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  • RESGATAR O BRINCAR TRADICIONAL

    - Vera Lucia Caligioni - Sabem por que é que eu pinto tanto menino em gangorra e balanço? Para botá-los no ar, feito anjos. Cândido Portinari O despertar do brincar em minha vida. Quando criança tive muitas oportunidades para o desenvolvimento do brincar. As brincadeiras eram frequentes durante todos os dias em minha infância, pois o ambiente do qual fazia parte era propício para colocá-las em prática. Esse ambiente e espaço físico, tratava-se do campo, de uma fazenda em Ribeirão Preto, onde fui morar depois que meu pai faleceu aqui em São Paulo. Por conta disso, as brincadeiras eram geralmente na terra, e faziam parte do meu tempo livre, quando não estava na escola. Essas vivências me proporcionavam prazeres, alegrias e contentamento, além de colaborarem com o desenvolvimento de minhas relações afetivas. Já em minha adolescência, voltando e morando em São Paulo, meu cotidiano tornou-se bem diferente. Além dos estudos, dos quais me dedicava, também precisava ajudar muito minha mãe com as tarefas da casa. Porém, ainda em uma época que nos era permitido aproveitar as brincadeiras de rua, essas faziam parte de muitos momentos de minha vida. Quase todas as noites, encontrava-se com amigos e vizinhos na rua em frente de nossas casas, para brincar. Brincávamos de queimada, pega-pega, jogar vôlei, pular corda, contar histórias e ficávamos horas e horas assim... Mas enfim, o tempo passou, os anos passaram e com eles chegou o mundo adulto, das responsabilidades e compromissos. E a vida adulta nos faz perder a magia do brincar, a prática das brincadeiras, a alegria da infância em nosso dia-a-dia. Deixamos de resgatar nossa criança interior, da qual fica adormecida, querendo se manifestar, com necessidade de se expressar, e que vive dentro de nós. Ficamos a mercê de rotinas e regras, onde muitas das quais, nossas escolhas estão vinculadas. Acredito que nosso grande desafio encontra-se em recuperar essa criança, da qual nós fomos um dia. Deixá-la vir à tona, tratá-la com carinho e atenção. E percebo que o brincar traz essa possibilidade, através da magia das brincadeiras infantis, tentamos recuperar o que perdemos com o tempo. Com o amadurecimento nosso olhar torna-se mais propenso a normas e padrões sociais. Se compararmos com o olhar das crianças, notamos que nosso olhar para o brincar ficou para trás. Nos esquecemos desse olhar infantil que nos impulsiona, nos traz esperanças e alegrias. E o mundo do faz de conta, é a grande oportunidade de viver uma fantasia, uma outra realidade. Lá podemos ser quem quisermos, sem nos preocupar com pessoas categóricas e taxativas e em sermos julgados por tantos padrões pré-estabelecidos. Nesse mundo do faz de conta nossas frustrações podem ser transformadas em alegrias. Com o passar do tempo, esquecemos esse olhar infantil, a importância desse refúgio para o equilíbrio dos nossos sentimentos, de nossas emoções. E também a necessidade de alimentar em nós a fé e a crença em um mundo melhor. Com o brincar, compreendo o quanto havia me esquecido de meus aprendizados da infância. Agora estou aprendendo e permitindo-me a viver a vida com mais leveza e tentando resgatar meu olhar de criança e aos poucos eliminando toda uma rigidez para me tornar uma pessoa com mais flexibilidade. Quero resgatar toda dignidade e sensibilidade infantil que o brincar me proporciona, e mesmo adulta dar-me a chance através das brincadeiras infantis de uma vida mais saudável, plena e completa. As brincadeiras tradicionais na vida das crianças passou a ser um acontecimento raro, pois diante do mundo contemporâneo e suas relações com os ambientes virtuais, os compromissos e obrigações, das quais muitas já possuem em suas vidas, como por exemplo: cursos extra curriculares no contra turno do ensino regular. Por parte dessas cobranças que muitos adultos e responsáveis lhes exigem, ficam praticamente impedidas de vivenciarem sua infância, de fato. Perdem-se em atividades que são impostas, visando um futuro melhor como visão de seus pais. Porém, o tempo vai passando e as crianças deixam de vivenciar o período mais enriquecedor de suas vidas, com o brincar, com o prazer, com a real alegria que as brincadeiras possam lhes proporcionar. Com uma visão mais humanista, compreendo o quanto se faz necessário resgatar para os alunos “ o brincar “, como uma situação favorável para facilitar o desenvolvimento de suas potencialidades, suas habilidades, podendo também expressar a afetividade, a capacidade criativa e a coordenação motora. Segundo Vygotsky (2007), é durante o brincar e por meio do brinquedo que a criança aprende a agir cognitivamente, dando vida aos objetos e determinando sua ação sobre eles. As brincadeiras tem função relevante e estimulam as crianças para que desenvolvam habilidades de autonomia e auto confiança em suas atitudes. Portanto, com esse trabalho desenvolvido, houve um grande interesse e interação entre os alunos de forma sensível e efetiva. E a maioria deles tiveram como brincar e relacionar-se com brinquedos e brincadeiras, das quais não faziam parte de seu cotidiano, visto que, diante de suas realidades e circunstâncias, não possuiam condições para colocá-las em prática. Gerando e criando com isso também, a transformação de espaços, considerados antes apenas como culturais, em espaços lúdicos abertos e receptivos para todos os alunos, propiciando lugares transformadores para o imaginário infantil.

  • Um conto de fada real sobre brincadeiras

    - Natalina Gomes - Era uma vez em uma cidade bem distante, chamada São Miguel do Guamá, que fica no Estado do Pará na região norte do Brasil. viviam um casal, muito feliz, que se chamavam Sebastião e Maria, pais de três lindas crianças. Leonel o mais velho, gostava muito de pescar e jogar futebol, Natalina a do meio era a mais sonhadora, pois sonhava em conhecer lugares novos que iam muito além de sua imaginação e Mariano era o caçula sempre grudado na sua mãe, por onde quer que ela fosse, lá ele estava também . Essas crianças tiveram uma infância muito feliz, porém muito diferente do que as pessoas daqui estão acostumadas. Eles tiveram o privilégio de viver momentos cheios de aventuras, com brinquedos construídos por seus pais, brincadeiras ensinadas por seus avós e muita, muita história contada ou mesmo criada por eles. Natalina nunca esquece como era sua rotina, acordava sempre no mesmo horário com o leve barulho de lenha queimando no fogo e o delicioso cheiro do café e do beiju sendo preparado por sua mãe. O cheiro exalava por dentro dos quatros cômodos onde moravam. Ela ficava toda eufórica, pois sabia que mais um dia cheio de aventuras estaria se iniciando. Ir “trabalhar” com seus pais, era a melhor de todas as brincadeiras. A roça para os seus pais talvez não fosse o lugar que gostariam de estar, mas para a sapeca Natalina a roça para ela não passava de uma grande floresta, um lugar mágico, cheio de animais de todas as espécies e tamanhos, pois na sua imaginação todos eram amigos e protetores da floresta. Natalina e seus irmãos cresceram, subindo em árvores, correndo atrás de borboletas nos capinzais, tomando banho nos igarapés, ouvindo “causos” diante das fogueiras feitas por seus pais nos dias de lua cheia. Todos cresceram, mudaram de cidade, constituíram suas famílias, Natalina queria muito mais. Concluiu o curso técnico em magistério em 1996, trabalhou em uma escola particular como auxiliar, depois conseguiu um contrato de um ano como professora no governo do Estado, porém, desmotivada pela forma como as pessoas selecionavam os professores, resolveu mudar de área, sendo assim ficando cinco anos fora da sala de aula. Ela trabalhou nesse período em uma fábrica de temperos. Inquieta e curiosa aquele mundo foi se tornando sem sentido pra ela e com o incentivo de sua gerente, resolveu voltar pra sala de aula. Conseguiu novamente um contrato na prefeitura de sua cidade. Lá se reencontrou novamente, com a satisfação em fazer o que realmente gostava. Teve que aprender muito, pois muita coisa tinha mudado, eram nomenclaturas, teorias das quais ela nunca tinha ouvido falar. Não mediu esforços fez cursos, estudo bastante. Em 2008 conseguiu entrar para faculdade de pedagogia e neste mesmo ano ela é todas as professoras que estavam na educação infantil no município, tiveram a oportunidade de fazerem um curso oferecido pelo Instituto Natura, o projeto “Crer pra ver”. Sua turma foi selecionada pra ser o piloto do projeto. Ela cada dia mais encantada, conseguiu avanços maravilhosos com sua turma. Com isso ganhou uma viagem pra vir a são Paulo participar do encontro Nacional do Instituto Natura. Foi paixão a primeira vista, e ela falou pra si mesma que iria morar aqui. Voltou cheia de expectativas e sonhos e, em meados 2012 junto com as professoras da escola na qual lecionava vieram novamente à São Paulo para participar de um congresso. Retornou pra casa com convicção de sua ida de vez pra são Paulo e assim aconteceu no final desse mesmo ano, ela se mudou pra são Paulo sem emprego, com pouco dinheiro, mas com muita Fé, força e disposição pra trabalhar. Após entregar muitos currículos, participar de vários processos seletivos ela enfim conseguiu emprego em uma escola particular. Não era o emprego dos seus sonhos nem tão pouco o ambiente onde queria ficar por muito tempo. Por isso voltou a estudar, fez vários concursos, passou em alguns. Em 2017 conseguiu a realização de mais um sonho profissional que foi sua efetivação como funcionária pública. Fez atribuição em uma escola maravilhosa, na EMEB Guilherme de Almeida, uma escola de educação infantil, localizada no Bairro Assunção em São Bernardo do Campo, no grande ABC de São Paulo. Um lugar onde o brincar faz parte da rotina das crianças, e foi neste ambiente motivador que levou a procurar outras formações que viesse a contribuir para sua prática, onde os beneficiados seriam as crianças. A escola tem um espaço maravilhoso, com bosque, parque, árvore e uma gestão preocupada com essa falta do brincar no cotidiano da criança. É ela curiosa e querendo proporcionar novos desafios para seus alunos e para sua formação foi à procura de novos cursos e durante suas pesquisas encontrou um anúncio na internet falando do curso "agentes do brincar" ficou animada, porém já haviam encerradas as inscrições, mas não desistiu ficou atenta às datas. Foram três tentativas até conseguir realizar seu desejo. Natalina ficou muito ansiosa, uma excitação tomou conta de si, pois não tinha noção do que tinha pela frente. Porém a cada sábado, a cada aula com professores maravilhosos e metodologias diferenciadas foi superando suas expectativas. A cada aula um motivo de reflexão, um motivo para tentar entender porque a criança tem que ser cerceada de um dos melhores motivos de ser criança, que é o brincar. Marilena Flores Martins (2009, p. 11) muito sabida e com uma sensibilidade sem igual defende “que as brincadeiras ajudam a criança a relacionar-se melhor com os outros desenvolvem a sua criatividade, fazendo-as tranquilas e inteligentes”. Sabemos que a brincadeira faz conhecimentos, trás novas possibilidades, aguça a imaginação nos levando ao mundo do desconhecido. Para Natalina esses meses foram de muito aprendizado, de muito conhecimento. Foram momentos também de se auto avaliar, de perceber e entender que se tornar um agente do brincar, também lhe trará uma grande responsabilidade... O de luta, sim lutar para que esse momento de suma importância na vida de toda criança se torne real, seja vivido por cada um. Que os espaços sejam pensados nas crianças, onde a criança possa ser criança. BIBLIOGRAFIA: MARTINS,Flores Marilena.Brincar é preciso!, são Paulo:Evoluir, 2009.

  • PRETÉRITO PERFEITO

    - GUILHERME PEREIRA ARROCETO - Diante de tantas restrições morais, sociais ou religiosas, as pessoas de todos os cantos do mundo, principalmente de povos que deram origem à nossa nação (o indígena, o africano, o europeu), como de outras terras longínquas, as pessoas jamais deixaram de BRINCAR e foi através dela que grande parte das especificidades culturais foi transmitida para as gerações seguintes e conservadas até os dias de hoje. Hoje em dia, é bastante comum nos depararmos com crianças que infelizmente não estão vivendo esse momento de interação, as brincadeiras tradicionais estão entrando em extinção. Num mundo cada vez mais globalizado , urbanizado, industrializado e informatizado, a tendência é que muitas brincadeiras tradicionais percam espaços nas preferências infantis. Como antes dos anos 70, 80 e até mesmo 90, não existia o mundo na conexão digital (como as televisões, computadores, e os iPads), a socialização das crianças, jovens e adultos, aconteciam na rua. Local onde trocavam informações , entravam em conflitos, resolviam conflitos, se machucavam , riam , choravam, gritavam, brigavam, aprontavam, criavam, imaginavam,se respeitavam, ou seja , viviam a vida de uma forma muito intensa e saudável. As brincadeiras tradicionais eram muito divertidas e aconteciam não somente na rua, como no jardim, quintal da casa , até mesmo dentro de casa, não tinha um lugar específico ou estratégico , qualquer espaço era possível criar algo para poder se divertir e entreter. Foram diversas brincadeiras que marcaram minha infância e acredito que de muitos, as que mais me recordo foram: Taco, Queimada, Bricadeiras de cantigas de roda... São essas e outras muitas brincadeiras que me fez ser uma criança muito realizada, sonhadora, levada e criativa, razão pela qual acredito que me levou a exercer uma formação acadêmica muito importante na sociedade em que vivemos, a missão de ser um PROFESSOR. Como PAULO FREIRE, arte- educador, professor e filósofo brasileiro, nos ensina sobre a arte de ensinar... Ao longo processo de minha formação em Letras, durante o curso ouvi diversos profissionais relatarem o quanto é difícil e cansativo exercer a profissão na real situação crítica que se encontra o nível educacional do nosso país. Porém, sempre acreditei e acredito que tudo tem uma solução basta confiarmos e fazermos a diferença. Anteriormente, os professores eram entendidos como transmissores de conhecimento, detentores da verdade, e os laços entre alunos e professores quase não existiam. Os alunos não podiam expor, ter expressão e nem opinião, muitos deles eram até mesmo apelidados e muito menos podiam questionar se a metodologia utilizada era adequada. Com o passar dos anos, a maneira como os professores atua mudou muito, estabeleceram laços mais fortes, com um mundo de informações as crianças já sabem muito e que podem partilhar vivências e experiências, saberes e gostos, ou seja, podemos trocar aprendizados e um aprende com o outro. A todo momento o ser humano está em comunicação com outros seres, o mundo vive em comunicação e para participarmos desse mundo onde as informações circulam intensamente é necessário nos estejamos antenados nesse novo mundo de informações e tecnologias, para que possamos compreender e interagir em meio a sociedade em que vivemos. Tornando-se assim instrumento de ensino e aprendizagem. O aumento dos saberes, permite compreender melhor o ambiente sob seus diversos aspectos, como favorece o despertar da curiosidade intelectual, estimular o ensino crítico , permitir compreender o real, mediante a aquisição de autonomia e a capacidade de discernir. Assim nessa concepção em relação ao ensinar, me fez e faz refletir sobre o que Leo Fraiman questionou em seu livro “Como ensinar bem a criança e adolescentes de hoje”. Como se faz ministrar uma boa aula? O que fazer para cativar a atenção dos alunos? De que modo posso me distanciar daqueles professores excessivamente críticos, desinteressados ou mal-humorados que tive e ser uma presença inspirador apara os meus alunos? Como posso ensinar bem? Nessa perspectiva, é arbitrário utilizarmos uma visão tradicionalista em que o aluno apenas aprenda com textos, uma vez que a socialização com o outro é a ponte para a transformação da informação contida no texto para assimilação do conhecimento. Sendo assim, já não há mais espaços para certeiras enfileiradas, salas silenciosas e livros solitários sob a mesa, pois os mesmos devem ser substituídos pela interação pessoal, em que os pares interajam em torno de um objetivo comum. Diante dessas definições, o professor deve buscar o desenvolvimento de um conjunto de habilidades, que permita ao aluno fazer uso eficiente de suas capacidades. Com base em tal afirmação, e após de diversas praticas e didáticas diferenciadas , enfatiza-se que o BRINCAR (lúdico) em sala de aula é de suma importância. É importante que a escola seja um espaço rico e estimulante de aprendizagens, que nela haja a presença do lúdico, onde o professor seja o mediador entre o aluno e o conhecimento, auxiliando o alunos a desenvolver imaginação, autonomia, conviver com as diferenças, a desenvolver os aspectos : físico, emocional, cognitivo e social. Proporcionando assim oportunidades para os alunos brincarem livremente, construindo relacionamentos positivos.

  • BRINCAR como CONSTRUÇÃO SOCIAL

    Géssica Ap. P. dos Santos “Quando as crianças brincam E eu as ouço brincar, Qualquer coisa em minha alma Começa a se alegrar. E toda aquela infância Que não tive me vem, Numa onda de alegria Que não foi de ninguém. Se quem fui é enigma, E quem serei visão, Quem sou ao menos sinta Isto no coração. ” (Fernando Pessoa.) Brincar é uma necessidade do ser humano. Prática que, de acordo com o tempo histórico e a cultura em que está inserida, se transforma e recebe diferentes significados seja na dança, na pintura, nos jogos ou nas brincadeiras tradicionais. O lúdico sempre se fez presente na vida do ser humano, porém sua importância para o desenvolvimento nem sempre foi valorizada. As pesquisas realizadas no âmbito da psicologia e da educação contribuíram para que o brincar se estabelecesse como prática essencial para o desenvolvimento infantil e passasse a ser valorizada tanto na família quanto na escola. O Referencial Nacional Curricular Para a Educação Infantil (1998), destaca o brincar como um direito fundamental da criança e pontua a necessidade de proporcionar experiências diversas e ricas a fim de que sua capacidade criativa seja exercitada. Vale salientar a abordagem do tema, também, na Constituição Federal de 1998, bem como o estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que expõe o direito de se expressar e experienciar a brincadeira. O Marco Legal da Primeira Infância de 2016 atribui a responsabilidade à União, aos Distritos e Municípios a criação de espaços lúdicos que proporcionem lazer em que criança possa exercer sua criatividade. Além da políticas públicas que asseguram o direito da criança em todos os setores como saúde, educação e lazer, faz-se necessário, também, a participação da comunidade tanto na tomada de decisão a respeito o que é essencial para seu desenvolvimento, quanto na participação de eventos e ações que valorizem a participação da criança. Segundo Almeida (2014), as atividades lúdicas promovem o desenvolvimento afetivo, físico, intelectual e social da criança uma vez que possibilita a expressão oral e corporal, contribui para o autoconhecimento e as relações sociais entre os pares e permite a vivência das práticas estabelecidas socialmente. A brincadeira é resultado da imitação da realidade vivenciada pelos sujeitos, uma vez que ao brincar a criança se apropria da realidade e a ressignifica, pois ela vai construindo uma articulação entre o real e o imaginário, os objeto que outrora exerciam uma função podem, durante a brincadeira, assumir um novo papel que corresponderá ao que foi estabelecido pelo brincante. (Queiroz, 2006). “A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. Em situações dela bem pequena, bastante estimulada, é possível observar que rompe com a relação de subordinação ao objeto, atribuindo-lhe um novo significado, o que expressa seu caráter ativo, no curso de seu próprio desenvolvimento.” (Queiroz, p. 172, 2006). O domínio da linguagem simbólica dos objetos na brincadeira se estabelece de maneira gradual, de acordo com o desenvolvimento da criança. Assim estabelece relação que não a literal com os objetos ao seu redor, construindo o imaginário e aumentando o seu repertório cultural e corporal. As crianças se transformam partir do contato com o outro, os conhecimentos que possuem, assim em uma brincadeira de faz de conta assumir o papel de um determinado personagem a ajuda a compreender as características e a função social que ele exerce, seja um vilão, ou ainda uma princesa. Segundo Queiroz (2006), em uma perspectiva co-construtivista, a criança desde os primeiros anos de vida está imersa a uma cultura e, portanto, a diversos significados que foram se estabelecendo historicamente, dessa forma, é na interação com o outro que esta irá re-significar tais construções e construir ativamente a noção de si, do outro e dos objetos. A imaginação é o ponto crucial que permite que a brincadeira aconteça, assim como a realidade que vai proporcionar elementos culturalmente construído para que seja recriada de forma a atender aos anseios da criança. Poesias. Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995).

  • Inclusão no Brincar

    - Beatriz San Martin Soto - Nos tempos antigos, as sociedades cultivavam as belezas físicas, por ser assim, desta forma, as crianças que possuíam algum tipo de anomalia, eram abandonadas ou deixadas para morrerem de fome, ou se tornariam "bobos da corte". Com o passar dos anos, esses tipos de visões foram se modificando, gerando assim, depois de muito tempo, mais aceitação por parte de todos da sociedade. Como sabemos, existem diversos tipos de deficiências e o nascimento de uma criança com algum tipo delas gera uma grande mudança na família desta criança. Algumas famílias não aceitam essa situação e se fecham, o que é muito negativo para a criança, que deverá ser incluída e estimulada. Segundo Moira Sampaio Rocha, para o Manual de Formação de Autodefensores da APAE: "Todas as habilidades que aprendemos durante a infância constituem o alicerce para a sólida formação da autogestão. O desenvolvimento das habilidades de linguagem, socialização, motricidade, habilidades afetivas e cognitivas aprendidas na infância são as primeiras oportunidades dadas à criança para o desenvolvimento de instrumentais para conhecer a si mesma, conhecer o ambiente, interagir, escolher, aprender sobre limites e modificar a si e o meio que a circunda". Os bebês que possuem algum tipo de deficiência, não possuem muita interação com os adultos, que devem entender que mesmo com a pouca interação, é fundamental essa interação e estímulo, já que irá levar a um desenvolvimento do cérebro. Para essa estimulação é possível cantar, colocar o bebê em diferentes posições, conversar, colocar objetos sonoros perto do bebê e etc. Conforme o crescimento da criança é possível incluir diferentes ações, como dar bebidas em copinhos, entregar comidas, estimular a criança a levantar, estimular a fala e etc. É muito importante saber exatamente o tipo de deficiência da criança, pois cada uma delas possui um tipo diferente de dificuldade, como crianças com síndrome de Down que possuem hipotonia, sendo necessário estimular a sua musculatura, ou crianças com paralisia cerebral que tem deficiência motora nos membros superiores e inferiores e assim por diante. Desta forma, isto também é importante para se criar brinquedos e objetos que ajudaram nas estimulações. Como o custo de alguns dos objetos que são usados para essas estimulações possuem um custo muito alto, é possível criar objetos que serão de baixo custo e terão a mesma finalidade. É isso o que vimos com Dafne Herrero, que criou facilitadores que estimulam a adequação postural da criança, como a cadeira e o púlpito, ambos de papelão, que irão ajudar na coordenação motora para manter a coluna e as pernas das crianças eretas. Alguns brinquedos podem ser feitos em casa, com materiais recicláveis, como um chocalho, que irá fazer vibrações podendo ser utilizado por crianças surdas, ou objetos que possuam uma textura suave e ajudará crianças cegas, etc. Desta forma, vemos como o estímulo e interações são super importantes para o desenvolvimento por completo das crianças, concordando com o que Moira Sampaio Rocha diz, mais uma vez no Manual de formação de Autodefensores da APAE, que "o desenvolvimento do cérebro de uma criança depende de como ela se alimenta, da quantidade e qualidade dos estímulos que ela recebe e da qualidade das trocas afetivas que ela estabelece com as pessoas". (p.34) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ROCHA, Moira Sampaio. Manual de Formação de Autodefensores. Nada sobre nós, sem nós. Federação das APAEs do Estado de Minas Gerais Pará de Minas, 2007. REGEN, Mina. Brincar na comunidade inclusiva. Guia do Agente do Brincar. São Paulo, 2013. HERRERO, Dafne. Os adequadores posturais de baixo custo como facilitadores do desenvolvimento infantil e inclusão escolar. Mini apostila – PDF. São Paulo, 2018. REGEN, Mina. O brincar na comunidade inclusiva. Mini apostila – PDF. São Paulo, 2018.

  • Atividades e Brincadeiras com Idosos

    Margareth Zoéga Aqueles que já têm pais idosos, conhecem o tamanho da preocupação com a sanidade física e mental dos mesmos com o avançar da idade. E essa preocupação tem sido cada vez maior não só por parte de familiares mas também do próprio Estado. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), dos 207 milhões de habitantes hoje no Brasil, 26 milhões têm mais de 60 anos, e esse número não pára de crescer. Em 2007 eles eram 17 milhões e em 2027 essa parcela da população dobrará, chegando aos 37 milhões conforme projeções do órgão. A redução nos índices de natalidade e o aumento da expectativa de vida fazem com que esse fenômeno seja global. A crescente participação desses cidadãos mais maduros na sociedade traz impactos em todas no mercado de trabalho, na economia, na publicidade,nas relações de consumo, na saúde, na cultura e nas políticas públicas. É a chamada Revolução Prateada. O envelhecimento populacional no Brasil é um desafio para nossos governantes, pois o país vai envelhecer antes mesmo de se tornar rico e socialmente equilibrado, ao contrário de muitas nações que já enfrentam uma situação parecida, como por exemplo Japão e Alemanha. A maior prova de todos os desafios que ainda vamos enfrentar é a polêmica Reforma da Previdência, necessária mas difícil de sair do papel. Como a população mais jovem, ainda no mercado de trabalho, vai sustentar a mais velha e já aposentada, se a proporção de aposentados é cada vez maior? E vão surgir mais e mais perguntas. Como o mercado de trabalho vai poder absorver essa população mais velha? Que novos produtos poderão ser oferecidos para satisfazê-la? Qual o impacto na indústria de saúde e nos sistemas públicos de proteção social? O que a família e entes próximos poderão fazer para seus idosos preservarem saúde física e mental, garantindo assim uma boa qualidade de vida? Com relação à saúde do corpo, já está mais que comprovado que atividade física é fundamental e quanto mais cedo começar a praticar , melhor para mantê-la. Quanto à saúde mental, mesmo com todo avanço da ciência, ainda é difícil diagnosticar e recomendar atividades que realmente sejam efetivas. Considerando alguns estudos que apontam que ocupar o tempo livre do idoso com atividades lúdicas pode promover a melhora do bem estar social e equilíbrio emocional dos mesmos. Na tentativa de amenizar os danos causados pelo envelhecimento e pela ociosidade, muitas empresas e instituições oferecem serviços, cuidados e atividades voltados à terceira idade. São propostas algumas dinâmicas para que tal objetivo seja alcançado, conforme descrito a seguir: Papel Colorido O condutor da dinâmica deve pedir aos participantes para fecharem os olhos e pensarem em sentimentos presentes em suas mentes naquele instante. Depois, cada um deve escolher uma tira de papel com a cor que ilustre aquele sentimento. Em seguida, os idosos devem ser separados em grupos de acordo com as cores que escolheram e conversar por 10 a 15 minutos. Passado o tempo, num círculo, todos discutem de forma descontraída o que cada grupo conversou. Isso pode promover uma grande interação do grupo e fazer com que aqueles menos tímidos verbalizem alguns problemas, o que contribui para futuras dinâmicas a serem planejadas pelo condutor/facilitador. Atividades Musicais Atividade com Balão: Sentados em círculo, os participantes passam, ao som de uma música, um balão de mão em mão. No momento que a música pára a pessoa que está com o balão o estoura e lê uma pergunta que está dentro dele. As perguntas podem ser engraçadas e variar de acordo com o perfil do grupo. Atividade com palavras e música: Escrever em pequenos papéis várias palavras comuns em letras de música como ABRAÇO, AMOR, ROSA …Cada um pega um papel e procura lembrar uma música que contenha aquela palavra. Contar Histórias Diferente O facilitador pede ao idoso que comece a contar uma história, pede para ele parar em determinado momento e outro continua. Os finais podem ser surpreendentes. A dinâmica pode estimular a criatividade e despertar a atenção e curiosidade do grupo. Atividade de ritmo e palavras: Usando palmas e/ou instrumentos musicais para fazer a marcação rítmica, o condutor da atividade fala Atenção XXX (3 de todos e/ou toca os instrumentos), Concentração XXX Não perca o ritmo XXX Vai começar XXX Vamos falar XXX Frutas XXX - e assim cada um fala o nome de uma fruta sem repetir. Pode -se sugerir outras coisas como animais, cidades, cantores, etc. Dança Pode ser com grupo de amigos, com a/o companheira/o, com os netos, em dupla, de preferência com músicas que agradem ao idoso. Podem ser também cantigas fáceis e populares de roda, por exemplo. A dança, além de divertida, une movimentos físicos e interação com outras pessoas o que contribui para suas relações afetivas. Ioga Atividade de baixo impacto que ajuda postura, equilíbrio e concentração. Jogo de cartas e incentivo a competição e o raciocínio lógico. Bingo Clássico! Ajuda a trabalhar a capacidade de percepção, agilidade e concentração. Quebra-cabeças, Dominó e Jogos de Tabuleiro estimulam a percepção, raciocínio e concentração; Caça-Palavras, Jogos dos Sete Erros, Stop Também voltados para a percepção, raciocínio e concentração. Massinhas de modelar e Decoração de Objetos Estimulam a criatividade e a coordenação motora, além de acalmar. Certamente, existem várias brincadeiras a serem exploradas e utilizadas no convívio com idosos. Acredito que o importante é ter sensibilidade para compreender o perfil e as necessidades do indivíduo ou grupo com o qual estamos lidando. Há um consenso geral que quanto mais envelhecemos, mais passamos a agir como crianças. Conclui-se então que brincadeiras serão sempre bem vindas na infância ou na velhice. Elas proporcionam alegria e bem estar e deveriam fazer parte do nosso cotidiano, não importando a idade! Referências Bibliográficas: Lazer na terceira idade: desenvolvimento humano e qualidade de vida - Guilherme Mori e Luciene Ferreira da Silva - disponível em www.scielo.br >pdf>motriz Conexão Saúde - Oito ideias de atividades recreativas para idosos - disponível em www.saude.rj.gov.br Portal IBC - Conheça 3 dinâmicas para aplicar em um grupo de idosos - disponível em www.ibccoaching.com.br

  • O Brincar que afeta-O Brincar que faz crescer superar limites

    - Luciana Noschese Correia Scarabeli - Sou a filha primogênita de um casal, bem brasileiro, meu pai nordestino nascido na Paraíba chegou em São Paulo com seus pais junto dos seus 4 irmãos, em busca de um vida melhor na cidade grande, minha mãe, filha caçula, de imigrantes italianos, espanhóis e com um toque alemão, se conheceram e se casaram jovens, quando nasci minha mãe não tinha nem um ano de casada e tinha recém completado 21 anos de idade. Minha infância teve muita brincadeira mas, confesso que minha memória vai visitar estes registros somente após o nascimento da minha unica irmã 5 anos mais nova, até então tenho pouca lembrança do meu brincar, minha lembrança do brincar remete sempre ao brincar com sentido em ajudar, passar fraldinhas de pano da minha irmã com ferro de verdade de tamanho de ferro de brinquedo, panelinhas de ferro imitando as da vida real. Na pré adolescência brinquei na rua morava numa rua sem saída com pouco trânsito de carros, isso me permitia jogar vôlei tempo glorioso deste esporte na época, andar de bicicleta Ceci da marca Caloi, brincava de desfiles na casa das amigas vizinhas imitando as mulheres candidatas a miss, com seus trajes maravilhosos e corpos perfeitos. Os jogos compartilhados eram marca registradas dos encontros com os primos, aprendi a fazer rabiola de pipa e ajudava os meninos a colocar a pipa no alto mas, empinar ja não podia “não era brincadeira de menina eles mesmos diziam” adorava também virar figurinha e brincar de bolinhas de gude este eles permitiam que eu brincasse. Na escola minha brincadeira favorita era pular corda coletiva, duas pontas sendo batidas pelas amigas e pulando no centro uma ou mais meninas e meninos embalada pelas músicas que enfeitavam a brincadeira, outro brincar era a troca troca de papeis de carta sempre muito desafiador a negociação deste trocar, e como não poderia me esquecer era o descer do morro gramado da escola com os tampos das carteiras que estavam quebradas no fundo da sala ou mesmo um caixa de papelão amassada que serviam para escorregar morro abaixo uma especie de “skybunda” aventura melhor do que esta nem mesmo a de um parque temático, chegar com a roupa suja era realmente uma marca de que o dia tinha valido a pena. O tempo passou comecei a trabalhar bem cedo aos 14 anos já dividia minha brincadeira com o trabalho da micro empresa no ramo de confecção que meus pais mantinham no fundo de casa, sempre trabalhei muito, tinha muita responsabilidade com a casa e com o trabalho, saia para fazer vendas com o meu pai e isso também era uma brincadeira projetando e imaginando como seria na vida real. Aos 23 anos me casei, fui mãe aos 26 de um menino e com 29 nasceu a minha filha, com eles voltei a brincar, contar histórias, massinha, “Polly”, “Hot Hills”, barraquinha na sala, colchão de todo mundo no chão grande “camão” o tempo foi generoso, tenho boas lembranças de brincar com os meus filhos pequenos e já maiores e até hoje mantemos a tradição de jogos de cartinhas nós quatro, na sala, UNO, truco, rouba monte, mico, 21, dama, dominó, detetive… por ai vai horas a fio, rola, competição, ajuda dos mais “fracos e oprimidos” tudo dentro da brincadeira. Em 2003 me formei como assistente social, grande conquista pessoal que me trouxe muitas alegrias e realizações, motivada pelo desejo constante de crescer, trabalhei na área desde o tempo e estágio em 2011 ingressei num projeto social no qual estou até hoje, neste trabalho me sinto desafiada constantemente a ser melhor e crescer como pessoa e profissionalmente, o público que faz parte deste projeto são famílias que tem filhos surdos e que utilizam um dispositivo chamado implante coclear através deste as crianças passam a ter acesso ao som da fala em 30dbs/40dbs. Em virtude da descoberta da deficiência auditiva de seus filhos o que seria natural vindo do afeto entre mães e filhos não ocorre de maneira assim tão natural e espontânea, o fato destas crianças não ouvirem na primeiríssima infância, primeira infância promovem marcar em seus desenvolvimentos que podem nunca serem reparados. Saber e conhecer sobre o brincar vem ao encontro do meu desejo de conhecer formas de despertar o interesse destas mães pelo brincar compartilhado com seus filhos onde a questão da deficiência promove em alguns casos barreiras intransponíveis por conta do desconhecido e da comunicação Alguém que marcou minha vivência foi a da Dafne Herrero, com toda sua naturalidade em tratar de assuntos delicados e importantes, toda sua magia e conhecimento profundo, sem contar que o que fez mesmo a diferença é que ela acredita que o brincar é terapêutico, é amor, é relacionamento, é prazeroso e promove um bem imensurável quando é de verdade. Quando ela diz pede uma dica para o colega, não tem problema não saber de alguma coisa já usei desta estratégia e “deixei a dica” com um grupo de profissionais de uma empresa que estavam promovendo a SIPAT (Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho), falei com o grupo sobre o convívio saudável e das trocas que podemos ter, inclusive no dia contei uma historia do livro “A cidade dos carregadores de pedras” e confeccionamos um brinquedo “peteca” feita de jornal e papel crepom super fácil prática. O que me leva a pensar que o brincar traz uma leveza assim como fez Alan Q. Costa que tratou lindamente da inserção do brincar e a tecnologia deixando claro e provocativo para que a criatividade também não tivesse limites. Parafraseando o que nosso lindo hino nacional proclama…”o meu futuro espelha essa grandeza…” de não parar por aqui, já fiz matricula para fazer um curso de Psicopedagogia porque quero atender como consultora para ampliar meus atendimentos como assistente social, sei que há muitas crianças precisando de um acolhimento e um toque para despertar o brincar continuarei imprimindo e plantando sementes do brincar por onde eu passar, por grupos que eu conviver, por amigos que cruzar, seja qual for sua condição sociocultural, econômica e emocional. Com um olhar renovado e a esperança por dias melhores por uma sociedade mais sensível sigo na minha trajetória, pessoal e profissional fazendo a minha parte me unindo a tantos outros agentes que já fizeram e que ainda farão um cabo de guerra forte onde a brincadeira seja vencida pelo bem para o bem.

  • A PRESENÇA DE UM IRMÃO COM DEFICIÊNCIA NO SISTEMA FAMILIAR

    Mina Regen Quando se pensa as possíveis interferências que se pode ter no sistema do brincar da criança é preciso olhar para a família, como ela se compõe, e como ela desencadeia processos. A família constitui um sistema em que as inter-relações são constantes e profundas e a notícia de que um de seus membros possui uma deficiência muda, permanentemente, a vida de todos os que a compõem. É preciso rever sonhos e expectativas, lidar com frustrações e tristezas e encontrar forças e formas de fazer face a novas situações e problemas diferentes. No momento da notícia, os sentimentos são os mais confusos possíveis e as reações, bem como o processo de compreensão e adaptação à nova realidade, variam de família a família. Embora em todos os lares ocorram períodos críticos de transição, que em geral causam tensões (nascimento de mais um filho, entrada na escola, mudança de casa, de emprego, doenças etc.), naquele onde exista uma criança com deficiência a tensão, nesses períodos, pode se tornar bastante aguda. Embora sentimentos de ciúmes e de rivalidade sejam comuns em qualquer família, quando estes e outros sentimentos são reprimidos, permanecem sem solução, podem provocar sérios distúrbios de personalidade e prejudicar gravemente o relacionamento com aquele irmão diferente que, talvez algum dia, necessite o apoio e o afeto de sua irmandade. E quando o assunto vira tabu e não é conversado de modo claro e aberto, quando os pais não envolvem os outros filhos na vã tentativa de poupá-los, estes podem experimentar uma enorme variedade de sentimentos em relação a esse irmão, a si mesmo, aos pais, a toda a família e a outras pessoas. Seguem alguns dos sentimentos mais frequentes relatados por irmãos de crianças com deficiência nos Grupos de Irmãos, que foram iniciados em 1986 no Setor de Estimulação Precoce da APAE/SP. RAIVA – Este é um sentimento forte, frequente entre irmãos, principalmente quanto brigam por alguma coisa. Ele faz parte de nossa vida, mas dependendo da forma pela qual damos vazão à raiva, (por ex. batendo, xingando) ela pode suscitar culpa. Mas o guardar a raiva para si também é prejudicial e o outro nem fica sabendo o quanto nos está fazendo sofrer. O ideal é soltar a raiva de forma que o outro entenda o que fez de errado e tenha a chance de se desculpar. Utilizar frases simples iniciadas com a palavra “eu” ajuda bastante. Por ex.: Eu estou com muita raiva porque você rasgou o meu livro. Não faça isso outra vez! CULPA – É um sentimento terrível que geralmente temos quando alguém, ou nós mesmos, acusamo-nos por haver feito algo que considerado errado. Quando reprimida, pode causar sérios distúrbios de personalidade. Quando conseguimos falar sobre ela, a culpa, embora dolorosa, pode ser útil ajudando-nos a pensar melhor antes de agirmos. VERGONHA – Sentimento bastante comum quando a criança com deficiência apresenta comportamentos socialmente inadequados em público ou possui aparência muito diferente. Em relação aos comportamentos, conversar sobre isso com os pais e buscar orientação quanto a melhor forma de evitá-los. No que diz respeito à aparência, é importante lembrar que todos nós somos diferentes e isto torna o mundo muito mais interessante. Que tal esquecer da aparência e lembrar das coisas boas que ele tem a oferecer? Caso isso seja muito difícil no momento, que tal dar-se um tempo ou procurar falar com alguém a respeito. TRISTEZA – Geralmente a tristeza é provocada por situações de perda e os irmãos relataram sentir o fato de não poderem compartilhar brincadeiras, segredos, determinadas situações ou pedir apoio ou conselhos em alguns casos. É importante substituir seus sonhos e anseios em relação a esse irmão, tal como os pais fizeram e, caso não consigam, devem solicitar ajuda de um profissional. CIÚME – É normal o sentimento de ciúme entre irmãos, mas quando a criança com deficiência requer maiores cuidados no atendimento a suas necessidades, esse sentimento pode ser exacerbado, pois os outros filhos podem se sentir negligenciados, ou em segundo plano. Nesses casos podem começar a apresentar distúrbios de comportamento, na tentativa de chamar a atenção dos pais. Caso estes não se mostrem sensíveis a esses sinais, a dinâmica familiar pode ficar altamente alterada. Por isso é importante que os pais atentem para o que está ocorrendo e conversem com os filhos, passando a melhor distribuir sua atenção e afeto; ou então que os filhos, desde que estejam em condições, demonstrem claramente o que estão sentindo. INVEJA – Trata-se de um sentimento bastante pesado, que gera muita culpa e geralmente vem acompanhado da vontade de “destruir o outro”. É mais frequente em pessoas inseguras e/ou ambiciosas, que não se satisfazem com o que são ou têm e sofrem com isso. Nesses casos é importante que a pessoa procure ajuda, no sentido de se conhecer melhor, ganhar mais confiança em si e superar essa necessidade de destruir aqueles que se sobressaem por qualquer motivo. SOLIDÃO – Sentir solidão é sentimento provocado por isolamento, principalmente social e este costuma ser bastante frequente em famílias de pessoas com deficiência. Os irmãos sentem-se diferentes de seus amigos e não acreditam que eles possam entender e compartilhar de suas experiências, quer sejam elas positivas ou negativas. NEGAÇÃO – Trata-se de atitude que encobre a não aceitação da deficiência, ou seja, a pessoa se recusa a enxergar a realidade, fantasiando ou fingindo que ela não existe. Em geral ela está muito ligada à vergonha, sendo importante que os irmãos conversem sobre isso com os pais ou procurem um profissional que possa auxiliá-los a enxergar os aspectos positivos desse irmão, encarando de frente essa situação. PRESSÃO – Alguns irmãos sentem-se pressionados pelos pais, no sentido de compensá-los pelo desapontamento que a deficiência do irmão lhes causou, ou por colocar sobre eles uma responsabilidade acima do que seria o normal num relacionamento entre irmãos. Também sentimentos positivos foram relatados nas reuniões, como: ORGULHO – É frequente que os irmãos tenham esse sentimento em relação aos progressos obtidos pela criança com deficiência, por menores que sejam, pois sabem, pela convivência diária, quanto esforço isso lhe custou. SOLIDARIEDADE – Em geral, quando o ambiente no lar é permeado de afeto e apoio mútuo, a solidariedade para com esse irmão diferente é um sentimento que aparece com bastante frequência e em idades mais precoces. Este sentimento é, geralmente, generalizado a outros grupos em que os irmãos participam.

  • O ADULTO PROPICIANDO O BRINCAR

    - Priscila Leonel - O ato de brincar é fundamental no desenvolvimento humano. Brincar no dicionário Aurélio está relacionado à diversão, a entretenimento infantil, gracejos e até atos levianos e de pouca consideração. Diferente desses significados ou indo além, a brincadeira na infância não é uma mera distração, é um instrumento essencial para o desenvolvimento cognitivo, para a aprendizagem, onde os sinais, a fala e atitudes denotam afetividade e as mais diversas emoções. É na infância que descobrimos coisas novas, entrando em contato com o mundo e os indivíduos que nos cercam. O brincar, nas suas mais diversas formas e modalidades, ampara o desenvolvimento infantil de modo a auxiliar à criança na inserção enquanto sujeito social e se integrar nas realidades do “mundo adulto”, fazendo com que a criança crie, participem e tomem parte das realidades que a cerca, como brincadeira de “faz-de-conta”.Está intimamente ligada ao símbolo, uma vez que por meio dele, a criança representa ações, pessoas ou objetos, pois estes trazem como temática para essa brincadeira o seu cotidiano (contexto familiar e escolar). (Piaget, p.76) Embora, as brincadeiras, muitas vezes reproduzam de algum modo à realidade ou imitam o cotidiano adulto, como profissões e tarefas domésticas, elas podem e devem envolver uma dose de imaginação. O brincar de casinha, de policia- e- ladrão, por exemplo, está sujeito as normas estabelecidas pela criança, que recria e adapta essas situações para o “seu mundo”, onde a casa pode ser mágica, e a policia é amiga do bandido. Da mesma forma que a função pré-estabelecida de alguns brinquedos, podem vir a ser modificados, transformando, por exemplo, um carro em foguete. O modo na qual os pequenos utilizam os brinquedos pode desviar-se, portanto das normas convencionais, já que a criança visa antes da cópia fiel das atividades adultas, construir e recriar um mundo onde seu espaço esteja garantido. Segundo Vygotsky (1998) a concepção de uma situação imaginária não é algo casual na vida da criança; é na verdade a primeira manifestação da emancipação da criança em relação ao que ele chama de restrições situacionais. (VYGOTSKY, 1998, p. 130) As brincadeiras não se atêm apenas ao faz-de-conta e podem ocorrer entorno de assuntos fictícios, contos e personagens, mas que nunca são puramente imaginativos, já que o brincar é fruto também do meio social da qual se está inserido. Assim, independente do quão “longe vá à imaginação”, ela sempre conterá traços dos processos vividos pela criança, núcleo familiar e social: o super- herói pode gostar de determinada comida, hobbies, cores e ter determinados comportamentos que estão associados aos gostos da própria criança ou ao que ela costuma vivenciar. De modo que não podemos dissociar a brincadeira da vivencia particular do sujeito que a prática: “Nenhuma criança brinca só para passar o tempo, sua escolha é motivada por processos íntimos, desejos, problemas, ansiedades. O que está acontecendo com a mente da criança determina suas atividades lúdicas; brincar é sua linguagem secreta, que devemos respeitar mesmo se não a entendemos.” (GARDNEI apud FERREIRA; MISSE; BONADIO, 2004) O brincar instiga a criança em várias dimensões, principalmente no cunho comportamental, psicológico e físico, ensinando regras de convivência, aumenta a dose de criatividade, auxiliando no desenvolvimento do individuo e na aprendizagem. O papel do adulto é mediar e oferecer as oportunidades de vivências nestes espaços improváveis, mas principalmente observar essa perspectiva brincante da cidade através dos olhos infantis, já que as crianças também compõe um grupo específico que produz e reproduz questões sociais, repetem e ressignificam a cultura (CORSARO, 2011). O brincar é comunicação, expressão e movimento, além de ser um direito da criança é fundamental para seu desenvolvimento tanto cognitivo como ético, sendo esse cada vez maior de acordo com os desafios superados e oportunidades oferecidas. Uma vez que estas experiências lúdicas estejam latentes no corpo e na memória de cada adulto educador, estarão então, munidos de um novo estado de percepção que os momentos proporcionam, formar-se-á um grupo de multiplicadores e formadores de opinião que crie espaços de discussão acerca da importância e da aplicabilidade de tais práticas brincantes nos mais diversos ambientes e por meio das mais diferentes ferramentas. O adulto, que brinca será mais um na luta por um futuro melhor, garantindo hoje um desenvolvimento mais saudável da criança através de seu trabalho, das suas pesquisas, do seu posicionamento na sociedade e político e da disseminação do conhecimento , com foco na formação de indivíduos melhores e, de uma sociedade mais saudável. É um facilitador que, com conhecimento e competência, cria oportunidade para que as crianças brinquem livremente.

  • À serviço da infância

    - Isabela Rosa - “Criar o espaço para fluir o brincar é como preparar o corpo para a alma brincante.” Adriana Klisys¹ Proponho uma reflexão: feche os olhos e pense em uma brincadeira. Talvez tenha vindo à mente a pipa, o pega-pega, pega-vareta, pique-esconde, bolinhas de sabão, poça de lama, pedrinhas no chão, polícia e ladrão, vivo ou morto, faz de conta, casinha e pião. Ou até mesmo o simples pular, correr, dançar, se movimentar até cansar... Para muitos, tais brincadeiras fazem parte de um cenário distante - quase que improvável - em tempos de imersão tecnológica e dias cada mais curtos e cheios de compromissos. Mas será que elas não existem mais, esquecidas com o decorrer dos anos? Ou ainda existem no cotidiano infantil? E será que a criança está, de fato, deixando de brincar? Mas há uma discussão que antecede a questão do brincar: a da infância. E engana-se quem pensa que o conceito sempre existiu. Foi preciso séculos para que a criança fosse vista como um ser social, merecendo respeito e possuindo características e necessidades próprias para cada fase de seu desenvolvimento. No âmbito das políticas públicas, o século XX avançou na tentativa de garantir por lei o acesso à educação, à alimentação saudável, moradia, ao descanso e lazer, à participação de atividades culturais e claro, ao brincar! Sim, o que antes era vista apenas como uma atividade lúdica da criança, parte do imaginário infantil, torna-se algo sério, incluída na Convenção dos Direitos da Criança das Nações Unidas (artigo 31). No Brasil, o brincar também está contemplado em importantes documentos como Constituição Federal (artigo 227), no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (artigos 4º e 16º) e também nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009). Mas enquanto Estados e Organizações da Sociedade Civil avançam nas políticas públicas, na tentativa de democratizar o acesso ao brincar, nossos sistemas econômicos e sociais nos trazem barreiras e desafios para a promoção dos direitos das crianças. A supervalorização do consumo e do trabalho, em detrimento ao ócio e a sustentabilidade, tem mexido com as estruturas sociais tão rapidamente que muitos de nós ainda não despertaram para os perigos da vida moderna. Soma-se a isso a exploração do trabalho infantil, preconceitos sofrido em relação à gênero e etnias, escolas cada vez menos reflexivas e engessadas no currículo e o reconhecimento da criança como um potente consumidor, obrigando os meios de comunicação a conversar e entender melhor esse público. Resultado: hoje sofremos com altos índices de crianças obesas, altamente expostas às telas, perdendo seus espaços para o brincar, entrando precocemente na cultura adulta e pasmem, sendo medicadas antes mesmo da idade escolar. Diante desse triste cenário, o brincar, que poderia ser entendido pela família, escolas, hospitais e a até mesmo a mídia como inerente à infância, vem sendo deixado de lado, tratado como de menor importância para formação cognitiva e social da criança. Um dos fatores desse “esquecimento”, arrisco a dizer, pode ser um sintoma dessa ideia coletiva de que adulto não brinca, e sendo ele o responsável por pensar políticas (além da tarefa básica de sobreviver), internaliza de vez sua criança interior, diminuindo assim as chances do brincar se efetivar como direito garantido. Para tentar minimizar esse dano social – que será mais sentido (para não dizer fortalecido) daqui a alguns anos – é que surge a necessidade de um profissional que atue como um animador e facilitador das oportunidades lúdicas para as crianças. O adulto que deixa a criança brincar. E que não apenas brinque, mas também defenda do direito do brincar em diferentes espaços (família, escola, hospitais, praças, museus, meios de comunicação); atuando em diferentes redes, organizando-se com outros atores, e que participe a acompanhe as decisões da comunidade. O Agente do Brincar precisa estar atento à sua volta para encontrar a possibilidade do brincar nos mais diversos tipos de materiais disponíveis (elementos da natureza, lixos recicláveis, etc.), mediando conflitos quando necessário e fomentando o diálogo, sem que, com isso, seja ele o protagonista do brincar. Pelo contrário, o Agente precisa garantir que em todas as oportunidades tenha a criança como protagonista, pois é no brincar que ela irá se empoderar, criará autonomia, lidará com as frustrações e aprenderá regras de convivência. E mesmo diante das tecnologias, não tê-las como inimigas, mas como aliadas. Como visto, não há limite para a criatividade, desde que o foco seja a garantia e defesa do brincar. A esperança é que, ao inserir esse profissional nesses espaços em potencial, a sociedade perceba o quão importante são os investimentos sociais, políticos e econômicos para a área da infância. Uma infância saudável, gera adultos mais conscientes, construindo um mundo mais humano, com crianças tendo tempo de serem crianças. Afinal, “criança não trabalha, criança dá trabalho”. E que trabalho bom! ¹ Citação do livro “Quer jogar?”, p. 104.

  • O protagonismo dos avôs e avós na formação das crianças.

    O brincar intergeracional - Marilena Flores Martins - “Os dois melhores presentes que podemos dar aos nossos filhos: um são raízes o outro são asas.” Khalil Gilbran Em uma sociedade, com mudanças culturais intensas e rápidas, podemos observar o impacto nos padrões de comportamento das famílias, com diferentes formatos e tamanhos, em relação às gerações anteriores. Nas famílias atuais a criança, muitas vezes, não tem irmãos ou amigos com quem brincar, e as mães e pais preocupados com a sua carreira profissional, passam um tempo menor com o filho, deixando-o aos cuidados de babás e/ou avós. Em famílias menos favorecidas é constante a presença de avós que acabam substituindo os pais na educação, socialização e sustento das crianças. Idosos também têm uma contribuição importante em outros aspectos da vida familiar. Além da ajuda financeira, as mulheres idosas tendem a se manter no seu papel tradicional de cuidadoras da família, promovendo uma significativa mudança nos laços intergeracionais. Realizada pelo IBGE (2000), pesquisa aponta que, no Brasil, mais da metade dos idosos são os responsáveis pelo sustento dos filhos e ajudam a criar os netos. A co-residência de várias gerações é uma nova forma de arranjo familiar e reforça a ideia de que experiências e valores, bem como suporte financeiro e emocional, estão sendo compartilhados entre várias gerações, destacando-se aí as relações entre netos e avós. Este fato pode constituir importante elemento de valorização do idoso na sociedade. Por outro lado, as descobertas da ciência salientam que o desenvolvimento das competências cerebrais está diretamente relacionado ao tipo de ambiente pós-natal e social onde se insere a criança. Crianças se incluem no mundo, cedo, por vínculos criados com seus cuidadores que satisfazem suas necessidades, da alimentação ao afeto/reconhecimento. No que se refere às condições ambientais, a interação adulto-criança e a convivência propiciada em ambientes afetivos, inclusivos e lúdicos contribuem decisivamente para o pleno crescimento do potencial infantil. A sintonia entre os seres humanos se inicia com a ligação do bebê com o seu cuidador, incluindo as primeiras trocas de sorrisos e as primeiras brincadeiras. Experiências continuadas de privação e desamparo pode ser a origem de sérios distúrbios de desenvolvimento. A relação positiva da criança com seus cuidadores é fator decisivo no desenvolvimento do apego, refletindo na sua qualidade de vida, reduzindo riscos de comportamentos agressivos persistentes na primeira infância e desvios de comportamento na adolescência e fase adulta. O enriquecimento do ambiente, que inclui o fortalecimento de vínculos afetivos e sociais, principalmente na faixa etária de zero aos seis anos, influencia diretamente no processo de desenvolvimento da criança podendo-se dizer que são fundamentais nessa fase: a estimulação humana, o tipo dos vínculos afetivos existentes e a atmosfera emocional adequada, que, dentre outras, desenvolvem a comunicação verbal e a linguagem, fatores importantes para o fortalecimento das competências sócio emocionais, o aprendizado, e para o controle adequado dos impulsos. Convivendo com os avós, as crianças têm oportunidade de desenvolver e fortalecer vínculos afetivos positivos, bem como vivenciar valores como: bondade, honestidade, esperança e alegria em fazer bem feito. Conviver e brincar juntos contribuirá para que as crianças descubram a si mesmas e ao mundo, além de propiciar o surgimento de habilidades e competências fundamentais, e desenvolver áreas do cérebro responsáveis pelo sentimento de empatia, tão importante em um mundo cada vez mais diversificado. Nesse sentido, de que forma o brincar pode contribuir para a relação dos idosos com as crianças? Para os avós, brincar com os netos ajuda a esquecer de que o tempo passou, e a tomar consciência das suas limitações, com a sabedoria que a idade lhes deu, contribuindo para encontrar a melhor maneira de serem avós.Não podemos esquecer que as crianças lêem os nossos gestos e expressões, e copiam o nosso exemplo. A fórmula do brincar que funciona para os adultos é diferente do que a que serve para as crianças. O brincar pode ser encontrado nas atividades prazerosas, que não tenham ônus, que não envolvam cobrança de resultados. Pode ser um jogo, um trabalho manual ou uma conversa com os amigos. São ­­todas as formas de brincar. De acordo com Richard Layard (2005), pesquisador da London School of Economics, no Reino Unido: “Evidências mostram que as coisas que mais importam para nossa felicidade e infelicidade são nossas relações sociais e nossa saúde física e mental". O principal fator para prevermos a satisfação de uma pessoa com sua vida adulta é sua saúde emocional durante a infância.­ Neste contexto, a atuação dos avôs e avós, criando oportunidades de brincar para e com os seus netos e netas, assume uma importância ainda maior, pois construindo brinquedos ou conhecendo as brincadeiras tradicionais, as crianças aprendem sobre suas raízes, desenvolvem a criatividade, lidam com as emoções e desenvolvem habilidades sociais, psicomotoras e cognitivas. Os jogos tradicionais de diferentes culturas, transmitidos através de inúmeras gerações para as crianças de hoje, servem como uma oportunidade para assegurar o seu direito de brincar, e ainda para ensinar-lhes grande parte da sabedoria acumulada por seus ancestrais. Eles têm ainda outros valores positivos. Por exemplo, a maioria dos jogos exige atividades físicas, de modo que o problema da obesidade infantil pode ser evitado. A socialização com outras pessoas vai melhorar se o jogo for jogado por, pelo menos, duas crianças. Além disso, em um jogo de grupo, elas também precisam determinar uma estratégia, se comunicar e colaborar com os membros da equipe.Os benefícios são de caráter emocional e social, além de fortalecer as raizes familiares e o autoconhecimento das crianças. As brincadeiras tradicionais trazem mais alegria para a vida das crianças! Todos nós temos um compromisso com as crianças, para que elas sejam felizes e brinquem livremente. As crianças precisam brincar, faz parte do crescimento. Necessitam de diferentes oportunidades de fazê-lo, em diferentes maneiras. As brincadeiras são ainda uma excelente oportunidade para pais, avós e crianças desenvolverem laços de afetividade e companheirismo. As brincadeiras variam de acordo com o momento e a idade das crianças, mas o mais importante é que os adultos estejam dispostos a compartilhar o seu tempo e a sua energia com elas, desde a idade mais precoce. Ouvir as crianças e os idosos para que expressem seus anseios e pontos de vista sobre esses espaços torna-se uma estratégia importante para que haja uma construção coletiva e democrática e que a oferta atenda aos interesses e necessidades das crianças e idosos ouvidos. Entendemos que as famílias devem brincar juntas e que brincadeiras e jogos não são somente para as crianças. O mais importante é que pais, avós, netas e netos, de todos os níveis socioeconômicos, acreditem que o caminho para melhorar a vida das crianças é fazê-las felizes. Brincar com as crianças pode realmente ser prazeroso para toda a família! Ao brincar e conviver com pessoas de diferentes idades, capacidades e culturas as crianças aprendem a aceitar as diferenças e desenvolvem a aceitação e o respeito pelo outro, condições indispensáveis para a construção da Paz.

  • Brincar para ser feliz

    - Maíra Cristina Foganholi - Brincar: Ação tão natural, tão humana. O bebê nasce e logo, logo começa a brincar. A criança procura a brincadeira. A criança procura com quem brincar. Ela sabe a importância de brincar. Brincando construímos relações. Fazemos amigos, nos desenvolvemos fisicamente, emocionalmente e intelectualmente. Aprendemos de tudo, um pouco. Aprendemos que, às vezes, ganhamos e muitas vezes, perdemos. Aprendemos que precisamos dividir. Aprendemos a controlar e sermos controlados. Aprendemos a controlar, não só a brincadeira, mas também, a ansiedade. Aprendemos que dependemos do outro e que, o outro também depende de nós. A brincadeira constrói seres humanos equilibrados e bem desenvolvidos. Contudo, num minuto, o brincar, ação tão natural, virou objeto de atenção, estudo e discussão. No Brasil, como em muitos outros países, o brincar, ainda é visto, por muitos, como perda de tempo, mas temos trabalhado para transformar essa realidade. O trabalho sempre foi muito valorizado e há um senso comum que ainda acredita que é muito melhor que a criança esteja ocupada, e mesmo trabalhando, do que por ai, sem fazer nada. É preciso combater pensamentos assim. Brincar é um direito da criança garantido por lei. Hoje em dia, a criança tem hora para brincar, lugar para brincar. As crianças estão sendo mais vigiadas e limitadas do que nunca. Tim Gill destaca “Nos anos 60 e 70, crianças de 8 anos tinham um nível de autonomia e liberdade que atordoaria os adolescentes de hoje”. O brincar não tem hora e nem lugar. Brincar é toda hora, em todo lugar e a qualquer hora. E, o brincar, inclusive, não é, necessariamente, seguro. A brincadeira saudável e construtiva, nem sempre é livre de riscos. As crianças gostam e procuram desafios. Elas têm direito de brincar e ser feliz. De acordo com a pesquisadora do tema, Marilena Flores Martins, os agentes do brincar são pessoas que, com conhecimento competência, criam oportunidades para que as crianças brinquem livremente. Ele ou ela é um facilitador e animador das oportunidades lúdicas. Um profissional que deve estar preparado para apoiar e estimular atividades em um ambiente adequado para brincar. O agente do brincar deve apresentar valores como liderança, sempre tendo em mente que a criança controla a brincadeira, criatividade, organização, flexibilidade, respeito, vocação e capacidade de trabalhar ativamente e enfrentar novos desafios. Um profissional que tem se tornado cada vez mais indispensável para o resgate seguro, mas desafiador do brincar. Deve respeitar o desenvolvimento, mas, sempre, estimular. Deve, acima de tudo, lembrar que o brincar é intrinsecamente motivado e que os adultos não precisam governar ou controlar. A criança pode controlar cada elemento de suas brincadeiras e atividades. O agente do brincar deve facilitar a felicidade.

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