top of page

Resultados da busca

163 itens encontrados para ""

  • PREOCUPAÇÃO COM A CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA

    - Mina Regen - Em nossa experiência de anos no atendimento de famílias de pessoas com deficiência, dependendo da fase de desenvolvimento em que se encontram, os irmãos apresentam variados níveis de preocupação, não só em relação ao irmão com deficiência, mas também em relação à sua pessoa, aos pais, às amizades e à sociedade em geral. Em relação ao irmão – preocupam-se com as causas e prognóstico da deficiência; que tipo de ajuda necessita e o que poderiam lhe oferecer; como será a sua vida no futuro; que sentimentos ele tem em relação à sua condição. Em relação a si mesmo – preocupam-se com sua própria saúde, com seus sentimentos confusos e ambivalentes e de que forma lidar com eles; que tipo de relacionamento e comunicação têm conseguido estabelecer com ele; qual o seu papel e responsabilidade no futuro. Em relação aos pais - indagam-se quanto a seus sentimentos e atitudes; expectativas que alimentam a seu respeito; como estabelecer um canal de comunicação que beneficie a todos; como oferecer-lhes ajuda. Em relação aos amigos – como informá-los acerca da condição do irmão; como enfrentar caçoadas e brincadeiras de mau gosto; como envolver seu irmão nas brincadeiras para que seja aceito; caso comece a namorar, como contar-lhe sobre esse irmão. Em relação à sociedade - que tipo de escola ele frequentará; será capaz de aprender e se comportar; será aceito em algum emprego; como é olhado pelas pessoas na rua; que recursos a cidade lhe oferece para que possa ter uma vida independente PAIS SENSÍVEIS Em toda e qualquer família, os pais enfrentam dificuldades ocasionais no que diz respeito ao relacionamento entre os filhos. Pais sensíveis, atentos e coerentes podem ajudá-los a superar seus problemas de interação e estabelecer um clima de cooperação e respeito mútuo, utilizando algumas estratégias: 1. Servir de exemplo 2. Estabelecer limites e responsabilidades com consistência 3. Respeitar as individualidades 4. Destacar as características positivas de cada um 5. Utilizar penalidades naturais e lógicas 6. Incentivar e elogiar atitudes de cooperação 7. Limitar as responsabilidades dos cuidados 8. Tentar ignorar as pequenas brigas, desde que não infrinjam as regras da casa 9. Permanecer neutros 10. Ser justos e coerentes 11. Dedicar algum tempo para cada filho 12. Acolher bem outras crianças em casa

  • Colocando o brincar como foco

    - RICARDO MOLINA SOBREIRA - Elaborado com a proposta de interagir em um mundo onde a modernidade nos tira os momentos de lazer, de diversão, socialização sem obrigações de rotina, colocando o brincar como foco, seja ele por meios teatrais, circenses ou dinâmicos a proposta resgata as brincadeiras do ontem, do hoje e nos prepara para os novos brincares não limitando idades, quantidades de pessoas e sim focando sempre o imaginário, lúdico e espontâneo. O trabalho tem como bases de elaboração uma releitura e pesquisa nos campos teatrais, circenses e do brincar com auxílio em pesquisas de autores, educadores e filósofos das áreas descritas dentre eles Constantin Stanislavski, pai do teatro e grande mestre na arte do teatral nos ensinando a questionar, pensar, entrar na ficção, no improviso, no imaginar e aproveitar espaços e Viola Spolin, nos trazendo a experiência do brincar teatral, do interagir e explorar vivências quebrando as paredes e barreiras de uma sala de aula e tendo o mundo como seu cenário para brincadeiras. Esses autores relacionados ao curso Agentes do brincar, veio então a possibilitar um novo olhar para as artes cênicas, trazendo o brincar em foco não apenas pelo brincar, mas por resgatar brincadeiras, interagir e promover o trabalho de interação social, valores humanos, postura, auxílio na relação do indivíduo com o meio e suas reações como vergonha, braveza, introspecção, espontaneidade, saúde mental e física. Por fim, o trabalho nos coloca a pensar sobre o que nos desperta o brincar, o que nos trouxe e o que deixamos passar e porquê não utilizamos, não resgatamos a alegria de nos divertir sem estarmos presos ou vinculados a tecnologias, meios de transportes e até mesmo no coletivo trazendo possibilidades desde o lazer ao estudo do brincar e suas causas, reações no indivíduo como um todo. O brincar entra em nossas vidas e quando menos esperamos estamos presos a ele em um mundo de magia, de descobertas, de aprendizados, interações e acima de tudo, liberdade. Muitos vão dizer que para se brincar precisa de regras, de contextos, de ensinamentos e fala, mas não funciona assim, mecânico. Para brincar basta vontade e criatividade. Quando crianças brincamos com o seio de nossa mãe ao nos alimentar, vamos crescendo e passamos a brincar descobrindo nossas partes do corpo, tocando, mordendo, arrastando pelo chão e demais espaços. Chegamos a andar e aí descobrimos objetos, formas e coisas que vão para nós tomando vida e revivendo a cada curiosidade não tendo a mesma utilidade real do objeto. Passam-se os anos e com as crianças em espaços de lazer e escolas vamos aprendendo o brincar coletivamente, o brincar direcionado, o brincar resgatando a tradição de nossos antepassados e familiares e aos poucos vamos deixando de lado aquele brincar inocente, livre para escolher, mas ao mesmo tempo colocando um brincar com mais descobertas, com mais possibilidades, espaços, pessoas e assim chegamos a fase mais cinza de nossas vidas, a adolescência. Nela esquecemos como era incrível ser criança e mais ainda, que para brincar não precisa ser criança. Adolescentes não brincam com a mesma alegria, espontaneidade, sentem vergonha, ficam acuados pela crítica de seu grupo social e acabam se fechando para novos caminhos e auxílios que o brincar desperta e traz em conjunto com as artes cênicas onde tive meu primeiro contato procurando meios para melhorar as peças da igreja onde fazia parte de um grupo de jovens. Ao entrar em um grupo de direção teatral vi que o teatro era feito por jogos e provocações nas quais os atores se descobriam e guardavam essas descobertas para si levando isso para cena. Entre os caminhos percorridos de descobertas e conhecimentos passados por linguagens e vivências sempre sendo a fundamental ferramenta do jogo era muito explorada com a ideia de ensinar sem enrijecer os jogadores, deixando os conhecimentos espontâneos. Dentre conhecimentos e experimentações entrei em um curso de estudo do cômico com a ideia de fazer da brincadeira uma coisa séria, que sempre me atraia e cativava fui me aperfeiçoando e aos poucos juntando essas ideias entrei em um curso de palhaço e a mistura de teatro e circo estava feita. Logo, chegaram as apresentações, intervenções, trabalhos, formatura de turmas, alunos reconhecendo e participando sempre de intervenções e oficinas. Com a experiência e a vivência na área surgiu a ideia de fazer oficinas para crianças e adolescentes com foco no palhaço onde os participantes se descobrem e interagem uns com os outros e com a plateia, adaptando a linguagem do circo com diversas idades e locais fazendo o circo chegar a prédios, praças e shopping sem perder a magia do imaginário. Por fim, o brincar vem por meio dessa pesquisa mostrar e embasar como nosso dia a dia, nossa rotina pode ser quebrada a todo momento com percepções, pequenos contatos, falas, gestos, objetos que ornam, brincam, seguem a linha tênue que a infância nos deixou. Através do brincar ela aprende, experimenta o mundo, possibilidades, relações sociais, elabora sua autonomia de ação, organiza emoções. Ás vezes o pai não tem conhecimento do valor da brincadeira para o seu filho. A ideia muitas vezes divulgada é a de que o brincar seja somente um entretenimento, como se não tivesse outras utilidades mais importantes. Através do jogo, a criança compreende o mundo à sua volta, aprende regras, testa habilidades físicas, como correr, pular, aprende a ganhar e perder. O brincar desenvolve também a aprendizagem da linguagem e a habilidade motora. A brincadeira em grupo favorece alguns princípios como o compartilhar, a cooperação, a liderança, a competição, a obediência às regras. O jogo é uma forma da criança se expressar, já que é uma circunstância favorável para manifestar seus sentimentos e desprazeres. Assim, o brinquedo passa a ser a linguagem da criança. Muitas vezes os pais não permitem que o filho passe por todas as etapas do seu desenvolvimento, e eles fazem isso quando tolhem as brincadeiras, exigem organização, por acharem que estão contribuindo para a maturidade da criança, quanto à aquisição de alguns comportamentos, como por exemplo, o de limpeza. A imposição de tarefas exaustivas, as incompatibilidades de horários da família são outros fatores que podem impedir as brincadeiras livres. É de suma importância que a família tenha consciência das marcas que a sua postura de não disponibilizar flexibilidade para as brincadeiras pode deixar na criança pois limitando ela a não descobrir formas de lidar com suas frustrações, com seus sentimentos, suas atitudes, imaginário, e lazer ela se fecha, não absorve qualquer aprendizado positivo e perde o gosto pelo brincar., Além disto, vale lembrar também que é um direito garantido pela Constituição. Brincar é coisa séria e após todas essas fases de diversão, descobertas, aprendizados o brincar não pode deixar de ser lembrado, praticado sejam em crianças, adolescentes, adultos ou idosos ressaltando que brincar não é só por aprendizado e atividade, devemos brincar constantemente pelo simples motivo de resgatar sensações, relembrar a infância, a nostalgia do momento vivido sem a implicância de regras, de limites, utilizando unicamente o lúdico e imaginário.

  • A IPA Brasil está em clima de festa!

    - Marilena Flores Martins - Estamos comemorando mais um aniversário e, com ele, a maturidade da nossa organização. Ela iniciou seus primeiros passos no ano de 1997 quando, em nosso país, o direito de brincar ainda nem era reconhecido como tal e as próprias crianças, principais interessadas também o desconheciam. A IPA como organização internacional promove, protege e preserva o direito de brincar das crianças em todo o mundo, desde 1961. No Brasil, desde 1997, nós temos atuado no sentido de informar, capacitar e mobilizar as mais diversas pessoas para oferecer as oportunidades que as crianças precisam para assegurar o seu direito de brincar. Nosso trabalho sempre se fundamentou em pesquisas científicas que vêm comprovando a importância da Brincadeira no desenvolvimento integral das crianças. A mais recente delas, da própria Organização Mundial de Saúde (OMS) (https://www.ipabrasil.org ). A constatação científica de que o brincar desenvolve as inúmeras competências que preparam as crianças para uma vida bem sucedida, tem embasado as nossas ações. Elas contemplam cinco áreas fundamentais: sociais, físicas, criativas, intelectuais e emocionais. Essas habilidades se iniciam ainda nos primeiros meses de vida e se aperfeiçoam durante a vida toda mas, o quanto antes forem estimuladas, mais efetivo e duradouro será esse desenvolvimento. Brincar é o comportamento da criança, sendo inerente à sua natureza, mas precisa ser estimulado, apoiado e protegido. O nosso foco tem sido o de mudar paradigmas obsoletos, que ainda permeiam as diferentes áreas de atuação com e para crianças, em nosso país. Mudanças efetivas só acontecem quando todos os públicos são capacitados no tema e se mobilizam para torná-lo realidade. Esse foi o principal motivo que nos levou a criar diversos conteúdos para diferentes públicos, pois o direito inerente das crianças às brincadeiras ainda precisa ser conhecido e protegido por todos, incluindo aí os gestores públicos, os legisladores, os profissionais de diferentes áreas, além de pais e familiares. Precisa ser fruto de um consenso, para que elas cresçam mais saudáveis e felizes!. Finalizando, gostaríamos de lembrar que a IPA Brasil somos nós e que nós somos IPA Brasil, por uma sociedade mais humana e solidária! Parabéns a todos que compartilham conosco dos mesmos ideais

  • Ensaios poéticos sobre o brincar

    - Ana Galdino - Foi no sul de Minas, ainda menina, que pude expressar as mais intensas e significativas formas de ser e de estar, num lugar que provocava desejos e afetos. Era um pedaço de terra nas alturas, onde elementos diversos tornavam-se um convite para se viver uma espécie de tempo suspenso; e o que realmente importava era andar passo por passo, não necessariamente tendo algum lugar determinado para se chegar. A relação com o tempo logo transformava os momentos de convivências em rituais. Lá, meus irmãos e eu, bem sabíamos que, para dormir, era preciso que todos ficassem bem quietos para ouvir o coaxar do sapo-martelo (o nosso Zezinho) até que nossos olhos se fechassem e a mãe pudesse apagar o lampião. Hoje entendo que, tudo me dizia que a entrega na exploração do espaço e tempo ia além das dimensões corriqueiras da cidade. Acho que era porque no fundo já sabíamos que passado e futuro pouco tinha graça. Então, através de modos completamente não-formais, selamos um acordo de congelamento do tempo enquanto houvesse brincadeira: Só tempo presente era lei nas terras de Itapeva! E era algo que transformava a força do querer em seu maior grau de expressão; realização em fazer nada de ‘útil’ e coragem garantida no coração dos bem-aventurados que se arriscassem no espaço de tempo em que o sol nascia até o entardecer. Não sabíamos muito bem o porquê dos adultos monitorarem o nosso tempo de brincar... Mas, para nós, lançar-se n´água, correr léguas e léguas dos gansos brabos, rolar barrancos, e assar bolinhos de barro nas pedras fazia parte do nosso ‘não-tempo’, afinal, tempo contado nunca fez amora virar geléia dentro da minha tigela de folhinhas, nem manga rosa do pé amadurecer de um dia para o outro só pela força do ponteiro do relógio. Era preciso t-e-m-p-o. Tempo para enraizar afetos, amadurecer ideias mirabolantes e florescer em brincadeiras. Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma e que você não pode vender no mercado como, por exemplo, o coração verde dos pássaros,serve para poesia. Manoel de Barros, em Matéria de poesia. Itapeva era a terra do sapo Zezinho, dos cachorros que brotavam do mato, das crianças mais sujas e esfoladas que dançavam Macarena de dia e uivavam pra lua a noite. Todas as inutilidades essenciais das memórias de minha terna infância fazem-me lembrar e imaginar o poeta cuiabano Manoel de Barros que, se conversasse a respeito comigo, provavelmente diria que, diante da lembrança, poderia muito bem transformar todo esse barro em matéria de poesia... Fingindo que a conversa existiu, como qualquer poeta fingidor - e com poderes mediúnicos, já tomo para mim o conselho de Manoel. Eis que o cantinho mineiro dos acontecimentos desimportantes, e dos grupos de crianças formados por irmãos, primos, vizinhos, filhos de caseiros e seus respectivos animais livres, tropicaram nas palavras desajeitadas da professora que vos fala. Vinte anos depois, vejo que Itapeva é sim matéria de poesia! Obrigada, Manoel. Memória de porteira Para filho com berne, remédio roxo. Para irmão com febre, banho de bacia. Para solidão: - vai lá, procura companhia! E nenhum dia passa em branco nos vãos do tempo e nos tempos vãos de um céu que já nasce azul, e nos instantes que escorrem pelas mãos. Seguir bicho-pau para saber onde ele mora, Vigiar a casa do joão-de-barro que, para ficar pronta, demora, Esperar o mês de Novembro para subir no pé de amora, Acordar quase de madrugada e ver qual a rota do tucano. Tudo que eu vejo, sei, Tudo que toco, não me engano. Meninas novas brincam na estrada E o corpo que balança, pendura a poesia no portão: As mãos agarradas são as ideias E o vestido voando é a emoção. Se poesia de criança é brincar, Adulto bem que podia aprender poesia com criança, E abraçar sua bem-aventurança. Adulto que brinca carrega no coração, Até o último sopro, Sua própria iluminação. Gente crescida carece olhar; Olhar de novo e de novo. E, quem sabe, de repente, tudo fica novo? Enquanto a gente esperar, E, em mais nada acreditar, A tarde morre cinza, E diferença nenhuma vai restar Das músicas das manhãs às trocas das estações, Das sensações que antecedem a experiência, E até dos prazeres da própria vivência; Nada vai restar. A tarde cinza vai te apagar, Se a criança da memória Você não resgatar. II Intervalo de Escola 150 horas por semana. 600 horas por mês. 5.400 horas por ano. Esse é o tempo de intervalo que, as crianças e adolescentes da escola particular em que trabalho, têm para proveito próprio - individualidades que se misturam na amplidão dos coletivos; descem as escadas, rampas, correm os corredores compridos e estabelecem - em alto e bom tom - o que querem fazer ou não. Como estagiária e observadora das escolas que percorri durante a graduação, sempre me aproximei do brincar, desse fenômeno envolto de expressividade, prazer, imprevisibilidade, riscos e encontros. Com o curso Qualificação em Agentes do Brincar, pude propor-me uma provocação que, vez por outra, acredito que nós professores e/ou adultos brincantes - sendo aprendizes conscientes do mundo - devemos nos colocar. Acontece que, desta vez, foi uma experiência que me sacudiu. Alertou-me para a urgência em agir nos papéis da docência e também nos meios em que perpasso. Afetou-me com o prazer da experiência e com o exercício da escuta e da proximidade. Como estagiária, fui incubida a mediar as brincadeiras de intervalo, numa ampla sala de projetos, com armários repletos de jogos diversos. Como é interessante abrir portas e janelas e pensar na disposição de espaços propícios ao brincar! Contribuir para montagem de espaços convidativos tornou-se meu desafio diário (visto que haviam poucos minutos para que eu pudesse pensar/fazer da sala um espaço multifuncional), e, o momento de mexer no espaço, pouco a pouco, movimentou algumas crianças que também envolveram-se nesse processo. Logo, fomos para além das portas e estendemos intencionalmente a proposta para o lado externo, trazendo alguns jogos tradicionais e populares que colaboraram até para invenções de novos jogos. Para expressar a experiência vivida (mistura de uma tentativa de refletir e aplicar abordagens pertinentes estudadas no curso concomitante a vontade constante de aprender na escola com a oportunidade prática), os poemas a seguir apresentam o que pude (vi)ver nesse período. Corpo ocupa O corpo na escola É como em qualquer lugar É corpo que encarna as dúvidas as procuras o desejo em transitar. Em espaços abertos, invadem E mais longe chega o olhar Horizonte é linha que chama O que há em mim para o que lá está. Inquieto, incomoda [os outros e a si enquanto se ajusta E nunca se conforma com o que não faz sentido para ti... Corpo não fica em casa enquanto a cabeça vai pra escola Já dizia o grande sábio: - se quer saber, incorpora! Dos espaços nada sobra, nada passa Tudo colabora. Sentir no corpo é construir [a própria busca Que diante da incessante novidade A visão não se ofusca. Desaprender Jogo pronto? Ninguém está pronto! Comem Correm Atrasam-se Espatifam-se Mas o jogo pronto Torna-se ponto de encontro e de partida para uma brincadeira estendida Nos minutos que antecedem - a música que rompe - as brincadeiras com a ida. Logo o jogo pronto torna-se tudo - menos pronto - e o bambolê de rodar vira condição de passar a bolinha de ping-pong para o jogo dificultar. Jogo pronto fez nascer o jogo não-pronto já não posso esquecer “Manual de regras para quê?” Carta de Dixit vira estória De Uno vira recurso Xadrez pode ser com o corpo Slime está em tudo E o Dominó vira entremeio para se tatear já que pouco a menina pode enxergar. Brincar é caminho reverso… Inverte-se para não saber onde chegar. Brincadeira de criança é poesia: Tudo pode. E brincadeira de professora é desaprender enquanto a criança insiste em mostrar que o melhor é poder expressar as várias formas de brincar. III Olhar sensível Considera-se o jogo como o mais vivo modo de expressão e a maneira mais apropriada para a criança de se conduzir no mundo, a única forma de atividade que brota espontaneamente da sua existência de criança. Só aquilo que se pode aprender através do jogo corresponde à sua vivacidade. (Arendt, H. 2000) Ao acompanhar as brincadeiras de intervalo,da escola em que sou estagiária/mediadora, e também concomitantemente como aluna do curso Qualificação em Agentes do Brincar, além de brincar com o corpo e com a poesia que me surgira, pude perceber que, - através da observação e o exercício da reflexão atrelado às ações rápidas da rotina - que o jogo, a ludicidade, a invenção a partir da construção em grupo, pode disponibilizar alternativas para que as crianças façam suas próprias escolhas, manifestando suas potências, suas ações mais autênticas, seguindo um princípio de significação de experiências; possibilidades que muitas vezes só podem ser exploradas através do fenômeno do brincar. Vale lembrar que diante das aberturas para estas possibilidades, existirá um corpo em movimento. Afinal, não há um ato que não seja feito com o corpo; e, se pensarmos em escola e educação através da ação, devemos compreender a potência do corpo no processo. O jogo, o brincar, e as mais diversas tecnologias que a escola pode oferecer às crianças sempre a colocarão em estado de movimento (quer a escola queira ou não); a ação torna-se geradora de um esforço e este esforço, então, desafiará a própria criança à lidar com um tipo de conhecimento que antes era desconhecido. Brincar é pesquisar, criar, descobrir, (moviment)ação. Brincar é poesia. Poesia é transver. “É preciso transver o mundo”, disse Manoel de Barros. Referências ARENDT, H. A crise na Educação. In: Entre o passado e o futuro. Tradução de Mauro W. Barbosa de Almeida. 3ª reimpressão da 5ª edição de 2000. São Paulo, Perspectiva, 2005. BARROS, M. Meu quintal é maior do que o mundo. Editora Alfaguara, 2015.

  • OS AVÓS E O FUTURO DAS CRIANÇAS

    - Daniela Signorini Marcilio - - Fabio Lisboa - - Marilena Flores Martins - “Os dois melhores presentes para dar aos nossos filhos: um são raízes o outro são asas.” Khalil Gilbran Em uma sociedade, com mudanças culturais intensas e rápidas, podemos observar o impacto nos padrões de comporta mento das famílias, com diferentes formatos e tamanhos, em relação às gerações anteriores. Nas famílias atuais a criança, muitas vezes, não tem irmãos ou amigos com quem brincar e as mães e pais preocupados com a sua carreira profissional, passam um tempo menor com o filho, deixando-o aos cuidados de babás e/ou avós. Em famílias menos favorecidas é constante a presença de avós que acabam substituindo os pais na educação, socialização e sustento das crianças. Idosos também têm uma contribuição importante em outros aspectos da vida familiar. Além da ajuda financeira, as mulheres idosas tendem a se manter no seu papel tradicional de cuidadoras da família, promovendo uma significativa mudança nos laços intergeracionais. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2016 a população mundial vem envelhecendo rapidamente em função da queda da taxa de fecundidade em diversas regiões do mundo e do aumento da expectativa de vida. O estudo informa que a população brasileira também experimenta esse fenômeno. Entre 2005 e 2015 aumentou o percentual de pessoas com 60 anos ou mais de idade na população. Neste período os idosos passaram de 9,8% para 14,3% da população brasileira, sendo que este crescimento se deu em todos os grupos etários de idosos (de 60 a 64 anos, de 65 a 69 anos, de 70 a 74 anos, de 75 a 79 anos e de 80 anos ou mais). Os maiores percentuais de idosos foram encontrados nas Regiões Sul e Sudeste, com 15,9% e 15,6%, respectivamente, e o menor na Região Norte, com 10,1% da população composta por pessoas com 60 anos ou mais de idade. Realizada pelo IBGE (2000), pesquisa aponta que, no Brasil, mais da metade dos idosos são os responsáveis pelo sustento dos filhos e ajudam a criar os netos. A co-residência de várias gerações é uma nova forma de arranjo familiar e reforça a ideia de que experiências e valores, bem como suporte financeiro e emocional, estão sendo compartilhados entre várias gerações, destacando-se aí as relações entre netos e avós. Este fato pode constituir importante elemento de valorização do idoso na sociedade. Por outro lado, as descobertas da ciência salientam que o desenvolvimento das competências cerebrais está diretamente relacionado ao tipo de ambiente pós-natal e social onde se insere a criança. Crianças se incluem no mundo, cedo, por vínculos criados com seus cuidadores que satisfazem suas necessidades, da alimentação ao afeto/reconhecimento. No que se refere às condições ambientais, a interação adulto-criança e a convivência propiciada em ambientes afetivos, inclusivos e lúdicos contribuem decisivamente para o pleno crescimento do potencial infantil. A sintonia entre os seres humanos se inicia com a ligação do bebê com o seu cuidador, incluindo as primeiras trocas de sorrisos e as primeiras brincadeiras. Experiências continuadas de privação e desamparo podem ser a origem de sérios distúrbios de desenvolvimento. A relação positiva da criança com seus cuidadores é fator decisivo no desenvolvimento do apego, refletindo na sua qualidade de vida, reduzindo riscos de agressividade. O enriquecimento do ambiente, que inclui o fortalecimento de vínculos afetivos e sociais, principalmente na faixa etária de zero aos seis anos, influencia diretamente no processo de desenvolvimento da criança, podendo-se dizer que são fundamentais nessa fase: a estimulação humana, o tipo dos vínculos afetivos existentes e a atmosfera emocional adequada, que, dentre outras, desenvolvem a comunicação verbal e a linguagem, fatores importantes para o fortalecimento das competências socioemocionais, o aprendizado, e para o controle adequado dos impulsos. Convivendo com os avós, as crianças têm oportunidade de desenvolver e fortalecer vínculos afetivos positivos, bem como vivenciar valores como: bondade, honestidade, esperança e alegria em fazer bem feito. Conviver e brincar juntos contribuem para que as crianças descubram a si mesmas e ao mundo, além de propiciar o surgimento de habilidades e competências fundamentais, e desenvolver áreas do cérebro responsáveis pelo sentimento de empatia, tão importante em um mundo cada vez mais diversificado. Mas como avós e idosos são entendidos em outras culturas? Quais papéis poderiam ser atribuídos a eles/as? Quais seriam as contribuições desse grupo à sociedade a partir da memória, dos contos e da tradição oral? O que eles pensam sobre as brincadeiras e a infância na atualidade? De que forma poderiam contribuir para potencializar o brincar nas grandes cidades? São as perguntas que direcionam as discussões apresentadas neste capítulo, e que serão apresentadas a seguir. Avós, memória viva, contos e tradição No que diz respeito a valorizar os idosos, temos muito a aprender com culturas cuja tradição oral ainda influencia fortemente a formação humana, como: etnias indígenas brasileiras e povos africanos. Para o tradicionalista Amadou AmpâtéBâ, os velhos são a memória viva da África. Lá, tudo é “história”. Além disso, um homem idoso encontra sempre outro mais velho ou mais sábio do que ele, a quem pode solicitar uma informação, opinião, aprendizado. Então, “Todos os dias, o ouvido ouve aquilo que ainda não ouviu”. O grande escritor indígena Daniel unduruku (MEDEIROS; MORAES, 2016) apresenta a figura de seu avô de forma marcante e afetuosa em alguns de seus livros e constata que em sua cultura é como se gente jovem não soubesse contar histórias: “Gente jovem sabe pescar, caçar, subir em árvore, nadar no rio, fazer filho, cuidar da roça. Os pais, que são geralmente jovens, educam o corpo das crianças. Quem educa a alma das crianças são os velhos, os avós. E o velho não nega a sua função. Ele não quer ser outra coisa a não ser velho”. Em inúmeras culturas orais, tanto indígenas quanto africanas, as histórias são narradas no presente. É como se o narrador fizesse vivo os seus antigos feitos ou feitos de seus antepassados. Mas essa valorização da palavra dos mais experientes em vida também acontece em outras culturas. No livro A Revolução dos Idosos, Frank Schirrmacher (2005) relembra registros do sociólogo Austin Lymanque, em visita ao povo Navajo (indígenas norte-americanos); documenta que eles suportam a velhice intactamente ao contarem uns aos outros suas glórias passadas, por menores que fossem, por exemplo, ao vigiarem as suas ovelhas em condições das mais adversas. Já a escritora Luzia de Maria (2016) alerta para o perigo não só do sedentarismo físico, mas do sedentarismo intelectual, apontado como catalisador de doenças degenerativas do cérebro como mal de Alzheimer e demências diversas. Este sedentarismo pode ser combatido realizando atividades prazerosas com os netos como brincar, contar e ler histórias, rememorar fatos e brincadeiras da própria infância. A autora salienta também sobre o dilema da solidão, fator de sofrimento na velhice. Todavia, quem lê e compartilha histórias, tem maior capacidade de escuta do outro, desenvolve a empatia, passa a ter o que dizer. Logo, não se sente sozinho (já que está sempre na companhia de maravilhosos personagens) e quando tem pessoas ao seu redor, sabe conversar, ouvir, entreter e, portanto, é mais bem aceito socialmente. Quem teve o contato afetivo com os avós dá valor aos idosos. Ao valorizarmos os mais velhos, sua experiência de vida, estamos abrindo um caminho bem aventurado para ser quem somos, bem como, para nossos filhos e netos serem quem escolherem ser. Mas do ponto de vista do idoso, como ele enxerga o brincar no contexto de uma grande metrópole como São Paulo? Brincar multigeracional Para os avós, brincar com os netos ajuda a esquecer de que o tempo passou, e a tomar consciência das suas limitações, com a sabedoria que a idade lhes deu, contribuindo para encontrar a melhor maneira de serem avós. Não podemos esquecer que as crianças lêem os nossos gestos e expressões, e copiam o nosso exemplo. A fórmula do brincar que funciona para os adultos é diferente do que a que serve para as crianças. O brincar pode ser encontrado nas atividades prazerosas, que não tenham ônus, que não envolvam cobrança de resultados. Pode ser um jogo, um trabalho manual ou uma conversa com os amigos. São todas as formas de brincar. De acordo com Richard Layard (2005), pesquisador da London School of Economics, no Reino Unido: “Evidências mostram que as coisas que mais importam para nossa felicidade e infelicidade são nossas relações sociais e nossa saúde física e mental”. Considerações finais As brincadeiras são ainda uma excelente oportunidade para pais, avós e crianças desenvolverem laços de afetividade e companheirismo. As brincadeiras variam de acordo com o momento e a idade das crianças, mas o mais importante é que os adultos estejam dispostos a compartilhar o seu tempo e a sua energia com elas, desde a idade mais precoce. A partir das informações apresentadas, entendemos que as famílias devem brincar juntas e que brincadeiras e jogos não são somente para as crianças. O mais importante é que pais, avós, netas e netos, acreditem que o caminho para melhorar a vida das crianças é fazê-las felizes. Brincar com as crianças pode realmente ser prazeroso para toda a família! Ao brincar e conviver com pessoas de diferentes idades, capacidades e culturas as crianças aprendem a aceitar as diferenças e desenvolvem a tolerância e o respeito pelo outro, condições indispensáveis para a construção da Paz. Referências Bibliográficas GARDNER, H. Cinco Mentes para o Futuro. Porto Alegre: Artmed, 2008 GOLEMAN, D. A Inteligência Emocional. Brasil: Saraiva, 1995. GRUNSPUN, H. Criando Filhos Vitoriosos. São Paulo: Atheneu, 2005. HUGHES, P. F. Children, Play and Development. USA: SAGE Publications,2010. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA-Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Estudos & Pesquisas, Informação demográfica e socioeconômica, n. 36, 2016. IPA BRASIL. Agentes do Brincar. Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2017. IPA BRASIL. Artigo 31 da Convenção dos Direitos da Criança. O desenvolvimento infantil e o Direito de brincar. São Paulo: IPA Brasil, 2013. LAYARD, R. A Good Childhood: Searching for Values in a Competitive Age. Londres: Penguin Books, 2009. _________ Happiness: LessonsFrom a New Science. Penguin Press, 2005. LOUV, R. Last Child in the Woods.USA: Algonquin Books, 2005. MARCILIO, D. S. Brincadeiras infantis no Município de São Paulo:Penha e Cangaíba entre o passado e o presente (Dissertação de Mestrado). Escola de Artes, Ciências e humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015. MARIA, L. Amor Literário. Rio de Janeiro:Ler e Cultivar Editora, 2016, p. 133. ________ Clube do Livro: Ser leitor, que diferença faz? São Paulo:Global, 2016, p. 133. MARTINS, M.F. Brincar é preciso. São Paulo: Ed. Evoluir Cultural, 2009. MARTINS, M.F.; TALBOT, J.P.; THORNTON, L. A Chance toPlay.O Direito de Brincar. Diadema: Hannay Empreendimento Social, 2013. Disponível em .Acesso em 28 set. 2017. MEDEIROS, F.H.N.; MORAES, T. M. R., VEIGA, M. B. (Orgs). Contar Histórias uns passarão, outros passarinho. Santa Catarina: Editora Univille, 2015. p.127. MEDEIROS, F.H.N.; MORAES, T.M.R. (Orgs). Contação de Histórias: tradição, poética e interfaces. Edições SESC, 2016, p. 155, 179. ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Comentário geral sobre o artigo 31. Disponível em: . Acesso em: 28 set. 2017. SCHIRRMACHER, F. A revolução dos idosos: como será o novo choque de gerações. São Paulo: Campus, 2005.

  • O BRINCAR COMO FERRAMENTA DE MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

    - GISELE FREIRE PINHEIRO Saí da aula “A arte em movimento (Oficina prática: Brincandança)” com o desejo de que outras pessoas pudessem experienciar as sensações que vivi ali: alegria, liberdade, conexão, desprendimento, entre outros. Queria poder colocar tudo o que vi em prática, reviver tudo aquilo. Na semana seguinte, vi nos conflitos surgidos entre as mães dos usuários que frequentam o nosso serviço, um Núcleo de Apoio a Inclusão para Pessoas com Deficiência, mais do que a oportunidade de colocar o meu desejo em prática, pude perceber o brincar como ferramenta de mediação de conflitos por meio da socialização, estreitamento de vínculos e aprimoramento das relações interpessoais. Com essa justificativa, a equipe técnica conduziu no dia 30/10/2018, nos períodos da manhã e tarde, o trabalho socioeducativo em grupo especial do mês das crianças, intitulado “Vamos brincar?”. Para tanto, planejamos e seguimos o seguinte roteiro: Quebra-gelo: momento de relaxar e dispersar os pensamentos ruins. Foi proposto que os participantes relaxassem, “soltassem” o corpo e em seguida, fizessem e recebessem massagem simultaneamente. Todos foram instigados a dizer o que desejavam deixar do lado de fora, e as palavras foram seguidas da expressão “sai!”. Após isso, sopramos pensamentos positivos em nossas mãos e, de mãos dadas, simbolizamos a permanência deles em nosso meio. O posicionamento em círculo garantiu que todos participassem. Contextualizamos a ordem das brincadeiras nos baseando no histórico da instituição, de forma que as atividades contassem uma história. Dinâmica do sorriso: Falamos um pouco sobre o início dos atendimentos, quando as famílias ainda eram um pequeno grupo, reunido no salão da Igreja São Francisco. As dificuldades financeiras existiam, mas as mães não se deixavam abater e se esforçavam para garantir fundos para o projeto que ali nascia. Os convidamos para ganharem o máximo de dinheiro possível para manter o programa comunitário, fazendo com que os outros sorrissem. Distribuímos notas (5 para cada pessoa) e pedimos que as pessoas se espalhassem. Solicitamos que cada pessoa, carregando suas notas, procurasse um colega, ficasse frente a frente com ele e olhasse em seus olhos. A ideia era fazer os colegas sorrirem e ganhar as notas deles. O desafio foi não sorrir junto e manter-se sério durante essa dinâmica. No final no tempo, quem juntou mais notas foi o vencedor da brincadeira. Bate o monjolo: Falamos sobre a importância de administrar bem todo o dinheiro arrecadado, tomando cuidado para que ele não se perdesse. Neste sentido, todos nos tornamos guardiões do dinheiro da instituição, passando-o de participante em participante, de forma que nenhum espião pudesse vê-lo. Um responsável ficou no meio do círculo formado pelos demais familiares, enquanto uma moeda foi passada de mão em mão, ao som da música bate o monjolo. O desafio foi saber com qual participante a moeda estava, ao término da cantiga: “Bate o monjolo no pilão, Pega a mandioca pra fazer farinha. Onde foi parar meu tostão? Que passou para a vizinha. Casa, morador e terremoto: O dinheiro adquirido pelas famílias foi importante, mas, um financiamento vindo do exterior, permitiu que tivéssemos uma casa. Nesta brincadeira propomos que cada família buscasse uma casa, de forma que ninguém ficasse de fora, da seguinte forma: Formamos trios e 1 pessoa ficou de fora. Pedimos que, deste trio, duas pessoas ficassem uma de frente para outra de mãos dadas, de maneira a formar um telhado; a terceira pessoa ficou no meio das duas. Descrevemos os papéis de cada um: aqueles que estavam no meio das duas pessoas foram chamados de MORADORES, os que estavam de mãos dadas, CASAS. O que sobrou deveria, após o comando, fazer parte de uma CASA ou ser um MORADOR. Os comandos: 1º) Quando falássemos MORADOR, os MORADORES de cada trio deveriam sair de suas CASAS e procurar uma outra, aquele que estava de fora aproveitaria para procurar uma nova CASA. 2º) Quando falássemos CASA, as CASAS deveriam deixar seus MORADORES e procurar outro MORADOR. 3º) Quando falássemos TERREMOTO, tanto os MORADORES quanto as CASAS deveriam se desmanchar por completo e formar novas CASAS e novos MORADORES. C, S, Composto: Nesta brincadeira os participantes mencionaram os objetos necessários para manter a casa em funcionamento, seguindo uma mesma categoria, por exemplo: arroz, feijão, macarrão, ou: mouse, teclado, monitor; sem pronunciar palavras compostas ou iniciadas com as letras C e S. O participante com a bola em suas mãos teria alguns segundos para dizer a palavra, ao acertar, jogaria a bola para outro participante, se errasse, sairia da roda. Ganhou o último participante a permanecer na roda. Teia: Finalizamos a atividade com a formação de uma teia de bons sentimentos e desejos, para serem mantidos dentro da casa e serem praticados entre as famílias. O responsável que deu início à dinâmica segurou uma ponta do barbante e desejou algo ao próximo participante, para quem jogou o carretel, este, permaneceu segurando a ponta e entregou o carretel para outro colega, novamente desejando algo bom. Os desejos e a passagem do carretel continuaram até que todos participassem. Ao término, colocamos delicadamente a teia no chão e pedimos que todos a observassem e dissessem o que estavam sentindo em relação ao que haviam acabado de fazer e como interpretavam a teia. Material utilizado: Notas sem valor, moeda, bola e rolo de barbante. Discussão do tema a partir de alguns autores (futuro) Considerei que o brincar poderia ter uma relação direta com a resolução de conflitos a partir das experiências que vivi nas aulas. Inferi que o contato físico, a ajuda mútua, a diversão, entre outros, pudessem fazer com que relações enfraquecidas fossem gradativamente recuperadas. Ao pesquisar sobre o brincar e a resolução de conflitos, o que mais se aproximou do meu objetivo foram os jogos cooperativos. Segundo Schwartz, Bruna e Luba (sem ano), Os conceitos de jogo são complexos e dependem especificamente da concepção filosófica de suas inúmeras teorias. O termo jogo é associado, muitas vezes, à brincadeira, brinquedo, recreação, no entanto, tem um caráter próprio, favorecendo resoluções de problemas de diversas naturezas, permeadas de simbologia. O jogo é intrinsecamente motivado, espontâneo voluntário e prazeroso, tendo um fim em si mesmo. Essa definição abarcou em parte àquilo sobre o qual eu gostaria de falar quando me propus a escrever sobre o tema e também quando realizei o trabalho socioeducativo com as famílias, afinal, eu não havia utilizado jogos cooperativos. Somente os jogos cooperativos teriam esse poder? Queria falar sobre um brincar mais livre, menos estruturado, planejado. Comecei a pensar sobre o que o brincar proporcionou àquelas famílias em nossa vivência. Conseguimos desenvolver todas as brincadeiras planejadas em nosso roteiro. Em algumas houve dificuldade de compreensão por parte dos participantes, mas, estas foram superadas com o auxílio mútuo e não prejudicaram o andamento das atividades, pelo contrário, a cooperação garantiu, desde os primeiros momentos, a aproximação dos integrantes. As brincadeiras garantiram possibilidades de expressão, comunicação, contato físico, cooperação e aprendizado entre os familiares. Além disso, o feedback foi positivo. Os responsáveis relataram que se divertiram muito e mencionaram em especial a brincadeira casa, morador e terremoto. A dinâmica da teia proporcionou reflexões acerca do papel de cada um e das relações interpessoais. Pudemos contar com o brincar como uma das ferramentas de transformação da demanda mencionada. Neste sentido, podemos dizer que o brincar atuou de maneira indireta, como um mediador, à medida que promoveu socialização, e a socialização, por sua vez, atuou no estreitamento de vínculos, processo importante para aplacar conflitos. Portanto, voltei minha pesquisa para o processo de socialização através do brincar, entendendo que este está intrinsecamente ligado à criação e estreitamento de vínculos, necessários para a mediação de conflitos. Ainda assim, encontrei pesquisas que relacionavam o brincar quase que estritamente as crianças. Oliveira e Sousa (2008) citam Rosa (1998) ao dizer que: o tema brincar está associado à infância porque a brincadeira é uma atividade típica – mas não exclusiva – da criança; e é na infância que ela se inaugura. Como afirmou a autora, o brincar não é uma atividade exclusiva da criança, mas, se inaugura na tenra idade, junto ao momento em que, segundo Oliveira e Sousa (2008) se inaugura o processo de socialização na vida do indivíduo, devendo permanecer este processo ao longo de toda a sua vida. Os autores citam ainda que esta socialização se utiliza do ludismo, ou seja, das brincadeiras para se manter (pg 1). Logo, o brincar inaugura e sustenta a socialização, ao mesmo tempo em que a socialização também é inaugurada e sustenta o brincar. Onde existe o brincar também existe a socialização, uma vez que para brincar é necessário estar em contato com o outro ou com elementos culturais externos, e para socializar-se, é necessário internalizar elementos externos, culturais, que vem de fora, do outro, e a criança faz isso por meio da brincadeira. É neste brincar compartilhado que emerge na vida da criança o processo de socialização. Este que tem como primeiro instrumental o brincar. Assim, já podemos distinguir o verbo substantivado “brincar” do substantivo “brincadeira” (Oliveira e Sousa, 2008). De acordo com Oliveira e Sousa (2008), que citaram Winnicott (1975): o ato de brincar ocupa o interstício entre a ilusão, (a fantasia infantil) e o real, (os objetos do mundo real). O brincar é a grande experiência cultural dos indivíduos. A esta área ocupada pelo brincar, Winnicott dá o nome de “área intermediária” ou “espaço potencial”. Este espaço estaria, na primeira infância, entre a mãe e o bebê e foi chamado por Winnicott de “playground” por ser o lugar onde a brincadeira começa na vida do indivíduo. Logo, a criança que brinca habita uma área específica, mas tarde ela trará para essa área objetos (brinquedos) ou fenômenos oriundos da realidade externa. Na verdade, esta área intermediária está presente na constituição do ser de modo geral, o que a diferencia é o uso que o indivíduo fará dela a cada ciclo de sua vida. Na primeira infância o bebê faz uso deste espaço para criar ilusões; a criança durante a infância utiliza-se dele para brincar; e é nele que o adulto vai desenvolver a sua criatividade. A área intermediária ou espaço potencial os quais o autor se refere, estão presentes em todas as fases da vida, portanto, há espaço para a ilusão, brincadeiras e criatividade ao longo de todo o ciclo da vida, sendo um essencial para que se alcance o outro e, quando se avança ou se passa de etapa nessas áreas, as habilidades adquiridas na anterior não são anuladas ou inutilizadas, portanto, ainda que estejamos na fase adulta, em pleno desenvolvimento de nossa criatividade, podemos ainda criar ilusões e brincar, desde que sejamos estimulados a tanto. É possível concluir que, se a socialização se utiliza do brincar para emergir, e o brincar ocupa o espaço potencial (entre a ilusão e o real), do qual todos nós somos dotados, podemos todos, adultos, crianças ou idosos, utilizarmos o brincar como ferramenta de socialização e mediação de demandas conflituosas. Referências JOGOS COOPERATIVOS NO PROCESSO DE INTERAÇÃO SOCIAL: VISÃO DE PROFESSORES1 Gisele Maria Schwartz2 Helena César Bruna3 Gustav Marcus Luba4 1 Artigo apresentado como relatório científico ao Núcleo de Ensino/FUNDUNESP, referente ao Projeto nº 693/02. 2 Professora assistente doutora do Departamento de Educação Física – IB/UNESP/Rio Claro. 3 IB/RC/UNESP 4 IB/RC/UNESP Brincar para Comunicar: A ludicidade como forma de Socialização das Crianças Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste – São Luis, MA – 12 a 14 de junho de 2008. Leide OLIVEIRA2 Emilene SOUSA 3 Universidade Federal do Maranhão, Imperatriz, MA 1 Trabalho apresentado no GT – Mediações e Interfaces Comunicacionais, do Iniciacom, evento componente do X Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste. 2 Estudante de Graduação 3º. Período do Curso de Comunicação Social/Jornalismo, Bolsista da FAPEMA, email: leide_s@hotmail.com. 3 Orientadora do trabalho. Profª. Msc. Emilene Leite de Sousa, Professora Assistente da UFMA, email: emilene_l@hotmail.com.

  • A Criança e o Brincar

    - Priscila Galvão - “A natureza quer que as crianças sejam crianças antes de serem homens. Se quisermos perverter essa ordem, produziremos frutos temporãos, que não estarão maduros e nem terão sabor, e não tardarão em se corromper; teremos jovens doutores e velhas crianças. A infância tem maneiras de ver, de pensar e de sentir que lhe são próprias.” ( Jean Jackes Rousseau apud Pinheiro p.1). A Criança De acordo com o dicionário Aurélio, o significado de Criança é: 1. Ser humano de pouca idade, menino ou menina. 2. Fig. Pessoa ingênua, infantil, imatura. Por sua vez Infância, tem como significado, etapa da vida humana que vai do nascimento à puberdade, puerícia, meninice. 2. As Crianças. (...) A definição de infância como se tem atualmente é diferente do que se tinha há alguns tempos atrás. Na antiguidade a criança não tinha valor dentro da sociedade. Em decurso da Idade Média, as crianças eram consideradas pequenos adultos ou seres unicamente biológicos, por isso, infere-se que a idéia de infância é recente. Por tempos entendeu-se que a criança é um adulto em construção, entretanto, segundo Carneiro e Dodge (2007) a “adultização da infância” é nociva para o universo infantil, porque as crianças deixam de ser crianças, queimando uma etapa de seu desenvolvimento. Historicamente, no Brasil o trabalho foi supervalorizado, em face do ócio e/ou do brincar, pois brincar é considerado por determinados grupos como “perder tempo”. Essa postura vem causando inúmeros prejuízos ao desenvolvimento de crianças e jovens, sendo inclusive um dos motivos que tornam difícil a erradicação do trabalho infantil, pois ainda existem pessoas que compartilham do paradigma de que é melhor trabalhar que ficar “sem fazer nada”. (Thornton, Talbot e Flores, 2013 p. 18) Hodiernamente as mudanças sociais têm estabelecido uma nova forma de enxergar a infância e a criança. As estruturas sociais, as condições de vida, as concepções intelectuais estão passando por mudanças contínuas e expressivas. Transformações vistas no cotidiano, desde a composição familiar, na escola, nos espaços públicos, na propagação das mídias sociais e a comunicação está cada vez mais rápida. Para Mamede (2003), há que se considerar que a família, do ponto de vista da sua estruturação, vem passando por profundas modificações, o que acarreta diferentes configurações e transforma literalmente as relações existentes em seu interior. (apud Carneiro & Dodge, 2007 p.82). Em diversos países, a criança já vem sendo percebida como co-criadora, ou seja, sujeito que participa e interfere na construção da realidade em que vive. Portanto, essa criança não deve ser vista fora do contexto, mas como um resultado da realidade do meio em que é proveniente. Sendo percebidas suas peculiaridades e vista como sujeito de direitos e deveres. A família é o ambiente no qual ela “desperta para a vida como pessoa, interioriza valores, atitudes e papéis, onde se desenvolve de forma espontânea o processo fundamental da transmissão de conhecimentos, de costume e de tradições”. (Homem, 2002 p.36 apud Carneiro & Dodge 2007 p. 110). Para formação da identidade pessoal e social da criança, ela precisa estar em contato com realidades diferentes, para apreensão de valores, construção de conhecimentos e idiossincrasias. Para isso, recebe contribuições da família, professores, colegas de classe, outras crianças, ou seja, ela necessita de interação para o processo de aprendizagem, conforme interage ela cresce e socializando entende-se como sujeito. Segundo Martins[1], as crianças precisam de oportunidades para desenvolver seu corpo, mente e alma, de forma indivisível e integrada. Não existem preocupações em estabelecer um modelo de criança, mas sim em compreender a infância como um todo, partindo do cuidado e atenção, inserindo o infante no contexto cultural, social, político e econômico do qual esse é partícipe. É cuidando desse momento da vida, a infância, que poderemos ter um mundo mais justo, menos violento, onde o respeito ao semelhante é praticado, com maior qualidade de vida para todos, entre outras ações. Portanto, viver a infância é direito de todas as crianças, e a infância é entendida como condição indispensável para que as crianças exerçam uma cidadania consciente e refletida, que possa servir de base para um mundo melhor. (Carneiro & Dodge 2007 p.26) Entre os direitos concedidos a criança, está inserido o direito de brincar de forma livre e que assegure a essa o seu desenvolvimento. Mas como brincar em meio a uma sociedade que se expande de maneira caótica, onde tempo e espaço fica cada vez mais escasso? Com excesso de atividades que tomam o tempo livre das crianças, tarefas que vão além das aulas escolares, como por exemplo: cursos de línguas estrangeiras, curso de informática, esporte e/ou danças, etc. Tarefas que mantêm cada vez mais as crianças fora de casa, que preenchem e/ou consomem o tempo livre sem permitir que a criança tenha momentos para explorar os próprios limites, experimentar a liberdade ou simplesmente brincar. Em determinadas parcelas da sociedade, as crianças precisam cumprir com responsabilidades em casa, como por exemplo: o trabalho doméstico, o cuidado com os irmãos menores, enquanto os pais trabalham, essas “obrigações” cerceiam o brincar dessas crianças. Além da escassez de tempo, observa-se também, que os espaços disponíveis para o brincar tem-se reduzido. Carneiro & Dodge (2007) afirmam que o brincar livre que está sendo mais prejudicado pelas transformações do espaço urbano. O espaço significa, para a criança, um local onde se adquire o conhecimento, uma vez que nele se desenvolvem as primeiras sensações infantis. Mas, apesar de ser nesse espaço físico que a criança estabelece as relações com o mundo, ele não tem sido pensado em função de suas necessidades. (Carneiro & Dodge 2007 p. 76) As crianças necessitam de espaço para brincar, sendo esses abertos e fechados. Espaços abertos abrangem: quintais, play grounds, ruas, quadras esportivas, espaços rodeados de natureza, parques, praças, pátios escolares, entre outros. Espaços fechados: espaços dentro de casa reservados exclusivamente para o brincar, brinquedotecas, sala de aulas, etc. A expansão da urbanização tem modificado a forma de viver nas cidades. A rua que outrora era um espaço de convívio e interações sociais, tornou-se um local (por vezes) impraticável dentro do contexto do brincar. Com o aumento da violência, o tráfico de drogas, a intensidade do tráfego de veículos automotivos, a exploração imobiliária, tem limitado e reduzido os espaços abertos para o livre brincar. Com isso, as brincadeiras estão reduzidas, e a oportunidade de se movimentar diminui muito. (Ibidem) Toda criança tem o potencial para ser criativa, original, espontânea e inovadora cada criança é um explorador e só precisa de um ambiente estimulante que lhe permita expressar livremente os seus sentimentos, as experiências e uma compreensão da vida. A criatividade das crianças precisa ser alimentada e desenvolvida desde cedo para que ela possa continuar a crescer ao longo de suas vidas. (Thornton, Talbot & Flores, 2013 p.144) O Brincar Brincar para a criança é uma atividade gratuita, que causa satisfação, sentimentos de alegria, não custa caro, precisa ser seguro, não deve machucar sentimentos, corpos e amizades, necessita ser justo e livre. Brincar, conforme Ruffo[2] significa “o que as crianças fazem quando deixadas por sua própria conta. Não há certo ou errado para brincar, nem brincadeira boa ou ruim. Para Freud (1948 apud Carneiro & Dodge 2007 p37), a brincadeira possui funções principais: a da reprodução dos acontecimentos desagradáveis e a da sua modificação pelo brincar, a criança representa o mundo em que vive, transformando-o de acordo com seus desejos e fantasias e solucionando problemas. Brincar tem valor imprescindível no desenvolvimento e no aprendizado da criança, em todos os âmbitos de sua vida: cognitiva, social, física e emocional. É brincando que a criança expressa seus sentimentos e vontades. Brincar compõe a vida do ser humano, por meio do brincar as crianças apreende a cultura dos mais velhos, se integra nos grupos e conhecem o mundo. Ou seja, através das interações a criança compreende o mundo que a cerca. Brincar principalmente na primeira infância, poderá ser um poderoso aliado, pois leva a descoberta de si mesmo, das outras pessoas e do mundo. Nos primeiros anos de vida, a brincadeira é a base de tudo, pois as crianças aprendem por meio de suas experiências, enquanto brincam. (As raízes do sucesso estão na primeira infância – Marilena Flores Martins). O brincar promove na criança comportamentos sociais, os quais envolvem a observação, o entendimento e o cumprir de regras necessárias para convivência entre pares. É fundamental que ela, a criança, brinque de modo que possa aprender durante a vida saberes necessários para participar de um mundo dinâmico, continuamente em transformação. (Carneiro & Dodge 2007) Brincar é uma diversão imaginada, que dá origem a um processo de elaboração, a criança coloca algo de si – cria – criando ela exprime o que é intrínseco nela. Assim, vai transformando informações em conhecimento, criando idéias novas, aprende a expressar suas emoções comunicando-se e socializando-se construindo sua autonomia. Quando a criança brinca com os pais, com adultos ou outras crianças, os vínculos se fortalecem, ela aprende a ser, descobre suas potencialidades, lida melhor com as frustrações, percebe suas emoções e as do outro, desenvolvendo empatia, fortalece sua autoimagem e estimula seu pensamento crítico e a imaginação criadora. (Ibidem p.236) Os pais são os primeiros indivíduos com quem as crianças brincam e aprendem brincadeiras e são esses que contribuem para a formação da identidade da criança. Carneiro & Dodge corroboram que, brincar com os pais estabelece vínculos e faz com que as crianças sintam-se mais acolhidas e seguras. Ao ajudar a estabelecer relações de confiança entre pais e filhos, o brincar contribui para promover o equilíbrio físico e emocional. De acordo com Thornton, Talbot e Flores (2013), brincar é um direito que tem início no nascimento da criança, é vital para o desenvolvimento dessa. O conhecimento de diversas brincadeiras é essencial para as diferentes necessidades, idades e estágios de desenvolvimento das crianças. As crianças precisam brincar todos os dias. As crianças conduzem o brincar, mas freqüentemente precisam de suporte de um adulto. Conclusão Promover o brincar inclusivo, num ambiente adaptado, que estimule a criança com algum tipo de deficiência, oferecendo-lhe condições favoráveis para o seu brincar. Levar todas as crianças a imaginar e criar universos de possibilidades através da contação de histórias. Movimentar-se por meio da dança, brincadeiras de rodas, cantigas folclóricas, usar a música como meio de comunicação, interação e relaxamento. Instigar a criatividade da criança, onde ela construa o próprio conceito de belo a partir do seu olhar, entender a importância de preservar a natureza, reciclando o que não é lixo, criando brinquedos e respeitando o Meio Ambiente. O conteúdo e a forma de brincar, portanto, são deixados por conta das próprias crianças e o valor da brincadeira é avaliado por elas mesmas. De acordo com “O Guia Buskers do Agente do Brincar” não há metas a atingir nem resultados a obter. No brincar estruturado são oferecidos brinquedos e jogos tradicionais, onde há regras a ser seguidas, na troca de informações a criança entende a importância e a necessidade do cumprimento das regras e normas de convivência. Referências: [1] Texto: As raízes do sucesso estão na primeira infância – Marilena Flores Martins. [2] O Guia Buskers do Agente do Brincar (2011)/ Tradução Carla Ruffo.

  • Viver para Contar

    Teresa Cândida G. Moreira 1. Infância, primeira. Há cidades e cidades. Há lugares que nos abraçam e nos convidam ao desfrute imoderado de suas praças, ruas, parques, esquinas, selando em nossa existência a boa aventurança do pertencimento. Em minha primeira infância, três foram as cidades que me envolveram nessa vivência. Elas se misturam e criam em minha memória um lugar único, “amor de índio”: Camocim, Ipu e Uruburetama. Tão distintas entre si e tão semelhantes na acolhida, fui presenteada com as conversas nas calçadas, o balançar das cadeiras, a vizinhança bebendo cajuína, o brincar na pracinha. Eu só fiz mesmo foi nascer no Rio de Janeiro, no mais o que imperou foi esse viver nordestino, simplório, colorido, vivaz. Sim, eu fui uma criança que muito brincou, tendo exercido meu direito ao lazer, à diversão e ao descanso. Eu tinha uma bicicleta “amarelo-queimado” e era possível rodar pelas calçadas e ousar ir um pouco mais longe sem temor, pois os vizinhos, mais que testemunhas, eram os guardiões de minha tranquila infância. Havia sempre a natureza a ser contemplada, explorada e principalmente vivida: nos quintais nas casas, nos matos depois do muro das casas, e indo mais longe, em meio a bicas, cachoeiras e nas piscinas naturais moldadas generosamente pelo mar, sempre divino, maravilhoso. A fase da pré-escola foi registrada nos certificados de conclusão que trazem fotos onde me apresento sentada à mesa da sala de aula, com a cara queimada de sol, ora tendo a bandeira brasileira ao lado, ora um personagem de Maurício de Sousa. As escolas foram públicas, e eu me lembro do cheiro de álcool e da impressão roxa nos papéis rodados por mimeógrafos. O lanche, comum e coletivo unia crianças de realidades distintas, mas que no brincar, no “faz de conta” faziam-se iguais: brincar é mesmo algo muito sério. Minha relação com o Reino das Palavras já existia pela contação de história de minha mãe e minha avó, em seus relatos de uma vida agreste da paisagem árida, da fazenda, dos bichos... o brincar construído pela imaginação, pelo conto e pelo afeto foi primordial no desenvolvimento de minhas habilidades, criatividade e personalidade. Desta forma entendo que a ausência do brincar traz graves consequências ao ser humano em formação, motivo pelo qual ter me coloco como ativista do brincar desde sempre: eu era uma criança que gostava de crianças. Talvez por ter tido uma infância feliz ou sem grandes traumas, eu nunca me conformei em ver outra criança triste ou apartada de um grupo. Realmente me interessava saber como eu poderia integrar essa criança em uma brincadeira, na diversão, procurando animá-la. Ouso afirmar que eu sempre tenha sido de coração, uma agente do brincar na forma mais bruta e autêntica de sua acepção. O brincar sempre me pareceu essencial e por isso era antinatural constatar que existiam crianças que não brincavam. E mais: hoje também me preocupa o adulto que não brinca – e lá vou eu buscar a criança que não brincou ou que está esquecida, emudecida por alguma face cruel do mundo. 2. Infância, propriamente dita. Quando minha irmã e eu completamos sete anos de idade, nossos pais decretaram que era preciso mudar para a capital: tínhamos nos tornado maior do que aquele lugar, diziam. Tinham planos para nós. Assim fomos para Fortaleza. Na cidade que tem em seu nome o sinônimo para “forte” e “lugar protegido”, encontrei o exílio. A primeira e mais marcante mudança foi em relação à moradia. Talvez por acharem a cidade hostil e perigosa, talvez por acharem que se tratava da melhor opção, compraram um apartamento em um condomínio fechado, batizado de “Champs Elisés”, nome pretencioso para tanto concreto junto: três blocos com onze andares e quatro apartamentos por andar. As piscinas, o parquinho e o jardim não davam conta de equilibrar o cinza reinante do concreto, as garagens expostas em meio aos blocos. E havia ainda a garagem subterrânea com seus cheiros úmidos e sons gotejantes, que despertavam a minha imaginação, e por vezes era lugar secreto para as brincadeiras de esconde-esconde entre os carros. Tínhamos que fugir das vistas dos garagistas, porteiros e moradores, que nem desconfiavam que faziam parte da aventura. Era um mundo diferente, e é aqui que minha vivência com o brincar assume nova identidade. Nesse tempo fui apresentada ao vasto mundo da leitura, presenteada com enciclopédias e coleções de livros infantis de capa dura, cujo colorido miolo trazia histórias em profusão. Ah!... como era emocionante explorar o mundo de A a Z, conhecer lugares, pessoas, épocas e enredos tão diferentes de minha vida, tão fascinantes. Embora eu gostasse de jogar “carimba” (aqui em terras paulistanas conhecida como “queimada”), brincar com bola, correr em “polícia e ladrão”, nenhuma dessas brincadeiras me deixava muito longe da... biblioteca. Ou de uma livraria. Nunca era um infortúnio esperar que meus pais fizessem a compra do mês, estando eu dentro da papelaria do shopping, por exemplo. O cheiro de papel despertava a menina-traça, entregue aos jogos de caça-palavras, das cruzadas e à leitura de revistas e livros. Essa entrega à leitura reforçou minha sensibilidade e senso de observação do mundo e das pessoas, pois sentia que conseguia perceber o mundo de forma diferente, criativa. A alegria da criação pela palavra se reforçou nas brincadeiras teatrais, e aos onze anos eu já participava do grupo de teatro da escola e me apresentava em pequenas peças e números de dança. Formava-se ali um pequeno ser brincante, que dá vida às histórias que vivem nos livros e nas lembranças, que não separa o contar do cantar, o viver do sonhar e o brincar do amar. Nas brincadeiras teatrais me percebi como protagonista de meus talentos, me percebendo agente e criadora do meu brincar. Gostava de dançar, cantar, imitar, interpretar. A prática de esportes, que junto ao “brincar” e ao “divertir-se” está compreendido como aspecto do “Direito à Liberdade” do Estatuto da Criança e do adolescente, foi-me assegurado com a prática de aulas de natação, – eu queria ser sereia – e nas brincadeiras com bola – basquete, volleyball. As tecnologias também estiveram presentes no meu brincar infantil. Assim como me preocupa a utilização de tablets e celulares pelas crianças, também conforta a ideia de que uma vez sob a supervisão e orientação de um adulto, as crianças podem fazer bom uso de tecnologias para ampliar seu repertório de atividades, estimulando a criatividade, a improvisação ou a estratégia e a capacidade de análise para tomada de decisões. Neste último caso, os jogos de vídeo game entram como proposta. Recordo-me de como era ser criança nos anos de 1980, de como eu gostava de assistir televisão e amava ouvir rádio. Tínhamos, minha irmã e eu, nossa banda de rock, cuja bateria tinha como tambor grandes caixas de tappaware e os microfones eram embalagens de desodorante. Tínhamos nossas composições, e o melhor: o registro em fitas cassetes gravadas em um aparelho portátil. Lá também ficaram registradas histórias fantásticas de casas mal assombradas, pequenas novelas e claro, nossas músicas. Também costumávamos aproximar o gravador da televisão e gravar as músicas de desenhos para depois reproduzi-las em “grandes espetáculos”. “Se esperamos viver não apenas de momento a momento, mas sim verdadeiramente conscientes de nossa existência, nossa maior necessidade e mais difícil realização será encontrar um significado em nossas vidas.” Bruno Bettelheim 3. Adolescência e o início da vida adulta ou “ninguém vira adulto de verdade". Foi um período em que por alguns anos também participei do grupo de jovens da igreja. Lá pude participar de ações junto a crianças em situação de vulnerabilidade. Estas situações indicavam que as crianças não tinham espaço para serem crianças. Os maiores tomavam conta dos menores e sem o acompanhamento de um adulto eram negligenciadas em seus direitos, sendo o brincar um deles. Lembro-me de propor brincadeiras com elas, que choravam muitas vezes sem expressar o porquê. Poderia ser fome. Poderia ser a reclamação de ausência de afeto. O fato era que o brincar trazia alívio; a maioria se acalmava, relaxava e aproveitava. 4. Futuro: um bicho que não existe? “O mundo está cheio de bichos que existem e bichos que não existem. Tem bicho que existe e a gente não acredita. Tem outros que a gente não acredita que não existam. No final das contas, não há tanta diferença entre um bicho que existe E um bicho que não existe. Todos os bichos existem: Nas palavras dos livros e na cabeça da gente” (Arthur Nestrovski, em “Bichos que existem & bichos que não existem”) A partir do texto acima proponho uma reflexão sobre o futuro e as expectativas sobre como atuar como Agente do Brincar: o futuro ainda não existe, mas pode existir em nossa imaginação. Existe hoje como sonho a ser realizado, planta da casa ainda não construída. Para tanto, cabe a nós o plantio das ações que nos trarão à vida esse “bicho” que (ainda) não existe. O meu tempo hoje é de capacitação e aprendizado e sei que cada ação resultado de meu estudo e trabalho irá refletir na formação de uma rede mobilizadora, fomentadora do brincar – minha pretensão, confesso. Acredito que em nosso viver diário, não apenas dentro de salas de aulas e espaços de recreação, devemos manter nossa atuação de agentes. Assim como o livre brincar, a livre atuação é nesse sentido, de termos tão arraigada em nossa vivência a importância de sermos agentes do brincar, que o ato se constitua permanente em nosso próprio viver e essência. O futuro, esse bicho que me atrevo a desenhar em minha imaginação é gigantesco, com um igualmente gigantesco coração. E apesar das dimensões apresentadas é leve, e traz um grande sorriso no rosto. É sua marca registrada. Existindo em minha cabeça, passa ser a realidade de um lugar em que iremos habitar, ou pelo menos eu, pois assim o escolhi. O futuro é o que cada um deseja desenhar e da cor que colorir – o meu é rosa. “Vamos brincar?”

  • A criança e a cidade

    Texto: Jade Lopes Gomes Foto: Maria Julia Magalhães Passei parte da minha infância no interior de São Paulo, mais precisamente na cidade de Araçatuba. Minhas memórias mais vívidas são as tardes ensolarada de brincadeira na rua, no quintal de terra do vizinho, procurando bichinhos nos formatos do bolinho de chuva com a minha tia-avó e das andanças pelo bairro com o meus irmãos e nossos amigos. Mudei para lá quando tinha dois anos e voltei para São Paulo perto de completar sete. Falam que quando a criança tem muita cicatriz é sinal que brincou bastante. Eu sou cheia. Cada uma me faz lembrar exatamente do dia que aconteceu. Tenho uma no queixo que foi caindo de bicicleta. Estava euzinha no cano da bicicleta do meu irmão quando ele decide me mostrar uma nova conquista: andar sem as mãos. Claro que eu como grande medrosa de sempre fiquei morrendo de medo, segurei o guidão muito forte e virei ele pro lado. Este movimento todo resultou na nossa queda, em 10 pontos no meu queixo e uma pedra dentro do joelho do meu irmão. Eu chorei bastante e assim que entendi o que aconteceu corri pro banheiro pra descobrir se pelo corte eu conseguia ver o meu maxilar exposto. Não deu muito certo... Era só sangue e carne mesmo. Para nós, era muito comum andar pelo bairro para ir no mercado, no barzinho comprar refrigerante, na escola buscar minha irmãzinha com 02 anos na época... Brincar na rua sempre foi muito natural e gostoso para nós. Quando nos mudamos para a cidade tudo mudou. Eu não entendia porque aqui não podíamos brincar na rua e o que restou para mim foi ficar olhando a avenida movimentada da sobreloja que morávamos e brincar na laje. Eu estudava longe de casa e o ponto final da perua do governo era na rua de casa mas aqui eu não podia mais voltar sozinha. Minha mãe me levava e buscava. Parece que essa cidade era muito perigosa e eu não entendi muito o por que. Se aqui as crianças não brincavam na rua elas brincavam onde? Naquele momento da minha vida, para as brincadeiras restaram os espaços privados e o ambiente escolar, pois a rua eu havia perdido. Na escola e em casa com os meus irmãos a brincadeira rolava solta também. Passou um tempo e me mudei com a minha família para o apartamento onde minha avó morava. Lá as coisas eram diferentes. No prédio haviam muitas crianças e todos os dias juntávamos a turma para brincar. O interessante do prédio/condomínio é que a concentração das famílias permite a interação de várias idades na brincadeira. Eu adorava brincar de esconde-esconde, pular corda, casinha, verdade e desafio... Tinha dias que a gente só se encontrava para conversar e contar histórias, outros para estudar as lições da escola ou para dançar a coreografia do rebelde em cima da cama dos nossos pais. Eles ficavam muito tranquilos por estarmos brincando no prédio e era ultra proibido pensar em sair de lá sem a presença deles. A gente sempre dava um jeitinho jogando a bola pelo muro só pra poder dar uma respirada do lado de fora. Aos nove anos fui para escola de música com a minha irmã. Minha mãe começou a trabalhar quando eu tinha uns 12 anos e eu e minha irmã começamos a voltar sozinhas para casa. A escola fica localizada no Largo General Osório no centro de São Paulo e nós morávamos na zona norte na Freguesia do Ó. Saíamos da escola e caminhávamos até a Avenida Rio Branco, caminho conhecido por nós que andávamos tanto por lá, para pegar o ônibus para casa. E íamos andando do ponto de ônibus até em casa. Se tornou natural novamente andar na rua. Mas a rua não era a mesma. A rua era suja, cheia de pessoas desconhecidas, todo mundo correndo, segurando seus pertences e sem olhar para os outros. A partir de então, sempre fui e voltei da escola sozinha para casa. No ensino médio fui estudar no centro da cidade. Neste momento, fui conhecendo mais os espaços para além do meu caminho casa-escola. Descobri praças para tomar sol no fim da tarde, a Avenida Paulista, a Praça Roosevelt, a Rua 25 de março, a Pinacoteca do Estado de São Paulo e diversos outros espaços públicos centrais. No entanto, percebi que cada vez mais que conhecia o centro me distanciava do bairro onde vivia. Acordava, ia para escola e só voltava no fim do dia. E quando comecei a trabalhar e estudar na faculdade a relação se distanciou ainda mais. Ainda reconheço os espaços que passava quando criança, mas é diferente, parece que enquanto estabelecia novas relações espaciais e desbravava as ruas longínquas desconhecia o que estava ao meu lado. Esta organização da vida na cidade é muito comum devido à sua extensão e a polarização das localidades dos postos de trabalhos e bairros de residências e, também, pelo medo constante da violência que assombra a todos. A rua representa perigo e é dentro das casas, dos muros e portões, rodeados de câmeras em constante vigilância que a população se sente segura. O arquiteto George Hazeldon desenhou o Heritage Park, próximo à Cidade do Cabo, como uma verdadeira fortaleza equipada com “cercas elétricas de alta voltagem, vigilância eletrônica das vias de acesso, barreiras por todo o caminho e guardas fortemente armados” (BAUMAN, 2001:27). Embora haja leituras pautadas na violência do espaço público, há outras visões como a do pesquisador e professor da Universidade de Lisboa, Carlos Neto. Ele pontua que “a rua não é só um espaço onde circulam carros e gente apressada, mas sim um espaço de encontro, descoberta e até desordem"(1999;12). E que o “brincar na rua é em muitas cidades do mundo uma espécie em vias de extinção” (1999:49). Comprometidos com o pleno desenvolvimento da criança, todos precisamos entender a importância da vivência corporal dela na cidade e valorizar o brincar como sua linguagem pois: “É a partir das experiências motoras que se realiza o conhecimento corporal, que se compreende e interioriza o sentir, condição indispensável para a construção da própria existência. A criança realiza na motricidade - uso do espaço, qualquer que seja - o reconhecimento do seu Eu, do mundo exterior, do outro, e da passagem à acção. A criança necessita de tempo e espaço para brincar, de forma livre e espontânea, necessita sentir segurança nas actividades de brincadeira que realiza, para que, em simultâneo, se desenvolvam mecanismos mentais de segurança emocional e íntima. E, neste contexto, o risco, a aventura, o autocontrolo, a iniciativa, o confronto com situações não comuns do seu dia-a-dia, a partilha, a resolução de problemas, o saber estar e habitar o espaço individual e o espaço dos outros são factores/acontecimentos/acções essenciais para que a criança desenvolva capacidades de vida em grupo, em síntese, para que se torne para além de "indivíduo biológico, em homem social" (Laborit, 1971)”. (apud MALHO, 200X) A brincadeira acontece em todo e qualquer lugar. Quando a gente é criança uma simples mancha no vidro pode se transformar num imenso rinoceronte caçando uma borboleta e, também, num grupo de abelhas voando atrás de um urso. E mesmo tendo possibilidades da brincadeira individual, o brincar em grupo tem um papel essencial para a socialização das crianças e entendimento da relação com si e com o outro. E a apropriação dos espaços para o brincar das crianças dá uma nova vida a ele. É preciso lutar para que as crianças sejam reconhecidas como cidadãs plenas de direitos. É preciso construir espaços que sejam para todos - e paracada um, como afirma o desenhista e pedagogo Francisco Tonucci em entrevista à Plataforma Cidades Educadoras. Para que isto aconteça, é preciso a transformação de paradigmas e maneiras de apropriação dos espaços urbanos pelas crianças e adultos. É preciso o desenvolvimento de políticas públicas, projetos artísticos, arquitetônicos e urbanísticos que tenham como princípio o bem-estar de todos. Além de transformarmos nossas visões sobre o outro e ressignificar nossas relações sociais e econômicas. Precisamos construir cidades acolhedoras que incluam cada cidadão com suas especificidades começando pelas crianças. Referências Bibliográficas BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Liquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001. LABORIT, Henri. O homem e a cidade. Mem Martins, Europa-América, 1971. MALHO, Maria João. A criança e a cidade. Independência de mobilidade e representações sobre o espaço urbano. Actas dos ateliers do Vº Congresso Português de Sociologia. Lisboa, 2003. NETO, Carlos. O jogo e tempo livre nas rotinas de vida quotidiana de criançase jovens. Tempos livres a criança o espaço a ideia. Lisboa, Câmara Municipalde Lisboa, Departamento de Acção Social. 1999. RNPI. Rede Nacional pela Primeira Infância, 2015. RNPI. Rede Nacional pela Primeira Infância, 2010.

  • Despertar um olhar com mais carinho

    - Lenize Cristina Riga - Eis que me encontro na segunda vez tentando comprimir em palavras o que em vivências fui descobrindo ser um agente do brincar... Antes de pensar na importância do agente, acho que temos que pensar no papel que o brincar tem em nossa sociedade que ultimamente só volta para as crianças os olhares em torno do desempenho escolar, que futuramente se resumirá a um retorno financeiro. Quantas escolas que ao invés de ter um momento para o brincar, para o entreter, conviver, descobrir junto, tem apenas atividades impressas voltadas a aquisição de conhecimentos científicos que muitas vezes não agregarão o mais se apresenta necessário a vida das crianças naquele momento? Eu pude ver de perto algumas práticas assim, que viam o brincar como o ócio improdutivo e que via naqueles que brincavam um ato de não-trabalho e de desmazelo. Portanto, eu que gostava de brincar logo não me dei bem nesta escola em que estava e fui mandada embora. Dentro de mim a brincadeira sempre esteve viva! Brinquei muito quando criança com o meu pai quando nasci, com meu irmão quando ele nasceu e queríamos nos refugiar da ausência dos brinquedos que não tínhamos, com os primos em Minas Gerais que com simplicidade nos ensinavam a ser criança na terra, de pé sujo, cabelos molhados de chuva e fome de leão. Acredito que a brincadeira foi o que me forneceu a vontade de viver alegremente até hoje, procurando as coisas mais belas para o deleite de meus olhos e distribuindo sorrisos sempre que me fosse possível. Ao encontrar um espaço onde eu tive mais liberdade para brincar, na Prefeitura de São Paulo, não pude deixar a oportunidade passar. Confesso que a princípio vi a brincadeira como um recurso para preencher os espaços vazios do meu dia, mas em dado momento percebi que ela era muito mais do que isso, pois meus alunos passaram a responder tão positivamente aos nossos momentos de brincadeira que a convivência que em tantos dias beiravam ao insuportável, passou a ser tranquila e ter um clima de colaboração muito grande entre eu e as outras 30 crianças que me acompanhavam diariamente. Hoje olhando para aqueles momentos, posso perceber o quanto fazíamos naqueles momentos de “ócio produtivo”. As crianças tiveram a oportunidade de experimentar o que era ser criança, sentir na pele brilhando no sol o que é ser livre para correr, gritar, conversar, imaginar... Ao fazer o curso de agentes do brincar, me encantei com a proposta de ocupação dos espaços públicos, foi algo que nunca questionei, apesar de sempre criticar o não brincar escolar, não pensava nos demais espaço para brincar, que na verdade pode ser qualquer espaço. Outra coisa que me encanta mas que ainda requer de mim mais aprofundamento, é a disseminação da nossa cultura através do brincar, as cantigas, as regionalidades, eu acho isso fantástico! Quero conhecer mais! Acho que isso faz com que nós tomemos ciência de quem somos, nós brasileiros com todas as brasilidades que nos cerceiam. No momento tão global que vivemos, acho importante auxiliar na construção de uma identidade brasileira. Poxa, os agentes do brincar são tão importantes que não sei nem por onde começar a dizer qual a sua importância, uma vez que apresenta tantas coisas boas. Mas o mais importante de tudo, acho que ele faz com cada um de nós despertemos o senso de olhar com mais carinho, com mais cuidado para os espaços, para as pessoas, para as possibilidades, para as mediações (seja ela qual for). Depois que comecei o curso passei a olhar para as pessoas de uma maneira diferente, com mais carinho, querendo conhecer mais, me aprofundar mais em cada um, por conta de conviver com pessoas tão maravilhosas, abertas e incríveis aos sábados. Eu queria abraçar cada um e dizer o quanto eles foram importantes para mim neste período, me auxiliando no resgate de uma humanidade que estava ficando perdida no meio da correria do dia a dia, mas sou tímida para isso... Agora, quando o curso chegou ao fim, vi o quanto o brincar pode ser terapêutico também, aproximando as pessoas e distanciando os conflitos. A importância do agente do brincar acredito ser muito particular e único para cada uma das pessoas, mas acho que eles estão ai para isso, para modificar: realidades, possibilidades, brincadeiras, crianças, adultos, espaços, propostas, mediações, objetos, brinquedos, vertentes, diretrizes, mundos, olhares...

  • BRINCAR NO MUSEU AFRO BRASIL

    - Adriana Lima Benjamim - O objetivo deste texto é reunir pesquisas de autores que justificam a apropriação do espaço museológico pelo lúdico e apresentar reflexões sobre vivências do Museu Afro Brasil. A cidade de São Paulo, com área de 1.522,99 km2, é a mais populosa do estado e do país com 11.638.802 habitantes. E de acordo com o estudo do Instituto Brasileiro de Museus (2011), a cidade possui 132 museus o que corresponde a 25,5% do estado. Esse número configura a maior concentração de museus do país, o que justifica a escolha do espaço museológico para o desenvolvimento deste texto. A presença da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem é fundamental quando se trata de criança, pois o movimento e as brincadeiras fazem parte do universo infantil (MARINHO et. al., 2012) e nesse contexto a apropriação do espaço museológico como ambiente lúdico é oportuno. Para o visitante do museu compreender o que é apresentado é preciso que os objetos e as atividades realizadas no espaço sejam do seu interesse e entendimento (VALENTE, 1995, apud CARVALHO,2017, p. 41). No que diz respeito ao Museu Afro Brasil, o espaço amplo é convidativo às brincadeiras de adultos e dos pequenos visitantes que não se intimidam diante dos amplos corredores e escadarias. Além disso sua localização dentro do Parque Ibirapuera, no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, o aproxima do público heterogêneo e dinâmico. A equipe do Museu conta com educadores para atender as visitas espontâneas e programadas e proporciona acesso a uma diversidade de atividades lúdicas e contextualizadas em um ambiente motivante e expressivo que convida à descoberta do local e à percepção como preconiza Silva (2013, p. 37). Para Kramer (1998, p. 217): As mais diversas iniciativas de educação e ação cultural precisam promover a emancipação de crianças, jovens e adultos para que possam aprender, descobrir a paixão pelo conhecimento, manter acesa a chama pelo conhecimento, o movimento em direção ao saber. Nesse sentido, o Museu conta com projetos educativos e oferece oficinas ao longo do ano que estimulam na criança a sua formação como consumidor de cultura: · Aos pés do baobá Projeto de contação de histórias que acontece no último sábado de cada mês, às 11h da manhã. Os temas giram em torno de produções africanas e afro-brasileiras. · Ateliê Aberto Projeto que promove o contato dos frequentadores do Parque Ibirapuera com o MAB através de experimentações artísticas conduzidas pelos educadores. Acontece no segundo final de semana de cada mês. · Brincar com Arte Voltado ao público infanto-juvenil, o projeto é realizado nos meses de janeiro e julho para apresentar o MAB e seu acervo por meio de brincadeiras. · Férias no Museu Programação especial no mês de julho traz brincadeiras tradicionais congolesas para resgatar o lúdico por meio da dança, música e jogos. · Impressões da cor O público é convidado a participar de uma experiência artística com um carimbo em madeira e E.V.A. e brincar com o processo de impressão, com inspiração o acervo do Museu. Acompanhando a visita de um grupo de crianças da educação infantil, houve momentos em que o barulho próprio do entusiasmo e da vivacidade delas rompeu o silêncio e suscitou reações de funcionários. Alguns pediram silêncio enquanto outros observavam tranquilamente o alvoroço que em nenhum momento ameaçava a integridade física dos objetos ali expostos. Mas se é brincando que a criança ressignifica suas experiências e constrói seu conhecimento, o brincar no museu deve estar integrado aos projetos de educação museal e a equipe de profissionais deve estar capacitada a tornar a visitação uma experiência de descoberta, prazer e diversão, como acontece no Museu Afro Brasil. E por lembrar dos bons momentos vividos no Museu, esse novo público cresce aprendendo que bom mesmo é brincar lá dentro onde se vê, ouve e se sente o passado de um jeito diferente mas que criança entende.

  • Brincar é coisa séria e preciso disto!

    - MÁRCIA APARECIDA CAMPOS - Trabalhando em um centro de crianças e adolescentes de 6 a 14 anos e 11 meses, tenho aprendido e aplicado muito o momento de brincar. E tenho estudado bastante para me tornar de verdade uma defensora desse direito, para que onde eu estiver consiga garantir que a criança brinque, em segurança e livremente. O Brincar e a infância Desde que me entendo por gente eu brinco muito, principalmente na rua. Bicicleta, pega pega, esconde esconde, damas, cantigas de roda, amarelinha, boneca de papel e a preferida queimada. Calça rasgada, roupa suja de barro, joelhos e cotovelos ralados, ah como era maravilhoso, chamava um amigo, outra amiga, e outro e outra juntava a turma na calçada, fazia vaquinha para comprar uma pizza para dividir com “todo mundo”. A minha mãe gritava “já esta tarde” e a brincadeira acabava, mas no outro dia estávamos no mesmo lugar e horário, prontos para a brincadeira escolhida. Minha infância passou tão rápido, daria tudo para voltar ao passado, e brincar tudo outra vez. Vamos brincar? Eu escolho a brincadeira ok? Queimada - Duas equipes uma de cada lado, uma bola de borracha, “posso escolher meu time?” Beleza então. Continuando... uma pessoa começa como coveiro e o primeiro que for queimo troca com ela, lá na área do coveiro se você foi queimo a sua primeira jogada não queima, depois você pode arrebentar. Ah já ia esquecendo cabeça e mão são frias. Equipe adversária eliminada... ganhamos! Se eu soubesse na época de algum lugar com times profissionais de queimada eu com certeza seria uma atleta. Queimado, Baleado, Carimba, Barra bola, eita brincadeira legal. Mesmo brincando na infância eu tinha responsabilidades, cuidar da irmã mais nova, não me machucar gravemente (mesmo assim quebrei o braço esquerdo), estar em frente de casa no horário que a minha mãe chegava do trabalho, e antes de ir para rua arrumar a casa. Criança precisa brincar, alias todo mundo precisa. No artigo 16, parágrafo IV do Estatuto da Criança e Adolescente diz: “O direito a liberdade compreende os seguintes aspectos: brincar, praticar esportes e divertir-se”. Estou no caminho certo, pois tudo isso eu promovo, porém nem sempre encontramos essa pratica nas escolas, organizações, e espaços públicos ou privados. Podemos brincar de outra coisa? Está chovendo, vamos para a garagem lá de casa, vamos precisar apenas de tesoura e revistas velhas. Ah esqueci de falar vamos brincar de boneca de papel. Como se brinca? La vai! Primeiro vamos montar nossa casa, recortando das revistas de decoração as paginas que tem sala, cozinha, banheiro, cada um monta a sua, depois das revistas de moda vamos recortar mulheres, crianças, homens, com roupas de sair e moda praia. E vamos também recortar das revistas de auto os nossos carros. Pronto, agora é só começar a brincadeira. A chuva passou vamos brincar de pega pega? Bora! Na escola o pega pega era muito normal, principalmente na hora do recreio, não precisava de material apenas dos colegas. Até hoje eu brinco, como aquecimento para as minhas aulas, geralmente eu começo como pegadora, pego alguém para me ajudar e como resultado todos aquecidos e prontos para as atividades. Esqueci de falar, sou professora de Educação física. Convencer os professores da importância do brincar na escola é uma missão muito difícil, pois a maioria dos educadores tem certa oposição entre brincar e estudar: alguns educadores das séries iniciais recusam-se a admitir sua responsabilidade pedagógica e promovem o brincar; já os educadores das demais séries de ensino promovem o estudar. “Não há como vencer uma brincadeira. Ela simplesmente acontece e segue se desenvolvendo enquanto houver motivação e interesse por ela.” (CAVALLARI, 2008) “Brincar com as crianças não é perder tempo, é ganhá-lo. Se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem.” (Carlos Drummond de Andrade) Brincar segundo o dicionário Michaelis (2018) é divertir se com jogos infantis; entreter-se com objetos ou atividades lúdicas; simular situações da vida real; distrair-se, folgar. O Brincar e a escolha da profissão Um belo dia uma amiga me indicou para um estagio em recreação no SESI Vila Leopoldina. Foi nesse momento que entendi que a Educação Física era o que eu queria para a minha vida. O estagio consistia em fazer atividades recreativas para crianças que moravam nos prédios do entorno do SESI, foi um grande desafio, pois aquelas crianças estavam acostumadas com o vídeo game, suas brinquedotecas de seus condomínios e suas babás para tomar conta. Super férias era o nome, foi tão maravilhoso, dançamos, corremos, brincamos, de pega pega, fuga de alcatraz, cine pipoca, teatro, show de talentos, pena que passou tão rápido. Ainda no período de faculdade consegui outro estagio, Recreio na Férias da Prefeitura de São Paulo, publico da periferia, totalmente diferente do outro, mais uma experiência que tive, com uma lição importante, criança brinca, sempre, seja lá qual for a sua classe social, cor, região e até religião, basta que estejamos dispostos a brincar com eles, quanta coisa eu aprendi. O ano era 2012, resolvi não fazer o bacharel, porém mais uma vez aquela mesma amiga que me indicou no SESI, acabou por me indicar no Sesc, fiz a entrevista, entreguei nas mão de Deus e o resultado foi “tan tan tan tan...” passei, vivenciei todo tipo de esporte, recreação, brincadeiras e experiências que nunca tinha passado na vida, experiência esta que levo para a vida. E conclui com sucesso o bacharel. Enfim formada, fiz amigos para a vida, experiências maravilhosas e muito aprendizado, chegamos até a montar um projeto para o bairro só de recreação. Não contei antes, mas na época em que estava no segundo grau, atual ensino médio, meu professor de educação física me deu um apito, e disse: “Não seja uma professora meia boca, seja uma ótima professora”.

bottom of page