornou o que sou hoje. Minhas atitudes estão interligadas às ações representadas pelo brincar na infância, nunca fui de escolher determinados pares e criar elos entre eles; brincava sempre com aqueles que estavam disponíveis que queriam brincar, independentemente de qualquer coisa, sem me importar com as panelinhas já estabelecidas: assim era no grupo de futebol, ou na formação na equipe da queimada, nos reuníamos para brincar e não precisava ser o mesmo time sempre. Hoje na vida adulta isso permanece, não crio muitos elos, mas pontes, onde podemos atravessar de um lado para o outro sem amarras. Assim também é com meu desejo de ficar sozinha em alguns momentos, pois me dou muito bem com a solidão, com meu silêncio, de ficar um tempo comigo mesma, e isso é reflexo dos momentos em que brincava sozinha, imaginando meu mundo mágico e divertido. Com o curso Agentes do Brincar voltei anos luz no tempo, revivi muitas coisas, até aquelas que não vivi e queria ter vivido. O brincar é terapêutico e já havia me esquecido que adultos também brincam, que a vida pode ser mais leve e saudáveis esses hábitos brincantes e brilhantes: posso brincar de lavar louça, de sorrir para as pessoas no ônibus, de “stop” nas filas da vida, pular obstáculos na rua, apostar corrida para pegar o ônibus, nessas coisas de adulto que às vezes não tem nenhuma graça e ressignificamos com pequenas atitudes. O brincar nos une e nos faz pessoas melhores, nos liberta de uma vida enrijecida e mecânica, repleta de convenções que só adulto embrutecido, na sua mania de levar a vida dentro de uma caixinha, faz. Hoje sou uma pessoa melhor e disposta a ajudar as pessoas que me rodeiam, experimentar o brincar como fonte de água viva e também me tornar livre para brincar e ser feliz.

  • A TECNOLOGIA E O BRINCAR

    - Gabriela de Carvalho Santos - Futebol, amarelinha, queimada, pega-pega, esconde-esconde, rouba bandeira. Praticamente todas essas brincadeiras fizeram parte da infância de diversas pessoas e são ótimas lembranças de uma época quando a maior preocupação era fazer a lição de casa. Hoje, muitas delas ainda estão presentes no dia a dia de várias crianças, mas algo mudou. Se antes grande parte deles passava o dia brincando na rua com os amigos, hoje é cada vez mais comum vermos crianças dentro de casa a maior parte do tempo. Tal realidade foi causada por diversos fatores ao longo dos anos, como o quesito “segurança”, especialmente em cidades grandes. Mas a tecnologia também tem um dedo nessa história. Agora, a televisão, o videogame, o computador e o celular são outros bons motivos que fazem com que as crianças saiam ainda menos de casa. Afinal, a diversão encontra-se logo ali, no conforto e na segurança do quarto ou da sala de estar. A tecnologia se tornou fundamental nas nossas vidas, em casa, nas escolas, nas praças ou restaurantes. É cada vez mais comum presenciar em locais públicos, onde a princípio seriam alternativas para sair, jogar conversa fora, ao invés disso veem-se famílias inteiras como: pais, mães, filhos e até bebes com seus objetos tecnológicos e o mínimo possível de contato físico social. Mas será que a tecnologia pode ser uma péssima ferramenta para o desenvolvimento da criança? Ou com bons cuidados e supervisão, pode ter seu lado positivo? Veremos ao longo deste artigo os prós e contras do uso da tecnologia na infância. O BRINCAR E A TECNOLOGIA As crianças têm livre acesso aos aparelhos eletrônicos e, consequentemente, os pais precisam ficar atentos ao conteúdo acessado, avaliar se o que está sendo apresentado é educativo ou não, se está de acordo com a faixa etária e, mais do que isso, tentar interagir com a criança para que ela desenvolva a sociabilidade mesmo não estando em contato direto com outras pessoas. É muito comum vermos comportamentos difíceis de serem lidados e o excesso da tecnologia contribui para que essas situações se tornem rotineiras. Existem crianças que deixam de comer, de dormir, de ir ao banheiro e principalmente de brincar, tudo para ficar em frente à TV, celular ou videogame. Mas utilizando de forma correta, pode trazer bons resultados para o desenvolvimento da criança. Com isso, compreende-se que a tecnologia tem o seu lado negativo e positivo. Desse modo, no que diz respeito ao seu uso, para ser considerado uma vantagem ou desvantagem, depende do direcionamento que o adulto propõe para a criança. Ou seja, só precisa ser utilizada da maneira correta. No campo do ensino aprendizagem da criança ela se torna uma ferramenta indispensável. A televisão, o computador são exemplos de ferramentas que podem ser aliados do processo pedagógico. Se usados corretamente, com objetivos, podem complementar o processo de ensino-aprendizagem e promover interação. De acordo com (LIBÂNEO, 2001, p. 70): “[...] as mídias apresentam-se, pedagogicamente, sob três formas: como conteúdo escolar integrante das várias disciplinas do currículo, portanto, portadoras de informação, ideias, emoções, valores; como competências e atitudes profissionais; e como meios tecnológicos de comunicação humana (visuais, cênicos, verbais, sonoros, audiovisuais) dirigidos para ensinar a pensar, ensinar a aprender a aprender, implicando, portanto, efeitos didático, como: desenvolvimento de pensamento autônomo, estratégias cognitivas, autonomia para organizar e dirigir seu próprio processo de aprendizagem, facilidade de análise e resolução de problemas, etc.” Então, os pais e também escola devem estar atentos em relação a essas questões. Estes devem ser mediadores da relação criança-tecnologias. No intuito de ter um controle e uma metodologia que vise desenvolver os efeitos que o autor ressalta acima. • A tecnologia na vida dos bebês Um dado surpreendente é que são crianças bem novas que já têm contato com esse mundo tecnológico, sendo que é muito comum vermos no dia-a-dia um bebê com o celular na mão, o pai/responsável tentando distrair a criança com algum vídeo ou joguinho no tablet. E isso pode ser uma má ideia, conforme diz um trecho de uma notícia no G1: ” A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomendava, desde 1999, que o contato com telas não ocorresse antes dos 2 anos. Isso porque, de acordo com o instituto, bebês nesta faixa etária teriam mais perdas do que ganhos ao usar tablets, televisão e celulares. Crianças de 12 a 18 meses aprendem com experiências vivas e não com vídeos, de acordo com AAP.”. E o excesso de tecnologia não tem pontos negativos somente quando é a criança que está manuseando o aparelho, mas uma mãe, por exemplo, que fica o tempo todo no celular, até mesmo quando está amamentando seu filho, pode ser um problema. Uma das coisas mais importantes para um bebê, é o contato olho a olho com quem cuida dele. E através desse contato, ele vai ser capaz de mapear certas emoções, desenvolver sua linguagem, sua visão e muitos outros estímulos. Então quando o bebê perde esses momentos de ternura, conexão, de conhecer o ser que está por trás de todo cuidado que ele precisa, ele pode ter uma certa dificuldade emocional e social. VANTAGEM X DESVANTAGEM Cada faixa etária tem um grau específico de desenvolvimento. Até os 3 anos de idade é quando a criança está aprimorando os estímulos do corpo, a linguagem, audição, entre outras coisas. Nessa fase, se os pais deixarem elas menos nos aparelhos eletrônicos, é melhor para o seu desenvolvimento. Isso porque a criança fica exposta a muita luz e muitos ruídos diferentes, causando dificuldade de dormir a noite, dificuldade na fala e até mesmo na alimentação. Acima dos 3 anos a criança já tem consciência da linguagem, já sabe distinguir sons diferentes, então já seria aceitável o uso da tecnologia. Programas bem coloridos, desenhos que oferecem diversos estímulos visuais e auditivos, que fazem com que a criança converse com eles, e que fazem perguntas pra elas, trazem bons benefícios. Mas sempre com a supervisão dos pais e com duração de, no máximo, 1 hora em média por dia. O videogame pode trazer malefícios mas também tem seus benefícios. Com ele, as crianças podem se tornar mais criativas, contribui para o aumento da agilidade no raciocínio e também pode influenciar na escolha da futura profissão delas, pois o fato de os jogos melhorarem as habilidades de visão espacial, pode ser uma porta para bom desempenho em áreas da ciência, tecnologia, engenharia e matemática. No entanto, existem algumas desvantagens que podem prejudicar o desenvolvimento dos pequenos, podendo acarretar: obesidade, sedentarismo, desinteresse com coisas essenciais no dia a dia, como: alimentação, sono e o brincar, algo fundamental para o crescimento pessoal delas. E isso ocorre com qualquer aparelho eletrônico, existindo seu lado bom e seu lado ruim, mas sempre ponderando para manter o equilíbrio. CONCLUSÃO Com os aspectos observados, foi possível entender que a tecnologia dentro do brincar tem seus benefícios, mas também suas desvantagens. É importante ter um equilíbrio e uma atenção mais profunda para que essa grande ferramenta mundial, não prejudique o desenvolvimento das crianças. É essencial os pais ficarem atentos e presentes com o uso dos aparelhos eletrônicos. Não deixando seus filhos se perderem nesse universo intenso, com muita coisa boa, e consequentemente deixarem de lado o brincar. O brincar na rua, na natureza, com ao amigos ou sozinho. A brincadeira fora de casa é fundamental para todas as idades. Ela cria resiliência, noção de perigo e de espaço. REFERÊNCIAS • LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora. São Paulo: Cortez, 2001. • TENENTE, Luiza. Celulares, tablets e TVs devem ser liberados para crianças? 26, maio 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/celulares-tablets-e-tvs-devem-ser-liberados-para-criancas-especialistas-dao-cinco-dicas-do-que-e-certo-ou-errado.ghtml. Acesso em 10 de junho/2019.c • LOSSO, Renata. Crianças X computadores: benefícios e males da era tecnológica. 16, ago.2010. Disponível em: http://delas.ig.com.br/filhos/criancas-x-computadores-beneficios-emales-da-era-tecnologica/n1237749844018.html. Acesso em: 10 de junho/2019. Especial para o iG São Paulo.

  • Lembranças de um Brincar

    - Joze Suellen da Silva - Puxando de minhas memórias, vejo que a lembranças do brincar nunca foi apagada, sempre tiveram vivas em minhas mentes, lembranças essa, de descobertas, de uma época que tudo era novo, e de perguntas que iriam surgir com o tempo, que gostaria de achar respostas, de um mundo novo que me cercava, de questões essas, que seriam respondidos ao longo da minha vida, e talvez algumas não acharia respostas. Não lembro um só dia, quando iniciei no brincar, acho que sempre esteve presente no meu desenvolvimento, pois é assim que descobrimos, o mundo novo que nos cercam, e que agora fazemos parte. “Quando brinca criança prepara-se a vida, pois é através de sua atividade lúdica que ela vai tendo contato com o mundo físico e social, bem como vai compreendendo como são e como funcionam as coisas. Zanluchi (2005. P.89)” Lembro-me, de quando eu brincava, não existia tempo, ou espaço, e nem preocupações, uma lembrança bem evidente, era que me transportava para outros lugares, ao mesmo tempo que estava atrás do meu prédio, em um segundo, me imaginava em uma floresta, onde poderia encontrar, coisas que meu imaginário me permitiria, bruxas, duendes, lobos, e por uns instantes a horta de um vizinho do meu prédio, cheios de árvores, já não existia, eram uma floresta imensa que juntos com meus amigos iremos viver uma aventura. E nessa brincadeira poderíamos ser mocinhas, vilãs, ter superpoderes ou até morrer e logo voltar a vida. Assim como relata Oliveira (2000, P.19) [...] O brincar por ser uma atividade livre que não inibe a fantasia[...]. Tinha um termo que usávamos muito em nossas brincadeiras, por exemplo, quando existia um vilão, que matava alguém, como na brincadeira de polícia e ladrão, em uma de nossas histórias, logo explicamos que era de “mentirinha”, pois já sabíamos que tirar a vida de alguém não eram algo bom, então usávamos essa expressão, para saber que não era de verdade, já tendo a noção do era certo ou errado, é assim que vamos desenvolvendo a percepção no mundo em que vivemos, atribuindo valores e atitudes durantes nossas brincadeiras. Através do brincar, fui mãe a primeira vez, cuidando de minhas bonecas, aprendendo a ter responsabilidades, ao cuidar de uma bebê no meu imaginário. Diz Oliveira (2000, P.19) “[...] Ao brincar de que é a mãe da boneca, por exemplo, a menina não apenas imita e se identifica com a figura materna, mas realmente vive intensamente a situação de poder gerar filhos e de ser uma mãe boa, forte e confiável”. Nas brincadeiras adquirir várias profissões, fui médica, feirante, policial, cantora, dançarina era o que mais gostava, e professora, essa quem nunca foi? Segundo Cunha (2007, p.23) “Neste tipo de brincadeira a criança traduz o mundo dos adultos para a dimensão de suas possibilidades e necessidades, as crianças precisam vivenciar suas ideias em nível simbólico, para poderem compreender seu significado na vida real.” Assim ao brincar com essas profissões, por exemplo de médico, como não gostava de injeção, essa profissão já tinha noção que não iria seguir, já de professora sim, mas só não sabia que seria na fase adulta, professora de Educação Física. O brincar me possibilitou vivenciar as diversas possibilidades, como conhecer amigos que até hoje faz parte da minha vida, pessoas que conheci e hoje não tenho mais contato, mas nunca esqueci, aprender, o brincar abre as portas para compreender e saber viver no mundo que nos cercam. E não tem maneira melhor de aprender brincando. Assim como cita o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) que diz: "O Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. Nas brincadeiras as crianças podem desenvolver algumas capacidades importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória, a imaginação, além de amadurecer algumas capacidades de socialização, por meio da interação e da utilização e experimentação de regras e papéis sociais." “Era uma vez O dia em que todo dia era bom Delicioso gosto e o bom gosto Das nuvens serem feitas de algodão Dava pra ser herói No mesmo dia em que escolhia ser vilão E acabava tudo em lanche, um banho quente E talvez um arranhão.” Na minha Infância, nada poderia me parar, a não ser, a hora de entrar, ao escutar minha mãe, chamando, está na hora de entrar, já anoitecia, e um dia irá se pôr, e tudo recomeçava, hora de brincar. Há um trecho de uma música, que simplifica o brincar, tornando tão real tudo que vivi a partir do brincar. “Dava pra ver A ingenuidade, a inocência cantando no tom Milhões de mundos e universos tão reais Quanto a nossa imaginação Bastava um colo, um carinho E o remédio era beijo e proteção Tudo voltava a ser novo no outro dia Sem muita preocupação” Fase Adulta Quando somos crianças, queremos crescer logo, para experimentar, coisas novas, que estão além dos muros de nossas casas, e comigo não foi diferente, e com o tempo a brincadeira foi ficando de lado, passando a adquirir mais responsabilidades e obrigações, mesmo sem querer o brincar se tornou escasso. Como se ele nunca tivesse feito parte do meu desenvolvimento, cadê aquele brincar que estava sempre presente, que simplesmente acontecia? Sumiu!!!! Agora essa fase se torna mais difícil, pois o brincar ainda faz parte de mim, é igual a andar de bicicleta, quando aprendemos não esquecemos, mas agora o brincar está adormecido. “É que a gente quer crescer E, quando cresce, quer voltar do início Porque um joelho ralado Dói bem menos que um coração partido É que a gente quer crescer E, quando cresce, quer voltar do início Porque um joelho ralado Dói bem menos que um coração partido” Mas infelizmente, crescemos, e não podemos voltar a ser criança, e tenho que continuar minha caminhada, e agora na fase adulta, com o brincar quase inexistente. Ao chegar na fase adulta, mesmo inconsciente, passamos a ter a ideia que os adultos não brincam, partindo da visão que temos com nossos pais, que nunca brincam com seus filhos, estando sempre sérios, como se brincar não fosse algo sério, é assim que muitos adultos pensam, quando chegam à fase adulta. Devemos pensar diferente “É no brincar e talvez apenas no brincar que a criança ou o adulto fruem na liberdade de criação”, “É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente sendo criativo que o indivíduo descobre o eu" (WINNICOTT, 1975, p. 79-80). Ingressei no ano de 2012, no curso de licenciatura em Educação Física, na Instituição Educacionais do Estado de São Paulo- UNIESP, onde passei a ampliar meus conhecimentos, referente a área onde iria atuar. Minha atuação como professora, na busca algo novo, no processo de ensino e aprendizado de meus alunos, foi despertada quando teve que montar um projeto na escola de jogos e brincadeiras, então quis me aprofundar sobre estes dois temas, minha irmã fazia um curso na instituição “Parque da Juventude”, onde me indicou o curso de “Agente do Brincar”, na mesma instituição. E assim mais uma jornada a percorrer durante minha trajetória, e utilizar o brincar, descobrindo como “Promover e Facilitar o Brincar” em minhas atuações. Promover e facilitar o Brincar Começo esse texto com essa frase: “Soubéssemos nós adultos preservar o brilho e o frescor da brincadeira infantil, teríamos uma humanidade plena de amor e fraternidade. Resta-nos, então, aprender com as crianças”. (Deheinzelin). Freud (1908) sugere ao educador reconciliar-se com a criança que existe dentro de si, “não para ser novamente criança, mas para compreendê-la e, a partir disso, interagir com seus alunos – a criatividade subsiste na vida adulta”. E partindo dessa reconciliação dessa criança que existia dentro de mim, e foi recordado através da criação deste texto, pude reviver o brincar. “o adulto que volta a brincar não se torna criança novamente, apenas ele convive, revive e resgata com prazer a alegria do brincar, por isso é importante o resgate desta ludicidade, a fim de que se possa transpor esta experiência para o campo da educação” (Santos, 1997, pág. 14). Esse texto, juntamente com o curso, “Agentes do Brincar” me mostra o papel da importância do brincar, em nossa sociedade, fazendo um resgate, desse brincar, onde poderei introduzir no campo educacional, onde atuo, atingir nossas crianças, através de um “Brincar Livre”, irei “Promover e Facilitar o Brincar”. A palavra “Promover e Facilitar o Brincar” fará parte desse percurso que irei desbravar sobre o brincar, partindo dessas palavras, percebo que começo a entender, como educadora [....] Não preciso ensinar a criança a brincar, pois é um ato que acontece espontaneamente, mas sim planejar e organizar situações para que as brincadeiras ocorram de maneira diversificada, propiciando às crianças a possibilidades e companheiros com quem brincar. Dessa maneira, poderão elaborar de forma pessoal e independente suas emoções, sentimentos, conhecimentos e regras sociais (RCNE, 1998, P.29).” Como professora, poderei promover e facilitar o brincar, perante minha atuação com meus alunos, um brincar livre, de onde pude constatar que tive, e fez parte da minha vida, e não poderei deixar de lado, algo tão rico, um mecanismo facilitador, para aprender e crescer, descobrir. Mesmo que o brincar esteja escasso, poderei ao final desse curso, mostrar ao meus alunos, que mesmo que o mundo lá fora, para além dos muros de nossas casas, não seja tão bom, existem coisas muitas boas, o brincar é um facilitador para, imaginar, criar, aprender e nos permite viver. Assim como o trecho dessa música fala: “Dá pra viver Mesmo depois de descobrir que o mundo ficou mau É só não permitir que a maldade do mundo Te pareça normal Pra não perder a magia de acreditar Na felicidade real E entender que ela mora no caminho E não no final.” É tão bom recordar uma época, onde o brincar, era somente um mecanismo para crescer e aprender, e hoje sei a importante para o desenvolvimentos de meus alunos, e na minha vida pessoal, repassando ao meus filhos quando tiver, e na minha atuação, como educadora. Brinque o quanto puder, pois o corpo envelhece, mas a alma, não. Brinque com seus filhos, pois essas lembranças sempre estarão gravadas em suas memórias, sendo passada de geração para geração. Repasse uma brincadeira, para que nunca seja esquecida por todos. Brinque adulto ou criança, a brincadeira está para atingir, e ser um facilitador para todos. Brinque, que o mundo se torna melhor. Vamos todos brincar juntos, e nunca esquecer “Promover e Facilitar o Brincar Livre.” Referências Bibliográficas: BRASIL. Ministério da Educação. Referencial Curricular Nacional para a educação infantil. Brasília: MEC/SEF.1998. CUNHA, Nylse Helena Silva. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. 4. ed. São Paulo: Aquariana, 2007. OLIVEIRA, Vera Barros. O Brincar e a Criança do Nascimento aos seis anos. ed. Petrópolis, RJ; Vozes, 2000. SANTOS. S.M.P. O Lúdico na Formação do Educador. Petrópolis-RJ: Vozes, 1997. https://www.vagalume.com.br/kell-smith/era-uma-vez.html. Acesso em: 29 março. 2019. WINNICOTT, D. W. O Brincar e a Realidade. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 1975. ZANLUCHI, Fernando Barroco. O Brincar e ao Criar: as relações entre atividade lúdica, desenvolvimento da criatividade e Educação. Londrina: O autor, 2005.

  • A influência dos jogos africanos na cultura brincante brasileira

    - Maria Angélica Àse ¹ - *jogo mancala. Processos de reflexão da educação afro-brasileira e antirracista Vamos a um exercício rápido: pense no nome de cinco países europeus e suas capitais. Agora pense no nome de cinco países africanos e suas capitais. Provavelmente você teve mais dificuldades em lembrar (ou não lembrou) de algum país do continente África, certo? Este é justamente o perigo de uma única ou poucas perspectivas para se contar histórias e construir referências. Isso nos faz refletir sobre como se dão as representações da cultura negra nas disciplinas escolares. Como os negros são apresentados, sua origem, sua participação na construção da sociedade brasileira, como as lutas do povo negro são descritas, quem são os grandes nomes negros da nossa história? *Mapa do continente africano Ao discutirmos a importância da educação antirracismo no contexto de educação formal e não-formal estamos falando sobre contar histórias dos povos em múltiplas perspectivas. Isso tem relação direta com a construção da autoestima das crianças negras, sobretudo, e das não-negras, a partir de referenciais e identidades com sentimentos de valorização sobre a negritude. Além disso, garantimos direitos às crianças e jovens de conhecer suas origens, independentemente da cor da pele. A lei nº 11.645/2008, que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena no currículo escolar nacional, trouxe à discussão a mudança de abordagem das escolas ao reconsiderar e rever conteúdos, livros didáticos, datas comemorativas, grandes personalidades e eventos históricos. Porém, somente a lei não bastou, pois as questões que envolvem o racismo são bem mais profundas e as relações étnico-raciais são fundamentais para a manutenção da profunda desigualdade do atual sistema econômico brasileiro. Ao refletir sobre a condição histórica da população negra no Brasil, desde a diáspora africana, ocasionada pelos processos coloniais, até hoje, com a exploração de empregadas domésticas, trabalhadores informais, entregadores de comida por aplicativo, como exemplo, vemos que pouco mudou. *Imagem: Navio negreiro - Museu Afro-Brasil Assim, os espaços educativos, sejam formais, não-formais ou populares, ainda são os melhores lugares de discussão, de reflexão e de enfrentamento, a fim de construirmos de maneira coletiva uma educação antirracista baseada na pluralidade dos sujeitos, no respeito às suas origens e ancestralidades e da formação de sua identidade. Quando olharmos para estratégias, ações e proposições educativas nos espaços culturais, educativos e sociais, de maneira cuidadosa, crítica e considerando as relações étnico-raciais e territoriais, veremos que ainda temos um longo caminho pela frente, mas o primeiro passo deve ser dado para que as crianças e os jovens tenham acessos e oportunidades iguais e possam ter garantidos seus direitos enquanto cidadãos. Brincadeiras e jogos africanos e suas referências no brincar brasileiro Quando falo em jogos africanos, jogos e brincadeiras de matriz africana, quando eu falo em África, o que vêm na mente de vocês? Quais imagens remetem? Quais imagens aparecem? Quais coisas que estão na nossa sociedade que são contribuições da matriz africana para identidade brasileira? Vocês conhecem algum jogo africano? Bom, antes de mais nada é importante lembrar das contribuições diversas que os africanos e africanas têm e tiveram na sociedade brasileira. Desde a música, dança, religiosidade, culinária, linguagem, movimento, artes. *Bloco de carnaval paulistano ILU OBA DE MIM Algumas manifestações culturais comumente não são muito abordados, principalmente por representar produções que vem desde um período em que a população africana havia sido escravizada e foi trazida para o Brasil a força, trabalhando no regime da escravatura. Trouxeram também diversas outras contribuições no campo do trabalho, a manipulação dos metais, a mineração, a tecelagem, o trato com os animais, são várias as contribuições técnicas do trabalho. Não diferentemente das demais citadas acima, a contribuição na cultura do brincar estão espalhadas na nossas comunidades. Ela influenciam as nossas práticas corporais, nossos modos de se relacionar e brincar, às vezes essas contribuições não estão marcadas com a identidade da matriz africana, muito por conta da apropriação cultural dos colonizadores. E por isso nós estudamos, investigamos e devemos atribuir as devidas referências às origens de onde vêm. Um exemplo que trago aqui é o jogo Cinco Marias. A explicação da origem e de como jogá-lo nesse vídeo que publiquei no portal do Sesc Sorocaba: *Link do vídeo: https://www.instagram.com/tv/CHknK3Bsb2c/?utm_source=ig_web_copy_link/ Edição da educadora Maria Angélica Àse/ Animação do educador Aggeu Luna Vocês sabiam que essa tradicional brincadeira é na verdade um jogo oriundo do continente África, mais especificamente de Moçambique? Esse país também se fala a língua portuguesa, como a gente, aqui no Brasil. O jogo das "cinco marias tem seu nome original de Matacuzana. ¹ Maria Angélica Àse é inventora e pesquisadora de jogos de tabuleiro com temática afro-brasileiras e indígenas. Especialista em Jogos e Brincadeiras afro-brasileiras e africanas pela UFSCar - Educação Física escolar. Brincante e educadora de crianças e jovens. *Dica* Várias dicas de brincadeiras africanas no livro "O Direito de Brincar: Guia Prático Para Criar. Oportunidades Lúdicas e Efetivar o Direito de Brincar". É possível baixar gratuitamente em https://www.ipabrasil.org/publicacoes Referências: •https://www.sescsp.org.br/online/artigo/14603_POR+QUE+E+TAO+IMPORTANTE+FALAR+SOBRE+EDUCACAO+ANTIRRACISTA •http://chc.org.br/acervo/matacuzana-o-que-e-isso-2/#:~:text=A%20matacuzana%20%C3%A9%20um%20jogo,Ent%C3%A3o%2C%20vamos%20brincar%3F! • https://acervodigital.ufpr.br/handle/1884/51372 • Livro: Kakopi, Kakopi: Brincando e jogando com as crianças de vinte países africanos | por Rogério Andrade Barbosa (Autor), Marilia Pirillo (Ilustrador)

  • SER PRESENÇA E ESCUTA DIANTE DAS CRIANÇAS

    - Renata Laurentino ¹ - Há algum tempo escuto sonhos, em diferentes lugares e contextos. Adoro ouvir e realizar sonhos com as crianças e com suas comunidades. Algumas vezes quando estou diante de um sonho infantil, tenho que fazer um esforço para acreditar que é possível realizar o que aquela criança está me contando com palavras e com todo o corpo. As crianças têm uma capacidade incrível de descrever o que elas imaginam. Tenho dentro de mim, que tudo que imaginamos, existe em algum lugar, portanto, é possível de ser materializado. Ouvi esses dias de Lydia Hortélio ( Pesquisadora e educadora) , que quando estamos diante de uma criança, estamos diante do novo, do mais avançado… As crianças chegam para nos contar a novidade, apontam para o que desconhecemos, trazem consigo a inovação. A presença e a escuta são tudo que podemos oferecer para quem está chegando nesse mundo, disse minha amiga, Emi Tanaka (escutadora de crianças) esses dias. Luísa Leme (arquiteta e observadora de crianças), me contou que ao receber as crianças que ela cuida, não tem nada preparado. Porque é seguindo o movimento dos corpos, e os olhares, que ela entende em que direção ela deve seguir no encontro. Adriana Friedmann (educadora e antropóloga) não cansa de dizer que agora “ É a vez e a voz das crianças". Nos últimos anos a humanidade abriu o centro do círculo para as crianças brincarem. Parece tarefa simples, mas não tem sido. Estamos nos distraindo com coisas desimportantes, complicando, dificultando e nos enrolando na relação que temos com as crianças e com a gente mesmo. Desconfio que se formos capazes de honrar e valorizar a presença das crianças em nossas vidas, respeitar seus tempos, seus processos de aprendizagem, ouvir seus corpos e suas vozes, teremos a oportunidade de reconstruímos nossa humanidade saudável. Eu vim aqui contar sobre algo extraordinário que aconteceu comigo nos últimos meses, durante esse caos pandêmico. Eu tive tempo de escutar… Escutei o céu, pude observar a dança das nuvens, vi o trânsito dos pássaros, observei o nascer e o pôr do sol, vi a diversidade de cores que esse movimento todo tem. Escutei as plantas, percebi como elas reagem a cada período do dia, como bailam o tempo todo com o vento e com sol, como brotam e como se entregam de novo pra terra. Escutei as pedras, senti suas temperaturas, seus desenhos, cores e formas. Escutei as águas, nas bacias, nas tempestades, nas garoas, nos subsolos da casa e das ruas. Escutei os gatos, cachorros, pássaros, insetos... Tudo isso foi possível, porque eu estava acompanhada e me permiti ser guiada por uma bebe de 2 anos, que a todo tempo está em diálogo atento e simples com tudo que estava ao redor. Minha filha e as crianças têm presença nas relações. Trazem consigo uma capacidade imensa de apreciar detalhes, invisíveis aos olhos de adultos distraídos com tudo e mais um pouco. Fico o tempo todo pensando quanta energia dedicamos a “distrair” as crianças, de preferência se essa distração deixá-las quietinhas para que possamos seguir fazendo o que quisermos, sem elas. As crianças chegam no planeta convidando a gente para o simples, para a apreciação da natureza que somos, para olharmos a vida por outros ângulos, para o encontro genuíno. Na utopia que me move, acredito que as crianças são nossos guias para nossas micro e macro transformações internas e externas. Ao escrever isso, não estou querendo colocar nenhuma responsabilidade de transformação nas costas desses pequenos seres que acabaram de chegar. Não acho que o futuro seja as crianças, muito pelo contrário, elas são o Presente. A responsabilidade é coletiva, somos nós seres mais vividos no planeta, que temos a oportunidade de abrirmos espaço e tempo para escutarmos, cuidarmos e estarmos uns com os outros. Vamos precisar de coragem para desapegar de padrões que nos distanciam, e começar a desenhar cotidianos possíveis, que nos aproximam. Voltar a fazer escolhas para a integração, e não para a separação. Como diz aquele conhecido ditado africano : É preciso uma aldeia inteira para cuidar de uma criança. Se todas as pessoas adultas da nossa comunidade estiverem sendo cuidadas de forma integral, nossas crianças estarão. Que venha o novo ciclo, que possamos aprender e crescer guiados pelo cuidado comunitário ___________________________________________________________________________________ ¹ Renata Laurentino (@renatalaurentino) é arte-educadora, brincante, contadora de histórias e pesquisadora das Infâncias. Nos últimos 8 anos trabalhou com o Instituto Elos e na Acupuntura Urbana, desenvolvendo e facilitando projetos com participação comunitária em diversas regiões do Brasil. Atualmente íntegra o coletivo "Nutrição para Imaginação" e o coletivo "A vez e a voz das crianças". E atua como consultora em escolas públicas e particulares com o objetivo de fortalecer a comunidade escolar através de ações e projetos realizados de forma coletiva.

  • INTEGRAÇÃO E INCLUSÃO: DO QUE ESTAMOS FALANDO?

    - Mina Regen - Nas marchas e contramarchas da história do ser humano, podemos observar que a forma pela qual temos lidado com as pessoas com deficiência varia de acordo com os padrões e normas vigentes na sociedade em que se inserem, bem como no modo pelo qual nós, cidadãos, conseguimos lidar com as diferenças. Assim, se na antiga Esparta, as crianças com deficiência eram eliminadas em nome do culto ao corpo e de uma sociedade guerreira, os romanos, mais tolerantes, expunham-nas em festividades. Se no princípio da Era Cristã, elas ganharam alma e eram protegidas por entidades religiosas, que lhe davam abrigo e assistência, na Idade Média, durante a Inquisição, milhares de pessoas com deficiência mental foram eliminadas por não terem sido capazes de se defender das acusações de heresias (Pessotti, 1984). Ainda em meados do nosso século, outro tanto foi eliminado durante a Segunda Guerra Mundial, em nome da purificação da raça humana. O que leva o ser humano a ter tanta dificuldade para lidar e aceitar o diferente, o que sai do assim chamado padrão de normalidade? Segundo Marques (in Mantoan e col., 1997) talvez um dos fatores possa estar localizado em seu processo de identificação e individuação. Neste, o ser humano busca, em sua relação com o outro, identificar o que lhes é comum e o que lhes é diferente, ou seja, é o outro quem lhe permite reconhecer-se como indivíduo, possibilitando o seu ajustamento à sociedade. Portanto, se o auto-reconhecimento é construído a partir dessa relação, necessário se faz que haja um certo equilíbrio entre semelhanças e diferenças, ou seja, o outro não pode se afastar muito dos padrões tidos como normais naquela realidade. Se houver uma identificação total de um indivíduo com o outro, isto acarreta a perda de sua própria identidade e, portanto, a perda de si como ser humano. Outrossim, no caso de se reconhecer no outro uma diferença exagerada, isto também acarreta a desestruturação do indivíduo e o sentimento de perda de sua própria humanidade. Daí a grande dificuldade do ser humano de se confrontar com a diferença alheia. O conflito que surge daquilo que ele é com o que ele pode vir a ser, faz com que apresente comportamentos negativos frente as diferenças. Outro fator, de acordo com Sassaki (1997) que deve ter influenciado muito essa atitude negativa frente a pessoas com deficiência talvez seja o modelo médico de atendimento a suas necessidades. Durante séculos esse modelo contribuiu para que elas fossem consideradas como doentes, designando-lhes um papel de seres desamparados e passivos, dependentes de cuidados alheios e incapazes para o trabalho, levando vidas inúteis e sendo consideradas “inválidas”. Somente em meados deste século, mas ainda conservando o modelo médico, foram criados os Centros de Habilitação ou de Reabilitação, com o objetivo de tentar melhorar as pessoas com deficiência e adequá-las aos padrões da sociedade. Mas o fazem de forma segregada, decidindo por elas e não com elas; não se lhes oferece modelos diferentes, não se lhes permite opções. Estes Centros assumiram um duplo papel social: se por um lado realizam um trabalho que visa proteger e preparar esses indivíduos para uma possível integração na sociedade, por outro estão reforçando a sua identificação e segregação, mantendo-os à margem do contexto social. E vão se tornando cada vez mais especializados por tipo de deficiência, tentando prover-lhes todos os serviços necessários: médicos, odontológicos, educacionais, profissionalizantes, de lazer e de esportes, já que os serviços existentes na comunidade não os aceita como usuários. Na década de 60 vários fatores contribuem para que as questões relativas as pessoas com deficiência se evidenciem: na eleição de Kennedy como presidente dos Estados Unidos, sendo ele irmão de uma portadora de deficiência mental; na criação da Liga Internacional das Associações Pró Pessoas com Deficiência Mental na estreita relação que essa Liga estabelece com a ONU e o nível de assessoria que consegue junto à UNESCO e à Organização Mundial da Saúde. Em 1968, a Assembleia Geral da Liga aprova a Declaração dos Direitos Gerais e Especiais dos Deficientes Mentais e 3 anos após, em 1971, ela é adotada pela ONU. Começa-se a falar em “normalização” , que defende a idéia de que todas as pessoas com deficiência, principalmente aquelas com deficiência mental, têm o direito de experienciar um estilo ou padrão de vida comum à sua própria cultura. No início, isto foi confundido com a noção de tornar normais pessoas com deficiência. Posteriormente, passou a significar oferecer-lhes modos e condições de vida diária, o mais semelhante possível, às formas e condições vigentes na sociedade. Para Sassaki, isto significava “criar para pessoas atendidas em instituições ou segregadas de algum modo, ambientes o mais parecido possível com aqueles vivenciados pela população em geral”. Para Marques (1997) a Educação Especial espelha-se nas Instituições ao criar escolas e classes especiais, contribuindo para que as crianças com deficiências sejam facilmente identificadas e mantidas afastadas do convívio com as outras crianças, quer na escola, quer na sua vizinhança. As classes especiais, dentro das escolas comuns, funcionam muito mais para impedir que esses alunos interfiram no ensino e não tragam problemas aos professores, impedindo-os de ensinar adequadamente o resto da classe. Chega-se ao extremo de enviar para a classe especial crianças com distúrbios de aprendizagem e com problemas meramente comportamentais, já que estas perturbam o bom andamento da classe comum. As classes especiais se localizam nos piores lugares dos colégios, seus alunos permanecem totalmente segregados e tratados de forma pejorativa, e os professores são considerados ora como heróis, ora como coitados. Segundo Ture Jonsson (1997), o termo tradicional Educação Especial é usado para descrever a educação de alunos com deficiências, realizada inteiramente fora da educação regular, dentro de um sistema escolar paralelo. Na década de 80, o lema do Ano Internacional das Pessoas Deficientes, “Participação Plena e Igualdade”, começa a despertar em alguns segmentos da sociedade, em vários países, o reconhecimento da necessidade de se deixar de enfocar somente a adaptação das pessoas com deficiência à sociedade, mas começar a verificar no que esta poderia se adaptar a elas. Na área da Educação Especial surge o princípio do “mainstreaming”, que visa a levar os alunos a frequentarem, o mais possível, os serviços educacionais disponíveis na comunidade. Para alguns, isto significou a colocação de alunos com deficiência em classes regulares, com apoio a suas necessidades específicas; para outros, ele participaria apenas de alguns momentos específicos, como almoço, atividades de expressão artística e esportivas. Trata-se de um passo a mais em direção a Integração, pois elas passam a frequentar a escola comum, embora em muitos casos não passe de uma simples colocação física. Tanto a Normalização quanto o Mainstreaming constituem importantes campos de experiências no que diz respeito a Integração. Mas trata-se de um movimento unilateral, em que a pessoa com deficiência deve, com o auxilio da família, do Centro de Habilitação ou outro recurso educacional, adequar-se ao meio em que vive. Este tipo de integração pouco ou nada exige da sociedade quanto a modificação de atitudes, de espaços físicos ou de práticas sociais. Na década de 90, a aprovação pela ONU e outras organizações do documento Normas sobre a Equiparação de Oportunidades para as Pessoas com Deficiência propõe a mudança de paradigma e vem reforçar a idéia de uma sociedade para todos, afirmando que estas devem receber todo o apoio de que venham a necessitar dentro das estruturas comuns de educação, saúde, emprego e serviços sociais. Os Centros de Vida Independente começam a ganhar força e alguns conceitos inclusivistas começam a ser discutidos e esclarecidos, quais sejam, autonomia, independência e empowerment. Segundo Sassaki, para os participantes do movimento de pessoas com deficiência, autonomia significa a condição para o domínio no ambiente físico e social, garantindo ao máximo a privacidade e a dignidade da pessoa que a exerce, e o grau de autonomia vai depender da relação entre as possibilidades da pessoa e a realidade físico-social em que vive. Já por independência, entendem que seria a condição de tomar decisões, quer pessoais, sociais ou econômicas, sendo necessário que os pais e educadores lhe ofereçam oportunidades para que aprendam a fazer opções desde a mais tenra infância. Quanto ao termo empowerment é utilizado para denominar o processo pelo qual uma pessoa, ou um grupo de pessoas, faz escolhas, toma decisões, ou seja, assume o controle de sua vida, fazendo uso de seu poder pessoal, inerente à sua condição - cor, gênero, idade, deficiência. Na área da Educação, a Declaração de Salamanca, apoiada pela UNESCO, constitui peça fundamental na evolução do pensamento e das práticas relativas à educação de crianças com necessidades especiais, ou seja, no que diz respeito a Educação Inclusiva. Segundo esta, a inclusão não é só uma questão de “acesso” , mas, principalmente, de “qualidade” e representa, portanto, um grande desafio para as escolas regulares ou comuns, que estão sendo chamadas a levar em conta uma ampla diversidade de características e necessidades dos alunos, adotando um modelo de educação centrada na criança. O princípio fundamental da escola inclusiva é que todos os alunos, sempre que possível, devem aprender juntos, independentemente de suas dificuldades ou diferenças. Para Ture Jonsson, a Educação Inclusiva é um sistema de apoio flexível e individualizado para crianças e jovens com necessidades educacionais especiais, devido a uma deficiência ou por outras razões. Trata-se de reconhecer e responder à diversidade das necessidades e capacidades das crianças, respeitando-se suas formas e ritmos de aprendizado. Para tanto, deve-se utilizar métodos de ensino individualizados, currículos adaptados, bem como auxiliares de ensino e outros materiais necessários. Preconiza-se que essas escolas inclusivas devam constituir a base para a construção de uma sociedade orientada para as pessoas, respeitando-se as diferenças e a dignidade de todos os seres humanos. Elas se constituem em passo crucial para a mudança de atitudes discriminatórias, para se criar comunidades abertas e para se desenvolver uma sociedade integradora. Não podemos nos esquecer, porém, que a primeira célula social da qual o indivíduo faz parte e principal formadora de sua personalidade é a família. Esta, comumente, tem a sua dinâmica abalada pela presença de uma criança com deficiência, necessitando auxílio para superar as várias fases por que passa em seu processo de compreensão e aceitação desse filho diferente. Na verdade, a inclusão deve ser iniciada na família, sendo necessário que haja uma atitude positiva e tarefas compartilhadas por pais e educadores. É preciso que as famílias também acreditem na possibilidade de seus filhos frequentarem creches, pré-escolas e escolas regulares e que sejam capazes de atitudes de mobilização da comunidade em geral. Caso contrário, continuarão a encontrar barreiras por parte de pessoas desinformadas e preconceituosas. Para Mantoan (1997) a preparação adequada do pessoal do ensino regular é imprescindível para que se consiga o êxito desejado, pois aos educadores cabe o papel principal como administradores do processo educacional, apoiando as crianças mediante o emprego de recursos disponíveis, tanto dentro como fora das escolas. Mas somente preparação adequada, boa vontade e dedicação dos educadores não é suficiente para algumas crianças com deficiência. É preciso haver um sistema de apoios e serviços que possam auxiliá-las a superarem dificuldades específicas. Os especialistas terão que assumir novos papéis e responsabilidades junto aos recursos educacionais inclusivos, assessorando-os em suas necessidades. Quanto as escolas especiais e Centros de Habilitação, dada a grande experiência acumulada, poderão se tornar Centros de Recursos ou de Referência, oferecendo ajuda direta às crianças com deficiência, ou indireta, ministrando cursos de formação de pessoal e provendo recursos e materiais específicos necessários. A adoção do modelo inclusivo de educação exige uma mudança radical do nosso sistema educacional, e tem sido alvo de críticas: alguns educadores não acreditam que esse modelo seja adequado a todos os alunos, principalmente para aqueles que apresentam déficits mais importantes; outros, ainda, consideram que um professor de classe regular não é capaz de responder às necessidades de todos os alunos; isto sem levar em conta os medos e resistências em relação ao lidar com crianças com deficiências. Trata-se, portando, de um processo a ser iniciado utilizando-se instrumentos de sensibilização e mobilização, envolvendo não só os educadores, mas os pais, as próprias pessoas com deficiência e toda a comunidade, já que a inclusão, mais que um novo modelo de serviço na área educacional, implica em um novo contexto sociocultural neste século XXI. Infelizmente, o que estamos assistindo no momento é um grande retrocesso a esse tipo de ensino inclusivo, mediante a ideia da criação de classes especiais para as crianças com deficiência, defendida pelo Ministério da Educação. BIBLIOGRAFIA Pessotti, I. – “Deficiência Mental: Da Superstição à Ciência) – EDUSP S.Paulo, 1984 – p.3-27 Marques, C.A. –“ Integração: uma via de mão dupla na cultura e na sociedade” - in Mantoan, M.T.E. e col - “A Integração de Pessoas com Deficiência - Contribuições para uma reflexão sobre o tema” - MEMNON Edições Científicas Ltda. - São Paulo – 1997 – p.18-23 Jonsson, T. - “Inclusive Education” - Interregional Programme for Disabled People - United Nations Development Programme - 1994 - Trad. Maria Amélia Vampré Xavier - Diretora para Assuntos Internacionais da FENAPAEs - 1997 Sassaki, R.K. - “INCLUSÃO - Construindo uma sociedade para todos” WVA Editora e Distribuidora Ltda. - Rio de Janeiro – 1997 Mantoan, M.T.E. – “Inclusão escolar de deficiente mentais: que formação para Para os professores? – in “A Integração de Pessoas com Deficiência – Contribuições para uma reflexão sobre o tema” MEMNON Edições Científicas Ltda. – São Paulo – 1997 – p.119-127

  • O BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

    - Tamara de Assis Lima Lourenço - O brincar na Educação Infantil deve ser levado a sério, pela equipe gestora, professores e pais/responsáveis. Além de ser um direito da criança, constituiu-se numa ferramenta facilitadora para a aprendizagem integral da criança. Nossas crianças podem brincar entre crianças da mesma faixa etária ou de faixas etárias diferentes, com adultos como: pai, mãe, avó, avô, tios ou com qualquer pessoa do seu convívio social. Essas interações promovem a construção da identidade infantil e favorecem o desenvolvimento. A cada dia que passa nossas crianças tem ficado mais tempo em unidades de ensino. O que os documentos norteadores da Educação Infantil falam sobre o brincar? De que forma podemos brincar nesses ambientes? Como o brincar pode favorecer um desenvolvimento integral e saudável? Durante o período que exerci o cargo de professora em uma Instituição de Educação Infantil não compreendia o brincar e nem tinha conhecimento sobre a sua importância no processo do desenvolvimento infantil. Aplicava as brincadeiras como forma de passar o tempo quando não tinha outra atividade programada .Eu enxergava a brincadeira como um prêmio para o bom comportamento e como um momento para entreter as crianças enquanto eu realizava outras tarefas como, relatórios e organizava outras coisas na sala. Com o tempo fui chamada para compor a equipe gestora nessa mesma instituição. Então vi a necessidade de me aprofundar em alguns temas .O brincar foi um deles, minha concepção sobre o brincar mudou e comecei a ter um novo olhar para o brincar na Educação Infantil. Comecei a observar mais as professoras e pude concluir que as brincadeiras e o ato de brincar estava inserido nesse ambiente, mas não da forma que deveria estar. O brincar era para o momento de distração ou somente liberado na hora do parque, faltava tempo, espaço e materiais para a promoção do brincar. Gerando ansiedade e agitação nas crianças. Reuniões e cursos realizados na Diretoria de Ensino me auxiliaram muito. Documentos norteadores foram criados e outros incluíram o brincar , trazendo base para uma Educação Infantil voltada para a criança e o brincar. Mesmo com tantas pesquisas e estudiosos que falam sobre o brincar e nos traz riquíssimas aprendizagens ,ainda falta muito para que as escolas ofereçam um brincar de qualidade para as nossas crianças. O Referencial Curricular para a Educação Infantil entende a brincadeira como uma linguagem infantil. Na brincadeira as crianças assumem papeis e ressignificam experiências vividas no seu cotidiano. No ato de brincar os sinais, os gestos, os objetos e os espaços valem e significam outra coisa daquilo que aparentam ser. Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhe deram origem (RCNEI 1988, pág 27) Já nas Diretrizes Curriculares o direito a brincadeira entra como objetivo da proposta pedagógica das instituições de educação infantil. Tendo assim as interações e as brincadeiras como eixos estruturantes das práticas pedagógicas. A Base Nacional Comum Curricular coloca o brincar como um dos seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Todos esses documentos compreendem que o brincar deve fazer parte da vida das crianças dento das Unidades de Ensino. Estabelecendo assim condições para um desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social. As Unidades de Educação Infantil devem propiciar às crianças momentos de interação, seja com crianças, adultos ou materialidades. Oferecendo a possibilidade de um brincar rico e prazeroso. O Currículo da Cidade revela a brincadeira como diferentes ações das crianças que envolve o lúdico. Toda rotina escolar pode ser transformada numa brincadeira, todo ambiente escolar deve ser pensado e estruturado para o brincar. Referente aos espaços, o Currículo da Cidade nos revela: Em quais espaços e durante quanto tempo os bebês e crianças brincam? Em todos os espaços e com o que eles contêm. Por isso é importante oferecer às crianças ocasiões para explorar e experimenta diferentes possibilidades e modos de interpretar os espaços, os mobiliários e os materiais. (2019,pág 97) Sendo assim, o ambiente escolar pode oferecer as crianças diversas experiências e diferentes tipos de brincar/brincadeira. Temos brincadeiras de movimento, tradicionais, as que envolvem fala, faz de conta e as que envolvem papéis sociais. Quando falamos sobre o desenvolvimento integral da criança, colocamos em pauta os aspectos: físico-motor, intelectual, afetivo-emocional e social. A brincadeira tem o poder de englobar todos esses aspectos. Tornando-se um veículo que leva a criança ao desenvolvimento. O ato de brincar cria vínculos afetivos, produz troca de experiências, leva a criança a pensar, imaginar, recriar, a conhecer o seu corpo, a desenvolver linguagens, a expressar sentimentos, aguça os 5 sentidos, coloca a cultura local em evidência e por fim traz alegria e esperança. Não tem como não pensar no brincar como um meio de viver a vida de forma saudável e feliz. Voltando um pouco a falar sobre o criança e a escola, nos tempos atuais, as crianças têm frequentado cada vez mais cedo as escolas e o tempo de permanência tem aumentado. Deixando uma responsabilidade muito grande sobre os ombros dos educadores. Cabe a nós apresentarmos o brincar e seus benefícios para as crianças, pais/responsáveis. Sabendo que para um desenvolvimento saudável é necessário um brincar de qualidade. Segundo o Manual de Orientação Pedagógica: Brinquedos e brincadeiras de creches. A introdução de brinquedos e brincadeiras na creche depende de condições prévias como :aceitação do brincar como direito da criança; compreensão da importância de brincar para a criança, vista como um ser que precisa de atenção, carinho, que tem iniciativas, saberes, interesses e necessidades; criação de ambientes educativos especialmente planejado que ofereçam oportunidades de qualidade para brincadeiras e interações e desenvolvimento da dimensão brincalhona da professora. Conclusão Levando-se em conta o que foi mencionado, entendemos que o brincar/brincadeira é citado nos documentos norteadores para a Educação Infantil e é compreendido como direito da criança e deve ser praticado em todos os ambientes das Unidades. Mas compreendemos que a escola deve se esforçar para que o brincar seja praticado e entendido por todos como fundamental para a vida das crianças. O brincar também é necessário entre pais ,filhos ,familiares, enfim, todos devem brincar. Para tanto não basta só compreender os benefícios, é preciso tempo, espaço e materiais que vão auxiliar num brincar de qualidade. É necessário que essas unidades estimulem e dê acesso as brincadeiras, pois elas oferecem o desenvolvimento integral da criança. Bibliografia São Paulo. Secretaria Municipal de Educação. Coordenadoria Pedagógica. Currículo da Cidade: Educação Infantil. São Paulo: SME / COPED, 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília,1998. BRASIL. Ministério da Educação. CNE/CEB. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil. Brasília, 2009. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular Brasília, 2019. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Brinquedos e brincadeiras de creches: manual de orientação pedagógica. Brasília. MEC/SEB,2012.

  • A criança e a natureza

    - Rosemeire Castilho dos Santos Feitosa - Como utilizar a natureza nas brincadeiras das crianças? Bom, sou professora na educação infantil, trabalho em uma escola Municipal da Prefeitura de São Paulo, onde há uma grande área livre com elementos da natureza que eu observava que era pouco explorada pelas crianças, então comecei a trabalhar com elas através de leituras (em sua grande maioria indígenas) sobre quantas possibilidades encontramos na natureza para brincar. Aos poucos fui introduzindo em nossa rotina, atividades que poderíamos desenvolver na área externa da escola, utilizando assim esses espaços e dando a oportunidade para as crianças melhor explorarem. Uma leitura me chamou a atenção por falar sobre o Brincar e a Natureza, foi o texto de Tim Gill : Crianças no espaço público são grandes ativadoras de comunidades”. Neste texto ele fala sobre a experiência de sua filha que gostava de frequentar a parte dos fundos da creche à céu aberto, que aos olhos da menina se transformava em uma floresta, isto me fez lembrar sobre o parque de areia que tem em minha escola, parque este que as crianças simplesmente amam e onde eu consigo fazer vários registros de observação das brincadeiras que lá acontecem, e são sobre algumas dessas observações que gostaria de falar aqui. Talvez para muitos que simplesmente olhem as crianças ali brincando nada verão além de crianças, mas para mim que estou ali atenta a cada gesto, atitudes e falas , consigo enxergar como esse brincar livre e com elementos da natureza é importante no desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Ali eu vejo tudo acontecer! A imaginação das crianças é incrível! Abaixo farei alguns breves relatos de algumas brincadeiras que já presenciei neste espaço: Cena 1 : De longe observo alguns meninos pegando a areia e jogando sobre a parede e alisando-a, então me aproximo e pergunto : Miguel o que você está fazendo ? Ele sem parar o movimento me responde : Eu sou pedreiro, tô construindo uma parede ! Então eu pergunto : E onde você aprendeu ? Ele : eu vejo meu vô construindo. Cena 2 : Maria Isabelle com um pote com areia e água, e uma colher de pau mexendo , ao me aproximar ela diz : Olha prô eu tô fazendo um bolo de chocolate igual a minha mãe faz ! Cena 3: Caio se aproxima de mim com um pote na mão cheio de areia e todo eufórico ele diz : Olha professora eu inventei uma máquina de fazer comida, faz arroz, feijão, carne , o que você quiser. Cena 4: Observo Isadora ali toda concentrada fazendo uma marcação de um espaço com a areia, ao me aproximar eu pergunto : O que fazes Isa? Ela olha pra mim e responde : Tô fazendo o castelo da princesa! Cena 5: Observo algumas crianças fazendo um bolo de areia e decorando com folhas e flores que haviam ali pelo chão e ao final elas colocam um galho seco e todas cantam parabéns para uma colega ( era seu aniversário ). É possível observar através destas cenas quantas aprendizagens acontecem durantes as brincadeiras e que, portanto, o brincar é fundamental para o desenvolvimento de uma criança. Segundo Gil “ aproximar a criança da natureza traz benefícios tanto para o desenvolvimento infantil como para a manutenção do meio ambiente “, isso fica claro quando observamos elas brincando, através do faz de conta elas expressam experiências de seu cotidiano nas brincadeiras. Considero esse contato da criança com a natureza muito importante, pois vejo que hoje a maioria das crianças quase não brincam mais assim, muitas moram em apartamento ou em casas sem quintal o que acaba as afastando destas experiências e desse contato com a natureza. Bibliografia: TIM GIL: CRIANÇAS NO ESPAÇO PÚBLICO SÃO GRANDES ATIVADORAS DE COMUNIDADES ____Reportagem de Danilo Mekari e Pedro Ribeiro Nogueira Link: https://educacaoeterritorio.org.br/reportagens/tim-gill-criancas-no-espaco-publico-sao-grandes-ativadores-de-comunidades/

  • A MEMÓRIA DO BRINCAR COMO PROCESSO

    - Mayla Letícia Monteiro Ferreira - De modo geral o brincar é bastante estudado por profissionais das áreas da educação, saúde, sociologia, entre outras; tendo um importante viés na defesa do brincar como um direito essencial da criança. Se observa, pensa e organiza ideias para reforçar quais benefícios, aprendizagens e sinapses acontecem enquanto a criança, despretensiosamente, brinca. Muitos outros caminhos de pesquisa também se enveredam para a qualidade do brincar, como o adulto oferece suporte sem que a criança perca a autonomia; assim como as transformações das brincadeiras, as transições do brincar com o crescimento e a mudança das cidades. Nessas proposições os benefícios encontrados são relacionados diretamente à qualidade de vida dos pequenos. Então, o que acontece ao adulto quando se propõe entrar em contato com as próprias memórias do brincar?; Como estas lembranças, por vezes tão distantes, atuam sobre o presente? A memória do brincar do adulto beneficia apenas à criança? Quais são os processos que se reconstituem quando há abertura para as memórias de felicidade ou de desafios do período em que brincar era a premissa? Intencionada a entrar em contato com as questões postas – remexer memórias, a pesquisa propõe a interação com outras pessoas que se disponham dividir suas lembranças e emoções. Borrar fronteiras entre passado e presente, compartilhando grãos do impacto que a memória do brincar possui na constituição do adulto. A proposta não anseia se tornar mensurável, mas destacar, se existirem, trechos onde os próprios entrevistados apresentem a intersecção entre o gesto da criança perpassando para a ação do adulto. De formulação simples, colocamos duas questões: 1. Quais brincadeiras você fazia na infância? 2. Em algum momento em sua vida você se esqueceu de que já havia brincado dessas formas? - Se sim; como foi retomar essas lembranças?; - Se não; de que forma isso se manteve ligado contigo? Experiências pessoais As pessoas serão apresentadas com as iniciais de seus nomes reais e a idade que possuíam no dia em que foram entrevistadas, seu sexo de nascimento, assim como a cidade que passaram a infância. Em tempos de pandemia, as conversas se deram através de aplicativos de trocas de mensagens e redes sociais. J.S., 36 anos, feminino. Quilombo Bom Jesus dos Pretos, Cândido Mendes/MA 1. Pedrinha (três marias); taco; caiu no poço; boi bumbá; jogar bola; subir em árvere; cobra cega; corre trás de bicho. 2. Sim, fui retomando essas memórias a partir de 2010, que foi quando eu entendi que eu era uma mulher negra. Então eu passei a partir desse momento resgatar essas memórias. E pesquisar, e retornar pro meu passado, conversar com os meus avós, conversar mais com os mais velhos da minha família. E também o resgate ancestral consciente. Eu nunca esqueci essas brincadeiras, (...) eu só deixei de vivenciar essas brincadeiras a partir do momento da migração. Então era preciso eu me readaptar e viver outra realidade, readaptar em periferia de São Paulo. Viver da maneira que se brincava, com os costumes desse lugar novo, porque as minhas memórias, os meus costumes, as minhas maneiras de brincar já não tinham mais espaço, porque eu vivia numa região rural, de mata, Amazônia. Outra realidade que permitia viver brincadeiras de maneiras diferentes, migrei para a periferia de São Paulo, pra viver num apartamento com dois quartos, ruas com carros, e outra maneiras de viver. Me adaptar ao barulho da cidade, a maneira como as pessoas viviam suas vidas e eu fui viver essas brincadeiras locais, a partir dessa minha data. (veio para São Paulo com 11 anos de idade). A.C., 32 anos, feminino. Ventania, Castro e Guarapuava/PR. 1. Brincava de fazendinha, usava laranja e outras frutas que davam nas árvores que tínhamos e colocava palito de fósforo pra fazer as pernas. As raízes das árvores a gente limpava e viravam cercados para os animais que fazíamos com as frutas. Eu também brincava de andar, andar mesmo... estilo aventura, nessas eu pensava/imaginava coisas que me distraíam, também cantava. Mas o que mais eu gostava de fazer era de macetar coquinho, passava horas “catando coquinho “ e depois eu levava embaixo das jabuticabeiras, tínhamos 7, e lá tinha uma pedra bem grande que parecia um banco e eu sentava no chão e ficava lá pensando e conversando sozinha. Pra mim era uma espécie de brincadeira, coisa de criança. Fora isso, gostava de subir em árvores e de colecionar as pedras que eu achava. 2. Sempre lembrei. Sempre esteve em tudo que eu faço porque eu pensava demais, eu praticamente criava tudo na minha cabeça e isso se manteve comigo todo o tempo. Até as músicas que eu ouvia e gostava, muitas eu ainda canto e ouço. M.V., 40 anos, feminino. Presidente Prudente/SP. 1. Subia em árvores, fazia desenhos com pedras no asfalto, transformava objetos em brinquedos, corda, queimada, esconde-esconde, pega-pega, colecionava papel de carta, brincava de casinha, escolinha, teatro....(São muitas coisas). 2. Não esqueci, minha infância foi muito marcante pra mim. Eu era uma criança solta na rua. Agora com minha filha, estamos resgatando algumas e criando novas brincadeiras. M.O., 66 anos, feminino. São Paulo/SP. 1. Comidinha; casinha. 2. Até hoje gosto de cozinhar, passando horas na cozinha. P.F., 27 anos, feminino. Pedra do Anta/MG. 1. Brincava de casinha; Pega-bandeira; Esconde-esconde; Polícia e ladrão. 2. Sim, tive uma sensação muito boa. Como se o brilho da infância voltasse a fazer parte de mim. Fiquei feliz em relembrar este sabor de leveza de não ter que se preocupar tanto com os problemas. Foi bem interessante fazer essa revisitação. B.B., 25 anos, feminino. Curitiba/PR. 1. Pega-pega; esconde-esconde; pular elástico; pular corda; jogar taco/bets; carrinho de rolimã; brincar de casinha, de escola, de loja/livraria/mercado; jogar videogame; pintar. 2. Nunca. Sempre me lembro das brincadeiras e/ou outras atividades recreativas que fiz, por ter sido uma época muito divertida e que aproveitava intensamente aqueles momentos. Quando tenho oportunidade, aliás, tento trazer ou ressignificar algumas delas para os dias e as crianças de hoje. B.C., 30 anos, feminino. São Paulo/SP. 1. Muitas! Brincava de casinha, de escolinha, de Pipa, de carrinho de rolimã, de queimada, esconde-esconde, bexiga d’água, elefante colorido, bolinha de gude, dança, escorregar no quinta molhado (água e sabão), escorregar no escorregador improvisado (escada do sobrado e o colchão), Barbie tb, rouba bandeira... 2. Acho que já aconteceu, mas por trabalhar com criança, costumo sempre comparar os tempos. Como era o meu brincar e o deles atualmente. Mas sempre é bom recordar. Foi uma fase muito feliz, mágica, com muitos machucados, mas muitas risadas e lembranças boas. Tenho certeza que aprendi muito nessa época. Meus avós e pais sempre preservaram muito em nós (minhas irmã e eu) o valor do brincar. Sempre! Então acredito ter vivido efetivamente essa fase. Me lembro de brincar por muito tempo, até uns 16 anos eu ainda tinha meu momento de brincar (mesmo já tendo novas responsabilidades). T.N., 36 anos, feminino. São Paulo/SP. 1. Taco; elefante colorido; esconde-esconde; duro ou mole; queimada; brincava muito na lama; subia em goiabeira; Perto da minha casa tinha também “rua de lazer” - a prefeitura fechava todo domingo. 2. Na correria do dia a dia a gente nunca lembra. A rua de lazer quase não lembrava mesmo. Adoro retomar essas lembranças de uma infância mais livre e com muita criança junta, por meio de fotos impressas, lembranças, conversas com primos. V.R., 31 anos, feminino. Rio de Janeiro/RJ. 1. Pular corda; pular elástico; montar Lego; subir em árvores pra fazer aventuras (tinha uma no quintal de casa e no Rio há muitas pracinhas com arborização antiga); pegar jacaré (surfar sem prancha, usando o próprio corpo); brincar de escolinha e comidinhas; brincar de Mangueira (fingir ser o desfile da escola de samba no quintal inventando tema e fantasia). 2. Não, porque foram brincadeiras muito presentes e constantes. Lembro delas quando falo da minha infância com o meu marido ou com meus primos que participaram de quase todas, algumas eu ainda faço com meu sobrinho e ainda subo em árvores e pulo corda mesmo sozinha. Tenho planos antigos de comprar um Lego, mas descobri só adulta que é um brinquedo muito caro. Nossa! Eu fico emotiva e saudosa de falar da infância. Foi muito, muito boa! Não é categorizado como brincadeira, mas eu trouxe totalmente pra vida adulta o gosto de montar árvore de Natal e decorar a casa pro aniversariante porque a família fazia isso junto. D.D., 33 anos, feminino. São Paulo/SP. 1. Guerra de Bexiga de água; Bets; Jogos de tabuleiro. 2. Esqueci quando comecei a trabalhar. Me sinto saudosista, com vontade de brincar de novo. E.M., 68 anos, masculino. Campinas e Santos/SP 1. Carrinho; patinete; cachorros. 2. Não esqueci, tenho essa ligação pelas coisas que gosto até hoje com carros, animais. W.M., 38 anos, masculino. Osasco e São Paulo/SP. 1. Eu brincava muito de pega-pega, ajuda-ajuda, esconde-esconde, rouba bandeira, passa anel, super trunfo, vídeo game, pipa, bicicleta, jogo de futebol, skates, patins. 2. Acho impossível esquecer algo que trazia tanta alegria! E sempre tem as principais, as top 10. A número 1 era pipa, a 2 rouba bandeira, etc. E traz muitas recordações de amigos de infância, família e irmão... coisas que a geração de hoje nunca saberá. D.B., 40 anos, masculino. São Paulo/SP. 1. Brincava muito de bola, esconde esconde, brincava com brinquedos bonecos e carrinhos. Dos meus 8 até os 14 só brincava na rua, morava em vila. De dia descíamos as ruas de carrinho de rolimã. 2. Sempre lembro das brincadeiras da minha infância, toda vez que vejo crianças de hoje no celular fico pensando “nossa, nessa idade eu estava brincando na rua com amigos!”. Me lembrei aqui agora, quando eu morava em Carapicuíba foi onde mais brincávamos na rua, ficávamos até tarde brincando de esconde-esconde. Felicidade, nostalgia pensar que hoje isso é muito mais difícil. L.S., 28 anos, masculino. Santos/SP. 1. Por ser uma cidade pequena e os amigos facilmente se encontravam, as brincadeiras da minha infância sempre foram as coletivas. Apesar de ser um pouco nerd e me entreter no videogame, brincava muito de pega-pega, esconde-esconde, ping-pong, taco, queimada, futebol, polícia e ladrão e por aí vai. 2. Essa é uma lembrança que dificilmente eu esqueço. Depois as brincadeiras amadureceram junto com a gente, sempre estive bem próximo dos meu amigos (...) aqui em sp é o mais faz falta no dia a dia”. C.B., 28 anos, masculino. Pelotas/RS. 1. Eu diria que passei por quase todas brincadeiras de criança em grupo: Pega-pega; Esconde-esconde; Caçador (com bola e na quadra); Cabra-cega; Lobo mau na floresta (aquela que canta "vamos passar na floresta enquanto Seu Lobo não vem”); Ovo podre (aquela que canta "ovo podre, está fedendo! Aonde eu coloco?”); Passa o anel (...); Telefone sem fio; Brincadeiras de ciranda diversas; Pular corda. 2. Não, eu lembro de todas as brincadeiras. Nenhuma me fez pensar "nossa, eu brincava disso?". Eu tive uma infância muito boa, sempre em contato com outras crianças desde o período de creche até depois de ser uma criança maior, brincando na rua do bairro com outras crianças também. Eu lembro de ser o auge da minha inocência e eu aproveitava muito isso, ria bastante, corria bastante, sempre estive no meio de muitas outras crianças, e eu não lembro de haver preocupação alguma nesses momentos ou durante minha infância. Eu acho que isso é que fez estas lembranças ficarem marcadas. Foi um momento muito feliz. H.B., 32 anos, masculino. Brasília/DF. 1. Brincadeiras de chão: Pique-esconde; pique-pega; amarelinha; rouba bandeira; queimada; passa anel; pular elástico. Jogos de tabuleiro. Videogame. Joguei futebol praticamente todos os dias na infância. Joguei vôlei, bola de gude, bater figurinha (bater bafo). Jogava pião. Brincava muito de bonecos e carrinhos de ferro, construía autódromos e casas com materiais que encontrava. 2. Lembrando agora, bateu uma sensação bacana, porque as brincadeiras me remetem as pessoas que brincavam comigo, e é gostoso lembrar. Lembrar de tanta gente que eu adorava, e tem gente que até hoje está ao meu lado brincando de alguma forma, fiquei meio saudosista... eu tive quase que uma lembrança física, da sensação de estar nos lugares, por ex. os lugares onde me escondia no pique-esconde. Brinquei muito nessa vida. E tinham muitas fases né?! Muitas infâncias, idades, etc. É legal pq eu lembrei de várias fases, locais, momentos. Na escola eram outras coisas diferentes, né?! E no condomínio, mais outras. Uma coisa que achei muito legal foi que mesmo até os 14/15 anos nunca teve separação de sexos. Brincava todo mundo junto. Queimada, vôlei (3 cortes). Não existia aquela coisa de brincadeira de meninos e brincadeira de meninas. J.R., 29 anos, masculino. Taubaté/SP. 1. Brincava muito de Taco, pique lata, esconde-esconde, pula corda, queimada, amarelinha, jogo do copo. 2. Eu nunca me esqueci dessas brincadeiras. De vez em quando sempre me lembro de quando chegava em casa com a roupa toda suja de barro, com o dedão do pé esfolado porque havia chutado o asfalto. Tudo isso me ajudou a ser muito forte, a ser muito feliz e hoje olho para trás e vejo que tive uma ótima infância. A.B., 23 anos, masculino. Campo Limpo Paulista/SP. 1. Futebol na rua, pipa, polícia e ladrão, esconde-esconde, andar de bike. 2. Acho que quando vim pra são paulo, entrei na faculdade e fiquei meio vislumbrado e achei tudo muito diferente e muito foda. Acho que quem cresce no interior tem uma idealização da capital, e com o tempo vai caindo na real que não é aquilo que você imaginava (risos). Depois de um tempo morando em São Paulo, passei por momentos bem estressantes, aí comecei a sentir falta de um ritmo mais tranquilo e de estar mais perto da natureza, e consequentemente as lembranças de onde cresci voltaram com força pra minha mente, e comecei a valorizar mais a infância que tive. Antes me queixava de não ter crescido na capital, talvez por querer ter tido contato com a “realidade da cidade” mais cedo, mas hoje vejo que foi super importante e saudável ter aproveitado bem a infância, coisa que talvez não acontecesse morando na capital Reflexão Pensando as respostas ofertadas em conjunto com as inquietações motivadoras do trabalho, é possível criar alguns caminhos iniciais de jornadas/respostas. Ao questionar o que acontece ao adulto quando se propõe entrar em contato com as próprias memórias do brincar, observa-se como H.B., 32 anos, percebe o corpo emocionar quando diz “eu tive quase que uma lembrança física” quando nos contava sobre sua infância, dizendo que o próprio corpo é capaz de reagir àqueles encontros interiores. P.F., 27 anos, se ilumina ao dizer que é “Como se o brilho da infância voltasse a fazer parte de mim”, entregando a infância como poesia que a habita, descreve o brilho como o encanto retomado na vida adulta. C.B., 28 anos, conclui seu relato dizendo “eu não lembro de haver preocupação alguma”, por ter a liberdade como forma de aproveitar a infância, gerando referência de felicidade para a vida. W.M. 38 anos, compartilhou sua excitação dizendo “ Acho impossível esquecer algo que trazia tanta alegria!”, enumerando e classificando quais brincadeiras lhe davam mais satisfação. D.B. 40 anos, demonstra preocupação com as crianças de hoje ao rememorar com felicidade o tempo em que podia brincar muito na rua “Felicidade, nostalgia pensar que hoje isso é muito mais difícil. ”. Refletir e encontrar modos de saber que se foi feliz e ser feliz, é fator essencial para a sociedade do século XXI que sofre de doenças como ansiedade e depressão. A.C., 32 anos, nos ajuda a relacionar como estas lembranças atuam sobre o presente, quando diz que “isso se manteve comigo todo o tempo. Até as músicas que eu ouvia e gostava, muitas eu ainda canto e ouço. ”, apresentando uma ligação entre contato com a cultura e às suas experiências de explorar as brincadeiras. L.S., 28 anos, traz uma possibilidade ainda não colocada, onde a constância do brincar e da presença dos amigos não acabaram elas “amadureceram junto com a gente”. Todos, de certo modo, contribuíram para nos ajudar a pensar se relembrar o brincar traz benefícios apenas a criança. B.C., 33 anos; T.N., 36 anos; V.R., 31 anos; D.D., 33 anos, nos presenteiam com relatos, emoções e conclusões de nostalgia, vontade de reviver brincadeiras e a certeza de ter aproveitado bem a infância, colhendo os frutos disso agora na fase adulta. M.O, 66 anos, e E.M., 68 anos, nos apresentaram uma relação direta de prazer com tarefas cotidianas da vida adulta, como cozinhar ou lidar com os carros, e que são realizadas com prazer. M.V., 40 anos, nos mostra como o relacionamento entre a família pode ser fortalecido através dessas memórias “estamos resgatando algumas e criando novas brincadeiras”. J.R., 29 anos, nos diz com todas as letras o benefício que trouxe para a vida dele, concluiu que “Tudo isso me ajudou a ser muito forte, a ser muito feliz”. Alguns relatos apresentaram a nós uma profundidade de reflexão, onde o retomar da memória se tornou um processo de reconstituição de identidade. A.B, 23 anos, apresentou um movimento de reorganização de emoções e percepções ao comparar os lugares e expectativas sobre a vida concluindo “comecei a valorizar mais a infância que tive”. J.S., 36 anos, nos impacta quando apresenta a trajetória de construção de uma identidade consciente, onde cada subir em árvore, contato com os bichos, com a cultura regional, o encontro com os antigos da família trazem a riqueza de uma experiência de vida que pode se perder com a correria da vida adulta e a rigidez das grandes metrópoles. J.S., 36 anos, compartilhou conosco como seu resgate ancestral, onde o brincar foi fundamental, ressignificou e deu força à sua forma de existir. A escolha de transcrever o modo como cada um se expressa, e retoma memórias, é a de dar voz às sensações que vão se manifestando diante de cada memória, os interlocutores vão criando as correlações entre passado e presente, identificando como a criança brincante constitui o adulto que é. Quando tomamos a narrativa como forma de rever a escrita do passado à luz do presente e resgatar o ser brincante que fomos e somos, não se trata de regressar ao estado infantil, mas de recompor o lugar e o momento dessas condutas perdidas. Instaura-se um trabalho de certa forma artesanal por parte do narrador, que, diante de sua experiência, constrói uma forma particular de concebê-la, envolvendo-a de sentimentos e sentidos próprios. (JURDI, Andrea; SILVA, Carla; LIBERMAN, Flavia. 2017, p. 605) Considerações Finais É sempre um alívio poder escrever em primeira pessoa. Porque é um alívio existir. Eu poderia ter proposto que meus colegas voltassem a brincar, escolhessem uma daquelas brincadeiras para fazer novamente, com suas famílias, amigos ou até os próprios filhos, o que poderia ser muito bom, porém havia uma inquietação muito grande em mim. Ao entrar no curso Agentes do Brincar, a expectativa era a de acumular repertório para proporcionar às crianças muitas opções para se desenvolverem brincando. Quase como uma postura de máquina, receber e repassar, como se nada fosse reverberar de alguma forma em mim. O primeiro trabalho que fiz, num exercício proposto durante a quarentena, se desenrolou com desenhos das memórias da infância nas janelas da sala. Desenhei territórios que foram do brincar, desenhei a galinha, a praia, um silêncio me habitava enquanto eu desenhava… Depois, passei dias olhando para aquelas imagens, não as conseguia apagar por quê elas estavam me dizendo algo. Era feliz e confuso. Elas me contaram histórias, conversaram comigo, houve perdão, houve cura. Ainda não apaguei todos os desenhos, é como se aquelas memórias estivessem me lembrando não apenas que brinquei, mas que fui cuidada e amada, que o mundo pode ser cruel, mas há como fazê-lo bom quando cuidamos das crianças de hoje e da criança que fomos. Não apenas como retórica “cuidar da criança que fomos!”, mas na prática de retomar e seguir. Houve perdão, por quê houve cura. A memória do brincar reconstitui parte de mim, retoma um pouco de leveza, de alegria. Os desenhos ainda estão na janela, o sol passa por eles, a lua também. A única forma que entendi de escrever algo sobre o brincar era percorrer esse acontecimento, primeiro tentei entender, achando que todo mundo iria se curar ao lembrar de seus brincares na infância, depois fui me afetando com as histórias e as formas de lembrar, então percebi que tinha vontade de provocar meus amigos a se conectarem com algo que também pudesse afagá-los, e todas essas conversas me despertaram para estender uma prática, fazendo a minha proposta do dia de brincar com adultos, agora não se detendo a revisitar memórias, mas também rebrincar. Talvez quando o adulto volte a se reconectar com a infância estará dispondo seu próprio sistema interior a continuar construindo, sem endurecer. De acordo com Vygotsky (1987), [...] o brincar é uma atividade humana criadora, na qual imaginação, fantasia e realidade interagem na produção de novas possibilidades de interpretação, de expressão e de ação pelas crianças, assim como de novas formas de construir relações sociais com outros sujeitos, crianças e adultos. (BORBA, Ângela Meyer. p. 35) Bibliografia JURDI, Andrea; SILVA, Carla; LIBERMAN, Flavia. Inventários das brincadeiras e do brincar: ativando uma memória dos afetos. 2017. Disponível em: . Acesso em: 13 de julho de 2020. BORBA, Ângela Meyer. O brincar como um modo de ser e estar no mundo. Disponível em: Acesso em: 19.06.2020

  • O QUINTAL E SUAS BRINCADEIRAS: MEMÓRIAS, CONSTRUÇÕES E POESIA

    - MARÍLIA NASCIMENTO RIBEIRO LEMES - Atualmente está cada vez mais difícil encontrar espaços para o brincar livre e explorador. Infelizmente temos que nos contentar com o espaço cada vez menor para o brincar, seja em nossas casas ou espaços públicos escassos, isso, talvez seja o resultado da transformação da vida contemporânea que diminui as moradias e os espaços de brincadeiras nos lares e na cidade. Durante uma atividade de resgate de histórias e vivências corporais relacionadas com a prática do brincar do curso Agentes do Brincar, pude perceber o quão rico foi o meu brincar na infância, se não fosse por esta atividade, talvez não me desse conta dos momentos de construções, narrativas, sonhos, risos e muito mais, vividos no quintal de casa. Espaço privilegiado com uma área enorme, árvore, terra, pedras, sol, tudo que um quintal de verdade deve ser. Quantas possibilidades para brincar e se desenvolver o quintal proporcionou a todos que puderam explorá-lo e colocar em prática a imaginação. Que brincar é a experiência mais valiosa de nossas vidas, não podemos duvidar. Tonucci (2016), fala que ao longo da nossa vida, o cimento sobre qual construímos nossa formação e nossa cultura, foi adquirido nos primeiros anos de vida, nas brincadeiras. Essa afirmação atrela-se a tudo que se passou nas vivencias do quintal, as construções de casinha embaixo da árvore, cata-vento, carrinhos, escaladas em muros e árvore, escolinha e tantas outras brincadeiras que surgiam pelo fato de se ter liberdade, natureza e o quintal. As relações com minhas irmãs, primos, colegas da rua e meus pais estão marcadas na minha história, é o cimento da minha formação. Todos se encontravam neste espaço para dividir suas habilidades. A construção da casa da árvore contou com a participação de todos, mas teve aquele primo que se destacou por se mostrar o mais engenhoso e habilidoso. A construção do cata-vento, pelo meu pai, nos ensinou a observar a direção do vento e admirar-se com a velocidade ou falta do vento que mantinha o cata-vento parado. O “pé de jambo”, árvore frutífera, que nos ensinava que o verão estava chegando e que iríamos nos deliciar com a fruta doce e macia e sem falar do aroma que se espalhava pelo quintal e pela casa adentro. Pendurar-se na árvore e ter a visão do horizonte. Fazer bolos de aniversários de terra e sentir a natureza tão viva. Toda essa vivência com a natureza, também possibilitada por esse quintal, é muito importante para a criança, como destacam Carneiro e Dodge (2008, p.85) no estudo realizado, que confirma, por parte de todos especialistas, que a observação da natureza é benéfica e faz com que a criança descubra cores, formas, odores, sabores, situando se em relação aos fenômenos. Contudo, percorrer esse caminho das lembranças e se dar conta das construções físicas e subjetivas que se instalaram no ser de todas as crianças que brincavam no quintal, mostra a necessidade de dedicarmos atenção e preocupação em criar e manter espaços físicos saudáveis para as crianças de hoje brincarem e reinventarem-se. José Paulo Paes, poeta do brincar, traduz em suas palavras a doçura e encantamento de ser criança e poder desfrutar dos espaços dedicados a elas. O poema “Paraíso” traduz tudo aquilo que vem da alma de uma criança e o seu desejo para o mundo, um paraíso para crescer e ser feliz: Paraíso Se esta rua fosse minha, eu mandava ladrilhar, não para automóveis matar gente, mas para criança brincar. Se esta mata fosse minha, eu não deixava derrubar. Se cortarem todas as árvores, onde é que os pássaros vão morar? Se este rio fosse meu, eu não deixava poluir. Joguem esgotos noutra parte, que os peixes moram aqui. Se este mundo fosse meu, Eu fazia tantas mudanças Que ele seria um paraíso De bichos, plantas e crianças. Por fim, um deleite, um trecho do poema de Manoel de Barros para nos lembrar de tantos quintais onde a brincadeira, memórias e aprendizados não têm fim: Achadouros Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas. Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da intimidade. [...] (2015) BIBLIOGRAFIA: BARROS, Manoel de, 1916-2014. Meu quintal é maior do que o mundo [recurso eletrônico] / Manoel de Barros ; 1. ed. – Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. CARNEIRO, Maria Angela Barbato.; DODGE, Janine J.. A Descoberta do Brincar. Disponível em: http://midiaomo.fbiz.com.br/locales/pt-BR/download/a-descoberta-do-brincar-livro2008.pdf. Acesso em 25 de Maio de 2020. PAES, José Paulo. Poemas para Brincar. Disponível em: http://quitandinha.blogspot.com/2012/12/poemas-para-brincar-jose-paulo-paes.html. Acesso em 15 de Julho de 2020. TONUCCI, Francesco. Francesco Tonucci: a criança como paradigma de uma cidade para todos. Educação e Território, por Raiana Ribeiro. 21 de Set. de 2016. Disponível:https://educacaoeterritorio.org.br/reportagens/francesco-tonucci-a-crianca-como-paradigma-de-uma-cidade-para-todos/. Acesso em 22 de maio de 2020.

  • Carta de Compromisso aos Candidatos e Candidatas de São Paulo

    Governar a maior metrópole brasileira é desafiador. São tantas demandas no que diz respeito aos problemas sociais, econômicos, de mobilidade e em especial nos temas da infância e adolescência, que muitas vezes nos perguntamos se é possível que questões estruturais tenham ações para resoluções efetivas. Ao mesmo tempo, sabemos que existem pessoas capacitadas e interessadas em resolver essas questões de forma séria. Pensando nisso, a IPA Brasil - Associação Brasileira Pelo Direito de Brincar e à Cultura, em parceria com a Ordem dos Advogados do Brasil - Seccional São Paulo e outras 39 entidades, elaborou uma Carta de Compromisso aos candidatos e candidatas a cargos eletivos no Município de São Paulo para que, no exercício de seu mandato, se comprometam com a erradicação do trabalho infantil e incentivo à aprendizagem e o resultado desta mobilização você acompanha ao longo da matéria. A Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (Pnad) realizada em 2015 registrou que 198 mil pessoas entre 5 e 17 anos encontravam-se em situação de trabalho na Região Metropolitana de São Paulo. Esse número aumenta para 460 mil quando falamos do Estado de São Paulo. Considerando as graves consequências do trabalho infantil, na saúde física, psicológica e no desenvolvimento, além de potenciais violações aos direitos à educação, ao brincar, à convivência familiar e, especialmente, a uma vida livre de violência e exploração, entendemos que essa pauta é muito mais que necessária, é essencial e urgente. Sendo assim, promover oportunidades que garantam aos adolescentes e jovens o acesso à aprendizagem é uma das estratégias para caminhar rumo à erradicação do trabalho infantil. Assim que essa criança ou adolescente rompe as barreiras que o impedem de acessar o pleno desenvolvimento, é capaz de refazer a sua trajetória e ser uma influência em sua geração. Portanto, nos unimos com diversas organizações que lutam pelos direitos das crianças e adolescentes e nos mobilizamos para que candidatos(as) a prefeito(a) ou vereador(a) assinassem e assumissem esse compromisso com a população para que a erradicação do trabalho infantil e o incentivo à aprendizagem recebam todo o apoio necessário durante todos os respectivos mandatos. Não medimos esforços e enviamos mais de 1.900 e-mails, apresentando a Carta, que você pode ler na íntegra clicando aqui! Essa mobilização gerou, até o dia 13/11/2020, sexta-feira que antecipa as eleições, 71 assinaturas de candidatos(as) ao cargo de vereador(a) e 3 assinaturas de candidatos(as) ao cargo de prefeito(a). ​ Agradecemos a todos e todas que contribuíram para que esta ação fosse bem sucedida e, em especial à RNPI-Rede Nacional pela Primeira Infância, da qual fazemos parte e que divulgou para todas as suas organizações membros, localizadas na cidade de São Paulo. ​ Confira abaixo as Entidades Signatárias que apoiaram essa mobilização, bem como os candidatos(as) ao cargo de prefeito(a) e vereador(a) que assinaram a Carta, organizados por ordem de adesão. ​ Entidades Signatárias 1. Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional São Paulo 2. IPA Brasil – Associação Brasileira Pelo Direito de Brincar e à Cultura 3. Centro de Apoio Ação e Transformação OIAEU 4. Associação Projeto Social Life 5. Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo – CDHEP 6. Associação Comunitária Monte Azul 7. Childhood Brasil 8. Aliança pela Infância 9. Associação e Comunidade Casa de Nazaré 10. Casa da Criança Nossa Senhora do Desterro 11. Lar Creche Wilson de Oliveira 12. Associação de Desenvolvimento à Cultura 13. Associação de Moradores CDHU 14. Casa de Cultura e Educação-São Luís 15. Instituto Cultural, Esportivo, Educacional e de Capacitação Comunitária Esporte e Paz 16. Associação de Moradores do Parque Cerejeiras 17. Instituto Corrida Amiga 18. Plan International Brasil 19. 4 Daddy 20. Luz e Lápis – Centro Educacional Infantil 21. Organização Social Canto Cidadão 22. Fórum em Defesa da Vida 23. Fórum da Cultura da Zona Sul e Sudeste 24. Sarau a Voz do Povo 25. Mandata Ativista 26. Associação Monte Azul 27. Observatório de Violência Policial e Direitos Humanos OVP PUC 28. Agência Solano Trindade 29. CEPAC – Associação para Proteção das Crianças e Adolescentes 30. Conselho Comunitário do Conjunto Habitacional Marcos Freire Pimentas Guarulhos 31. Associação Comunitária Unidos do Jardim Iporã 32. Associação Comunidade Solidária do Jardim São Bernardo 33. Associação Crianças nas Mãos de Deus (ACMD) 34. Instituto Muda Brasil 35. Instituto Árvores Vivas para Conservação e Cultura Ambiental 36. O Midiativa - Centro Brasileiro de Mídia para Crianças e Adolescentes 37. ATEAL - Associação Terapêutica de Estimulação Auditiva e Linguagem, Jundiaí – SP 38. Centro de Estudos Periféricos Unifesp 39. Associação Cidade Escola Aprendiz 40. Movimento Popular de Saúde de M’boi Mirim 41. Centro de Direitos Humanos e Educação Popular do Campo Limpo - CDHEP ​ Candidatos(as) ao Cargo de Prefeito(a) 1. Bruno Covas - PSDB 2. Guilherme Boulos - PSOL 3. Marina Helou – Rede Sustentabilidade ​ Candidatos(as) ao Cargo de Vereador(a) 1. Eduardo Suplicy – PT 2. Edson Queiroz - PSDB 3. Leo Ramos – PSD 4. Ana Soares - MDB 5. Sandra Porto - PSD 6. Carlos Bezerra Jr. - PSDB 7. Nélio Rosa – PSL 8. Mazinha Strumiello – PC do B 9. Marcos Guedes – PDT 10. Gabriel Cassiano – PDT 11. Ailton Amaral – PSOL 12. Lu Senna Vieira – PSOL 13. Paulo Purkyt – DC 14. Mãe Flaviah de Iansa – PDT 15. Silvia Carneiro (Coletivo Rede) - REDE 16. De Lucca – PT 17. Valter Estevam – DC 18. José Dilson – PSC 19. Ana Claudia Severino Rivera – PTC 20. Rogério Gueiros – PROS 21. Vinicius Costa De Souza (Bombeiro Costa) – MDB 22. Norlay Costa – PSOL 23. Maristela Trindade – PSC 24. Jorge Breogan – PSTU 25. Daniel Cordeiro – PSD 26. Claudio Paranhos – PSL 27. Washington Luiz Batista (Dr. Washington) - PTC 28. Cleidson Gomes Pereira (Prof. Cleidson) – Avante 29. Gilson Jose Da Cruz (Gilson Basemóvel) – PSL 30. Carlos Cunha – Cidadania 31. Camila Aguiar – PC do B 32. Adriana Silva – Cidadania 33. Arlindo Felipe Junior – PSB 34. Apóstolo Gerson Bentes – PSC 35. Mariana Lacerda – Rede 36. Elisson Araújo - PSC 37. Pagu Rodrigues – PT 38. Solange Caetano – PC do B 39. Rafael Negrão – PSOL 40. Anderson Gomes – Rede Sustentabilidade 41. Rodolfo Francisco De Souza (Rodolfo Despachante) – PSC 42. Wilson Ferreira - PSB 43. Lourival Gomes – PROS 44. Paulo Pilla – MDM 45. Toni Zagato – PSOL 46. Mariana Lacerda – Rede Sustentabilidade 47. Renan Poli – PSDB 48. Coletivo Diversidade SP – PSOL 49. Marco Vegano – MDB 50. Luana Alves – PSOL 51. André Luiz Dos Santos ( Rapper Pirata) – PT 52. Leandro Morais – PSDB 53. Silvia Nogueira – PSOL 54. André Barbosa – PSDB 55. Sônia Do Jaraguá É Guarani – PSOL 56. João Batista – PSDB 57. Esther Silva – Partido Verde 58. Telis Rios – Solidariedade 59. Bárbara Panseri – PDT 60. Ana Paula Passos – PDT 61. Anderson Cruz – PDT 62. Patricia Zanella – REDE 63. Andreza Do Nascimento Almeida (Zazá) – PT 64. Aurélio Nomura – PSDB 65. Ivair Moro – AVANTE 66. Gabriela Bueno – PSDB 67. Ailton Bolignari (Dr. Eco Planet) – DC 68. Priscila Anupan – PSOL 69. Rute Alonso – PSOL 70. Daniel Annenberg – PSDB 71. Soninha Francine – CIDADANIA ​ Agradecemos a todos(as) candidatos(as) que assinaram à Carta e desejamos que, no exercício do mandato, contem com as Entidades Signatárias para que a realidades das crianças seja diferente nos próximos anos. Estamos no aguardo de todos os resultados e logo entraremos aqui para falar mais para você sobre os encaminhamentos.

  • Brincar e a Cidade

    - Mariana Carretero - A discussão em torno de considerar e ouvir as crianças sobre o desenho da cidade e as suas vivências nos espaços públicos é bastante nova. Pensadores da infância como Tim Gill, Francesco Tonucci, Sérgio Eduardo dos Santos Porto e Leonardo de Albuquerque Batista, argumentam sobre essa relação entre a criança e a cidade. Para o inglês Tim Gill, pesquisador sobre a infância, as crianças necessitam de mais liberdade para explorar e brincar livre em suas cidades, que deveriam ser mais seguras e providas de natureza. O italiano Francesco Tonucci, pedagogo, também defende a autonomia das crianças na cidade. Essa autonomia, de acordo com as experiências mundiais de Tonucci, é possível quando a criança se torna modelo de referência para o desenho urbano, o que torna às cidades mais acessíveis e seguras para todos. Em correlação às ideias de Gill e Tonucci, o arquiteto brasileiro Sérgio Eduardo dos Santos Porto defende que as crianças brinquem na cidade e o pesquisador em sociologia da infância Leonardo de Albuquerque Batista, argumenta sobre a criança ser considerada e ouvida nos debates sobre o espaço urbano. O arquiteto, Sérgio Porto, discorre sobre a relação da criança e a cidade no seu artigo O brincar como experiência do e no espaço urbano. O autor define os termos relacionados ao tema, lembrando que a palavra criança vem da mesma origem em latim da palavra criar. O brincar da criança é sua forma de reproduzir e entender a sociedade em que ela vive, e sua capacidade imaginativa a permite criar fantasias no mundo real, sem desprezá-lo. Porto também discorre sobre a questão do corpo, que ele coloca como o primeiro instrumento do ser humano, que constrói e é construído pelo brincar. Ele compara a cidade a um corpo, explicando o porquê da importância de permitir o brincar na cidade, que resultaria em construção para a criança e transformação para a cidade. No artigo A cidade do meu tamanho, Leonardo de Albuquerque Batista, defende que a criança passe a ser vista como cidadã, capaz de observar e de opinar sobre a cidade. Sugere que a criança seja pensada como protagonista do espaço e como capaz de transformar a cidade através de suas opinião e vivência. O autor menciona o termo cidade amiga da criança que é usado para identificar cidades que permitem a autonomia, liberdade e a segurança das crianças e incentivam o brincar. Partindo das ideias, explicações e exemplos concretos desses pensadores da infância, é possível fazer reflexões acerca da qualidade da vida e desenho urbano na cidade de São Paulo. E É preciso lembrar que a vida urbana acontece em espaços públicos abertos e fechados. Em termos de arquitetura e urbanismo, para a sociedade e profissionais da área mencionada, os espaços das crianças na cidade são aqueles projetados de forma lúdica para que elas aprendam e se divirtam em um ambiente infantil, seguro e próprio para elas, normalmente segregado dos demais espaços. O urbanismo de São Paulo, assim como de outras grandes cidades brasileiras, acompanhou as necessidades exigidas pelo progresso e cotidiano de adultos e, associado a fatores como o aumento da violência e do fluxo de veículos, resultaram em uma segregação ainda maior dos espaços infantis. Se antigamente as crianças brincavam nas ruas com os amigos e muitas vezes sem a supervisão de um adulto, atualmente estão cada vez mais restritas aos ambientes internos. É possível observar a diferença entre às cidades menores e as grandes metrópoles. Enquanto uma ainda é capaz de abrigar as brincadeiras em suas ruas com menor tráfego, grandes praças preservadas e jardins, a outra intensifica a interiorização das brincadeiras, com ruas pensadas para favorecer os automóveis, parques sem manutenção e suprimindo a natureza. Nas grandes metrópoles brasileiras a segregação espacial também está associada à segregação social. Os ambientes públicos abertos com qualidade projetual e com manutenção constante encontram-se, em sua maioria, nos bairros mais nobres, longe das regiões periféricas. Os empreendimentos e as casas dessas regiões também são projetados para abrigar internamente o brincar, com áreas de lazer, como piscinas, quadras playgrounds, brinquedotecas e quintais. Nas periferias, esse espaço de lazer nem sempre existe na maioria das casas e é onde mais se encontra a resistência das crianças em tornar a rua e o espaço público, seus quintais do brincar. A revisão do urbanismo de São Paulo, com intervenções e reconstruções no espaço urbano, se faz necessária para a construção de uma cidade mais igualitária e com melhor qualidade nos espaços públicos. Porém não se trata apenas de requalificar praças e parques e construir ou potencializar os já existentes equipamentos públicos nas áreas mais carentes de lazer. A mobilidade urbana também precisa ser repensada. Sendo os automóveis considerados os protagonistas do espaço urbano, a mobilidade dos pedestres é, na maior parte da cidade de São Paulo, precária. As calçadas têm espaço reduzido para que as ruas sejam mais largas e comportem o máximo de automóveis possíveis. Além da largura, os pedestres precisam enfrentar a falta de manutenção e fiscalização do espaço das calçadas. Buracos, degraus, avanço de construções e objetos e árvores maiores que os permitidos pelas leis municipais, são os obstáculos que tornam o passeio público perigoso e ausente de acessibilidade. Quando Gill e Tonucci defendem a autonomia e liberdade da criança na cidade, e Batista apoia uma cidade amiga da criança, é também sobre a mobilidade e passeios públicos que eles se referem. Se o pedestre fosse considerado o protagonista do espaço urbano, e se as crianças fossem o modelo de pedestre, seriam necessários espaços mais largos, com nivelamento mais uniforme e com objetos e natureza de tamanho adequado para que não invadam o caminho do pedestre. Essas seriam ações que permitiriam um passeio público mais capaz de abrigar o livre explorar e brincar da criança. E, com isso, o passeio público seria mais seguro e acessível para pessoas de todas as idades e para àquelas com mobilidade reduzida. A experiência no Glicério, brevemente relatada por Sérgio Porto, mostra uma ação de arquitetos e urbanistas, envolvidos em projetar espaços, atuando com a ajuda das crianças. Elas são ouvidas e ensinadas sobre o lugar onde moram e ajudam a elaborar e executar as mudanças físicas que ocorrerão nos espaços de seu bairro. Para elas é uma brincadeira, e é uma brincadeira que modifica o espaço, tornando-o mais propício e atrativo para o brincar e todas as outras atividades referentes à vida urbana em comunidade. A maioria dos equipamentos públicos fechados de cultura e lazer, como Museus e Centro Culturais também se encontra mais próxima de bairros de classes econômicas mais altas. No entanto, suas questões de localização se diferem um pouco dos espaços abertos. A localização desses espaços fechados muitas vezes é parte da história do próprio espaço e da cidade, pois muitos são patrimônios históricos. E assim como nos espaços abertos, nos espaços públicos fechados também há desigualdade social, pois muitos ainda são vistos e muitas vezes realmente são apresentados, como locais apenas para elite ou pessoas com formação acadêmica. Além da desigualdade, ainda existem convicções de que museu e patrimônio histórico não é lugar de criança, pois elas são novas para entender sobre história, arte, cultura e a importância desses espaços e os objetos que expõem. Nessa lógica, criança só brinca e museu é lugar de seriedade. Contudo, se o espaço não é utilizado por todas as esferas da sociedade ou visto como importante para a vida e história da cidade e de cada cidadão, não se pode esperar que a preservação do espaço e do que ele representa seja relevante ou prioridade para a população. A ideia de que não são lugar para crianças, resulta em adultos sem interesse por esses espaços e seus assuntos, já que eles não estavam inseridos em seu processo de descobertas e aprendizados da infância. Ações em várias partes do mundo, apresentadas pelos pensadores da infância citados, em que crianças foram ouvidas e consideradas nas modificações dos espaços, resultaram em cidades mais perto de se tornarem confortáveis, seguras e igualitárias. Considerando essas experiências e as discussões sobre o tema, as crianças se mostram capazes de tornarem-se parte da realização e transformação do desenho urbano e espaços públicos para uma cidade com melhor qualidade de vida. A criança experimenta e aprende a cidade através do brincar. Sendo assim, ela é capaz de opinar sobre os espaços, as formas, as cores, os barulhos, os caminhos e dizer, sobre a sua perspectiva e com seu próprio entendimento, o que funciona para ela na cidade e o que não funciona. E se a cidade é boa para ela, então ela funciona para todos porque o máximo para um modelo vulnerável foi feito. Conclusão Os pensadores da infância citados defendem que as crianças tenham espaço na cidade, e na cidade como um todo. Portanto, estando de acordo com seus argumentos, todo espaço público da cidade, aberto ou fechado, seria lugar de criança. Se o brincar é para a criança a maior forma de interação e que permite vivenciar e perceber os espaços, ele deveria ser incentivado pelo desenho e dinâmica da cidade. Se as pessoas não tiverem a oportunidade de viver à cidade desde crianças, não se pode esperar que elas criem um vínculo com os espaços urbanos e públicos e queiram melhorá-los e preservá-los. Considerando as crianças os modelos de cidadão que o desenho e a dinâmica da cidade precisam acolher e permitindo que elas possam opinar e contar suas perspectivas da cidade, a sociedade conseguirá repensar e redesenhar o espaço público e a vida urbana da cidade, tornando-a satisfatória para todos. Bibliografia BATISTA, Leonardo de Albuquerque. A cidade do meu tamanho. In: Criança, Cidade, Cidadania - Colóquio Internacional, 2016, Guimarães. Atas. Guimarães: Associação para o Desenvolvimento das Comunidades Locais, 2016. P 101-107. MEKARI, Danilo; NOGUEIRA, Pedro. Tim Gill: Crianças no espaço público são grandes ativadoras de comunidades. Educação e Território, 2016. Disponível em < https://educacaoeterritorio.org.br/reportagens/tim-gill-criancas-no-espaco-publico-sao-grandes-ativadores-de-comunidades/> PORTO, Sérgio Eduardo dos Santos. O brincar como experiência do e no espaço urbano. In: ENAPUR, XVIII., 2019, Natal. Anais. Natal: EDUFRN, 2019. RIBEIRO, Adriana. Francesco Tonucci: a criança como paradigma de uma cidade para todos. Educação e Território, 2016. Disponível em < https://educacaoeterritorio.org.br/reportagens/francesco-tonucci-a-crianca-como-paradigma-de-uma-cidade-para-todos/>

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